quarta-feira, 23 de março de 2011

O Despertar dos Mágicos (33). Foram descobertos sobre o planalto peruano ornamentos de platina fundida


No entanto, está prestes a aparecer uma nova escola de antropologia, e Lévi-Strauss não hesita em provocar indignação declarando que provavelmente os Negritos são mais fortes do que nós em matéria de psicoterapia.

Louis Pauwels e Jacques Bergier. DIFEL

Pioneiro desta nova escola o americano William Seabrook, após a primeira guerra mundial, partiu para o Haiti para estudar o culto do Taudou. Não para o ver do exterior, mas para viver essa magia, entrar sem precaução nesse outro mundo. Paul Morand descreve-o magnificamente:
Seabrook talvez seja o único branco da nossa época que recebeu o batismo de sangue. Recebeu-o sem cepticismo nem fanatismo. A sua atitude em relação ao mistério é a de um homem de hoje. A ciência dos últimos dez anos levou-nos à beira do infinito: ali tudo pode vir a acontecer, viagens interplanetárias, descoberta da quarta dimensão, T.S.F com Deus. É preciso reconhecer esta nossa superioridade em relação aos nossos pais: daqui em diante estamos prontos para tudo, somos menos crédulos e mais crentes. Quanto mais remontamos às origens do Mundo, quanto mais analisamos os primitivos, mais verificamos que os seus segredos tradicionais coincidem com as nossas atuais investigações. Só há pouco tempo é que a Via Láctea é considerada geradora dos mundos estelares: ora os astecas afirmaram-no e não foram acreditados. Os selvagens conservaram o que a ciência redescobre. Eles acreditaram na unidade da matéria muito antes que o átomo de hidrogênio tenha sido isolado. Eles acreditaram na árvore¬homem, no ferro-homem muito antes de sir J. C. Bose ter medido a sensibilidade dos vegetais, e envenenado metal com veneno de cobra. A fé humana, diz Huxley nos Ensaios de um Biologista, desenvolveu-se do Espírito para os espíritos, depois dos espíritos para os deuses e dos deuses para Deus. Poderia acrescentar-se que de Deus regressamos ao Espírito.
Mas para descobrir que os segredos tradicionais dos primitivos coincidem com as nossas atuais investigações, seria necessário que se estabelecesse uma circulação entre a antropologia e as ciências físicas, químicas e matemáticas recentes. O simples viajante curioso, inteligente e de formação histórico-literária, corre o risco de passar ao lado das mais importantes observações. Até agora a exploração não foi mais do que uma parte da literatura, um luxo da atividade subjetiva. Quando for mais qualquer coisa, talvez nos venhamos a aperceber da existência, há milhares de séculos, de civilizações dotadas de equipamentos técnicos tão consideráveis como os nossos, embora diferentes.
J. Alden Mason, antropologista eminente e muito oficial, afirma, com referências devidamente controladas, que foram descobertos sobre o planalto peruano ornamentos de platina fundida. Ora a platina derrete a 1730 graus, e para a trabalhar é necessária uma tecnologia comparável à nossa. O professor Mason compreende a dificuldade: supõe portanto que esses ornamentos foram fabricados a partir de pó calcinado, e não fundidos. Semelhante suposição prova uma verdadeira ignorância da metalurgia. Dez minutos de pesquisas no Tratado dos Pós Calcinados, de Schwartzkopf, ter-lhe-iam demonstrado que a hipótese era inadmissível. Porque não consultar os especialistas das outras disciplinas? Todo o processo da antropologia lá está. Com a mesma inocência, o professor Mason assegura que se encontra na mais longínqua civilização do Peru a soldadura dos metais à base de resina e de sais metálicos fundidos. O fato de que essa técnica está na base da eletrônica e acompanha tecnologias excessivamente desenvolvidas parece escapar-lhe. Pedimos desculpa de fazer alarde de conhecimentos, mas voltamos a sentir aquela necessidade da informação concomitante, tão intensamente pressentida por Charles Fort.
A despeito da sua atitude muito prudente, o professor John Alden Mason, Curator Emeritus do museu das Antiguidades Americanas da Universidade de Pensilvânia, na sua obra The Ancient Civilization of Peru, abre uma porta sobre o realismo fantástico quando fala dos Quipu. Os Quipu são guitas com nós muito complicados. Encontram-se entre os Incas e os pré-Incas. Tratar-se-ia de uma forma de escrita. Teriam servido para exprimir outros mistérios da história das técnicas: o método da análise espectral foi recentemente utilizado pelo Instituto de Física Aplicada da Academia das Ciências chinesa para examinar um cinto enfeitado com pequenos furos, que data de há 1600 anos e foi descoberto enterrado no meio de muitos outros objetos no túmulo do famoso general dos Tsin do Oeste, Chou Chu, contemporâneo do final do império romano (265¬316 depois de J. C.). Verificou-se que o metal desse cinto era composto por oitenta e cinco por cento de alumínio, 10 por cento de cobre e 5 por cento de manganês.
