quarta-feira, 30 de novembro de 2011

O Despertar dos Mágicos (61). Sobre a parede da casa Ipatieff, a czarina, antes da sua execução, teria desenhado uma cruz gamada, acompanhada de uma i


Segundo o nosso método, vamos agora apresentar informações e confirmações respeitantes a outros aspectos desprezados do socialismo mágico: a sociedade Tule, vértice da Ordem Negra, e a sociedade Ahnenerbe. Conseguimos reunir uma documentação bastante volumosa, cerca de um milhar de páginas.

Louis Pauwels e Jacques Bergier. DIFEL

Mas essa documentação deveria ser mais uma vez verificada e copiosamente completada se quiséssemos realizar um trabalho claro, poderoso completo. De momento, isso está fora das nossas possibilidades: Para mais, não pretendemos tornar excessivamente pesado o presente volume, que só a título de exemplo do realismo fantástico se refere à história contemporânea. Eis portanto a seguir um breve resumo de algumas verificações esclarecedoras.
Num dia de Outono de 1923 morreu em Munique uma personagem singular, poeta, dramaturgo, jornalista, boêmio, que o nome de Dietrich Eckardt. Com os pulmões queimados pela perita, ele fizera, antes de entrar na agonia, a sua oração muito pessoal perante um meteorito negra da qual dizia: É a minha pedra de Kaaba, e que legou ao professor Oberth, um dos criadores da Astronáutica. Acabava de enviar um longo manuscrito ao seu amigo Haushoffer. Os seus assuntos estavam em ordem. Ele morria, mas a Sociedade Tule continuaria a viver e em breve transformaria o mundo e a vida sobre a Terra.
Em 1920, Dietrich Eckardt e outro membro da sociedade tule o arquiteto Alfred Rosenberg, travaram conhecimento com Hitler. Marcaram-lhe uma primeira entrevista na casa de Wagner, em Beirute. Durante três anos rodearão sem cessar o pequeno caporal da Reichswehr, dirigindo-lhe os pensamentos e os atos. Konrad Heiden escreve: Eckardt empreende a formação espiritual de Adolfo Hitler. Ensina-lhe a escrever e a falar. Os seus ensinamentos desenvolvem-se sobre dois planos: a doutrina secreta e a doutrina de propaganda. Narrou algumas das conversas que teve com Hitler em relação à segunda num curioso folheto intitulado O bolchevismo de Moisés a Lenine. Em junho de 1923, esse novo mestre, Eckardt, será um dos sete membros fundadores do partido nacional-socialista. Sete: número sagrado. No Outono, por altura da sua morte, diz: Sigam Hitler. Ele há-de dançar, mas a música foi escrita por mim. Nós concedemos-lhe os meios de comunicar com Eles... Não me lamentem: terei influenciado a história mais do que qualquer outro alemão. . .
A lenda de Tule remonta às origens do germanismo. Tratar-se-ia de uma ilha desaparecida, em qualquer parte no Extremo Norte. Na Groenlândia? No Lavrador? Como a Atlântida. Tule teria sido o centro mágico de uma civilização submersa. Para Eckardt e seus amigos, nem todos os segredos de Tule se teriam perdido. Seres intermediários entre o homem e as inteligências do Exterior disporiam, para os iniciados, de um reservatório de forças onde as podiam ir buscar para dar de novo à Alemanha o domínio do Mundo, para fazer da Alemanha a nação anunciadora da super-humanidade futura, das mutações da espécie humana.
Um dia agitar-se-ão legiões para destruir tudo o que constituiu obstáculo ao destino espiritual da Terra, e serão conduzidas por homens infalíveis, alimentados nas fontes da energia, guiados pelos Grandes Antigos. Tais são os mitos contidos na doutrina ariana de Eckardt e de Rosenberg, e que esses profetas de um socialismo mágico introduzem na alma mediúnica de Hitler. Mas a sociedade Tule talvez ainda não passe de uma bastante poderosa maquina nazista para misturar o sonho e a realidade. Depressa se transformará, sob outras influências e com outras personagens, num instrumento muito mais estranho: um instrumento capaz de alterar a própria natureza da realidade. Segundo parece, é com Karl Haushoffer que o grupo Tule vai adquirir o seu verdadeiro caráter de sociedade secreta de iniciados em contacto com o invisível, e se tornará o centro mágico do nazismo.
Hitler nasceu em Braunau-sobre-Inn, a 20 de Abril de 1889, às 17 e 30, no número 219 da Salzburger Vorstadt. Cidade fronteira austro-bávara, ponto de encontro de dois grandes estados alemães, foi mais tarde para o Führer uma cidade símbolo. A ela se liga uma singular tradição: é um viveiro de médiuns. É a cidade natal de Willy e Rudi Schneider, cujas experiências psíquicas fizeram sensação há perto de trinta anos. Hitler teve a mesma ama que Willy Schneider. Em 1940, Jean de Pange escrevia: Baunau é um centro de médiuns. Um dos mais conhecidos é Madame Stokhammes que, em 1920, desposou em Viena o príncipe Joaquim da Prússia. Era de Braunau que um espírita de Munique o barão Schrenk-Notzing, mandava vir os seus auxiliares, e um deles era justamente primo de Hitler. O ocultismo ensina que depois de terem conciliado forças ocultas, por meio de um pacto, os membros do grupo não podem evocar essas forças senão por intermédio de um mágico, o qual não poderá agir sem um médium. Tudo se passa como se Hitler tivesse sido o médium e Haushoffer o mágico.
