segunda-feira, 24 de outubro de 2011

O Despertar dos Mágicos (58). Hitler estava convencido que ali onde ele avançasse o frio recuaria.


No período terrestre e cósmico em que nos encontramos, na expectativa do novo ciclo que determinará sobre a Terra novas mutações, uma nova classificação das espécies e o regresso ao gigante-mago, ao homem-Deus, nesse período coexistem no globo espécies vindas de diversas fases do secundário, do terciário e do quaternário.

Louis Pauwels e Jacques Bergier. DIFEL

Houve fases de ascensão e fases de quedas. Certas espécies são marcadas por degenerescências, outras são anunciadoras do futuro, trazem os germes do porvir. O homem não é uno. Assim, os homens não são os descendentes dos gigantes. Eles apareceram após a criação dos gigantes. Foram criados, por sua vez, por mutação. Mas também essa humanidade mediana não pertence a uma única espécie. Há uma humanidade verdadeira, designada para conhecer o próximo ciclo, dotada dos órgãos psíquicos necessários para representar um papel no equilíbrio das forças cósmicas e destinada à epopéia sob a orientação dos Superiores Desconhecidos que hão-de vir. E há outra humanidade, que não passa de uma aparência, que não merece esse nome, e que sem dúvida surgiu no globo em épocas inferiores e sombrias em que, tendo-se desmoronado o satélite, imensas partes do globo não passavam de lameiros desertos. Foi sem dúvida criada com seres rastejantes e hediondos, manifestações de vida em decadência. Os Ciganos, os Negros e os Judeus não são homens, no verdadeiro sentido da palavra. Nascidos após a derrocada da lua terciária, por mutação brusca, como que por um infeliz tartamudear da força vital condenada, essas criaturas modernas (particularmente os judeus) imitam o homem e invejam-no, mas não pertencem à espécie. Eles estão tão afastados de nós como as espécies animais da verdadeira espécie humana, disse exatamente Hitler a Rauschning, que fica aterrado, pois descobre no Führer uma visão ainda mais louca que em Rosenberg e todos os teóricos do racismo. Não é verdade, precisa Hitler, que eu considere o judeu um animal. Ele está muito mais afastado dos animais do que nós. Exterminá-lo não é portantocometer um crime contra a humanidade: ele não faz parte da humanidade. É um ser estranho à ordem natural.
É este o motivo por que certas sessões do processo de Nuremberg eram desprovidas de sentido. Os juízes não podiam manter qualquer espécie de diálogo com os responsáveis, que aliás tinham desaparecido na sua maior parte, deixando ficar no banco dos réus apenas os executantes. Estavam em presença dois mundos, mas sem comunicação. O mesmo que pretender julgar os Marcianos sobre o plano da civilização humanista. Eles eram Marcianos. Pertenciam a um mundo separado do nosso, daquele que conhecemos há seis ou sete séculos. Uma civilização totalmente diferente do que está estabelecido chamar-se civilização fora organizada na Alemanha em poucos anos, sem que disso nos tivéssemos apercebido claramente. No íntimo os seus iniciadores já não tinham qualquer espécie de comunicação intelectual, moral ou espiritual conosco.
A despeito das formas exteriores, eram-nos tão estranhos como os selvagens da Austrália. Os juízes de Nuremberg esforçavam-se por agir como se não esbarrassem contra essa pavorosa realidade. Em certa medida, tratava-se, de fato, de lançar um véu sobre essa realidade, a fim de que ela ficasse oculta, como nas sortes de prestidigitação. Tratava-se de manter a idéia da permanência e da universalidade da civilização humanista e cartesiana, e era necessário que os acusados fossem, a bem ou a mal, integrados no sistema. Era indispensável. Estava nisso o equilíbrio da consciência ocidental, e devem compreender que não nos passa pela cabeça negar os benefícios do empreendimento de Nuremberg. Pensamos simplesmente que o fantástico foi ali enterrado. Mas era necessário que o fosse, a fim de que não fossem contaminadas dezenas de milhões de almas. Só fazemos as nossas pesquisas para alguns amadores, prevenidos e munidos de máscaras.
O nosso espírito recusa admitir que a Alemanha nazista encarnasse os conceitos de uma civilização sem relação com a nossa.
E no entanto é isso, e mais nada, que justifica essa guerra, uma das poucas da história conhecida cujo objeto foi realmente essencial. Era necessário que uma das duas visões do homem, do céu e da Terra, triunfasse, a humanista ou a mágica. Não havia coexistência possível, ao passo que se pode facilmente imaginar o marxismo e o liberalismo coexistindo: eles assentam sobre a mesma base, pertencem ao mesmo universo. O universo de Copérnico não é o de Plotino; ambos se opõem fundamentalmente, e não apenas no plano das teorias, como no da vida social, política, espiritual, intelectual, passional.
