domingo, 1 de maio de 2011

O nome de uma pessoa determina o seu destino?


A ideia de que nosso nome está entrelaçado com o nosso destinos é pelo menos tão antiga quanto o livro dos Gênesis, da Bíblia, quando Abrão teve seu nome mudado para Abraão, que significa “pai das multidões” em hebraico.

Em anos mais recentes, pesquisas de psicologia social têm ligado o nome das pessoas às maiores decisões da vida, como com quem se casar, que rua escolher para viver e qual profissão seguir – tudo baseado em quão bem soa essas escolhas comparadas com o nome da pessoa. Quem nunca se pegou sonhando acordado com “José e Maria, vê como combina?” ou “Doutor João, olha como fica bonito”?

Apesar de tudo isso, o pesquisador da Universidade da Pensilvânia (EUA), Uri Simonsohn, está se aprofundando no tema ao questionar cientificamente o quanto os nossos nomes realmente importam na tomada das decisões mais importantes. Simonsohn examinou se as pessoas tendem a escolher o local de trabalho com base em quão semelhantes são o nome da empresa e o dela próprio.

O estudo, que será publicado na próxima edição da revista “Psychological Science”, é baseado em uma amostra de 438 mil cidadãos estadunidenses que fizeram doações a campanhas políticas nas eleições de 2004. Ele foi pensado de forma similar a um estudo belga que utilizou uma amostra que incluiu cerca de um terço da população geral e descobriu que o nome de cerca de 13% dos empregados de uma empresa possui as mesmas três primeiras letras do nome da própria empresa. (Os dados brutos da pesquisa belga não estavam disponível para o novo estudo).

Entretanto, depois de fazer o controle das pessoas que trabalham em empresas nomeadas em homenagens a elas próprias ou a membros da família, como é comum em escritórios de advocacia, por exemplo, os efeitos da semelhança de nome parecem ter desaparecido, nota Simonsohn.

O que há de especial em um nome?

Quanto aos estudos que encontraram uma ligação entre o nome do empregado e o de sua empresa, Simonsohn comenta: “Eles estão encontrando a causalidade inversa, em vez de alguma atração subconsciente para nomes semelhantes ao seu nome”.

Contudo, os resultados Simonsohn foram contestados por Frederik Anseel, professor de psicologia industrial e organizacional da Universidade de Ghent, na Bélgica, co-autor do estudo belga.

“Nós realmente não concordamos com os pontos Simonsohn, que desconsideram o efeito das letras dos nomes”, opina Anseel, que escreveu uma carta de resposta ao periódico que publicou o estudo.

As diferenças culturais podem explicar a discrepância. Simonsohn aponta para a possibilidade de que uma maior porcentagem de norte-americanos podem começar seus próprios negócios. A comparação direta com estudo de Simonsohn seria difícil, porém, porque semelhantes doações políticas são ilegais na Bélgica. Anseel defende, no entanto, que o efeito de similaridade nas decisões baseadas no nome foi encontrado em vários países ao redor do mundo.

Tendo em vista o estudo de Simonsohn, Anseel considera que “o efeito se mostrou menos forte” do que em sua própria pesquisa, ele continua lá.

Jean Twenge, professora de psicologia da Universidade de San Diego, Califórnia, EUA, se mostra cética em relação à conclusão de Simonsohn de que as pessoas não têm afinidade com empresas dotadas de nomes similares aos seus próprios.

“O grupo escolhido para a pesquisa não é uma parte representativa da população de maneira alguma”, contesta Twenge. Ela explicanda que as pessoas envolvidas, sendo doadores de verba para campanhas políticas, são provavelmente mais ricas que a média da população e são mais propensas a possuir seus próprios negócios.

Dênis, o dentista

Pesquisas anteriores já haviam encontrado uma afinidades com alguns nomes e determinadas áreas de atuação profissional. Por exemplo, há muito mais dentistas chamados Dênis nos Estados Unidos do que seria esperado pelo acaso.

Em um trabalho anterior, Simonsohn tinha criticado algumas dessas pesquisas, inclusive criticando a ideia de que as pessoas escolhem cônjuges com nomes similares. A famigerada pesquisa de Simonsohn, por sua vez, sugere semelhança nos nomes de casaia devido à etnia. Cônjuges com nomes semelhantes, defende, emergem de etnias semelhantes .

“Eu certamente acredito nisso”, diz Simonsohn sobre a ideia de afinidade de nomes, acrescentando: “Se alguém me diz que você toma uma decisão importante da vida baseado em um nome, eu seria cético”.

Simonsohn diz que a pesquisa mais convincente que já viu veio de um estudo de 2008 da Universidade de Michigan, EUA, mostrando que as pessoas estavam mais propensos a doar dinheiro às vítimas de um furacão se a primeira letra de seu nome coincidir com a inicial do furacão. Por exemplo, se seu nome é Regina, você tem mais chances do que o resto da população de ajudar os atingidos pelo furacão Rita. O estudo, aliás, começa com a história de uma mulher chamada Katrina que vende limonada para arrecadar fundos após o furacão Katrina.

Assim, a noção de que nós tomamos decisões por razões inconscientes – e às vezes aparentemente tolas – pode ser um um incômodo.

“É importante considerar que as pessoas nem sempre fazem escolhas racionais para as decisões importantes em suas vidas”, conclui Anseel. “Gostamos de pensar que nós, seres humanos racionais, fazemos uma avaliação muito detalhada de prós e contras na escolha de um emprego e coisas assim, mas nossa pesquisa mostra que outros fatores podem entrar em jogo, sem estarmos conscientes disso”. [Live Science]

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