domingo, 22 de janeiro de 2012

O Despertar dos Mágicos (72). A Torrente do Tempo do poder de viajar através de toda a história do cosmos


A ciência mais recente mostra-nos que consideráveis porções de matéria cerebral são ainda terra desconhecida. Sede de poderes que nós não sabemos utilizar? Sala de máquinas cujo emprego nós desconhecemos? Instrumentos à espera das próximas mutações?

Louis Pauwels e Jacques Bergier. DIFEL

Além disso, sabemos atualmente que o homem não utiliza habitualmente, mesmo para as operações intelectuais mais complexas, senão um décimo do seu cérebro. A maior parte dos nossos poderes continuam portanto por explorar. O mito imemorial do tesouro escondido não significa outra coisa. É o que diz o sábio inglês Gray Walter num trabalho dos mais essenciais da nossa época: O Cérebro Vivo. Num segundo trabalho, misto de antecipação e de observação, de filosofia e de poesia, Walter afirma que provavelmente não existe nenhum limite para as possibilidades do cérebro humano, e que o nosso pensamento explorará um dia o Tempo, como agora exploramos o espaço. Nessa visão aproxima-se do matemático Eric Temple Bell, que dota o herói do seu romance A Torrente do Tempo do poder de viajar através de toda a história do cosmos.
Ora eu descobri, por processos que deficientemente compreendo, o segredo de remontar o decorrer dos acontecimentos. É como nadar: uma vez compreendido, não se esquece jamais. Mas para o atingir é necessária uma prática constante e uma certa crispação involuntária do espírito ou dos músculos, estou certo do seguinte: não há nenhum homem que saiba exatamente como dominou, pela primeira vez, a dificuldade de nadar e sem dúvida os videntes mais exímios são igualmente incapazes de explicar aos outros o segredo de transpor a vuga dos tempos. Como Fred Hoyle e como muitos outros sábios ingleses, americanos ou russos, Eric Temple Bell escreve ensaios ou romances fantásticos (sob o pseudônimo de John Taine). Nem tolo será o leitor que ali não veja mais que uma distração para espíritos adultos. É a única forma de fazer circular certas verdades não aceites pela filosofia oficial. Como em qualquer período pré-revolucionário, os pensamentos do futuro são publicados disfarçadamente. A capa de uma obra de ficção científica, eis o disfarce de 1960.
Agarremo-nos aos fatos. Pode atribuir-se o fenômeno do estado de supervigília a uma alma imortal. Desde há milhares de anos que esse pensamento nos é proposto, mas nem por isso fez avançar o problema. Mas se, para se não ir além dos fatos, nos limitarmos a constatar que a noção de um estado de supervigília é uma aspiraçãoconstante da humanidade, não é suficiente. É uma aspiração. É igualmente qualquer outra coisa.
A resistência à tortura, os momentos de inspiração dos matemáticos, as observações feitas pelo eletroencefalograma dos yogis, e outras provas ainda, devem obrigar-nos a reconhecer que o homem pode aceder a outro estado sem ser o estado lúcido de vigília normal. Sobre este estado, cada um é livre de adotar a hipótese que escolher, graça de Deus ou despertar do Eu Imortal. Livre igualmente de procurar, como selvagem, uma explicação científica. Compreendam-nos: nós não somos cientistas. Simplesmente, não desprezamos nada que pertença à nossa época para explorar o que é de todos os tempos.
A nossa hipótese é a seguinte:
Habitualmente, as comunicações no cérebro fazem-se através do influxo nervoso. É uma ação lenta: alguns metros por segundo à superfície dos nervos. É possível que em determinadas circunstâncias se estabeleça outra forma de comunicação, mas muito mais rápida, por meio de uma onda eletromagnética que viaja à velocidade da luz. Atingir-se-ia então a enorme rapidez de registro e transmissão de informações das máquinas eletrônicas. Nenhuma lei natural se opõe à existência de tal fenômeno. Semelhantes ondas não seriam detectáveis no exterior do cérebro. É a hipótese que nos sugerimos no capítulo precedente.
Se esse estado de vigília existe, de que forma se manifesta?
