segunda-feira, 29 de agosto de 2016

Srinivasa Ramanujan, o homem que sabia do infinito



A biografia de hoje é de Ramanujan, jovem indiano e hindu que, pobre e sem aprendizado formal nenhum, superou e inovou o conhecimento matemático da época surpreendendo professores e matemáticos famosos das universidades europeias.

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É um enigma para a razão ocidental. Resolveu, sem ajuda acadêmica, intrincados teoremas matemáticos que ninguém do stablishment intelectual vigente conseguiu. Dizia na sua ingenuidade de autodidata que uma deusa hindu aparecia em sonhos e o ajudava, algo impensável aos medalhões arrogantes da época. É um caso típico que levanta as teorias de reencarnação, ou no mínimo o funcionamento do DNA ou da química entre mente e corpo, para tentar explicar o até agora inexplicável: porque um ser humano tem um conhecimento tão superior ao dos seus pares, da época, e às vezes de toda a humanidade. Um bom exemplo de realismo Fantástico.
Seu nascimento foi num dia dos princípios do ano de 1887, quando um brâmane da província de Madrasta dirige-se ao templo da deusa Namagiri. O brâmane casou sua filha há já vários meses, e a união mantém-se estéril. Ele pede que a deusa Namagiri fecunde sua filha. Namagiri atende a sua prece. A 22 de Dezembro nasce um rapaz, ao qual é dado o nome de Srinivasa Ramanujan Alyangar. Na véspera, a deusa aparecera à mãe para lhe anunciar que seu filho seria extraordinário.
Aos cinco anos ele vai para a escola. Imediatamente a sua inteligência é de espantar. Parece já saber o que lhe ensinam. Recebe uma bolsa para o liceu de Kumbakonan, onde é admirado pelos condiscípulos e professores. Tem quinze anos.
Um de seus amigos faz com que a biblioteca local lhe empreste um volume intitulado A Synopsis of Elementary Results in Pure and Applied Mathematics. Essa obra, publicada em dois volumes, é um sumário redigido por George Shoobridge, professor em Cambridge. Contém resumos e enunciados sem demonstração de 6000 teoremas, mais ou menos. O efeito que produz no espírito do jovem hindu é fantástico. O cérebro de Ramanujan começa bruscamente a funcionar de maneira totalmente incompreensível para nós. Ele demonstra todas as fórmulas dos teoremas.
Depois de esgotar a geometria, ataca a álgebra. Ramanujan contará mais tarde que a deusa Namagiri lhe apareceu para lhe explicar os cálculos mais difíceis. Aos dezesseis anos fica mal nos exames, pois o seu inglês continua fraco, e a bolsa é retirada. Prossegue sozinho, sem documentos, as suas investigações matemáticas. Em primeiro lugar põe-se em dia com todos os conhecimentos na matéria, no ponto em que eles estão em 1880. Pode desprezar o trabalho desse professor Shoobridge. Ultrapassa-o largamente. Sozinho, recria, depois ultrapassa todo o esforço matemático da civilização a partir de um sumário, aliás incompleto.
A história do pensamento humano não conhece outro exemplo. O próprio Galois não trabalhara sozinho. Fizera os seus estudos na Escola Politécnica, que era na época o melhor centro matemático do Mundo. Tinha acesso a milhares de obras. Estava em contacto com sábios de primeira ordem.
Nunca o espírito humano se ergueu tão alto com tão pouco apoio. Em 1909, após anos de trabalho solitário e de miséria, Ramanujan casa-se. Procura um emprego. Recomendam-no a um cobrador de impostos local, Ramachandra Raô, amador esclarecido de matemática. Este deixou-nos uma descrição do encontro: "Um homenzinho pouco limpo, por barbear, com uns olhos como jamais vi, entrou no meu quarto, com um livro de notas usado debaixo do braço. Falou-me de descobertas maravilhosas que ultrapassavam infinitamente o que eu sabia. Perguntei-lhe o que poderia fazer por ele. Disse-me que queria apenas ter o suficiente para comer, a fim de poder continuar as suas investigações.
Ramachandra Raô concedeu-lhe uma pequena pensão. Mas Ramanujan é demasiado orgulhoso. Arranjam-lhe finalmente uma situação: um medíocre lugar de contabilista no porto de Madrasta. Em 1913 aconselharam-no a entrar em correspondência com o grande matemático inglês G. H. Hardy, na altura professor em Cambridge. Ele escreve-lhe e envia-lhe pelo mesmo correio 120 teoremas de geometria que acaba de demonstrar. Hardy viria a escrever mais tarde: "Essas notas só poderiam ter sido escritas por um matemático do mais alto calibre. Nenhum usurpador de idéias, nenhum farsante, mesmo genial, teria possibilidades de apreender abstrações tão elevadas". Propõe imediatamente a Ramanujan que se dirija a Cambridge. Mas a mãe opõe-se, por razões religiosas. E uma vez mais a deusa Namagiri é quem resolverá a dificuldade. Aparece à velha dama para a convencer de que seu filho pode ir para a Europa sem perigo para a sua alma, e mostra-lhe, em sonhos, Ramanujan sentado no grande anfiteatro de Cambridge no meio dos ingleses que o admiram. No final do ano de 1913, o hindu embarca. Durante cinco anos irá trabalhar e fazer avançar prodigiosamente as matemáticas.
É eleito membro da Sociedade Real das Ciências e nomeado professor em Cambridge, no colégio da Trinity. Em 1918 adoece. Fica tuberculoso. Regressa a Índia para morrer, aos trinta e dois anos. Deixou em todos aqueles que dele se aproximaram uma recordação extraordinária. Só vivia no meio dos números. Hardy vai visitá-lo ao hospital, e diz-lhe que apanhou um táxi. Ramanujan pergunta o número do automóvel: 1729. "que belo número!, exclama; é o menor número que é duas vezes uma soma de dois cubos!" De facto, 1729 é igual a 10 ao cubo mais nove ao cubo, e também a 12 ao cubo mais 1 ao cubo. Hardy precisou de seis meses para o demonstrar, e o mesmo problema ainda não está resolvido para a quarta potência.
A história de Ramanujan é daquelas em que ninguém acreditaria. Mas é rigorosamente verdadeira. Não é possível exprimir em termos simples a natureza das descobertas de Ramanujan. Trata-se dos mistérios mais abstratos da noção do número, e particularmente dos números primos. Fora das matemáticas não se sabe bem quais as coisas que interessavam a Ramanujan. Preocupava-se pouco com a arte e a literatura. Apaixonava-se pelo extraordinário. Em Cambridge organizara uma pequena biblioteca e um arquivo sobre toda a espécie de fenômenos desconcertantes para a razão. Um bom cartão de visita.
Imagem: wikimedia