quarta-feira, 4 de março de 2009

Terra Oca


Ana Luiza Barbosa de Oliveira, publicado no Projeto Ockham

A teoria da Terra oca afirma que a Terra não é um esferóide sólido, mas sim oca com aberturas no pólos. No seu interior viveria uma civilização tecnologicamente avançada, cujos integrantes às vezes vêm para a superfície em OVNIs. Existem variantes desta teoria, inclusive uma em que nós vivemos no interior da Terra oca. Esta última é a teoria da Terra invertida, que se confunde com as diferentes versões da teoria da Terra oca.

A Terra oca (I)

No fim do século XVII, o astrônomo inglês Edmund Halley propôs um modelo no qual a Terra seria composta por quatros esferas concêntricas e cuja a atmosfera luminosa, ao escapar para a atmosfera superior, seria responsável pela aurora boreal.

Halley (1656-1742) foi astrônomo real e durante 18 anos estudou os movimentos da Lua, publicando um importante tratado chamado Astronomiae Cometicae Synopsis (Sinopse sobre Astronomia Cometária). Ele foi o primeiro a calcular a órbita de um cometa e neste tratado provou que os cometas possuem órbitas elípticas em torno do Sol e que, por isso, retornavam periodicamente. Ele previu que o cometa de 1682 retornaria em dezembro de 1758. Quando o cometa retornou, foi batizado em homenagem a Halley, que não viveu para vê-lo aparecer nos céus em 25 de dezembro de 1758.

Halley propôs esta teoria para explicar anomalias no campo magnético da Terra que causavam interferência nas bússolas. Além disso, ele tinha notado que o campo magnético da Terra estava variando lentamente. Então, primeiramente, ele teorizou que a Terra era constituída de uma casca com um núcleo, cada um com diferentes pólos norte e sul magnéticos e velocidades de rotação, o que explicaria as variações no campo magnético em diferentes partes da Terra, assim como a variação do norte magnético. Porém, de forma a ajustar sua teoria a novos dados, Halley teve que incluir mais três núcleos internos um dentro do outro. Segundo ele, estes núcleos eram do tamanho de Marte, Vênus e Mercúrio. (Hoje em dia sabemos que a parte mais externa do núcleo da Terra composto de ferro derretido está em permenente movimento convectivo o que causa o campo magnético da Terra, assim como suas variações periódicas).

Para que sua teoria se adequasse à sua visão religiosa, Halley imaginou que se Deus populou cada parte da superfície terrestre com seres vivos, Ele deveria ter feito o mesmo com os núcleos internos. E como estes seres vivos necessitariam de luz para viver, a atmosfera interior deveria ser luminosa.

Durante o século XVIII, outros matemáticos modificaram a teoria de Halley sem nunca refutá-la. O suíço Leonard Euler rejeitou a noção de vários núcleos interiores, mas acreditava que existia um sol interior que fornecia calor e luz para os habitantes tecnologicamente avançados do mundo interior. E o escocês Sir John Leslie, por sua vez, acreditava que existiam dois sóis que ele chamou de Plutão e Proserpina.

No século XIX, o veterano da guerra de 1812, John Symmes foi um difusor tão entusiasmado da teoria das camadas concêntricas, que a suposta abertura para o mundo interior ficou conhecida como Buraco de Symmes. (Sua teoria era uma mistura da teoria de Halley com a de Euler). Ele chegou a propor o envio de uma expedição ao Pólo Norte para verificar a existência desta entrada.

Os autores de ficção científica também se interessaram pelo tema. Julio Verne escreveu Viagem ao Centro da Terra em 1864 e Edgar Rice Burroughs (1875-1950), criador do personagem Tarzan, escreveu vários romances passados no interior da Terra oca.

A Terra invertida

Em 1869, Cyrus Reed Teed, herbalista e autoproclamado alquimista, disse ter tido uma visão na qual uma mulher disse a ele que nós estamos vivendo dentro da Terra oca. Ele começou a difundir estas idéias em panfletos, discursos e até fundou um culto chamado Os Koreshans (koresh é o hebraico para cyrus). Teed não sabia na época, mas a geometria moderna e o espaço curvo de Einstein tornam a teoria matematicamente irrefutável do ponto de vista teórico. Se a superfície terrestre fosse geometricamente invertida, a superfície interna reproduziria todos os fenômenos físicos que nós observamos ( veja a explicação). Mesmo os efeitos astronômicos teriam algum tipo de contrapartida: o Sol seria pequeno e estaria no centro da Terra, com um lado escuro e outro claro. As estrelas e planetas seriam realmente pontos minúsculos de luz minúsculos bem próximos de nós.