As descrições dadas pelos poetas e místicos hindus, árabes, cristãos, etc., não foramsistematicamente reunidas e estudadas. É extraordinário que não exista, na abundante lista das antologias de toda a espécie publicadas na nossa época de recenseamento, uma única antologia do estado de vigília. Essas descrições são probantes, mas pouco claras. No entanto, se quisermos, em linguagem moderna, evocar em que é que se manifesta o estado de vigília, aqui está:
Normalmente, o pensamento caminha, como bem o demonstrou Emile Meyerson. A maior parte dos êxitos do pensamento são, no fundo, o fruto de um caminhar extremamente lento em direção de uma evidência. As mais admiráveis descobertas matemáticas não passam de igualdades. Igualdades inesperadas, mas igualdades apesar de tudo. O grande Léonard Euler considerava o expoente máximo do pensamento matemático a relação: xn + 1 = 0
Essa relação, que reúne o real ao imaginário e constitui a base dos logaritmos naturais, é uma evidência. Desde que a expliquemos a um estudante de matemáticas especiais, ele não deixa de dizer que, de fato isso salta à vista. Porque foi necessário tanto pensamento, durante tantos e tantos anos, para atingir uma tal evidência?
Em física a descoberta da natureza ondulatória das partículas é a chave que abriu a era moderna. Também aí se trata de uma evidência. Einstein escrevera: a energia é igual a mc sendo m a massa e c a velocidade da luz. Isto em 1905. Em 1900, Planck escrevera: a energia é igual a hf, sendo h uma constante e f a freqüência das vibrações. Foi necessário chegar a 1923 para que Louis de Broglie, gênio excepcional, pensasse em igualar as duas equações e escrevesse: hf z
O pensamento rasteja, mesmo nos maiores espíritos. Ele não domina o assunto.
Último exemplo: desde o final do século XVIII, ensinou-se que a massa aparecia simultaneamente na fórmula da energia e 1/2 mv2) e na lei de gravidade de Newton (duas cinética massas se atraem com uma força inversamente proporcional ao quadrado das distâncias).
Porque foi necessário esperar por Einstein para compreender que a palavra massa tem o mesmo sentido nas duas fórmulas clássicas? Toda a relatividade se deduz imediatamente. Por que motivo um único espírito o viu, em toda a história da inteligência? E porque não o viu de uma vez, mas após dez anos de pesquisas desesperadas? Porque o nosso pensamento rasteja ao longo de um tortuoso carreiro situado num plano único, e que se interrompe várias vezes. E as idéias talvez desapareçam e reapareçam periodicamente, tal como as invenções são esquecidas, depois refeitas. E, no entanto, parece possível que o espírito possa elevar-se acima desse carreiro, deixar de rastejar, ter uma visão total, deslocar-se à maneira dos pássaros ou dos aviões. É aquilo a que os místicos chamam o estado de vigília.
Tratar-se-á, aliás, de um ou vários estados de vigília? Tudo leva a crer que existem vários estados, assim como existem várias altitudes de vôo. O primeiro escalão chama¬se gênio. Os outros ao desconhecidos da multidão e tidos como lendas. Também Tróia era uma lenda, antes que as investigações lhe revelassem a existência autêntica.
Se os homens têm em si a possibilidade física de aceder a este ou aqueles estados de vigília, a investigação dos processos para utilizar-se essa possibilidade deveria ser o principal objetivo da sua vida. Se o meu cérebro possui as máquinas necessárias, se tudo isso não é apenas do domínio religioso ou mítico, se tudo isso não é apenas resultante de uma graça, de uma iniciação mágica, mas de determinadas técnicas, de determinadas atitudes interiores e exteriores susceptíveis de pôr em funcionamento essas máquinas, eu então concluo que atingir o estado de vigília, a capacidade de sobrevoar, deveria ser a minha única ambição, o meu trabalho essencial.
Se os homens não concentram todos os seus esforços nessa procura, não é porque sejam fúteis ou maus. Não é uma questão de moral. E, nessa matéria, um pouco de boa vontade, alguns esforços daqui e dali não servem para nada. Talvez os instrumentos superiores do nosso cérebro só sejam utilizáveis se a vida inteira (individual, coletiva) for ela própria um instrumento, considerada e vivida inteiramente como uma forma de estabelecer a comunicação.