Rauschning descreve assim o Führer: Somos obrigados a pensar nos médiuns. A maior parte do tempo são seres vulgares, insignificantes. Subitamente, como que lhes caem do céu poderes que os elevam acima da medida comum. Esses poderes são exteriores à sua personalidade real. São visitantes oriundos de outros planetas. O médium está possesso. Uma vez libertado, volta a cair na mediocridade. É sem dúvida desta forma que certas forças atravessam Hitler. Forças quase demoníacas das quais a personagem chamada Hitler não é mais do que a vestimenta momentânea. Essa reunião do banal e do extraordinário, eis a insuportável dualidade de que nos apercebemos logo que entramos em contacto com ele.
Este ser poderia ter sido inventado por Dostoievski. Tal é a impressão que provoca numa pessoa estranha a associação de uma confusão doentia e de um poder turvo. Strasser: Aquele que escuta Hitler vê surgir de súbito o Führer da glória humana... Aparece uma luz atrás de uma janela escura. Um senhor com um cômico bigode em vassoura transforma-se em arcanjo... Depois o arcanjo levanta vôo: apenas resta Hitler, que se volta a sentar, alagado em suor, com os olhos vítreos. Bouchez: Examinara-lhe os olhos, uns olhos que se tinham tornado mediúnicos... Por vezes, qualquer coisa se passava, semelhante a um fenômeno de ectoplasma: qualquer coisa parecia habitar o orador. Emanava um fluido. . . Depois voltava a ser pequeno, medíocre, até vulgar. Parecia fatigado, completamente exausto. François-Poncet (ex-embaixador na Alemanha) : Ele entrava numa espécie de transe mediúnico. O rosto refletia um encantamento extático.
Atrás do médium, sem dúvida não está apenas um homem, mas um grupo, um conjunto de energias, uma central mágica.
E o que nos parece fora de dúvida é que Hitler está animado por outra coisa além daquilo que exprime: por forças e doutrinas mal coordenadas mas infinitamente mais temíveis do que apenas a teoria nacional-socialista. Um pensamento muito maior do que o dele, que constantemente o excede, e do qual só dá ao povo, aos seus colaboradores, restos grosseiramente vulgarizados. Ressoador potente, Hitler sempre foi o tambor que se gabava de ser no processo de Munique, e sempre continuou a ser um tambor. No entanto, só reteve e utilizou aquilo que, ao acaso das circunstâncias, servia a sua ambição de conquista do poder, o seu sonho de domínio do Mundo, e o seu delírio: a seleção biológica do homem-deus.
Mas há outro sonho, outro delírio: modificar a vida sobre todo o planeta. Por vezes abre-se, ou antes, o pensamento interior excede-o, e filtra bruscamente por uma pequena abertura. Dizia a Rauschning: A nossa revolução é uma nova etapa, ou antes a etapa definitiva da evolução que conduz à supressão da história. . . Ou ainda: Não sabem nada de mim, os meus camaradas do partido não fazem a menor idéia dos sonhos que faço e do edifício grandioso do qual pelo menos os alicerces estarão edificados quando eu morrer. . . Há uma curva decisiva do mundo, eis-nos na charneira dos tempos... Haverá uma alteração do planeta que vós, os não iniciados, são incapazes de compreender. . . O que se está a passar é mais do que o aparecimento de uma nova religião. . .
Rudolf Hess fora o assistente de Haushoffer quando este professava na Universidade de Munique. Foi ele que estabeleceu o contacto entre Haushoffer e Hitler. (Fugiu de avião da Alemanha, para uma expedição delirante, depois de Haushoffer lhe ter dito que o vira voar, em sonhos, a caminho da Inglaterra. Nos raros momentos de lucidez que a sua inexplicável doença lhe permite, o prisioneiro Hess, último sobrevivente do grupo Tule, teria declarado formalmente que Haushoffer era o mágico, o mestre secreto.)
Após a revolta falhada, Hitler é encerrado na prisão de Landshurt. Levado por Hess, o general Karl Haushoffer visita quotidianamente Hitler, passa horas junto dele, desenvolve as suas teorias e delas extrai todos os argumentos favoráveis à conquista política. A sós com Hess, Hitler mistura para a propaganda externa as teses de Haushoffer e os projetos de Rosenberg, num conjunto imediatamente ditado para Mein Kampf.
Karl Haushoffer nasceu em 1869. Fez diversas estadias nas Índias e no Extremo-Oriente, foi enviado ao Japão e aí aprendeu a língua. Para ele a origem do povoalemão dera-se na Ásia Central e a permanência, a grandeza, a nobreza do mundo estavam asseguradas pela raça indo-germânica. No Japão, Haushoffer teria sido iniciado numa das mais importantes sociedades secretas budistas e ter-se-ia comprometido, em caso de malogro da sua missão, a executar o suicídio cerimonial.
Em 1914, Haushoffer, jovem general, faz-se notar por um extraordinário poder de predizer os acontecimentos: horas de ataque do inimigo, locais onde cairão as bombas, tempestades, alterações políticas em países de que nada se sabe. Terá Hitler possuído também esse dom de clarividência ou seria Haushoffer que lhe murmura-a as suas próprias inspirações? Hitler predisse com exatidão a data de entrada das suas tropas em Paris, a data da chegada a Bordéis dos primeiros arrombadores de bloqueio. Quando decide a ocupação da Renânia, todos os peritos da Europa, incluindo os alemães, estão persuadidos de que a França e a Inglaterra se oporão. Hitler prediz que não. Ele virá a anunciar a data da morte de Roosevelt.
