terça-feira, 3 de março de 2009

A tripulação perdida

Introdução
Quando os antigos elaboraram os primeiros mapas do mundo, eles marcaram os limites do seu alcance cartográfico com sinais de medo e do desconhecido: mares cheios de navios encalhados, monstros devoradores e abismos sem fundo. No sul inscreviam as palavras "hic sunt leones" - literalmente "aqui há leões", um alerta firme para não se aventurar mais longe. A ocidente, pensava-se, encontrava-se a terra dos bem-aventurados; da Odisseia de Homero à irlandesa "Viagem de S. Brandão", uma procissão interminável de ilhotas encantadas, costas cobertas de nevoeiro e reinos escondidos habitados pelos espíritos dos mortos. Vinha depois o Oriente, que mesmo antes de Marco Polo tinha a fama de terra exótica rica em jade e especiarias raras - coisas bastante ambicionadas pelos europeus - mas estes tesouros estavam protegidos por poderosos senhores da guerra, altas cordilheiras montanhosas e pela simples distância e despesa requerida para atingi-los.

Desta forma, era o norte, a direcção cujo sinal em forma de seta que parecia apontar para o esquecimento, o alvo dos mais obscuros e estranhos pesadelos. Heródoto colocava os "Anthropophagai" ou canibais não nos trópicos, mas a seu norte (algures onde hoje se encontra a Sérvia). O matemático grego Píteas navegou para norte com cem remadores em 325 a.C., atingindo a Escócia e por fim a Islândia, à qual deu o nome de Thule, o Extremo da Terra (cujo outro extremo era ainda desconhecido), um local raramente visitado mais tarde, com excepção daqueles que como os Escandinavos reuniam o vigor de navegantes e a teimosia de colonos. Para o resto do mundo ocidental o significado do extremo norte era o de um enigma insolúvel, uma extremidade final, um ponto de referência que marcava o fim da referência. Porque haveria alguém de querer ir até lá? O que motivou os primeiros exploradores, em qualquer caso, era frequentemente menos a procura pelo desconhecido do que a possibilidade do comércio, quer fosse a busca da rota mais rápida para as riquezas de Catai ou a crença de que existia ouro debaixo das pedras de gelo.

A história da exploração do Árctico envolve muitas nações e povos - e claro, como outras terras às quais os Europeus chamaram de "novo" mundo, grandes áreas do Árctico já eram habitadas por povos como os Sami da Lapónia e os Yupik, Inupiat e Inuítes da América do Norte. Da era dos Vikings à dos navegadores isabelinos, exploradores procuraram não tanto novo território, mas formas de alargar horizontes. No século XIX, a demanda por uma "Passagem do Noroeste" tornou-se uma obsessão nacional no Reino Unido, tal como o Pólo Norte se tornou para os Estados Unidos no final do século. No entanto, apesar do enorme esforço e sacrifício por parte destas duas nações, muitas das mais bem-sucedidas expedições foram lideradas por Dinamarqueses e Noruegueses, cuja experiência e vontade para aprender a partir de métodos nativos distinguiu os seus esforços.

Os Escandinavos
Os Escandinavos ou exploradores Vikings eram diferentes daqueles que os sucederem. Ambicionavam novas terras e pretendiam colonizá-las, e já estavam acostumados ao clima frio. No século IX atingiram e colonizaram a Islândia, lançando em 874 os alicerces daquilo que mais tarde será Reiquejavique. Insatisfeitos, atingiram a Gronelândia em 984, mas ali as suas colónias revelaram-se menos duráveis. Desconfiavam do povo Inuit local, ao qual davam o nome de Skraelings e resolutamente recusaram-se a depender do peixe e dos mamíferos marinhos, preferindo praticar a agricultura. Pelo século XV as suas últimas colónias por lá tinham desaparecido; escavações de ossos dos sítios revelaram sinais de malnutrição, bem como de conflitos armados entre eles próprios ou contra os Inuit. Entretanto, Leif Ericson tinha navegado para além da Gronelândia, tendo descobrido regiões às quais deu o nome de Markland e Helluland. A identidade exacta destas regiões é controversa, embora sinais claros de presença Viking foram encontrados em L'Anse-aux-Meadows na Terra Nova.