A Terra oca (II)

Willian Reed publicou, em 1906, The Phantom Poles, no qual ele afirmava que nenhuma expedição tinha atingido os pólos simplesmente porque eles não existiam, pois na realidade eles seriam entradas para o mundo interior.

Enquanto alguns se contetaram apenas em teorizar sobre a terra interior, outros como Olaf Jansen afirmavam ter estado e vivido lá. Jansen era um marujo norueguês que foi morar em Glendale, Califórnia e perto de morrer aos noventa e nove anos de idade, ele revelou sua história fantástica para o escritor Willis George Emerson que a publicou em 1908 no livro "The Smoky God".

Em 1913, Marshall B. Gardner publicou "Journey to the Earth's Interior". Neste livro ele refutava veementemente a teoria das esferas concêntricas, porém afirmava que existia um sol de 965km (600 milhas) de diâmetro no interior da Terra e as entradas para o interior seriam no pólos.

Finalmente, em 1926, Richard E. Byrd sobrevoou o Pólo Norte e, em 1929, o Pólo Sul, provando que não haviam entradas nos pólos. Mas os defensores da teoria da Terra oca afirmam que Byrd, na realidade voou para dentro do mundo interior através das entradas nos pólos. Tudo isso baseado em passagens do seu diário de bordo onde ele descreveu a Antártica como "a terra do mistério eterno" e uma vez escreveu "gostaria de ver a terra além do Pólo (Norte). Aquela área além do Pólo é o Centro do Grande Desconhecido".

Somente isto basta como evidência para aqueles que acreditam na Terra oca. E em 1940, Ray Palmer, fundador de várias publicações sensacionalistas como "FATE", "Flying Saucers form Other Worlds" e "The Hidden Word", se juntou a Richard Shaver e criaram o Mistério de Shaver, uma lenda sobre o mundo interior e seus habitantes tecnologicamente avançados. Palmer chegou a afirmar que viveu entre estes habitantes do mundo interior.

Durante a Segunda Guerra Mundial, o aviador alemão Peter Bender despertou atenção do governo nazista com suas elaborações sobre o koreshantismo. Existem boatos de que Hitler acreditou na teoria da Terra oca de Cyrus e que teria enviado, em abril de 1942, o Dr. Heinz Fischer em uma expedição à ilha báltica de Rugen, a fim de fotografar a frota inglesa com câmaras de infravermelho através da Terra oca.

Em março de 1959, o submarino nuclear americano Skate navegou sob a calota polar e emergiu no Pólo Norte geográfico. Foram utilizados equipamentos de navegação inercial para calcular a rotação da Terra em cada ponto até encontrarem o ponto exato do eixo de rotação. Além disso, várias medidas da força gravitacional e leituras de navegação foram realizadas para assegurar que eles atingiram o Pólo Norte.

Raymond W. Bernard, esotérico e líder dos rosas-cruzes, publicou em 1964 "The Hollow Earth - The Greatest Geographical Discovery in History Made by Admiral Richard E. Byrd in the Mysterious Land Beyond the Poles - The True Origin of the Flying Saucers" e também "Flying Saucers from the Earth's Interior". Ele alegava estar em contato espiritual com grandes místicos como o Dalai Lama e que teria aprendido a teoria da relatividade com a civilização do interior da Terra antes de Einstein publica-lá. Ele morreu de pneumonia em 10 de setembro de 1965, procurando uma entrada para o mundo interior na América do Sul. Ele acreditava em quase todas as lendas relativas à Terra oca, inclusive que os esquimós descendiam do povo do interior e que de vez em quando eles utilizavam seus OVNIs.

Sua teoria era que a Terra era oca com paredes de cerca de 1300km (800 milhas) de espessura e que nos pólos existiam aberturas de cerca de 2250km (1400 milhas) com bordas que curvam suavemente para dentro de forma que um viajante por terra, mar ou ar entraria dentro da abertura sem perceber que estaria entrando no interior da Terra. E também que os pilotos somente pensam que estão cruzando o pólo norte geográfico, mas que na realidade eles estão somente seguindo a "borda magnética"da entrada.

