terça-feira, 18 de outubro de 2011

O Despertar dos Mágicos (56). O que se produz no céu determina o que se produz sobre a Terra, mas há reciprocidade.


Em certos países, no Egito, na China, muito mais tarde na Grécia, erguem-se grandes civilizações humanas, mas que se recordam dos Superiores desaparecidos, dos reis gigantes iniciadores. Após quatro mil anos de cultura, os egípcios do tempo de Heródoto e de Platão continuam a afirmar que a grandeza dos Antigos é devida ao fato de terem aprendido as suas artes e as suas ciências diretamente dos deuses.

Louis Pauwels e Jacques Bergier. DIFEL

Após múltiplas degenerescências, outra civilização vai nascer no Ocidente. Uma civilização de homens separados do seu passado fabuloso, limitando-se no tempo e no espaço, reduzidos a si próprios e procurando consolações míticas, exilados das suas origens e inconscientes da imensidade do destino das coisas vivas, ligado aos vastos movimentos cósmicos. Uma civilização humana humanista: a civilização judaico-cristã. É minúscula. É residual.
E no entanto esse resíduo da grande alma passada tem possibilidades ilimitadas de dor e entendimento. É o que constitui o milagre dessa civilização. Mas está no fim. Aproximamo-nos de outra era. Vão produzir-se mutações. O futuro vai dar novamente a mão ao passado mais recuado. A Terra verá novamente gigantes. Haverá outros dilúvios, outros apocalipses, e outras raças governarão. A princípio guardamos uma recordação relativamente clara do que havíamos visto. Depois, esta vida atual ergueu¬se em volutas de fumo e obscureceu rapidamente todas as coisas, à exceção de algumas grandes linhas gerais. Presentemente, tudo nos volta ao espírito com maior clareza do que nunca. E no Universo, onde tudo se repercute sobre tudo, produziremos profundas vagas.
Tal é a tese de Horbiger e tal é o clima espiritual que ela propaga. Esta tese é um poderoso fermento da magia nacional -socialista, e evocaremos mais adiante os seus efeitos sobre os acontecimentos. Ela vem acrescentar súbitas revelações às intuições de Haushoffer, dá asas ao pesado trabalho de Rosenberg, precipita e prolonga as inspirações do Führer.
Segundo Horbiger, estamos portanto no quarto ciclo. A vida sobre a Terra conheceu três apogeus, durante os três períodos de luas baixas, com mutações bruscas, aparições gigantescas. Durante os milênios sem lua surgiram as raças anãs e sem prestígio e os animais que rastejam, como a serpente que recorda a Queda. Durante as luas altas, as raças medianas, sem dúvida os homens comuns do terciário, os nossos antepassados. É ainda preciso lembrar que as luas, antes da sua derrocada, giram em círculo à volta da Terra, criando condições diferentes nas partes do globo que não estão sob esse circuito. De forma que, após vários ciclos, a Terra oferece um espetáculo variado: raças em decadência, raças em evolução, seres intermédios,
degenerado-se aprendizes do futuro, anunciadores das mutações a vir e escravos de ontem, anões das antigas noites e Senhores de amanhã. Precisamos de distinguir no meio de tudo isso os caminhos do sol com um olhar tão implacável quão implacável é a lei dos astros.
O que se produz no céu determina o que se produz sobre a Terra, mas há reciprocidade. Como o segredo e a ordem do Universo residem o menor grão de areia, o movimento dos milênios está contido, de certa maneira, no curto espaço da nossa passagem pelo globo e nós devemos, na nossa alma individual assim como na nossa alma coletiva, repetir as quedas e as ascensões passadas, e preparar os apocalipses e elevações futuras. Nós sabemos que toda a história do cosmos reside na luta entre o gelo e o fogo e que essa luta tem poderosos reflexos neste mundo. No plano humano, no plano dos espíritos e dos corações, quando o fogo não é alimentado, vem o gelo. Sabemo-lo por nós próprios e pela humanidade inteira que está eternamente colocada perante a escolha do dilúvio e da epopéia. Eis a base do pensamento horbigeriano e nazista. Vamos agora estudar as suas conseqüências.
Horbiger ainda tem um milhão de discípulos. - A expectativa do messias. - Hitler e o esoterismo em política. A ciência nórdica e o pensamento mágico. -Uma civilização inteiramente diferente da nossa. - Gurdjieff, Horbiger Hitler e o homem responsável do cosmos. O ciclo do fogo. - Hitler fada. - O fundo do anti-semitismo nazista. - Dos Marcianos a Nuremberg. -O antipacto. - O verão do foguetão. -Estalingrado ou a queda dos magos. -A prece sobre o Elbruz. - O pequenohomem vencedor do super-homem. - É o homem pequeno que abre as portas do céu. - O crepúsculo dos Deuses. - A inundação do metropolitano de Berlim e o mito do Dilúvio. Morte caricatural dos profetas. - O coro de Shelley.