Ora, embora o alumínio esteja largamente espalhado sobre a Terra, é difícil de extrair. O processo de eletrolização, que é até agora o único conhecido para extrair o alumínio da bauxita, só se desenvolveu a partir de 1808. Que os artífices chineses tenham sido capazes de extrair alumínio de uma tal bauxita, há 1600 anos, é por conseguinte uma importante descoberta na história mundial da metalurgia. (Horizons, n.o 89, Outubro de 1958). idéias, ou grupos de idéias abstratas. Um dos melhores especialistas dos Quipu, Nordenskield, vê neles cálculos matemáticos, horóscopos, diversos métodos de previsão do futuro.
O problema é capital: podem existir outras formas de registrar o pensamento além da escrita. Vamos mais longe: o nó, base dos Quipu, é considerado pelos matemáticos modernos como um dos maiores mistérios. Ele só é possível num número ímpar de dimensões, impossível no plano e nos espaços superiores pares: 4, 6, 2 dimensões, e os topologistas só conseguiram estudar os nós mais simples. Portanto não é improvável que se encontrem inscritos nos Quipu conhecimentos que nós ainda não possuímos.
Outro exemplo: a reflexão moderna sobre a natureza do conhecimento e as estruturas do espírito poderia enriquecer-se com o estudo da linguagem dos Índios Hopi da América Central. Essa linguagem presta-se melhor do que a nossa às ciências exaltas. Não contém palavras-verbo e palavras-substantivos, mas sim palavras-acontecimentos, portanto mais intimamente aplicáveis ao contínuo espaço-tempo no qual agora sabemos que vivemos. Mais ainda, a palavra-acontecimento possui três modos: certeza, probabilidade, imaginação. Em vez de dizer: um homem atravessava a ribeira numa lancha, o Hopi empregará o conjunto homem-ribeira-canoa em três combinações diferentes conforme se tratar de um fato observado pelo narrador, contado por outrem, ou sonhado.
O homem verdadeiramente moderno, no sentido em que Paul Morand o entende e que é também o nosso, descobre que a inteligência é una, através de estruturas diferentes, como a necessidade de viver sob abrigo é una, através de mil arquiteturas. E descobre que a natureza do conhecimento é múltipla, como a própria Natureza.
Pode ser que a nossa civilização seja o resultado de um longo esforço para obter da máquina certos poderes que o homem antigo possuía: comunicar à distância, elevar-se no espaço, libertar a energia da matéria, anular o peso, etc. Pode também acontecer que no final das nossas descobertas nos venhamos a aperceber de que esses poderes são manejáveis com um equipamento tão reduzido que a palavra máquina terá outro sentido. Teremos ido, nesse caso, do espírito para a máquina, e da máquina para o espírito, e certas civilizações longínquas parecer-nos-ão muito menos afastadas.
No seu discurso de recepção na Universidade de Oxford, em 1946, Jean Cocteau conta a seguinte anedota:
O meu amigo Pobers, professor de uma cadeira de parapsicologia em Utreque, foi enviado em missão para as Antilhas a fim de estudar o papel da telepatia, correntemente usada entre os selvagens. Se desejam corresponder-se com o marido ou o filho, na cidade, as mulheres dirigem-se a uma árvore e pai ou filho respondem ao que lhes é perguntado. Um dia em que Pobers assistia a este fenômeno e perguntava à camponesa por que motivo se servia de uma árvore, a sua resposta foi surpreendente e apta a resolver todo o problema moderno dos nossos instintos atrofiados pelas máquinas, nas quais o homem delega todo o esforço. Eis a pergunta: Porque se dirige a uma árvore? E eis a resposta: Porque sou pobre. Se fosse rica, teria o telefone. Certos eletroencefalogramas de Yogis em êxtase apresentam curvas que não correspondem a nenhuma das atividades cerebrais conhecidas em estado de vigília ou de sono. Há muitos brancos com bonecos de fantasia sobre o mapa do espírito civilizado: precognições, intuição, telepatia, gênio, etc. No dia em que a exploração destas regiões estiver realmente desenvolvida e se tiverem aberto pistas através de diversos estados de consciência ignorados pela nossa psicologia clássica, o estudo das civilizações antigas e dos povos considerados primitivos revelará talvez verdadeiras tecnologias e aspectos essenciais do conhecimento. A um centralismo cultural sucederá um relativismo que nos apresentará a história da humanidade sob uma luz nova e fantástica. O progresso não está em reforçar os parêntesis, mas em multiplicar os traços de união.
Antes de prosseguir, e para vos distrair um pouco, gostaríamos que lessem uma pequena história de que muito gostamos. É da autoria de Arthur Clarke, quanto a nós um bom filósofo. Traduzimo-la em vossa intenção. Repousemos portanto e vamos dar lugar às infantilidades explosivas!
Os nove bilhões de nomes de Deus
O doutor Wagner conseguiu reprimir-se. Era meritório. Depois disse:

- O seu pedido é um pouco desconcertante. Que eu saiba, a primeira vez que um mosteiro tibetano faz a encomenda de um computador eletrônico. Não quero ser curioso, mas estava longe de pensar que semelhante instituição pudesse necessitar desta máquina. Posso perguntar-lhe em que deseja utilizá-la?

O lama ajeitou a saia da sua túnica de seda e pousou sobre secretária a régua de calcular com a qual acabava de efetuar conversões libra-dólar.

Imagem: claude lévi-strauss. moaciralencarjunior.wordpress.com

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