O que nos constrange, para admitir essa visão estranha de outra civilização estabelecida em tão pouco tempo para além do Reno, é que conservamos uma concepção infantil da distinção entre o civilizado e aquele que o não é. Precisamos de capacetes de plumas, de tantãs, de choças para sentir essa diferença. Ora seria mais fácil fazer um civilizado de um feiticeiro banto do que ligarmos Hitler, Horbiger ou Haushoffer ao nosso humanismo. Mas a técnica alemã, a ciência alemã, a organização alemã, comparáveis, se não superiores às nossas, ocultaram-nos esse ponto de vista. A formidável novidade da Alemanha nazista foi que o pensamento mágico se uniu à ciência e à técnica. Os intelectuais difamadores da nossa civilização, virados para o espírito das antigas épocas, sempre foram inimigos do progresso técnico Por exemplo, René Guénon ou Gurdjieff, ou os inúmeros hinduístas. Mas o nazismo foi o momento em que o espírito de magia se apossou das alavancas do progresso material. Lenine dizia que o comunismo é o socialismo mais a eletricidade. De certa maneira, o hitlerismo era o guenonismo mais as divisões blindadas.
Um dos mais belos poemas da nossa época tem por título: Crônicas Relarcianas. O seu autor é um americano de cerca de trinta anos, cristão à maneira de Bernanos, receoso de uma civilização de autômatos, um homem cheio de cólera e de caridade.
O seu nome é Ray Bradbury. Não se trata, como se supõe em França, de um autor de ficção-científica, mas de um artista religioso. Serve-se de temas da mais moderna imaginação, mas se propõe viagens no futuro e no espaço é para descrever o homem interior e a sua crescente inquietação.
No início das Crônicas Marcianas, os homens vão lançar o primeiro grande foguetão interplanetário. Este atingirá Marte e estabelecerá, pela primeira vez, contactos com outras inteligências. Estamos em Janeiro de 1999: No instante anterior era o Inverno em Ohio, com as suas portas e janelas fechadas, as suas vidraças matizadas de geada, os seus telhados franjados de estalactites. . . Depois uma longa onda de calor varreu a pequena cidade. Uma corrente violenta de ar escaldante, como se acabasse de ser aberta a porta de um forno.
O vento quente passou sobre as casas, as moitas, as crianças. Os pedaços de gelo desprenderam-se, quebraram-se e começaram a derreter-se... O verão do foguetão. A notícia espalhava-se de boca em boca pelas grandes casas abertas. O verão do foguetão. A aragem abrasadora do deserto dissolvia nas janelas os arabescos do gelo... A neve, ao cair do céu frio sobre a cidade, transformava-se em chuva quente antes de atingir o solo. O verão do foguetão. À soleira das suas portas onde escorria a água, os habitantes contemplavam o céu que se ia avermelhando. . .
O que mais tarde aconteceu aos homens, no poema de Bradbury, será triste e doloroso porque o autor não acredita que o progresso das almas possa estar ligado ao progresso das coisas. Mas, no prólogo, ele descreve esse verão do foguetão, destacando assim um arquétipo do pensamento humano: a promessa de uma eterna Primavera sobre a Terra. No momento em que o homem atinge o mecanismo celeste e ali introduz um novo motor, grandes alterações se produzem na Terra. Tudo se repercute sobre tudo. Nos espaços interplanetários, onde se manifesta daqui em diante a inteligência humana, produzem-se reações em cadeia que se repercutem no globo, cuja temperatura se modifica.
No momento em que o homem conquista, não apenas o céu, mas o que está para além do céu; no momento em que se opera uma grande revolução material e espiritual no Universo, no momento em que a civilização cessa de ser humana para se tornar cósmica, há uma espécie de recompensa imediata sobre a Terra. Os elementos já não oprimem o homem. Uma eterna suavidade, um eterno calor envolvem o globo. O gelo, sinal de morte, é vencido. O frio recua. A promessa de uma eterna Primavera será mantida se a humanidade cumprir a sua missão divina. Se ela se integrar no Todo universal, a Terra eternamente tépida e florida será a sua recompensa. Os poderes do frio, que são os poderes da solidão e da derrota, serão quebrados pelos poderes do fogo.