Os engenheiros alemães, cujos trabalhos estão na origem dos foguetões que expulsaram para o céu os primeiros satélites artificiais, foram obrigados a atrasar o acabamento dos V-2 pelos próprios chefes nazistas. O general Walter Dornberger dirigia as experiências de Peenemünde onde nasceram os engenhos teleguiados. Suspenderam essas experiências para submeter os relatórios do general à apreciação dos apóstolos da cosmogonia: horbigeriana. Tratava-se, antes de mais nada, de saber como reagiria, nos espaços, o gelo eterno, e se a violação da estratosfera não desencadearia qualquer desastre sobre a Terra.
O general Dornberger conta, nas suas Memórias, que os trabalhos foram de novo suspensos por dois meses, um pouco mais tarde. O Führer sonhara que os V-2 não funcionariam ou então que o céu se vingaria. Como esse sonho se produziu num estado de transe especial, teve maior influência nos espíritos dos dirigentes do que as opiniões dos técnicos. Para além da Alemanha científica e organizadora, o espírito das antigas magias estava alerta. Esse espírito não morreu.
Em Janeiro de 1958, o engenheiro sueco Robert Engstroem dirigia um memorial à Academia das Ciências de Nova Iorque para precaver os Estados Unidos contra as experiências astronáuticas. Antes de proceder a tais experiências seria conveniente estudar de uma maneira nova a mecânica celeste, declarava esse engenheiro. E prosseguia, em tom horbigeriano: A explosão de uma bomba H sobre a Lua poderia causar um pavoroso dilúvio sobre a Terra. Nesta estranha advertência torna a encontrar-se a idéia paracientífica das alterações de gravitação num Universo em que
tudo se repercute sobre tudo. Essas idéias (que no entanto não são inteiramente para desprezar se se pretende manter abertas todas as portas do conhecimento) continuam, na sua forma ingênita, a exercer um certo fascínio.
No final de um célebre inquérito, o americano Martin Gardner calculava, em 1953, em mais de um milhão o número de discípulos de Horbiger na Alemanha, na Inglaterra e nos Estados Unidos. Em Londres, H. S. Bellamy prossegue há trinta anos a organização de uma antropologia que tem em consideração a derrocada das três primeiras luas e a existência dos gigantes secundários e terciários. Foi ele que pediu aos russos, depois da guerra, autorização para dirigir uma expedição ao monte Ararat, onde contava descobrir a Arca da Aliança. A agência Tass publicou uma recusa categórica, por os soviéticos terem proclamado a atitude intelectual de Bellamy como fascista e serem de opinião que tais movimentos paracientíficos são de natureza a revelar forças perigosas. Em França, Denis Saurat, universitário e poeta, tornou-se o porta-voz de Bellamy e o êxito do trabalho de Velikovsky demonstrou que muitos espíritos continuam sensíveis a uma concepção mágica do mundo. É quase escusado dizer, finalmente, que os intelectuais influenciados por René Guénon e pelos discípulos de Gurdjieff concordam com os horbigerianos.
Em 1952, um escritor alemão, Elmar Brugg, publicava um volumoso trabalho em honra do pai do gelo eterno, do Copérnico do nosso século XX. Escrevia ele:
A teoria do gelo eterno não é apenas uma obra científica considerável. É uma revelação das ligações eternas e incorruptíveis entre o cosmos e todos os acontecimentos da Terra. Ela junta aos acontecimentos cósmicos os cataclismos atribuídos aos climas, as doenças, as mortes, os crimes, e desta forma abre portas completamente novas ao conhecimento da marcha da humanidade. O silêncio da ciência clássica a seu respeito só é explicável pela conspiração dos medíocres.
O grande romancista austríaco Robert Musil, cuja obra pôde ser comparada às de Proust e de Joyce, analisou muito bem o estado das inteligências na Alemanha, no momento em que Horbiger se sente inspirado e em que o caporal Hitler concebe o sonho de redimir o seu povo.