Após a primeira grande guerra, Haushoffer retoma os seus estudos e parece dedicar-se exclusivamente à geografia política, funda a revista de Geopolítica e publica numerosos trabalhos. Muito curiosamente, esses trabalhos parecem baseados num realismo político acanhadamente materialista. Essa preocupação, em todos os membros do grupo, em empregar uma linguagem exotérica puramente materialista, em transportar para o exterior concepções pseudocientíficas baralha constantemente as cartas. O geopolítico sobrepõe-se a outra personagem, discípulo de Schopenhauer, inclinado para o budismo, admirador de Inácio de Loiola tentado pelo governo dos homens, espírito místico em busca de realidades ocultas, homem de grande cultura e de grande psiquismo. Parece muito provável que tenha sido Haushoffer a escolher a cruz gamada para emblema.
Na Europa, como na Ásia, a suástica foi sempre considerada um signo mágico. Viram nele o símbolo do Sol, fonte de vida e de fecundidade, ou do trovão, manifestação da cólera divina, que é necessário esconjurar. Ao contrário da cruz, do triângulo, do círculo ou do crescente, a suástica não é um símbolo elementar que possa ter sido inventado e reinventado em qualquer época da humanidade e em todos os pontos do globo comuma simbólica sucessivamente diferente. É o primeiro signo traçado com uma intenção precisa. O estudo das suas migrações põe o problema das primeiras eras, das origenscomuns nas diversas religiões, das relações pré-históricas entre a Europa, a Ásia e a América. O seu mais antigo rasto teria sido descoberto na Transilvânia e remontaria ao final da época da pedra polida.
Voltamos a encontrá-lo sobre centenas de fusos datando do século XIV antes de Cristo e nos vestígios de Tróia. Aparece na Índia no século IV antes de Cristo e na China no século v da nossa era. Vemo-lo um século mais tarde no Japão, no momento da introdução do budismo, que dela faz um emblema. Constatação capital: é completamente desconhecido ou só aparece a título acidental em toda a regiãosemítica, no Egito, na Caldeia, na Assíria, na Fenícia. É um símbolo exclusivamente ariano. Em 1891, Ernest Krauss chama a atenção do público germânico para este fato: Guido List, em 1908, descreve a suástica nas suas obras de divulgação como um símbolo de pureza do sangue e, ao mesmo tempo, como um signo de conhecimento esotérico, revelado pela decifração da epopéia rúnica de Edda. Na corte da Rússia, a cruz gamada é introduzida pela imperatriz Alexandra Feodorovna. Teria sido sob a influência dos teósofos? Ou antes sob a do médium Badmaiev, estranha personagem formada em Lassa e que em seguida estabeleceu numerosas ligações com o Tibete? Ora o Tibete é uma das regiões do Mundo onde a suástica - orientada quer para a direita, quer para a esquerda - é de uso corrente. Vem agora a propósito uma história bastante espantosa.
Sobre a parede da casa Ipatieff, a czarina, antes da sua execução, teria desenhado uma cruz gamada, acompanhada de uma inscrição. Teria sido tirada uma fotografia dessa inscrição, que depois se apressaram a apagar. Koutiepoff teria estado de posse de uma fotografia feita a 24 de Julho, ao passo que a fotografia oficial data de 14 de Agosto. Teria igualmente recebido em depósito o ícone descoberto sobre o corpo da czarina, no interior do qual se encontraria outra mensagem em que se aludia à sociedade secreta do Dragão Verde. Segundo o agente de informações, que viria a ser misteriosamente envenenado e que nos seus romances usava o pseudônimo de Teddy Legrand, Koutitepoff desaparecera sem deixar rasto; teria sido raptado e assassinado no iate de três mastros do barão Otto Bautenas, igualmente assassinado mais tarde. Teddy Legrand escreve: O grande barco branco chamava-se Asgard. Fora portanto batizado - teria sido fortuitamente?com um vocábulo com que as lendas islandesas designam o Reino do Rei de Tule. Segundo Trebich Lincoln (que na realidade afirmava ser o lama Djordni Den), a sociedade dos Verdes, parente da sociedade Tule, tinha as suas origens no Tibete. Em Berlim, um monge tibetano, a quem chamavam o homem das luvas verdes e que por três vezes anunciou na imprensa, com precisão, o número dos deputados hitlerianos enviados ao Reichstag, recebia regularmente Hitler. Era, segundo os iniciados, detentor das chaves que abrem o reino de Agartha.
Imagem: ... admirar o sol e esperar que a noite nos tragaa magia do desconhecido.
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sábado, 26 de novembro de 2011

O Despertar dos Mágicos (60). O Universo não passava de uma ilusão e a sua estrutura podia ser modificada pelo pensamento ativo dos iniciados.



Seu filho, Americ Vespucius Symnes, era um dos seus adeptos e tentou, sem êxito, reunir essas notas num trabalho coerente. Acrescentou uma suposição segundo a qual, depois de os tempos mudarem, as Dez Tribos perdidas de Israel seriam descobertas, vivendo provavelmente no interior da mais exterior das esferas.

