segunda-feira, 13 de julho de 2009

O MINHOCÃO




O povo que reside nas imediações do poço do Rio Cuiabá ainda re-conta a lenda do "Minhocão", ente telúrico conhecido também por freqüentadores dos rios do sul do país, nos primórdios dos tempos coloniais. Apresenta-se como uma enorme cobra de 60 a 70 metros de comprimento e seis palmos de diâmetro. Sua ação é perniciosa, provocando desabamentos das beiradas, afundando barcos e destruindo casas e roçados.

O minhocão é ubíquo e anfíbio. é um mito que se perpetua no imaginário do barranqueiro, sendo a lenda mais conhecida em todo o Estado do Mato Grosso.

Conta-se que a Lagoa do Armazém, em Tramandaí (R/S) era a morada do Minhocão, uma serpente monstruosa de olhos e língua de fogo verde e com pelos na cabeça. Além de virar as embarcações, comia as galinhas e os porcos da margem. Hoje o povo acredita que ela voltou ao seu habitat natural, o mar.


Alguns descrevem o minhocão como uma serpente descomunal com olhos esbugalhados e luminosos. Dizem que vinha por cima da água, deslizando e que a sua cabeça alta parecia a proa de um barco com os dois faróis dos olhos. O monstro outras vezes, saracoteia e espana as águas e uiva tão terrivelmente que os outros animais em terra são tomados de paralisia.

No Amazonas, o minhocão é a famigerada boiúna, ou cobra grande, um mito que aterroriza as crianças, as mulheres e muitos crédulos caboclos. Não falta quem fale desta assombração que se apresenta de maneira grandiosa, como impõe o imenso palco amazônico. É considerada como guardiã da noite e depois de cada tempestade aparece sob a forma de Arco-íris. Está também ligada ao Dilúvio Universal.

Acredita-se que é por conta da sucuri que correm todas estas lendas que a imaginação popular vem tecendo.

Não resta a menor dívida que na apuração das medidas entre as várias serpentes do mundo a nossa sucuri é uma das maiores, que pode chegar, segundo a recentes estimativas há mais de 14 metros. Note-se que uma serpente com metade deste tamanho, pode asfixiar um homem ao apertá-lo.

Foi o medo em conúbio com a mentira que engendrou a sucuri que José Aranha diz ter visto, em 1722, No Rio Madeira, a qual disse ele medir 40 passos. Cita-se também um exemplar abatido pelo famoso explorador Fawcett, que media 20 metros.

O mesmo podemos dizer daquela que engoliu um cavalo inteirinho, em Goiás, segundo a narrativa muito minuciosa de Gadner em sua obra "Viagens ao Brasil".

De vez em quando a Imprensa publica a história de uma fabulosa suruci capturada e morta, sempre na região da Amazônia. Uma das mais sensacionais histórias foi a de três jovens que acamparam na floresta e foram dormir. Pela manhã um dos meninos tinha desaparecido e seus colegas ao encontrá-lo tiveram a terrível surpresa, estava sendo devorado por uma sucuri.

Abaixo da narração tinha uma observação para ninguém se aventurar à penetrar floresta sozinho, pois realmente ela oferece muitos perigos.


SIMBOLISMO

A cobra ou serpente é o animal que mais provocou interpretações míticas e simbólicas. Animal muito estranho, rastejador, faz eco aos primórdios dos tempos, como fonte do pecado e de todos os terrores. Ambígua, masculina ou feminina, ctônica ou cósmica, ela desafia suas contradições. É a expressão da noite original.

Intimamente ligada à terra, ela vive em buracos escuros, numa região subterrânea, a qual para os antigos era o submundo, por isso ela é importante para a Geobiologia e o Feng Shui..

Enquanto deus primordial, a serpente está ligada à chuva fertilizadora e a fertilidade. Em crenças primitivas era comum a afirmação de que as cobras se reuniam com as mulheres podendo engravidá-las. Pensava-se ainda, que a mordida de uma cobra era responsável pela primeira menstruação de uma menina.

Se concebe a idéia segundo a qual o arco-íris é uma serpente que se desaltera no mar, preceitos também aceitos entre os bororos da América do Sul, África do Sul e Índia. Enrolada em si própria é o símbolo da pedra filosofal da alquimia e representa o infinito. Ela enrolada e mordendo a cauda é o símbolo mais antigo do mundo.

A serpente também o Espírito da Água primordial, que as vezes é terrível em sua cólera. Na cosmogênese grega, segundo a Teogonia de Hesíodo, ela é o próprio "Oceano". Nove de suas espiras abarcam o círculo do mundo, enquanto a décima, resvalada para debaixo do mundo, forma a Estige. Na mitologia grega, Aquelôo, o maior rio da Grécia antiga, metamorfoseou-se em uma serpente para enfrentar Hércules.

Considera-se que a serpente possua o poder de auto-renovação, por causa de sua habilidade de mudar e renovar a sua pele. Este caráter mutante deu origem às crenças que atribuem-lhe o poder da imortalidade.

Mas esta divindade também é destruidora. O útero da terra é ofídico e atrai e absorve, como um útero da morte voraz, todas as criaturas para se satisfazer e fertilizar. Com efeito, de maneira profunda, a morte e a destruição estão ligados à vida e ao nascimento.

Acreditam os batacs da Malásia, que uma serpente cósmica, que vive nas regiões subterrâneas, destruirá o mundo. Na mitologia gemano-escandinava, a Serpente de Midgard, que abarca o mundo inteiro com seus anéis, será a causadora do término dos tempos, por ocasião do Ragnarok.
Texto pesquisado e desenvolvido por Rosane Volpatto

Bibliografia consultada
A Amazônia - Gastão de Bettencourt
A Cobra Grande - Artigo de Letícia Falcão, encontrado na Revista Amazon View, Edição n. 28
O Simbolismo Animal Jean-Paul Ronecker
Os Mistérios da Mulher - M. Esther Harding
Mitos e Lendas do Rio Grande do Sul - Antonio Augusto Fagundes
A lenda da Cobra Grande: discussões sobre imaginário e realidade.Grace do Socorro Araújo de Almeida Macedo

http://www.rosanevolpatto.trd.br/Minhocao.htm

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