terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

O Despertar dos Mágicos (14). Simon Newcomb demonstra que aquilo que é mais pesado do que o ar não teria possibilidades de voar.


Voltemos ao nosso assunto. Nesta parte do nosso trabalho, intitulada O Futuro Anterior, o nosso raciocínio é o seguinte:

- Poderia dar-se o caso de que aquilo a que chamamos esoterismo, alicerce das sociedades secretas e das religiões, seja o resíduo, dificilmente compreensível e manejável, de um conhecimento muito antigo de natureza técnica, adaptável simultaneamente a matéria e ao espírito. É o que mais adiante desenvolveremos.

Louis Pauwels e Jacques Bergier. DIFEL

- Segredos não seriam fábulas, histórias ou divertimentos, mas receitas técnicas exatas, chaves para libertar os poderes contidos no homem e nas coisas.


- A ciência não é a técnica. Contrariamente ao que se pode supor, a técnica, em bastantes casos, não segue a ciência, precede-a. A técnica executa. A ciência demonstra que é impossível executar. Depois as barreiras das impossibilidades desmoronam-se. Evidentemente que não pretendemos dar a entender, bem longe disso, que a ciência é vã. Ver-se-á a importância que damos à ciência e com que olhos maravilhados a vemos mudar de rosto. Pensamos simplesmente que no longínquo passado algumas técnicas podem ter precedido a aparição da ciência.
- Pode acontecer que técnicas passadas tenham dado aos homens poderes demasiado temíveis para ser divulgados.