É outro arquétipo o da assimilação do fogo à energia espiritual. Quem contém essa energia contém o fogo. Por muito estranho que pareça, Hitler estava convencido que ali onde ele avançasse o frio recuaria. Essa convicção mística explica em parte a maneira como ele conduziu a campanha da Rússia. Os horbigerianos, que se declaravam capazes de prever o tempo sobre todo o planeta, com meses e mesmo anos de antecedência, tinham anunciado um Inverno relativamente suave. Mas havia outra coisa: como os discípulos do gelo eterno, Hitler estava intimamente persuadido de que contraíra uma aliança com o frio, e que as neves das planícies russas não lhe poderiam retardar a marcha. A humanidade, sob a sua orientação, ia entrar num novo ciclo de fogo. Já estava a entrar. O Inverno cederia perante as suas legiões portadoras da chama.
Ao passo que, normalmente, o Führer prestava particular atenção ao equipamento material das suas tropas, apenas mandou entregar aos soldados da campanha da Rússia um suplemento de vestuário irrisório: um cachecol e um par de luvas. E, em Dezembro de 1941, o termômetro descia bruscamente a quarenta graus negativos. As previsões eram falsas, as profecias não se realizavam, os elementos insurgiam-se, as estrelas, no seu percurso, cessavam bruscamente de trabalhar para o homem justo. Era o gelo que triunfava sobre o fogo. As armas automáticas pararam, pois o óleo gelara. Nos reservatórios, a gasolina sintética separava-se, sob a ação do frio, em dois elementos inutilizáveis. Na retaguarda, as locomotivas gelavam. Sob o seu capote e com as botas do uniforme, os homens morriam.
A mais ligeira ferida os condenava. Milhares de soldados, ao acocorarem-se sobre o solo para satisfazer as suas necessidades, caíam com o ânus gelado. Hitler recusou acreditar nesse primeiro desacordo entre a mística e o real. O general Guderian, arriscando-se a ser destituído e mesmo condenado à morte, foi de avião até à Alemanha para pôr o Führer ao corrente da situação e pedir-lhe para dar ordem de retirada.
Quanto ao frio - disse Hitler -, o assunto é comigo. Ataquem!
Foi assim que todo o corpo de batalhão blindado que vencera a Polônia em dezoito dias e a França num mês, os exércitos de Guderian, Reinhardt e Hoeppner, a formidável legião de conquistadores a que Hitler chamava os seus Imortais, golpeada pelo vento, queimada pelo gelo, desapareceu no deserto do frio, para que a mística fosse mais real do que a Terra. O que restava desse Grande Exército teve finalmente de renunciar e atacar em direção ao Sul.
Quando, na Primavera seguinte, as tropas invadiram o Cáucaso, realizou-se uma estranha cerimônia. Três alpinistas S. S. treparam ao cume do Elbruz, montanha sagrada dos arianos, importante local de antigas civilizações, vértice mágico da seita dos Amigos de Lúcifer. Colocaram a bandeira com a suástica abençoada segundo o rito da Ordem Negra. A bênção da bandeira no alto do Elbruz devia marcar o início da nova era. Dali em diante, as estações obedeceriam e o fogo venceria o gelo por vários milênios. Houvera uma grave decepção no ano anterior, mas não passara de uma provação, a última, antes da verdadeira vitória espiritual. E, apesar das advertências dos meteorólogos clássicos, que anunciavam um Inverno ainda mais de recear que o precedente, apesar dos mil sinais ameaçadores, as tropas subiram em direção ao Norte e Estalingrado para cortar a Rússia em duas partes.
Enquanto a minha filha cantava os seus cânticos exaltados, lá no alto perto do mastro escarlate, os discípulos da razão mantiveram-se afastados, com os seus rostos tenebrosos...
Foram os discípulos da razão, com os seus rostos tenebrosos, que venceram. Foram os homens materiais, os homens sem fogo, com a sua coragem, a sua ciência judaico¬liberal, as suas técnicas sem prolongamentos religiosos, foram os homens sem a sagrada desmedida que, auxiliados pelo frio, pelo gelo, triunfaram. Fizeram malograr o pacto. Venceram a magia. Após Estalingrado, Hitler deixa de ser um profeta. A sua religião desmorona-se. Estalingrado não é apenas uma derrota militar e política. O equilíbrio das forças espirituais foi alterado, a roda deixa de se mover. Os jornais alemães aparecem com banda preta e as descrições que fazem do desastre são mais terríveis que as dos comunicados russos. O luto nacional é decretado. Mas esse luto ultrapassa a nação. Reparai bem!, escreve Goebbels. É todo um pensamento, toda uma concepção do Universo que sofre uma derrota. As forças espirituais vão ser destruídas, a hora do julgamento aproxima-¬se.

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