Primeiros exploradores


Sir Martin Frobisher foi um dos primeiros ingleses a atingir o Árctico. e os seus motivos eram praticamente todos monetários. Como outros viajantes do período isabelino, ele esperava encontrar o lendário estreito através da metade setentrional da América do Norte que se revelaria um grande atalho para o Oriente e para o comércio. Não o encontrou, mas em 1576 atingiu a baía que mais tarde receberia o seu nome, onde permaneceu o tempo suficiente para ter um breve encontro hostil com os Inuítes locais. Quando um pequeno grupo dos seus homens não regressou tal como esperava, ele fez refém um caçador local Inuik e não tendo isto produzido efeito, regressou à Inglaterra deixando os homens por sua conta e risco. Mais de trezentos anos depois, os Inuítes nativos contaram ao explorador Charles Francis Hall (veja em baixo) a história sobre como os homens abandonados conseguiram construir um pequeno navio e partir, embora nunca tivessem chegado a casa. Apesar de ter abandonado os seus homens, Frobisher trouxe de volta algumas pequenas pedras negras que achou na costa - pedras cujo brilho o convenceram que poderiam conter ouro. Análises da pedra pareciam provar que o seu palpite estava correcto; ele regressou em 1577 recolhendo grandes quantidades da rocha negra e procurando negociar o regresso dos seus homens, sem saber que eles tinham partido sozinhos. A grande quantidade de rocha recolhida foi novamente analisada e de novo foi dito que continha ouro; em 1578 ele partiu de novo, desta vez com uma frota de quinze navios, que continham tudo o que era necessário para estabelecer uma colónia no Árctico, incluindo tijolos e argamassa. Vários navios afundaram e o solo pobre e o frio rapidamente convenceram os candidatos a colonos que este não era um bom sítio para colonizar. Foi construída uma fornalha, bem como algumas estruturas em madeira, e quantidades enormes de pedra negra foram escavadas. No regresso desta viagem, a pedra foi levada para uma fundição especialmente construída em Dartford, Kent, onde a verdade desagradável foi revelada: a pedra não continha ouro. O que restou foi usado para erguer uma muralha de pedra que ainda hoje pode ser vista em Dartford.


Henry Hudson, como Frobisher, era um aventureiro à procura de riqueza e de fama. Junto com o seu hábil navegador, William Baffin, descobriu duas características geográficas da América do Norte: o rio Hudson e a Baía de Hudson. Foi a segunda destas que o conduziu à sua desgraça; quando ordenava que o seu navio explorasse a costa desta baía à procura de outras saídas, a dissidência e eventualmente a revolta rebentaram entre os seus homens. Hudson, junto com o seu jovem filho e outros marinheiros leais, foi colocado num pequeno barco e largado à deriva. Baffin e os outros rebeldes conseguiram navegar de volta a casa e livrar-se daquilo que poderia constituir graves acusações. O facto de Hudson, um inglês, ter explorado o rio Hudson ao serviço dos Holandeses, pode ter feito com que os Ingleses se sentissem menos inclinados a punir a sua antiga tripulação. Séculos depois, os mapas de Baffin da baía que tem o seu nome provaram ser notavelmente fiáveis e o nome de Hudson sobrevive no rio e na baía, assim como no nome da Companhia da Baía de Hudson, erigida em sociedade comercial em 1670 e hoje umas das companhias mais antigas do mundo.

A era "heróica"


Sir John Ross era escocês e oficial da Marinha Real Britânica. Junto com uma segunda expedição liderada por William Buchan, foi enviado em 1818 pelo Almirantado britânico com ordens para explorar os limites da Baía de Baffin, que tinha sido tão pouco visitada desde a sua descoberta ao ponto de muitos a considerarem uma lenda. Ross cumpriu a missão admiravelmente, circum-navegando toda a baía e descobrindo um grupo até então desconhecido de Inuítes mais tarde conhecidos como Esquimós Polares ou Inighuit no noroeste da Gronelândia. A colónia destes em Etah representava na época o assentamento mais setentrional da Terra; Ross, num gesto de homenagem à sua terra natal, deu-lhes o nome de "Homens das Terras Altas do Árctico". Contudo, na sua viagem de volta, e apesar de ter navegado pelo Estreito de Lancaster, ele voltou para trás, acreditando que a passagem se encontrava obstruída por uma cadeira de montanhas. Isto custou-lhe bastante no regresso, tendo sido criticado na imprensa e aposentado da Marinha. No entanto, ele regressaria ao Árctico mais duas vezes: primeiro como comandante de uma expedição particular que em 1829-1833 descobriu o Pólo Norte magnético e a segunda em 1850 em busca do seu velho amigo John Franklin.