Louis Pauwels e Jacques Bergier. DIFEL

Em 1870, outro americano, Cyrus Read Teed, proclama por sua vez que a Terra é oca. Teed era um espírito de grande erudição, especializado no estudo da literatura alquímica. Em 1869 na altura em que trabalhava no seu laboratório e meditava sobre os Livros de Isaías, tivera uma inspiração. Compreendera que habitamos, não sobre a Terra, mas no interior. Como essa visão vinha dar crédito a antigas lendas, criou uma espécie de religião e divulgou a sua doutrina fundando um pequeno jornal: A Espada de Fogo. Em 1894 reunira mais de quatro mil fanáticos. A sua religião chamava-se o Koresháme. Morreu em 1908, depois de anunciar que o seu cadáver não entraria em putrefação. Mas os seus adeptos tiveram de o mandar embalsamar ao fim de dois dias.
Essa idéia da Terra oca está ligada a uma tradição que se encontra em todas as épocas e em todos os locais. As mais antigas obras de literatura religiosa falam de um mundo separado, situado sob a crosta terrestre e que seria a morada dos mortos e dos espíritos. Quando Gilgamesh, herói lendário dos antigos Sumerianos e das epopéias babilônicas, vai visitar o seu antepassado Utnapishtim, desce às entranhas da Terra, e é ali também que Orfeu vai procurar a alma de Eurídice. Ulisses, ao atingir os limites do Ocidente, oferece um sacrifício a fim de que os espíritos dos antigos saiam das profundezas da Terra e o aconselhem. Plutão reina no fundo da Terra sobre os espíritos dos mortos. Os primeiros cristãos reúnem-se nas catacumbas e fazem dos abismos subterrâneos a morada das almas condenadas. As lendas germânicas exilam Vênus para o fundo da Terra. Dante coloca o inferno nos círculos inferiores. Os folclores europeus supõem haver dragões debaixo da terra e os japoneses imaginam nas profundezas da sua ilha um monstro cujos arrepios provocam tremores de terra.
Falamos de uma sociedade secreta pré-hitleriana, a Sociedade do Vril, que misturava essas lendas com as teses apresentadas pelo escritor inglês Bulwer Lytton no seu romance A Raça que nos há-de suplantar. Para os membros dessa sociedade, certos seres com um poder psíquico superior ao nosso habitam cavernas no centro da Terra. De lá sairão um dia para nos governar.
No fim da guerra de 1914, um jovem aviador alemão prisioneiro em França, Bender, descobre velhos exemplares do jornal de Teed, A Espada de Fogo, assim como brochuras de propaganda a favor da Terra oca. Atraído por esse culto e por sua vez inspirado, esclarece e desenvolve essa doutrina. De regresso à Alemanha, organiza um movimento, o Hohl Welt Lehre. Prossegue a tarefa de outro americano, Marshall B. Gardner, que, em 1913 publicara um trabalho para demonstrar que o Sol não estava por cima da Terra, mas no centro da mesma, e emitia raios que exercem uma pressão capaz de nos manter sobre a crosta côncava.
Para Bender a Terra é uma esfera da mesma dimensão que na geografia ortodoxa, mas é oca e a vida acha-se encostada à face interna pelo efeito de certas radiações solares. Para além, o rochedo até ao infinito. A camada de ar, no interior, tem uma altura de sessenta quilômetros, depois rarefaz-se até ao vazio absoluto do centro, onde se encontram três corpos: o Sol, a Lua e o Universo fantasma. Esse Universo fantasma é uma bola de gás azulado na qual brilham grãos de luz a que os astrônomos chamam estrelas. É noite sobre uma parte da concavidade terrestre quando essa massa azul passa diante do Sol, e a sombra dessa massa sobre a Lua produz os eclipses. Acreditamos num Universo exterior, situado por cima de nós, porque os raios luminosos não se propagam em linha reta: são curvos, à exceção dos infravermelhos. Esta teoria de Bender viria a tornar-se popular por volta de 1930. Dirigentes do Reich, oficiais superiores da Marinha e da Aviação acreditavam na Terra oca.
Parece-nos absolutamente insensato que homens encarregados de dirigir uma nação possam, em parte, ter regulado a sua conduta segundo intuições místicas que negam a existência do nosso Universo. No entanto é necessário ver bem que, para o homem simples, para o alemão da rua cuja alma fora modelada pela derrota e pela miséria, a idéia da Terra oca, por volta de 1930, não era mais louca, no fim de contas, que a idéia segundo a qual um grão de matéria conteria fontes de energia ilimitada, ou que a idéia de um Universo com quatro dimensões. A ciência, a partir do final do século XIX, enveredava por um caminho que não era o do bom senso. Para espíritos primários, desgraçados e místicos, qualquer singularidade se tornava admissível e, de preferência, uma singularidade compreensível e consoladora como a da Terra oca. Hitler e os seus camaradas, homens saídos do povo e adversários da inteligência pura, deviam considerar as idéias de Bender mais admissíveis do que as teorias de Einstein, que punham a descoberto um Universo de infinita complexidade, de infinita delicadeza para quem quisesse abordá-lo. O mundo segundo Bender era aparentemente tão louco como o mundo de Einstein, mas para nele penetrar não era preciso mais do que uma loucura de primeiro grau. A explicação do Universo feita por Bender, embora tivesse premissas loucas, desenvolvia-se de maneira razoável. O louco perdeu tudo exceto a razão.
O Hohl Wrelt Lehre, que fazia da humanidade a única presença inteligente do Universo, que reduzia esse Universo apenas às dimensões da Terra, que dava ao homem a sensação de estar envolvido, encerrado, protegido, como o feto no útero da mãe, satisfazia certas aspirações da alma infeliz, concentrada no orgulho e cheia de raiva contra o mundo exterior. Além disso a única teoria alemã que era possível opor ao judeu Einstein. A teoria de Einstein baseia-se na experiência de Michelson e Morley, demonstrando que a velocidade da luz que se desloca no sentido da revolução terrestre é a mesma que a da luz perpendicular a essa revolução. Einstein deduz daí que não há portanto um meio que conduza a luz, mas que esta é composta por partículas independentes.