-A necessidade de segredo poderia ter dois motivos:
a) A prudência. Aquele que sabe não fala. Não deixar cair as chaves em más mãos.
b) O fato de que a possessão e manejo de tais técnicas e conhecimentos exige do homem outras estruturas mentais além das do estado de vigília normal, uma situação da inteligência e da linguagem sobre outro plano - de tal forma que nada é comunicável na condição do homem vulgar. O segredo não é um resultado da vontade daquele que
o guarda, é o resultado da sua própria natureza.
-Verificamos a existência de um fenômeno idêntico no nosso mundo atual. Um desenvolvimento constantemente acelerado das técnicas incita aqueles que sabem aodesejo, depois à necessidade de segredo. O perigo extremo leva à discrição extrema. À medida que o conhecimento se desenvolve e atinge determinado nível, tende a ocultar¬se. Formam-se corporações de sábios e de técnicos. A linguagem da sabedoria e do poder torna-se incomunicável. O problema das diferenças nas estruturas mentais é posto com clareza, no plano de investigação físico-matemática. Ao fim e ao cabo, aqueles que possuem, como Einstein dizia, o poder de tomar as grandes decisões, para
o bem e para o mal, formam uma verdadeira criptocracia. O futuro imediato assemelha¬se às descrições tradicionais.
- A nossa visão do conhecimento passado não está de acordo com o esquema espiritualista. A nossa visão do presente e do futuro imediato introduz magia onde apenas se queria pôr o racional. Para nós, trata-se simplesmente de procurar correspondências esclarecedoras. Estas podem permitir-nos situar a aventura humana na totalidade dos tempos. Tudo o que nos pode servir de ponte é útil.
No fundo, tanto nesta parte do livro como noutras, a nossa opinião é a seguinte: O homem tem, provavelmente, a possibilidade de estar em comunicação com a totalidadedo Universo. É conhecido o paradoxo do viajante de Langevin. Andrômeda está a três milhões, de anos-luz da Terra. Mas o viajante, deslocando-se a uma velocidade pouco mais ou menos igual à da luz, apenas envelheceria alguns anos. Segundo a teoria unitária de Jean Charon, por exemplo, não seria inadmissível que a Terra, durante essa viagem, também não envelhecesse mais do que isso. O homem estaria portanto em contacto com o todo da criação, estando o espaço e o tempo a jogar um jogo diferente do jogo aparente. Por outro lado, a investigação físico-matemática, no ponto em que Einstein a deixou, é uma tentativa da inteligência humana para descobrir a lei que, possivelmente, regula o conjunto das forças universais (gravitação, eletromagnetismo, luz, energia nuclear). Uma tentativa de visão unitária, visto todo o esforço do espírito ser para se situar num ponto em que a continuidade fosse visível. E de onde viria esse desejo do espírito se este não pressentisse que esse ponto existe e que lhe é possível situar-se dessa maneira? Não me procurarias se não me tivesses já encontrado.
Noutro plano, mas dentro deste mesmo movimento, aquilo que procuramos é uma visão contínua da aventura da inteligência humana, do conhecimento humano. Eis a razão por que passamos com a maior velocidade da magia para a técnica, dos Rose-Croix para Princeton, dos Maia para o homem das próximas mutações, do selo de Salomão para a tabela periódica dos elementos, das civilizações extintas para as civilizações a surgir, de Fulcanelli para Oppenheimer, do feiticeiro para a máquina eletrônica analógica, etc. Com a maior velocidade, ou antes a uma velocidade tal que o espaço e o tempo provoquem a destruição da sua carapaça e que a visão do contínuo surja. Há o viajar em sonho e o viajar realmente. Nós preferimos a viagem real.
Neste sentido é que o presente livro não é produto de imaginação. Nós construímos aparelhos (isto é, correspondências demonstráveis, comparações válidas, equivalências incontestáveis). Aparelhos que funcionam, foguetões que partem. E, por vezes, em certos momentos, pareceu-nos que o nosso espírito atingia o ponto em que a totalidade do esforço humano é visível. As civilizações, os períodos do conhecimento e da organização humana são como outros tantos rochedos no meio do oceano. Quando se contempla uma civilização, um período do conhecimento, apenas se vê o choque do oceano contra esse rochedo, o quebrar da onda, a espuma borbulhante. O que procuramos foi o local de onde se pudesse contemplar o oceano inteiro, na sua calma e poderosa continuidade, na sua harmoniosa unidade.
Voltemos agora às reflexões sobre a técnica, a ciência e a magia. Elas irão determinar com exatidão a nossa tese sobre a idéia de sociedade secreta (ou antes de conspiração às claras) e servir-nos de preparação para próximos estudos, um sobre alquimia, outro sobre as civilizações desaparecidas.
Quando um jovem engenheiro entra para a indústria, depressa distingue dois universos diferentes. Há o do laboratório, com as leis definidas das experiências que se podem reproduzir, com uma imagem compreensível do mundo. E há o Universo real, no qual as leis nem sempre são aplicadas, onde os fenômenos são por vezes imprevistos, onde o impossível se realiza. Se tem um temperamento forte, o engenheiro em questão reage pela cólera, a paixão, o desejo de violar essa maldita matéria. Os que adotam esta atitude vivem existências trágicas. Veja-se Edison, Tesla, Armstrong. Um demônio os arrasta.
Werner von Braun experimenta os seus foguetões sobre os londrinos, massacra milhares deles e é finalmente preso pela Gestapo por ter declarado: No fim de contas, estou-me nas tintas para a vitória da Alemanha, o que eu quero é a conquista da Lua! 1 Disse-se que a grande tragédia atual é a política. Essa idéia já caducou. A tragédia é olaboratório. É a esses mágicos que se deve o progresso técnico. Na nossa opinião, a técnica não é de forma alguma a aplicação prática da ciência. Muito pelo contrário, ela desenvolve-se contra a ciência. O eminente matemático e astrônomo Simon Newcomb demonstra que aquilo que é mais pesado do que o ar não teria possibilidades de voar.
Dois mecânicos de bicicletas provar-lhe-ão o contrário. Rutheford, Millikan, provam que jamais será possível explorar as reservas de energia do núcleo atômico. A bomba de Hiroshima explode. A ciência ensina que uma massa de ar homogênea não se pode dividir em ar quente e ar frio. Hilsch demonstra que basta fazer circular essa massa através de um tubo apropriado. A ciência coloca barreiras de impossibilidades. O engenheiro, da mesma forma que o mágico sob o olhar do explorador cartesiano, transpõe as barreiras por meio de um fenômeno análogo ao que os físicos chamam o efeito de túnel. Uma conspiração mágica o atrai. Pretende ver para além do muro, ir até Marte, ativar a pólvora, fazer ouro. Não procura o lucro, nem a glória. Pretende apanhar o Universo em flagrante delito de mistério. No sentido apresentado por Jung, é um arquétipo. Pelos milagres que tenta realizar, pela fatalidade que sobre ele pesa e pelo doloroso fim que a maior parte das vezes o espera, é o filho do herói dos Sagas e das tragédias gregas.
Como o mágico, guarda o segredo e, também como ele, obedece a essa lei de similitude que Frazer sublinhou no seu estudo sobre a magia. No início, a invenção é uma imitação do fenômeno natural. A máquina voadora assemelha-se ao pássaro, o autômato ao homem. Ora a semelhança com o objeto, o ser ou o fenômeno de que ele pretende captar os poderes é quase sempre inútil, mesmo nociva para o bom funcionamento do aparelho inventado. Mas, como o mágico, o inventor encontra na similitude um poder, uma volúpia que o empurra para a frente. A passagem da imitação mágica para a tecnologia científica poderia ser, em muitos casos, relatada com facilidade. Exemplo: Millikan: Elétron.
Na origem, o endurecimento superficial do aço foi obtido, no Próximo-Oriente, mergulhando uma lâmina em brasa no corpo de um prisioneiro. Este é um típico processo mágico: trata-se de transferir para a lâmina as qualidades guerreiras do adversário. Esta prática foi divulgada no Ocidente pelos Cruzados, que tinham verificado que de fato o aço de Damasco era mais rijo do que o aço da Europa. Fizeram-se experiências: mergulhou-se o aço em água sobre a qual flutuavam peles de animais. Obteve-se o mesmo resultado. No século XIX, descobriu-se que esses resultados eram devidos ao azote orgânico. No século XX, quando foi aperfeiçoada a liquefação dos gases, aperfeiçoou-se o processo mergulhando o aço em azote líquido a baixa temperatura. Sob esta forma, a nitruração faz parte da nossa tecnologia. Poder¬se-ia verificar outro elo entre magia e técnica estudando os encantamentos que os antigos alquimistas pronunciavam durante os seus trabalhos. Provavelmente, tratava-se de medir o tempo na obscuridade do laboratório. Os fotógrafos servem-se muitas vezes de verdadeiras canções infantis que recitam enquanto procedem à revelação, e nós ouvimos uma dessas canções no alto da Jungfrau, enquanto se revelava uma placa impressionada pelos raios cósmicos.

Imagem: imagick.org.br

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