Sir William Edward Parry foi segundo em comando na viagem de John Ross de 1818 e o crítico mais feroz da decisão de voltar para trás no Estreito de Lancaster. Como recompensa, o Almirantado enviou-o de volta, agora em comando de dois navios, o Hecla e o Fury. De regresso ao local da sua desilusão, encontrou navegação livre para oeste através de um canal ao qual deu o nome de Estreito de Barrow em honra de John Barrow, o secretário do Almirantado que apoiou o seu retorno. Conseguiu navegar para oeste mais do que qualquer outro explorador do século XIX, alcançando (e nomeando) a ilha de Melville antes de ter sido forçado a regressar devido às fortes massas de gelo. Passou o Inverno no Árctico - um feito inédito - e conseguiu trazer a maioria do seus homens são e salvos para casa. Comandou mais três expedições, mas nenhuma teve o sucesso da primeira.



Sir John Franklin foi membro de quatro expedições e comandante de três e apesar da trágica perda de vidas em duas destas expedições, foi directa ou indirectamente responsável pelos maiores avanços na exploração do Árctico da América do Norte em todo o século XIX. A sua primeira expedição em 1818 sob o comando de David Buchan, pretendeu navegar para norte das ilhas Spitsbergen, mas foi forçada a regressar pelo gelo. A segunda, uma expedição terrestre que pretendia explorar as terras à volta da boca do rio Coppermine, quase terminou em desastre, uma vez que a falta de mantimentos e o frio extremo criaram obstáculos à marcha de regresso. Quase todos os exploradores franco-canadianos que tinham remado e guiado as suas canoas na viagem para norte faleceram; perderam-se as canoas e os poucos retardatários que conseguiram regressar à base ficaram a poucos dias de morrerem de fome. Houve também pelo menos um caso provável de canibalismo entre os seus homens. Graças à chegada oportuna de ajuda da nação indígena dos Denes, convocada pelo subordinado de Franklin George Back, Franklin e os últimos sobreviventes conseguiram recuperar a saúde. No seu regresso a Inglaterra, descobriu que o seu encontro com a fome fez com que ganhasse o apelido de "o homem que comeu as suas botas", o que teve o estranho efeito de torná-lo mais famoso do que infame.

Franklin regressou no ano seguinte e completou uma mais bem-sucedida exploração da costa do Árctico para ocidente, descobrindo, entre outras, a Baía de Prudhoe, que mais tarde se tornaria conhecida pelas suas vastas reservas de petróleo. Retirou-se depois do trabalho no Árctico, exercendo por algum tempo funções como governador da Terra de Van Diemen (Tasmânia). Em 1845, apesar de ter cinquenta e nove anos de idade, foi de novo chamado a comandar uma última expedição em busca da Passagem do Noroeste, a bordo dos navios "Erebus" e "Terror". Toda a tripulação de 129 homens perdeu-se e o seu destino destes foi um mistério durante quatorze anos; até hoje os seus navios nunca foram encontrados, desconhecendo-se em grande medida o que sucedeu aos últimos sobreviventes. O mistério prendeu a atenção do público na Grã-Bretanha e nos Estados Unidos, países que lançaram múltiplas expedições em busca de Franklin e dos seus homens. Apesar de nenhum ter sido resgatado, estas expedições mapearam uma vasta área do Ártico oriental e eventualmente demonstraram a existência da Passagem do Noroeste, embora nenhuma embarcação a tenha navegado.

A busca por Franklin
Após dois anos sem nenhuma notícia da expedição, Lady Jane Franklin pressionou o Almirantado a enviar uma missão de resgate. No entanto, o sinal de alarme demorou a ser levado a sério; uma vez que o grupo tinha levado mantimentos para três anos, o Almirantado esperou mais um ano antes de iniciar a busca e ofereceu uma recompensa £20,000 a quem ajudasse os homens de Franklin. Era uma grande soma para a época, mas o desaparecimento de Franklin tinha capturado a imaginação popular. A certa altura, não havia menos de dez navios britânicos e dois americanos em direcção do Árctico. Canções sobre Franklin e o seu destino tornaram-se populares; uma delas, "Lady Franklin's Lament", que abordava a busca de Jane pelo seu marido perdido, é ainda hoje cantada por artistas como Martin Carthy e Sinéad O' Connor.