A partir desse dado, Einstein apercebe-se de que a luz se contrai no sentido do movimento e que é condensação de energia. Ele estabelece a teoria da relatividade do movimento da luz. No sistema Bender, a Terra, sendo oca, não se desloca. Nada há ali a ver com Michelson. A tese da Terra oca, aparentemente, explica a realidade tão bem como a tese de Einstein. Nessa época, nenhuma verificação experimental viera ainda corroborar o pensamento de Einstein, a bomba atômica não viera justificar esse pensamento de forma absoluta e aterradora. Os dirigentes alemães aproveitaram a ocasião para negar qualquer valor aos trabalhos do genial judeu e a perseguição contra os sábios israelitas e contra a ciência oficial começou. Einstein, Teller, Fermi e muitos outros grandes espíritos tiveram de se isolar. Receberam bom acolhimento nos Estados Unidos, dispuseram de dinheiro e de laboratórios bem equipados. A origem do poder atômico americano está nisso. Foi a subida das forças ocultas na Alemanha que concedeu a energia nuclear aos americanos.
O mais importante centro de estudos do exército americano encontra-se em Dayton, no Ohio. Em 1957 era anunciado que o laboratório que, nesse centro, é consagrado à domesticação da bomba de hidrogênio conseguira realizar uma temperatura de um milhão de graus. O sábio que levara a bom termo essa extraordinária experiência era o doutor Heinz Fisher, o homem que dirigira a expedição à ilha de Rügen para verificar a hipótese da Terra oca. Ele trabalhava livremente nos Estados Unidos desde 1945. Interrogado a respeito do seu passado pela imprensa americana, declarou: Os nazistas obrigavam-me a fazer um trabalho de louco, o que prejudicava consideravelmente as minhas investigações. Perguntamos a nós próprios o que teria acontecido e de que maneira teria evoluído a guerra se as pesquisas do doutor Fisher não tivessem sido interrompidas em proveito do místico Bender. . .
Após a expedição da ilha de Rügen, a autoridade de Bender, aos olhos dos dignitários nazistas, diminuiu, apesar da proteção de Goering, que sentia afeto por aquele antigo herói da aviação. Os horbigerianos, os partidários do grave Universo onde reina o gelo eterno. venceram-no. Bender foi mandado para um campo de concentração, onde morreu. Desta forma, a Terra oca teve o seu mártir. No entanto, muito antes dessa louca expedição, os discípulos de Horbiger atormentavam Bender com sarcasmos e pediam que os livros a favor da Terra oca fossem proibidos. O sistema de Horbiger tem as dimensões da cosmologia ortodoxa, e não é possível acreditar simultaneamente no cosmos onde o gelo e o fogo prosseguem a sua luta eterna e no globo oco preso num rochedo que se prolonga até ao infinito. Foi pedida a arbitragem de Hitler. A resposta merece reflexão:
Não temos a menor necessidade - disse Hitler - de uma concepção do mundo coerente. Ambos podem ter razão.
O que conta não é a coerência e a unidade do conjunto, mas sim a destruição dos sistemas provenientes da lógica, das formas de pensamento racional, é o dinamismo místico e a força explosiva da intuição. Há lugar, nas trevas cintilantes do espírito mágico, para mais de uma centelha.
Levam-nos água ao nosso horrível moinho. - O jornal dos Loiros. - O padre Lenz. - Uma circular da Gestapo. A última prece de Dietrich Eckardt. - A lenda de Tule. Um viveiro de médiuns. - Haushoffer o mágico. -Os silêncios de Hess. - A suástica e os mistérios da casa Ipatiev. Os sete homens que queriam modificar a vida. - Uma colônia tibetana. - As exterminações e o ritual. - Está mais escuro do que imaginais.
Vivia em Kiel, após a guerra, um honesto médico dos seguros sociais, perito junto dos tribunais, bem-humorado, que chamava Fritz Sawade. No final do ano de 1959, uma voz misteriosa preveniu o médico de que a justiça ia ser obrigada a prendê-lo. O médico fugiu, vagueou durante oito dias e depois rendeu-se. Tratava-se na realidade do Obersturmbannführe S.S. Werner Heyde. O professor Heyde fora o organizador médico do programa de eutanásia que, de 1940 a 1941, fez 200 vítimas alemãs e serviu de prefácio à exterminação dos estrangeiros nos campos de concentração.
A propósito dessa prisão, um jornalista francês, que é ao mesmo tempo um excelente historiador da Alemanha hitleriana escreveu:
O caso Heyde, como muitos outros, assemelha-se aos icebergs cuja parte visível é a menos importante... A eutanásia dos fracos, dos incuráveis, o extermínio em massa de todas as comunidades susceptíveis de contaminar a pureza do sangue germânico foram realizados com uma obstinação patológica, uma convicção de natureza quase religiosa que parecia atingir a demência. A tal ponto que numerosos observadores dos processos alemães do após-guerra - autoridades científicas ou médicas pouco capazes de admitirem como provas mistificações - acabaram por pensar que a paixão política constituía uma explicação bastante fraca e que era necessário que entre tantos executantes e tantos chefes, entre Himmler e o último guarda de campo de concentração, tivesse imperado uma espécie de elo místico.
