quinta-feira, 16 de julho de 2009

Os Monstros do Lago







Por Marcelo Arco e Flexa*

Um dos mistérios mais antigos e persistentes da história se refere a monstros que habitam as profundezas de lagos e rios. Lendas Nórdicas e Celtas falam de cavalos que submergiam em lagos. Na Idade Média, acreditava-se que Dragões dormiam nas águas doces. Nos dias atuais, acredita-se que animais pré-históricos possam ter sobrevivido nas águas de certos lagos.

Estas histórias de monstros em lagos aparecem em diferentes lugares do mundo. No entanto, parece existir algo em comum com esses lugares: todos são lagos cercados de terra no Hemisfério Norte, entre 45° e 55° de latitude; compridos; estreitos e profundos e que, à certa altura de sua história geológica, foram ou são abertos para o mar. Isso levou certas pessoas a acreditarem numa teoria de um "Cinturão de Monstros" que cercaria todo o planeta. Como exceção a esta regra comum, entretanto, existe na Argentina, nas águas do lago Nahuel Huapi um monstro conhecido como "Nahuelito".

Dos monstros lacustres mais conhecidos estão o "Ogopogo" e o "Manipogo", ambos localizados em lagos do Canadá. No México existe o "Chan", que habita a extinta cratera do vulcão Tallacua, hoje coberto por águas cor de turquesa. Não restam dúvidas, no entanto, que o mais ilustre de todos os monstros do lago seja aquele que habita as águas escuras da Escócia, "Nessie", o famoso Monstro do Loch Ness.

A primeira referência conhecida sobre "Nessie" veio de um missionário irlandês que evangelizou a Escócia, São Columba (Columcille, em irlandês), no ano de 565. Foi, no entanto, somente em 1933, decorridos 14 séculos - nos quais ocorreram muitas aparições - que surgiu uma descrição clara do monstro.

Era 22 de julho de 1933 quando o Sr. e Sra. Spicer, ambos londrinos em visita a Escócia, avistaram, atravessando a estrada que leva a Inverness, um estranha e gigantesca criatura que se dirigiu como que se arrastando em direção ao lago. A estranha criatura, descrita por eles como um ser pré-histórico de pescoço comprido, virou notícia pela rádio BBC e logo por toda mídia, saindo nas primeiras páginas. Monstros estavam em moda na época, pois a febre dos dinossauros e as novas descobertas feitas no final do século ainda fascinavam o mundo. A idéia de um dinossauro vivo era irresistível.

Não demorou muito para que os jornais exigissem uma foto da criatura. A esquiva criatura parecia fugir dos fotógrafos, até que um cirurgião londrino, em abril de 1934, conseguiu aquela que seria a foto mais famosa do monstro. Nela podia-se ver a cabeça pequena e o pescoço comprido. Firmou-se então a idéia de que o monstro deveria pertencer a família dos Plesiossauros, que são um grupo de répteis marinhos que existiram durante a Era dos Dinossauros (os plesiossauros existiram durante o Triássico e se extinguiram no final do Cretácio).

A foto, desde sua publicação no Daily Mail londrino, gerou uma controvérsia que iria se prolongar durante anos. Somente em 1994, 60 anos depois, uma confissão comprovaria a foto como sendo uma farsa. O monstro da foto não passava de um objeto preso a um submarino de brinquedo.

Muitas outras fotos de "Nessie" foram feitas depois daquela, algumas se mostraram igualmente falsas, outras não passavam de um engano (fotos de barcos distantes, troncos de árvores, animais nadando, etc). A verdade é que as águas do lago Ness são traiçoeiras, pregando facilmente peças nos observadores. Ondas estranhas, rastros de barcos, distorções atmosféricas, nevoeiros e reflexões singulares da luz costumam confundir e convencer o observador casual. Nenhuma foto até hoje conseguiu convencer os céticos.
No entanto, mesmo tantos enganos e fraudes não impediram que pesquisas mais sérias fossem feitas no lago. Em 1987 foi realizada a mais ousada e cara exploração em busca de "Nessie", a Operação Deep Scan, que envolveu mais de 20 barcos usando os mais avançados sonares, durante dois dias, por todo comprimento e largura do lago Ness. Embora tenham conseguido algumas leituras empolgantes, nenhuma conclusão real pode ser tirada quanto a existência ou não de um monstro nas profundezas do lago.

Uma abordagem diferente foi feita pelo naturalista Adrian Shine, que buscou compreender melhor da cadeia alimentar que mantêm o ecossistema característico do lago. Shine explica que o lago é frio, e que levantamentos recentes estimam que não existam mais do que 20 toneladas de peixes no lago, o que suportaria somente 2 toneladas de predadores, tornando a idéia de uma população residente de predadores grandes muito improvável, principalmente em se tratando de um predador pré-histórico.

Existem quatro grandes teorias sobre o que seria o monstro do lago Ness: um mamífero, um réptil, um réptil marinho pré-histórico ou um peixe. A falta de alimentos no lago descartam quase por completo a idéia do mamífero, que precisaria de uma quantidade grande de alimento. Um réptil pode sobreviver com pouco alimento, mas a temperatura fria do lago (que raramente ultrapassa os 10ºC) seria um problema para um animal de sangue frio.

Um réptil marinho pré-histórico ainda é uma idéia atraente. Entre os animais pré-históricos mais prováveis estão o ictiossauro, o mosassauro e o mais provável deles, se levarmos em conta os relatos, o plesiossauro, por causa do longo pescoço. Afora o fato dos cientistas serem céticos quanto a sobrevivência destas espécies nos dias atuais, ainda resta o problema da alimentação, escassa para um animal tão grande sobreviver no lago. Os que acreditam na teoria afirmam que o animal poderia visitar o lago, talvez para se acasalar ou procriar e na maior parte do tempo viveria no mar. O lago Ness possui abertura para o mar, mas o rio que liga o lago ao mar é muito raso para um animal tão grande ultrapassar sem ser notado. Existem aqueles que acreditam que no fundo do lago existam passagens subterrâneas que ligariam o lago com o mar. Pelo menos já foram comprovadas a existência de cavernas no fundo do lago.

No entanto a mais provável das teorias vem da hipótese do monstro ser um peixe muito grande. Que peixe seria este? Adrian Shine tem uma teoria interessante e muito aceita de que "Nessie" seria um Esturjão Báltico, pois esse peixe habita as margens britânicas e entram na água doce para desovar. O esturjão tem escamas semelhantes e dos répteis, podendo ser facilmente confundido, e medem em torno de 1,5m a 3,5m, podendo ultrapassar isso, embora seja raro. Os esturjões se alimentam de quase tudo, incluindo enguias, abundantes no lago Ness.

Independente da teoria e dos fatos uma coisa é certa, seres como "Nessie" continuarão a fascinar as pessoas e a gerar maiores pesquisas. Verdade ou lenda, os monstros dos lagos continuarão a habitar a mente das pessoas, incitando polêmica, discussões e, acima de tudo, incitando a imaginação.

Marcelo Arco e Flexa é professor.
http://www.geocities.com/o_caicara/edicao_06/mat_06_06.htm

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