Em 1850, várias expedições convergiram na ilha de Beechy, no canal de Welligton, onde os primeiros vestígios da expedição de Franklin foram achados: um acampamento de Inverno com os restos de um observatório, uma forja, uma tentativa de criar um jardim e - mais sinistramente - o túmulo de três dos marinheiros de Franklin que tinham falecido de causas naturais no Inverno de 1845-46. Apesar das buscas extensas, não foi encontrada nenhuma mensagem deixada pelo grupo de Franklin que fornecesse qualquer indicação do seu progresso ou intenções. Os corpos dos marinheiros foram preservados pelo solo gelado, tendo as autópsias realizadas quando os corpos foram exumados em meados dos anos oitenta do século XX revelado que a tuberculose foi a causa imediata de morte, embora também existissem provas toxológicas de envenenamento por chumbo. A fotografia em cima mostra os túmulos tal como se encontravam em 2004. (Crédito fotográfico: Russell Potter)

Em 1854, o Dr. John Rae, um explorador empregue pela Companhia da Baía de Hudson, descobriu mais indícios do destino dos homens de Franklin. Durante a sua exploração da Península de Boothia, Rae encontrou um caçador Inuk, "in-nook-poo-zhee-jook", que lhe falou de um grupo de 35 a 40 homens brancos que tinham morrido de fome perto da foz de um rio. No regresso à sua base na Baía de Repulse, Rae ofereceu dinheiro por qualquer artefacto ou histórias; os Inuítes deram-lhe muitos objectos que eram identificáveis como pertencentes a Franklin e aos seus homens e contaram histórias de fome e canibalismo no seio dos homens de Franklin. Após o retorno de Rae, o seu relato foi publicado pelo The Times; Lady Franklin negou a fiabilidade desses relatos e contratou a hábil pena de Charles Dickens para publicamente lançar dúvidas sobre as pretensões de Rae.

Em 1857, Lady Franklin comissionou outra expedição sob o comando de Francis Leopold McClintock para investigar o relato de Rae. No Verão de 1859, o grupo de McClintock encontrou um documento numa mamoa na Ilha do Rei Guilherme deixado pelo segundo em comando de Franklin, onde se referia a data da morte de Franklin. A mensagem, datada de 25 de Abril de 1848, também referia que os navios tinham ficado encalhados no gelo, que muitos tinham morrido e que os sobreviventes dirigiram-se para sul no sentido do rio Back. McClintock também encontrou vários corpos e uma quantidade impressionante de equipamento abandonado e ouviu mais detalhes dos inuítes sobre o fim desastroso da expedição. Numa mamoa perto do local encontrou uma nota final, que relatava como os navios tinham ficado encalhados no gelo em 1847. O próprio Sir John Franklin faleceu em Junho desse ano e quando o gelo não libertou os navios na Primavera de 1848, o segundo em comando Francis Crozier ordenou que estes fossem abandonados. Mais de cem oficiais e membros da tripulação arrastaram por terra trenós cheios de mantimentos, acabando eventualmente por sucumbir a uma combinação de exaustão, exposição ao frio, escorbuto e (embora não o soubessem) possível envenenamento com chumbo oriundo dos seus mantimentos enlatados.


Elisha Kent Kane participou em duas buscas por Franklin patrocinadas pelos Estados Unidos; trabalhou como cirurgião naval na expedição De Haven de 1850-51 e liderou a sua própria expedição de salvamento de 1853 a 1855. A expedição De Haven alcançou a ilha de Beechy pouco depois dos navios britânicos terem descoberto o local do túmulo de Franklin, tendo Kane escrito uma série de relatos descrevendo a cena que foram impressos em grande número. No regresso, expandiu os relatos em livro, procurando angariar fundos para uma segunda expedição. Com a ajuda do magnata dos navios Henry Grinnell, Kane conseguiu assegurar um navio e uma tripulação para a sua segunda tentativa. Acreditando que existia um "Mar Polar Aberto" além da barreira de gelo, Kane ordenou que o seu navio se dirigisse a partir do Estreito de Smith directamente para norte com destino àquilo que é hoje conhecido como a Bacia de Kane; ele julgava possível que os navios de Franklin tivessem alcançado o mar aberto perto do pólo. Em qualquer caso, o seu navio ficou encurralado no se pouso de Inverno demasiado a sul para conseguir fazer mais progressos, apesar de numa expedição um ajudante de Kane, William Norton, afirmou ter visto as margens distantes do Mar Aberto (provavelmente ele viu uma miragem árctica ou então um pedaço de mar aberto). Kane foi imediatamente tratado como uma celebridade no seu regresso, sendo a totalidade da primeira página do New York Times ocupada pelos relatos da viagem. Infelizmente, ele acrescentou muito pouco à busca por Franklin e depois de completar o seu segundo livro sucumbiu a uma febre que agravou a sua doença coronária crónica, tendo falecido em Havana em 1857.