Os representantes do espírito, escreve ele, não estavam satisfeitos. . . Os seus pensamentos nunca se encontravam em repouso, porque se mantinham presos a essa parte irredutível das coisas que vagueia eternamente sem jamais poder entrar na ordem. Por isso se persuadiram finalmente de que a época em que viviam era votada à esterilidade intelectual, e só podia ser salva por um acontecimento ou um homem absolutamente excepcionais. Foi então que nasceu, entre aqueles a que chamamos os intelectuais, o gosto pela palavra redimir. Estavam persuadidos de que a vida acabaria se não chegasse em breve um messias. Era, segundo o caso, um messias da medicina, que deveria salvar a arte de Esculápio das pesquisas de laboratório durante as quais os homens sofrem e morrem sem ser tratados; ou um messias da poesia que devia estar à altura de escrever um drama que atiraria milhões de homens para os teatros e no entanto seria perfeitamente original na sua nobreza espiritual. Para além dessa convicção de que não havia uma atividade humana que pudesse ser salva sem a intervenção de um messias particular, existia ainda, evidentemente, o sonho banal e perfeitamente primitivo de um messias à maneira forte para redimir tudo.
Não é um só messias que vai aparecer, mas, se assim nos podemos exprimir, uma sociedade de messias que vai designar Hitler como seu chefe. Horbiger é um desses messias, e a sua concepção paracientífica das leis do cosmos e de uma história épica da humanidade terá um papel determinante na Alemanha dos redentores. A humanidade vem de mais longe e de mais alto do que se supõe, e está-lhe reservado um destino prodigioso. Hitler, na sua constante exaltação mística, tem consciência de que está ali para que esse destino se cumpra. A sua ambição e a missão de que se supõe encarregado ultrapassam infinitamente o domínio da política e do patriotismo.
A idéia de nação, diz ele próprio, tive de me servir dela por razões de oportunidade, mas já sabia que não podia ter mais do que um valor provisório... Um dia virá em que pouca coisa restará, mesmo aqui na Alemanha, daquilo a que chamamos o nacionalismo. O que haverá no Mundo será uma confraria universal dos mestres e dos senhores. A política é apenas a manifestação exterior, a aplicação prática e momentânea de uma visão religiosa das leis da vida sobre a Terra e no cosmos. Há, para a humanidade, um destino que os homens comuns não são capazes de conceber, cuja visão não poderiam suportar. Isso está reservado para alguns iniciados. A política, diz ainda Hitler, é simplesmente a forma prática e fragmentária desse destino. É o exoterismo da doutrina, com os seus slogans, os seus fatos sociais, as suas guerras. Mas há também um esoterismo.
O que Hitler e os seus amigos encorajam ao defenderem Horbiger, é uma extraordinária tentativa para restaurar, a partir da ciência ou de uma pseudociência, o espírito das antigas épocas segundo o qual o homem, a sociedade e o Universo obedecem às mesmas leis, segundo o qual o movimento das almas e o das estrelas têm correspondências. A luta entre o gelo e o fogo, do qual nasceram, morrerão e renascerão os planetas, dá-se também no próprio homem.
Elmar Brugg escreve com grande exatidão: O Universo, para Horbiger, não é um mecanismo morto de que apenas uma parte se deteriora pouco a pouco para finalmente sucumbir mas um organismo vivo no sentido mais prodigioso da palavra, um ser vivo onde tudo se repercute sobre tudo e que perpétua, de geração em geração, a sua força ardente.
É o fundo do pensamento hitleriano, como bem o viu Rauschning: Só se podem compreender os planos políticos de Hitler conhecendo os seus pensamentos dissimulados e a sua convicção de que o homem está em relação mágica com o Universo.
Essa convicção, que foi a dos sábios nos séculos passados, que governou a inteligência dos povos a que chamamos primitivos e que se subentende na filosofia oriental, não se apagou completamente no Ocidente de hoje, e pode acontecer que a própria ciência lhe dê, de maneira inesperada, um certo vigor. Mas, entretanto, encontramo-la em estado bruto, por exemplo, no judeu ortodoxo Velikovski, cuja obra, Mundos a Chocarem-se, obteve êxito mundial nos anos 1956-57. Para os adeptos do gelo eterno, assim como para Velikovski, os nossos atos podem ter o seu eco no cosmos e o sol pôde imobilizar-se no céu em honra de Josué. Há alguma razão para que Hitler tenha nomeado o seu astrólogo particular uplenipotenciário das matemáticas, da astronomia e da física. Em certa medida, Horbiger e os esoteristas nazistas alteram os próprios métodos e direções da ciência. Reconciliam-na à força com a astrologia tradicional. Tudo o que em seguida se fizer, no plano das técnicas, no imenso esforço de consolidação material do Reich, bem poderá ser feito, aparentemente, fora desse espírito: o impulso foi dado, há uma ciência secreta, uma magia, à base de todas as ciências. Existe, dizia Hitler, uma ciência nórdica e nacional-socialista que se opõe à ciência judaico-liberal. essa ciência nórdica é um esoterismo, ou antes, ela inspira-se no que constitui o próprio fundo de todo o esoterismo.

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