A hipótese de uma comunidade iniciática, subjacente ao nacional-socialismo, impôs-se pouco a pouco. Uma comunidade verdadeiramente demoníaca, regida por dogmas ocultos, bem mais aperfeiçoados do que as doutrinas elementares de Mein Kampf ou do Mito do século XX, e servida por ritos cujos vestígios isolados não se notam, mas cuja existência parece incontestável para os analistas (e recordamos que se trata de sábios e de médicos) da patologia nazista. Eis a água para este horrível moinho.
Todavia não pensamos que se trate de uma única sociedade secreta, solidamente organizada e ramificada, nem de um dogma único, nem de um conjunto de ritos organicamente constituído. A pluralidade e a incoerência parecem-nos, bem pelo contrário, significativas dessa Alemanha subterrânea que tentamos descrever. A unidade e a coesão em qualquer assunto, mesmo místico, parece indispensável a um ocidental cheio de positivismo e de cartesianismo. Mas aqui estamos fora desse Ocidente; trata-se antes de um culto multiforme, de um estado de superespírito (ou de subespírito) absorvendo diversos ritos, crenças mal ligadas entre si. O importante é manter um fogo secreto, uma chama viva; tudo serve para a alimentar.
Nesse estado já nada é impossível. As leis naturais são interrompidas, o mundo torna¬se fluido. Chefes S.S. declaravam que a Mancha é muito menos larga do que o indicam os Atlas. Para eles, como para os sábios hindus de há dois mil anos, como para o bispo Berkeley no século XVIII, o Universo não passava de uma ilusão e a sua estrutura podia ser modificada pelo pensamento ativo dos iniciados.
O que para nós é possível é a existência de um puzzle mágico, de uma forte corrente luciferina a respeito da qual demos algumas indicações nos capítulos anteriores. Tudo isto pode servir para explicar um grande número de fatos horríveis, de uma forma mais realista que a dos historiadores convencionais que apenas querem ver, atrás de tantos atos cruéis e insensatos, a megalomania de um sifilítico, o sadismo de um grupo de neuróticos, a obediência servil de uma multidão de cobardes.
Imagem: A chave do segredo está em acabar com a ilusão do tempo.
universonatural.wordpress.com

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

O Despertar dos Mágicos (59). visto tudo ser oco neste mundo, tanto os ossos como os cabelos, os caules das plantas, etc., que os planetas também o er


Em Estalingrado não é o comunismo que triunfa sobre o fascismo, ou antes, não é só isso. Analisando de mais longe, quer dizer, com a perspectiva necessária para abarcar o sentido de tão amplos acontecimentos, é a nossa civilização humanista que faz parar o desenvolvimento de outra civilização, luciferina, mágica, não feita para o homem mas para qualquer coisa acima do homem.

Louis Pauwels e Jacques Bergier. DIFEL

Não há diferenças essenciais entre as causas dos atos civilizadores da U.R.S.S. e dos Estados Unidos. A Europa dos séculos XVIII e XIX forneceu o motor que ainda serve. Não faz exatamente o mesmo barulho em Nova Iorque e em Moscou, e é tudo. No fundo, era de fato um mundo inteiro que estava em guerra contra a Alemanha, e não uma aliança momentânea de inimigos fundamentais. Um só mundo que acredita no progresso, na justiça, na igualdade e na ciência. Um só mundo que tem a mesma visão do cosmos, a mesma compreensão das leis universais e que reserva para o homem no Universo o mesmo lugar, nem grande nem pequeno demais. Um só mundo que acredita na razão e na realidade das coisas. Um só mundo

que devia desaparecer completamente para dar lugar a outro de que Hitler se sentia o anunciador.
É o pequeno homem do mundo livre, o habitante de Moscou, de Boston, de Limoges ou de Liège, o pequeno homem positivo, racionalista, mais moralista que religioso, desprovido do sentido metafísico, sem apetite para o fantástico, aquele que Zaratustra classifica como um homem-fingido, uma caricatura, é esse pequeno homem saído da coxa do burguês médio que irá destruir o grande exército destinado a abrir o caminho ao super-homem, ao homem-Deus, senhor dos elementos, dos climas e das estrelas. E, por um curioso capricho da justiça - ou da injustiça - é esse pequeno homem de alma tacanha que, anos mais tarde, vai lançar para o céu um satélite, e inaugurar a era interplanetária. Estalingrado e o lançamento do Sputnik são bem, como dizem os Russos, as duas vitórias decisivas, e eles aproximaram-nas uma da outra ao celebrar, em 1957, o aniversário da sua revolução Foi publicada pelos jornais uma fotografia de Goebbels. Eles acreditavam que íamos desaparecer. Era necessário que triunfássemos para criar o homem interplanetário.