Charles Francis Hall, aparentemente inspirado pelas aventuras de Kane, convenceu-se que alguns dos homens de Franklin poderiam ainda estar vivos. Até mesmo as novidades trazidas por McClintock, conhecidas em 1859, não o dissuadiram. Extraordinariamente, ele também travou amizade com Henry Grinnell e através dele assegurou passagem num baleeiro que se dirigia para o norte em 1860. A embarcação não conseguiu deixar Hall perto do local onde os navios de Franklin foram abandonados, mas passou o Inverno perto de um bando de Inuítes na ilha de Baffin que falaram a Hall de uma expedição muito anterior perdida e dos homens que deixou para atrás. Hall ficou espantado quando se apercebeu que esta deve ter sido a expedição de Sir Martin Frobisher de há mais de trezentos anos e embarcou numa missão de redescoberta do sítio. Teve a sorte de assegurar a ajuda de dois guias inuítes, Tookoolito ("Hannah") e Ebierbing ("Joe"), que o ajudaram a encontrar o local e que lhe ensinaram os fundamentos de viajar em trenó. No seu regresso em 1862, Hall trouxe consigo os seus amigos inuítes que causaram sensação quando foram exibidos no Museu Americano de P.T. Barnum em Nova Iorque. Eles acompanharam-no na sua segunda expedição (1864-69), na qual Hall finalmente alcançou a ilha do Príncipe Guilherme, onde encontrou apenas mais ossos e histórias inuítes de homens que "caíam enquanto caminhavam". Com relutância, Hall conclui que não havia sobreviventes.

Contudo, Hall não perdeu a sua paixão pelo Árctico. Pressionou o Congresso Americano para que este apoiasse uma expedição de descoberta do Pólo Norte e para que o nomeasse seu comandante. Acabou por o conseguir, tendo-lhe sido dado o comando da Expedição Polaris que partiu em 1871. Infelizmente, ele não teve qualquer controlo sobre quem foi nomeado para o acompanhar e acabou por não se dar bem com os oficiais científicos alemães, especialmente com o Dr. Emil Bessels, nomeado para o apoiar. Na chegada do navio ao noroeste da Gronelândia, depois de terem alcançado um novo recorde para o ponto mais a norte atingido, Hall partiu em expedições em trenó para preparar a sua rota para a estação seguinte. No regresso adoeceu subitamente e quando foi tratado pelo Dr. Bessels só piorou. Joe e Hannah permanecerem fiéis a Hall durante o seu calvário, acreditando quando ele insistia em que tinha sido envenenado. Depois de aparentemente ter melhorado, Hall voltou a cair doente e morreu a 8 de Novembro de 1871. Foi enterrado em terra num local ao qual deu o nome de "Baía de Graças a Deus". A revolta entre os sobreviventes conduziu ao abandono parcial do Polaris, que inexplicavelmente se libertou e afastou-se da costa. Hannah e Joe, junto com os outros sobreviventes encurralados no gelo, embarcaram numa extraordinária jornada de sete meses para sul navegando uma série de calotas de gelo até que conseguiram chamar a atenção de um navio que passava; foram resgatados a 30 de Abril de 1873.

O Ano Polar Internacional


Adolphus Washington Greely, que tinha servido com distinção na Guerra Civil Americana quando era jovem, foi nomeado para comandar a expedição que seria a contribuição dos Estados Unidos no primeiro Ano Polar Internacional (1881). A ideia implicava um conjunto de estações de pesquisa, estabelecidas em intervalos por diferentes nações para monitorizar as condições polares. Greely foi enviado num navio a um ponto setentrional na ilha de Ellesmere, onde uma enorme cargo de mantimentos e materiais de construção foram deixados. Greely e os seus homens construíram o Forte Conger no local, um grande edifício armado que era na altura o mais setentrional no Hemisfério Ocidental. Efectuaram observações meteorológicas e magnéticas e embarcaram em trenó em várias pesquisas, tudo de acordo com o plano original.