Se os homens não têm como objetivo único a passagem para o estado de vigília, é porque as dificuldades da vida em sociedade e a procura dos meios materiais de existência não lhes deixam tempo para semelhante preocupação. Os homens não vivem apenas de pão, mas até agora a nossa civilização não se mostrou capaz de o fornecer a todos.
À medida que o progresso técnico conceder aos homens cada vez mais tréguas na luta vital, a procura do terceiro estado de vigília e de hiperlucidez substituir-se-á às outras aspirações. A possibilidade de participar nessa procura será finalmente reconhecida como um dos direitos do homem. A próxima revolução será psicológica.
Imaginemos um homem de Neandertal transportado por um milagre para o Instituto dos Estudos Avançados de Princeton. Ficaria, em face do doutor Oppenheimer, numa situação comparável àquela em que nos encontraríamos em companhia de um homem realmente desperto, de um homem cujo pensamento já não rastejasse, mas se deslocasse em três, quatro ou n dimensões. Fisicamente, parece que nós poderíamos vir a ser um desses homens. Há bastantes células no nosso cérebro, bastantes interconexões possíveis. Mas é-nos difícil imaginar o que semelhante espírito poderia ver e compreender.
A lenda alquímica assegura que as manipulações da matéria no crisol podem provocar o que alguns modernos chamariam uma radiação ou um campo de forças. Essa radiação alteraria todas as células do adepto e faria dele um homem verdadeiramente desperto, um homem que estaria a um tempo aqui e do outro lado, um vivo.
Admitamos, se quiserdes, essa hipótese, essa psicologia soberbamente não euclidiana.
Suponhamos que num dia de 1960 um homem como nós, manipulando a matéria e a energia de determinada maneira, se encontra inteiramente modificado, quer dizer, desperto. Em 1955, o professor Singleton mostrou aos seus amigos, nos corredores da conferência atômica de Genebra, cravos que ele cultivara no campo de radiações do grande reator nuclear de Brookhaven.
Inicialmente tinham sido brancos. Eram agora vermelhos-violáceos, de espécie até então desconhecida. Todas as suas células tinham sido modificadas, e persistiriam, por estaca ou reprodução, no seu novo estado. Dar-se-ia o mesmo com o nosso homem. Ei-lo transformado em nosso superior. O seu pensamento não rasteja, sobrevoa. Integrando de forma diferente o que sabemos, uns e outros, nas nossas diversas especialidades, ou simplesmente estabelecendo todas as conexões possíveis entre as aquisições da ciência humana tal e qual é expressa nos manuais do sétimo ano e nos cursos da Sorbona, pode assim chegar a conceitos que nos são tão estranhos como podiam ser os cromossomos para Voltaire ou o neutrino para Leibniz. Semelhante homem já não teria o menor interesse em comunicar conosco, e não procuraria brilhar tentando explicar-nos os enigmas da luz ou os segredos dos genes. Valéry não publicava os seus pensamentos em jornais infantis. Esse homem sentir-se-ia acima e ao lado da humanidade. Não se poderia entender vantajosamente senão com espíritos semelhantes ao seu.
Pode-se sonhar a este respeito.
Pode-se pensar que as diversas tradições iniciáticas provêm do contacto com espíritos de outros planetas. Pode-se imaginar que, para um homem desperto, o tempo e o espaço deixaram de ter barreiras, e que a comunicação é possível com as inteligências dos outros mundos habitados - o que aliás explicaria o fato de nunca termos sido visitados.
Pode-se sonhar. Sob condição, como o escreve Haldane, de não esquecer que os sonhos dessa espécie são, provavelmente, sempre menos fantásticos do que a realidade.
Eis agora três histórias verdadeiras. Vão servir-nos de ilustração.
Os exemplos não são provas, evidentemente. No entanto, estas três histórias obrigam a pensar que existem outros estados de consciência além dos reconhecidos pela psicologia oficial.
A própria noção de gênio, tão vaga, não é suficiente. Não escolhemos estes exemplos entre as vidas e as obras dos místicos, o que teria sido mais fácil, e talvez mais eficaz. Mas mantemos o nosso propósito de abordar a questão à margem de qualquer igreja, de mãos vazias, como honestos bárbaros...
TRÊS HISTÓRIAS PARA SERVIREM DE EXEMPLO
História de um grande matemático em estado selvagem. - História do mais espantoso clarividente. - História de um sábio de amanhã que vivia em 1750.