A resistência desesperada, louca, catastrófica de Hitler, no momento em que, como era evidente, tudo estava perdido, só se explica pela expectativa do dilúvio descrito pelos horbigerianos. Se não fosse possível modificar a situação por processos humanos, restava a possibilidade de provocar o julgamento dos deuses. O dilúvio sobreviria, como um castigo, para a humanidade inteira. A noite ia de novo cobrir o globo e tudo ficaria sepultado por tempestades de água e granizo. Hitler, diz Speer com horror, tentava deliberadamente fazer com que tudo morresse com ele. Já não era mais que um homem para quem o fim da sua própria vida significava o fim de todas as coisas. Goebbels, nos seus últimos editais, saúda com entusiasmo os bombardeiros inimigos que destroem o seu país: Sob os destroços das nossas cidades aniquiladas estão enterradas as estúpidas realizações do século XIX. Hitler faz reinar a morte: prescreve a destruição total da Alemanha, manda executar os prisioneiros, condena o seu antigo cirurgião, manda matar o cunhado, pede a morte para os soldados vencidos, e desce ele próprio ao túmulo. Hitler e Goebbels, escreve Trevor Roper, convidaram o povo alemão a destruir as suas cidades e as suas fábricas, a fazer ir pelos ares os seus diques e as suas pontes, a sacrificar os caminhos de ferro e todo o material circulante, e tudo isto em proveito de uma lenda, em nome de um crepúsculo dos deuses. Hitler pede sangue, envia as suas últimas tropas para o sacrifício: As perdas nunca parecem bastante elevadas, diz ele. Não são os inimigos da Alemanha que ganham, são as forças universais que se preparam para destruir a Terra, punir a humanidade, porque a humanidade preferiu o gelo ao fogo, as potências da morte às potências da vida e da ressurreição.
O céu vai vingar-se. Ao morrer, resta apenas reclamar o grande dilúvio. Hitler oferece um sacrifício à água: manda inundar o metropolitano de Berlim, onde morrem 300 000 pessoas refugiadas nos subterrâneos. É um ato de magia iniciática: esse gesto provocará movimentos de apocalipse no céu e na Terra. Goebbels publica um último artigo antes de matar, no Bunker, a mulher, os filhos e de se matar a ele próprio. Intitula o seu edital de despedida: E mesmo que assim fosse. Diz que o drama não se representa à escala da terra, mas do cosmos. O nosso fim será o fim de todo o Universo.
Eles erguiam o seu pensamento demencial em direção aos espaços infinitos, e morreram num subterrâneo. Julgavam preparar o homem-deus ao qual os elementos iriam obedecer. Acreditavam no ciclo de fogo. Venceriam o gelo, tanto na Terra como no céu, e os seus soldados morriam ao deitar as calças abaixo, com o ânus congelado. Alimentavam uma visão fantástica da evolução das espécies, aguardavam formidáveis mutações. E as últimas notícias do mundo exterior foram dadas pelo guarda-mor do Jardim Zoológico de Berlim, que, empoleirado numa árvore, telefonava ao Bunker. Poderosos, esfaimados e orgulhosos, profetizavam: A grande era do mundo renasce, Os anos de ouro reaparecem.
Como uma serpente, a Terra Renova os seus fatos gastos pelo Inverno Mas há sem dúvida uma profecia mais profunda que condena os próprios profetas e os vota a uma morte mais do que trágica: caricatural. No fundo dos seus subterrâneos, ouvindo o rumor cada vez mais forte dos tanques, terminavam a sua vida arrebatada e má entre as revoltas, dores e súplicas com que termina a visão de Shelley que se intitula Hellas: Oh! esperai! O ódio e a morte deverão reaparecer? Esperai! Deverão os homens matar e morrer? Esperai! Não esgoteis até ao sedimento.
A urna de uma amarga profecia! O mundo está cansado do passado. Oh! Oxalá morra ou repouse enfim!
A Terra é oca. - Vivemos no interior. - O Sol e a Lua estão no centro da Terra. - O radar ao serviço dos magos. -Uma religião nascida na América. - O seu profeta alemão era aviador. - O anti-Einstein. - Um trabalho de louco. - A terra côncava, os satélites artificiais e os alérgicos à noção do infinito. - Uma arbitragem de Hitler. - Para além da coerência.
Estamos em Abril de 1942. A Alemanha lança todas as suas forças na guerra. Nada, segundo parece, poderia afastar os técnicos, os sábios e os militares da sua tarefa imediata. No entanto uma expedição organizada, com a concordância de Goering, Himmler e Hitler, deixa o Reich em grande segredo. Os membros dessa expedição são alguns dos melhores especialistas do radar. Sob a orientação do doutor Heinz Fisher, conhecido pelos seus trabalhos sobre os raios infravermelhos, desembarcam na ilha báltica de Rügen. Tinham-nos munido dos mais aperfeiçoados aparelhos de radar. No entanto, esses aparelhos ainda são raros nessa época e estão divididos pelos pontos nevrálgicos da defesa alemã. Mas as observações a que se vão dedicar na ilha de Rügen são consideradas, pelo alto estado-maior da marinha, capitais para a ofensiva que Hitler prepara sobre todas as frentes.
Assim que chega, o doutor Fisher manda apontar os radares para o céu, sob um ângulo de 45 graus. Aparentemente, nada há a revelar na direção escolhida. Os outros membros da expedição supõem que se trata de uma experiência. Ignoram o que esperam deles. O objetivo das investigações ser-lhes-á revelado mais tarde. Constatam, intrigados, que os radares continuam apontados durante vários dias. É então que recebem a seguinte notícia: o Führer tem bons motivos para supor que a Terra não é convexa, mas côncava. Nós não habitamos o exterior do globo, mas o interior. A nossa posição é comparável à de moscas a caminharem no interior de uma bola. O objetivo da expedição é demonstrar cientificamente essa verdade. Por reflexão de ondas de radar propagando-se em linha reta obter-se-ão imagens de pontos extremamente afastados no interior da esfera.
O segundo objetivo da expedição é obter por reflexão imagens da armada inglesa ancorada em Scapaflow.