A equipa de Greely deveria ser reabastecida por um navio, tal como de início tinha ficado assente, mas as ordens recebidas eram claras: se nenhum navio aparecesse, ele deveria assumir que o gelo tinha tornado o reabastecimento impossível e deveria seguir para o Cabo Sabine, onde mantimentos adicionais e ajuda seriam eventualmente entregues. Greely obedientemente abandonou Fort Conger e iniciou a retirada traiçoeira, acabando por chegar ao ponto de encontro. O que ele não sabia era que não só o navio original de mantimentos não tinha conseguido chegar a Fort Conger, mas também que o navio designado para deixar mantimentos no Cabo Sabine tinha partido precipitadamente, deixando apenas uma minúscula fracção dos mantimentos prometidos. Greely e os seus homens limitaram-se a aguardar, fazendo as tentativas que podiam para arranjar comida adicional. Todos menos seis dos homens de Greely morreram de fome (excepto um que foi morto a tiro por ordens de Greely por tentar açambarcar comida) e quando um navio finalmente chegou para os salvar, encontravam-se a dias da morte. De alguma maneira - as imputações de canibalismo persistem ao longo dos anos - Greely, o seu robusto segundo em comando Sargento David L. Breinard e mais três homens viveram para contar a história; os outros foram colocados em caixões metálicos selados, para que as suas famílias não vissem o seu estado lastimável. Apesar disso, Greely foi recebido como um herói; fez uma longa carreira nos "Signal Corps" do Exército Americano, eventualmente chegando ao cargo de Brigadeiro-General; recebeu a Medalha de Honra antes de morrer. A localidade de Fort Greely no Alasca foi nomeada em sua honra.


Finalmente a Passagem

Roald Amundsen, um explorador norueguês, tornou-se a primeira pessoa a alcançar o objectivo há muito procurado de navegar pela Passagem do Noroeste. Conseguiu esta proeza fazendo praticamente tudo de uma maneira diferente das anteriores expedições britânicas e americanas: elas usaram grandes navios, enquanto que ele usou o pequeno Gjøa, uma balandra de 48 toneladas; elas levaram comida preservada; ele caçou carne e peixe fresco; elas desprezaram as formas de viajar e de viver dos Inuítes; ele passou um ano num assentamento inuíte aprendendo a cultura destes. O Gjøa e a sua tripulação completaram a passagem a 5 de Dezembro de 1905, mas as condições climatéricas obrigaram-nos a passar o resto do Inverno no gelo. Ansioso por anunciar as notícias ao mundo, Amundsen viu-se obrigado a viajar 500 milhas num trenó puxado por cães até Eagle City, no Alasca, para enviar um telegrama. Os seus fundos eram tão baixos que ele teve que o enviar à cobrança! Apesar do seu sucesso se ter baseado na rejeição dos métodos adoptados por exploradores britânicos como Franklin, Amudsen considerava-os heróis e ficou bastante decepcionado quando foi ignorado pela Royal Geographical Society.

Amundsen seguiu para uma distinta carreira como explorador, e a 14 de Dezembro de 1911 ele e quatro companheiros atingiram o Pólo Sul geográfico, mais de um mês antes da expedição britânica liderada por Robert Falcon Scott. Amundsen e os seus homens comeram os seus cães na viagem de regresso - os seus mantimentos tinham escasseado na viagem de ida. Os homens de Scott, que tinham rejeitado o uso de cães a favor de trenós empurrados pelo homem, morreram de exaustão e exposição ao frio num acampamento a apenas algumas milhas do último entreposto de mantimentos. Depois do seu sucesso no Pólo Sul, Amundsen navegou pela passagem do nordeste e tornou-se activo nas primeiras tentativas de aviação no Árctico. Em Junho de 1926, subiu abordo do avião italiano Norge, pilotado por Umberto Nobile, na primeira travessia do Árctico pelo ar com sucesso. Apenas dois anos mais tarde, Amundsen, junto com quatro aviadores franceses, voou de novo para norte numa tentativa de encontrar o avião de Nobile, que tinha desaparecido em outra viagem. Amundsen e o seu avião nunca mais foram vistos.

