quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

O Despertar dos Mágicos (13). Gauguin não põe de parte um cavalo vermelho, Manet uma mulher nua entre os convivas


As pesquisas, indo da estrutura da matéria às técnicas de psicologia coletiva, esconder¬-se-ão, dali em diante e durante vinte e dois séculos, atrás do rosto místico de um povo que o mundo julga apenas preocupado com o êxtase e o sobrenatural. Asoka fundou a mais poderosa sociedade secreta do Universo: a dos Nove Desconhecidos.

Louis Pauwels e Jacques Bergier. DIFEL

Continua a dizer-se que os grandes responsáveis pelo atual destino da Índia - e sábios como Bose e Ram acreditam na existência dos Nove Desconhecidos - deles recebiam conselhos e mensagens. Com alguma imaginação, é possível avaliar-se a importância dos segredos que poderiam guardar nove homens beneficiando diretamente das experiências, dos trabalhos, dos documentos acumulados durante mais de duas dezenas de séculos. Quais os objetivos que esses homens têm em vista? Não deixar cair em mãos profanas os meios de destruição. Prosseguir as investigações benéficas para a humanidade. Esses homens seriam renovados por cooptação a fim de defender os segredos técnicos de um passado longínquo.
São raras as manifestações exteriores dos Nove Desconhecidos. Uma delas está ligada ao prodigioso destino de um dos homens mais misteriosos do Ocidente: o papa Silvestre II, conhecido sob o nome de Gerbert d'Aurillac. Nascido em Auvergne no ano 920, falecido em 1003, Gerbert foi monge beneditino, professor da universidade de Reims, arcebispo de Ravena e papa por mercê do imperador Otão III. Teria passadoalgum tempo em Espanha, depois, uma misteriosa viagem tê-lo-ia levado até às Índias, onde captara diversos conhecimentos que causaram assombro no seu séqüito.
Também possuía, no seu palácio, uma cabeça de bronze que respondia SIM ou NÃO às perguntas que ele lhe fazia sobre a política e a situação geral da cristandade. Na opinião de Silvestre II (volume CXXXIX da Patrologia Latina, de Migne), esse processo era muito simples e correspondia ao cálculo feito com dois números. Tratar-se-ia de um autômato análogo às nossas modernas máquinas binárias. Essa cabeça mágica foi destruída quando da sua morte, e os conhecimentos trazidos por ele cuidadosamente escondidos.
A biblioteca do Vaticano proporcionaria sem dúvida algumas surpresas ao investigador autorizado. O número de Outubro de 1954 de Computers and Automation, revista de cibernética, declara: Temos de imaginar um homem de um saber extraordinário, de uma destreza e de uma habilidade mecânica fora do comum. Essa cabeça falante teria sido feita sob determinada conjunção das estrelas que se dá exatamente no momento em que todos os planetas estão prestes a iniciar o seu percurso.
Não se tratava nem de passado, nem de presente, nem de futuro, pois aparentemente essa invenção ultrapassava de longe a importância da sua rival: o perverso espelho sobre a parede da rainha, precursor dos nossos modernos cérebros automáticos. Houve quem dissesse, evidentemente, que Gerbert apenas foi capaz de construir semelhante máquina porque mantinha relações com o Diabo e lhe jurara eterna fidelidade.
Teriam outros europeus estado em contacto com essa sociedade dos Nove Desconhecidos? Foi preciso esperar pelo século XIX para que reaparecesse este mistério, através dos livros do escritor francês Jacolliot.
Jacolliot era cônsul de França em Calcutá na época de Napoleão III. Escreveu uma obra de antecipação considerável, comparável, se não superior, à de Jules Verne. Deixou, além disso, várias obras consagradas aos grandes segredos da humanidade. Essa obra extraordinária foi roubada pela maior parte dos ocultistas, profetas e taumaturgos. Completamente esquecida em França, é célebre na Rússia.
Jacolliot é formal: a sociedade dos Nove Desconhecidos é uma realidade. E o mais estranho é que cita a este respeito técnicas absolutamente inimagináveis em 1860, como seja, por exemplo, a libertação da energia, a esterilização por meio de radiações e a guerra psicológica.
Yersin, um dos mais próximos colaboradores de Pasteur e de Roux, teria sido informado de segredos biológicos por ocasião da sua viagem a Madras, em 1890, e, segundo as indicações que lhe teriam sido dadas, preparou o soro contra a peste e a cólera.
A primeira divulgação da história dos Nove Desconhecidos deu-se em 1927, com a publicação do livro de Talbot Mundy, que pertenceu, durante vinte e cinco anos, àpolícia inglesa das Índias. Esse livro está a meio caminho entre o romance e a investigação. Os Nove Desconhecidos utilizariam uma linguagem sintética. Cada um deles estaria de posse de um livro constantemente renovado e contendo o relatório pormenorizado de uma ciência.