Martin Gardner narra essa louca aventura da ilha de Rügen no seu livro In the name of Science. O próprio doutor Fisher viria a referir-se-lhe, depois da guerra. O professor Gerard S. Kuiper, do observatório do monte Palomar, consagrou, em 1946, uma série de artigos à doutrina da Terra oca que presidira a essa expedição. Escrevia ele em Popular Astronomy: Personalidades importantes da marinha alemã e da aviação acreditavam na teoria da Terra oca. Pensavam especialmente que ela seria útil para marcar a posição exata da armada inglesa, visto que a curvatura côncava da Terra permitiria observar a grande distância, por intermédio dos raios infravermelhos, menos curvos que os raios visíveis. O engenheiro Willy Ley narra os mesmos fatos no seu estudo de Maio de 1947: Pseudociências entre os Nazistas.
É extraordinário, mas autêntico: altos dignitários nazistas, peritos militares negaram pura e simplesmente o que parece uma evidência para uma criança do nosso mundo civilizado, como seja que a Terra é uma bola cheia e que nós estamos à superfície. Por cima de nós, pensa a criança, estende-se um Universo infinito, com as suas miríades de estrelas e as suas galáxias. Por baixo de nós estão os rochedos. Quer seja francesa, inglesa, americana ou russa, nesse ponto a criança está de acordo com a ciência oficial e também com as religiões e as filosofias admitidas. As nossas morais, as nossas artes, as nossas técnicas baseiam-se nessa visão que a experiência parece verificar. Se procuramos aquilo que melhor pode assegurar a unidade da civilização moderna, é na cosmogonia que o encontraremos. Sobre o essencial, quer dizer, sobre a situação do homem e da Terra no Universo, estamos todos de acordo, quer sejamos marxistas ou não. Só os nazistas não estavam de acordo.
Para os partidários da Terra oca que organizaram a famosa expedição paracientífica da ilha de Rügen, habitamos no interior de uma bola presa numa grande quantidade de rochedo que vai até ao infinito. Vivemos agarrados sobre a superfície côncava. O céu está no centro dessa bola: é uma massa de gás azulada, com pontos de luz brilhante que tomamos por estrelas. Ali só há o Sol e a Lua, mas infinitamente mais pequenos do que dizem os astrônomos ortodoxos. O Universo limita-se a isso. Estamos sós, e envolvidos por rochedos.
Vamos ver como nasceu essa visão das lendas, da intuição e da imaginação. Em 1942, uma nação comprometida numa guerra na qual a técnica é soberana pede à ciência que alimente a mística, à mística que enriqueça a técnica. O doutor Fisher, especialista do infravermelho, recebe como missão a ordem de pôr o radar ao serviço dos magos.
Quer em Paris, quer em Londres, nós temos os nossos pensadores excêntricos, os nossos descobridores de cosmogonias extravagantes, os nossos profetas de toda a espécie de fantasias.
Escrevem opúsculos, freqüentam as lojas dos velhos livreiros, cavaqueiam em Hyde Park ou na Sala de Geografia do Boulevar Saint-Germain. Na Alemanha hitleriana vemos pessoas dessa espécie mobilizar as forças da nação e a aparelhagem técnica de um exército em guerra. Vemo-las influenciar os altos estados-maiores, os chefes políticos, os sábios. É que estamos em presença de uma civilização completamente nova, baseada no desprezo pela cultura clássica e pela razão. Nessa civilização, a intuição, a mística, a inspiração poética são colocadas exatamente no mesmo plano que a investigação científica e o conhecimento racional. Quando ouço falar de cultura pego no meu revólver, diz Goering. Esta frase terrível tem dois sentidos: o literal, onde se vê Goering-Ubu partir a cabeça aos intelectuais, e um sentido mais profundo e também mais verdadeiramente prejudicial àquilo a que chamamos a cultura, onde se vê Goering atirar balas explosivas que são a cosmogonia horbigeriana, a doutrina da Terra oca ou a mística do grupo Tule.
A doutrina da Terra oca nasceu na América no princípio do século XIX. A 10 de Abril de 1818, todos os membros do Congresso dos Estados Unidos, os diretores das Universidades e alguns grandes sábios receberam a seguinte carta: São Luís, Território do Missouri, América do Norte, 10 de Abril:
Ao mundo inteiro, Declaro que a Terra é oca e habitável interiormente. Ela contém diversas esferas sólidas, concêntricas, colocadas uma dentro da outra, e é aberta no pólo de 12 a 16 graus. Com prometo-me a demonstrar a realidade do que afirmo e estou pronto a explorar o interior da Terra se o mundo aceita auxiliar-me no meu empreendimento. CLEVES SYMNES, antigo capitão de infantaria de Ohio.
Sprague de Camp e Willy Ley, na sua bela obra Do Atlântico ao Eldorado, resumem da seguinte forma a teoria e a aventura do antigo capitão de infantaria: Symnes afirmou, visto tudo ser oco neste mundo, tanto os ossos como os cabelos, os caules das plantas, etc., que os planetas também o eram e que no caso da Terra, por exemplo, podiam distinguir-se cinco esferas colocadas umas no interior das outras, todas habitáveis, tanto no interior como no exterior e todas equipadas com vastas aberturas polares pelas quais os habitantes de cada esfera podem ir de qualquer ponto do interior para outro, ou para o exterior, como uma formiga que percorresse o interior e depois o exterior de uma taça de porcelana... Symnes organizava as suas tournées de conferências como se fossem campanhas eleitorais. Quando morreu deixou montões de notas e provavelmente o pequeno modelo de madeira do globo de Symnes, que se encontra atualmente na Academia das Ciências Naturais de Filadélfia.