Para além do Pólo
Os últimos anos do século XIX assistiram a um aumento do interesse em alcançar o pólo. Depois do explorador britânico George Strong Nares ter declarado em 1876 que não existia uma passagem pelo gelo das altitudes mais elevadas, foram os Estados Unidos a continuar o esforço. O comandante naval norte-americano Robert Peary fez disso a obsessão da sua vida. Como Hall e Amundsen, Peary estudou as técnicas inuítes e aprendeu os rigores de conduzir um trenó puxado por cães. Junto com Matthew Henson fez várias tentativas no pólo, usando o assentamento dos Esquimós Polares ou Inughuit em Etah, no noroeste da Gronelândia, como a sua base. Em Abril de 1909, ele e Henson, junto com os seus companheiros Inughuit Ootah, Egigingwah, Seegloo e Ooqueah, alcançaram o seu máximo a norte. No retorno Peary alegou ter atingido o Pólo Norte, mas as análises posteriores lançaram dúvidas sobre a sua afirmação. O estudo mais exaustivo, The Noose of Laurles de Sir Wally Herbert, conclui relutantemente que a alegação de Peary não é aceitável, mas há ainda que considere que Peary o pode ter conseguido. A sua alegação foi complicada pelo do seu rival, Frederick A. Cook, ter dito que chegou ao pólo mais cedo. A alegação de Cook é considerada em grande medida falsa.

Donald MacMillan, que trabalhou ao serviço de Peary e fez parte da última expedição deste, continuou o trabalho no norte por muitos anos. Pouco tempo depois de Peary ter alegado ter atingido o Pólo Norte, MacMillan regressou para atingir a "Terra de Croker", uma massa de pedra que Peary alegou ter visto no meio do gelo numa viagem anterior. Resultou ser uma quimera, mas MacMillan regressou ao Árctico, aperfeiçoando as suas técnicas com o trenó, explorando e treinando jovens cientistas-aventureiros do Bowdoin College, a sua alma mater. O Instituto Peary-MacMillan no Bowdoin College contém muitos dos seus e dos documentos de Peary e funciona como centro de exploração polar.

Knud Rasmussen, um explorador dinamarquês nascido na Gronelândia, passou muitos anos a viajar entre os inuítes da Gronelândia e do Canadá, aperfeiçoando o método de viajar em longa distância em trenó. Realizou seis daquilo a que chamou expedições "Thule", a partir do nome dado por Píteas ao extremo norte; juntas elas constituem as mais longas séries de expedições todo terreno alguma vez realizadas no Árctico. A Quinta Expedição Thule (1921-1924) foi a mais ambiciosa, reconstituindo o território inteiro da Passagem do Noroeste em trenó. Na sua viagem, Rasmussen encontrou caçadores inuítes, filhos e netos dos homens que tinham encontrado os sobreviventes da expedição de Sir John Franklin cerca de oitenta anos antes; eles contaram as suas histórias com precisão notável, relatando os mesmos acontecimentos tal como os seus antepassados o tinham feito a Charles Francis Hall na década de sessenta. Após a sua Sexta Expedição Thule em 1931, Rasmussen regressou à Dinamarca onde ensinou e ajudou à realização de um filme sobre os Esquimós da Gronelândia Oriental. Morreu subitamente em 1933 depois de aparentemente ter comido um pedaço de carne de foca estragado e de ter caído doente de pneumonia.

Sir Wally Herbert pode legitimamente ser encarado como a última grande personalidade da era heróica de exploração polar. Adquiriu a sua experiência inicial no sul como integrante da British Antarctic Survey, explorando montanhas na cordilheira da rainha Maud. De 1968 a 1969 liderou a Expedição Britânica Trans-Árctica que foi a primeira - e até à data a única - a atravessar toda a calota de gelo do Pólo Norte. Pelo caminho, Herbert e os seus companheiros alcançaram o pólo de inacessibilidade (a parte da calota de gelo mais afastada de qualquer terra), bem como o Pólo Norte geográfico. O grupo de Herbert foi o primeiro a atingir o Polo Norte a pé, alcançando-o a 6 de Abril de 1969. Praticamente na mesma altura os astronautas da missão norte-americana Apollo 9 tiraram a famosa foto da Terra a erguer-se por cima da Lua, uma marca adequada do fim de um certo tipo de exploração terrestre e o início da exploração do espaço.

http://knol.google.com/k/annimo/explorao-do-rctico/1uhhyjchzfe2x/14#
Visite-me também em: Universal, Universidade, Medicina, Universe

Sem comentários:

Enviar um comentário