RAMANUJÃO
Num dia dos princípios do ano de 1887, um brâmane da província de Madrasta dirige¬se ao templo da deusa Namagiri.
O brâmane casou sua filha há já vários meses, e a união mantém-se estéril. Que a deusa Namagiri a fecunde! Namagiri atende a sua prece. A 22 de Dezembro nasce um rapaz, ao qual é dado o nome de Srinivasa Ramanujão Alyangar. Na véspera, a deusa aparecera à mãe para lhe anunciar que seu filho seria extraordinário.
Aos cinco anos metem-no na escola. Imediatamente a sua inteligência é de espantar. Parece já saber o que lhe ensinam. É-lhe concedida uma bolsa para o liceu de Kumbakonão, onde é admirado pelos condiscípulos e professores. Tem quinze anos. Um de seus amigos faz com que a biblioteca local lhe empreste um volume intitulado: A Synopsis of Elementary Results in Pure and Applied Mathematics. Essa obra, publicada em dois volumes, é um sumário redigido por George Shoobridge, professor em Cambridge.
Contém resumos e enunciados sem demonstração de 6000 teoremas, mais ou menos. O efeito que produz no espírito do jovem hindu é fantástico. O cérebro de Ramanujão começa bruscamente a funcionar de maneira totalmente incompreensível para nós. Demonstra todas as fórmulas. Depois de esgotar a geometria, ataca a álgebra. Ramanujão contará mais tarde que a deusa Namagiri lhe apareceu para lhe explicar os cálculos mais difíceis. Aos dezesseis anos fica mal nos exames, pois o seu inglês continua fraco, e a bolsa é-lhe retirada. Prossegue sozinho, sem documentos, as suas investigações matemáticas. Em primeiro lugar põe-se em dia com todos os conhecimentos na matéria, no ponto em que eles estão em 1880. Pode desprezar o trabalho desse professor Shoobridge. Ultrapassa-o largamente. Sozinho, recria, depois ultrapassa todo o esforço matemático da civilização - a partir de um sumário, aliás incompleto. A história do pensamento humano não conhece outro exemplo. O próprio Galois não trabalhara sozinho. Fizera os seus estudos na Escola Politécnica, que era na época o melhor centro matemático do Mundo. Tinha acesso a milhares de obras. Estava em contacto com sábios de primeira ordem. Nunca o espírito humano se ergueu tão alto com tão pouco apoio.
Em 1909, após anos de trabalho solitário e de miséria, Ramanujão casa-se. Procura um emprego. Recomendam-no a um cobrador de impostos local, Ramachandra Raô, amador esclarecido de matemática. Este deixou-nos uma descrição do encontro: Um homenzinho pouco limpo, por barbear, com uns olhos como jamais vi, entrou no meu quarto, com um livro de notas usado debaixo do braço. Falou-me de descobertas maravilhosas que ultrapassavam infinitamente o que eu sabia. Perguntei-lhe o que poderia fazer por ele. Disse-me que queria apenas ter o suficiente para comer, a fim de poder continuar as suas investigações.
Ramachandra Raô concedeu-lhe uma pequena pensão. Mas Ramanujão é demasiado orgulhoso. Arranjam-lhe finalmente uma situação: um medíocre lugar de contabilista no porto de Madrasta. Em 1913 aconselharam-no a entrar em correspondência com o grande matemático inglês G. H. Hardy, na altura professor em Cambridge. Ele escreve¬lhe e envia-lhe pelo mesmo correio 120 teoremas de geometria que acaba de demonstrar. Hardy viria a escrever mais tarde:
Essas notas só poderiam ter sido escritas por um matemático do mais alto calibre. Nenhum usurpador de idéias, nenhum aldrabão, mesmo genial, teria possibilidades de apreender abstrações tão elevadas. Propõe imediatamente a Ramanujão que se dirija a
Cambridge. Mas a mãe opõe-se, por razões religiosas. É uma vez mais a deusa Namagiri que resolverá a dificuldade. Aparece à velha dama para a convencer de que seu filho pode ir para a Europa sem perigo para a sua alma, e mostra-lhe, em sonhos, Ramanujão sentado no grande anfiteatro de Cambridge no meio dos ingleses que o admiram.
Imagem: THE FORBIDDEN GARDEN ... click here to enlarge photos
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