Em 1970, Ray Palmer conseguiu uma foto do Pólo Norte fornecida pelo Enviromental Science Service Administration do Departamento de Comércio americano. Esta foto mostra o Pólo Norte com uma área escura no meio. Para Palmer esta era a prova final da existência de uma entrada para a terra interior no Pólo. No entanto, esta foto era uma composição feita por computador de 40.000 fotos tiradas por satélite em um período de 24h. A intenção era mostrar a Terra vista de um ponto diretamente acima do Pólo, porém na época do ano que foram tiradas as fotos a região do Pólo Norte estava permanentemente no escuro por causa do inverno ártico.

Como sabemos que a Terra não é oca

Geocientistas catalogam as ondas sísmicas geradas por terremotos, por explosões atômicas e outros fenômenos naturais ou não e medem a intensidade, velocidade, ângulo de incidência e atenuação das mesmas. As ondas sísmicas geradas na crosta terrestre possuem uma determinada velocidade que depende da densidade do meio em que estas viajam, isto somado ao fato de que o ângulo de incidência destas ondas também muda ao atravessar de um meio para outro (semelhante a um prisma que desvia e decompõe a luz do Sol) permite gerar imagens do interior da Terra denominadas tomografias sísmicas que são semelhantes às tomografias computadorizadas realizadas em hospitais (veja mais detalhes).

Por estas imagens sabemos que a Terra possui três camadas principais: a primeira constituída de granito e basalto com cerca de 40km (25 milhas) de espessura, a segunda, um manto de rocha líquida de aproximadamente 3200km (2000 milhas) de espessura e finalmente, um núcleo central de ferro e níquel derretido com algo em torno de 6400km (4000 milhas) de diâmetro.

Estas imagens têm trazido grandes surpresas. Por exemplo, descobriu-se que o núcleo da Terra não é uma esfera lisa, mas cheia de montanhas com vários quilômetros de altura e vales seis vezes mais profundos que o Grande Cânion.

Apesar das evidências irrefutáveis aqueles que querem acreditar se agarram a teorias conspiratórias de que os governos do mundo sabem a verdade, mas não a revelam para não causar pânico na população. Ou ainda se prendem ao fato de que a ciência moderna possui várias teorias que vão sendo modificadas com o tempo (e isto é o que a ciência tem de melhor para nos oferecer), ou que algumas vezes as teorias correntes para descrever um certo fenômeno são conflitantes (mas esquecem de mencionar que estes são os casos em que o real mecanismo por trás do fenômeno ainda não está explicado, daí a não existência de uma única teoria). Na realidade, a crença no mundo interior nunca irá terminar pois aqueles que acreditam no mundo interior habitado por civilizações mais avançadas moral e tecnologicamente procuram um mundo melhor onde os nossos problemas foram resolvidos. Dessa necessidade quase instintiva de acreditar neste tipo de paraíso na Terra vêm as lendas de Shangrilá, Atlântida e tantas outras como a da Terra oca.

A teoria da Terra invertida

As idéias de Cyrus Teed ressurgiram recentemente quando o matemático egípcio, Mostafa Abdelkader, publicou um artigo em 1983 na revista "Speculations in Science and Technology" onde ele apresenta o modelo do geocosmo, como é denominado este modelo do Universo contido dentro da Terra. Apesar do geocosmo poder explicar inteiramente nosso Universo, este modelo exige, por exemplo, que a luz necessariamente não viaje em linha reta e que sua velocidade não seja constante. Além de outras complicações físicas e matemáticas adicionais, esta teoria não apresenta nenhuma vantagem sobre a teoria do Universo segundo Copérnico.

Dentro do princípio da Navalha de Ockham uma teoria mais complexa só é adotada se apresentar explicações para fenômenos não previstos por outra mais simples. A Relatividade, por exemplo, apesar de mais complexa, foi adotada porque explica e prevê fenômenos em escala astronômica que não são abrangidos pela mecânica newtoniana. O mesmo pode ser dito para a mecânica quântica em níveis subatômicos.

http://www.ceticismoaberto.com/fortianismo/terraoca.htm

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1 comentário:

  1. Se isto é verdade, porque não mandam para lá exploradores ?

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