O primeiro destes livros seria consagrado às técnicas da propaganda e da guerra psicológica. De todas as ciências, diz Mundy, a mais perigosa seria a do controlo do pensamento dos povos, pois permitiria governar o mundo inteiro. É de notar que a Semântica Geral, de Korjybski, apenas data de 1937 e que foi necessário aguardar a experiência da última guerra mundial para que principiassem a cristalizar-se no Ocidente as técnicas da psicologia da linguagem, quer dizer, da propaganda.
O primeiro colégio de semântica americano só foi criado em 1950. Em França, apenas conhecemos A Violação das Multidões, de Serge Tchokhotine, cuja influência nos meios intelectuais e políticos foi importante, apesar de só ao de leve tocar no assunto.
O segundo livro seria consagrado à psicologia. Falaria especialmente na maneira de matar um homem ao tocar-lhe, provocando a morte pela inversão do influxo nervoso. Diz-se que o judô deriva de certos trechos dessa obra.
O terceiro estudaria a microbiologia e especialmente os colóides de proteção.
O quarto trataria da transmutação dos metais. Diz uma lenda que nas épocas de fome, os templos e os organismos religiosos de proteção recebem de uma fonte secreta enormes quantidades de ouro muito fino.
O quinto incluía o estudo de todos os meios de comunicação, terrenos e extraterrenos.
O sexto continha os segredos da gravitação.
O sétimo seria a mais vasta cosmogonia concebida pela nossa humanidade.
O oitavo trataria da luz.
O nono seria consagrado à sociologia, indicaria as leis da evolução das sociedades e permitiria a previsão da queda. À lenda dos Nove Desconhecidos está ligado o mistério das águas do Ganges. Multidões de peregrinos, portadores das mais pavorosas e diversas doenças, ali se banham sem prejuízo para os de boa saúde. As águas sagradas tudo purificam. Pretenderam atribuir essa estranha propriedade do rio à formação de bacteriófagos. Mas por que motivo não se formariam eles igualmente no Bramaputra, no Amazonas ou no Sena? A hipótese de uma esterilização por meio de radiações aparece na obra de Jacolliot, cem anos antes de se saber possível um tal fenômeno. Essas radiações, segundo Jacolliot, seriam originárias de um templo secreto cavado sob o leito do Ganges.
Afastados das agitações religiosas, sociais e políticas, resoluta e perfeitamente dissimulados, os Nove Desconhecidos encarnam a imagem da ciência calma, da ciência com consciência. Senhora dos destinos da humanidade, mas abstendo-se de utilizar o seu próprio poder, essa sociedade secreta é a mais bela homenagem possível à liberdade em plena elevação. Vigilantes no âmago da sua glória escondida, esses nove homens vêem fazer-se, desfazer-se e tornar a fazer-se as civilizações, menos indiferentes que tolerantes, prontos a auxiliar, mas sempre sob essa imposição de silêncio que é a base da grandeza humana. Mito ou realidade? Mito soberbo em todo o caso, vindo das profundezas dos séculos -e ressaca do futuro.
Ainda uma palavra sobre o realismo fantástico. - Ali existiram técnicas. - Houve a necessidade do segredo e volta a haver. - Nós viajamos no tempo. -Queremos ver na sua continuidade, o oceano do espírito. - Novas reflexões sobre o engenheiro e o mágico. -O passado, o futuro. - O presente atrasa-se nos dos sentidos: O ouro dos livros antigos. - Um olhar novo sobre o mundo antigo.
Nós não somos nem materialistas, nem espiritualistas: aliás, tais distinções já não têm, para nós, o menor sentido. Apenas procuramos a realidade sem nos deixarmos dominar pelo reflexo condicionado do homem moderno (a nossos olhos retardatários), que se desvia assim que essa realidade se reveste de uma forma fantástica. Tornamo¬nos novamente bárbaros, a fim de vencer esse reflexo, exatamente como tiveram de o fazer os pintores para destruir a barreira das convenções colocada entre os olhos e os objetos. Também como eles, optamos por métodos balbuciantes, selvagens, por vezes infantis.
Colocamo-nos perante os elementos e os métodos do conhecimento como Cézanne em frente da maçã. Van Gogh em frente do campo de trigo. Recusá-mo-nos a pôr de parte fatos, aspectos da realidade, sob o pretexto de que não são convenientes, de que ultrapassam as fronteiras impostas pelas teorias habituais. Gauguin não põe de parte um cavalo vermelho, Manet uma mulher nua entre os convivas do Déjeuner sur L'herbe, Max Ernst, Picabia, Dali, as figuras saídas do sonho e o mundo vivente na imensidade da consciência. A nossa forma de agir e de ver provocará revolta, desprezo, sarcasmos.
Seremos recusados no Salão. Aquilo que finalmente aceitaram nos pintores, nos poetas, nos cineastas, nos decoradores, etc., ainda não há preparação para ser aceite no nosso domínio. A ciência, a psicologia, a sociologia são florestas de tabos. Mal é expulsa, a idéia do sagrado volta a galope, sob vários disfarces. Que diabo! A ciência não é uma vaca sagrada: podemos empurrá-la, desimpedir o caminho.

Imagem: alienado.com.br

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