Em 24 de Setembro de 2009,
Susan Atkins, que participou de um dos mais notórios crimes da história
moderna, falecia de câncer no cérebro na Penitenciária para Mulheres da
Califórnia, em Chowchilla, às 23h46.
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Condenada por oito
assassinatos, Atkins serviu mais de 38 anos de sua sentença de prisão perpétua,
tornando-se, na época, a mulher com mais tempo de prisão nos Estados Unidos.
Hoje o posto é de sua amiga Patricia Krenwinkel.
Atkins, um membro da Família
Manson, confessou o brutal assassinato da atriz Sharon Tate, que estava grávida
de oito meses. Ela foi esfaqueada 16 vezes e enforcada. Na noite seguinte ao
assassinato, Atkins acompanhou Charles Manson e seus seguidores até o bairro
Los Feliz, e ficou do lado de fora enquanto seus parceiros assassinavam o casal
LaBianca.
“Ela era a mais assustadora das garotas de Manson”, disse
Stephen Kay, ex-promotor que atuou junto a Vincent Bugliosi no julgamento de
Manson e seus seguidores. “Ela era muito violenta.”
Nascida em San Gabriel,
Califórnia, em 7 de Maio de 1948, Susan Denise Atkins cresceu em San Jose, e
era a filha do meio de três irmãos. Quando ela tinha 15 anos, sua mãe morreu de
câncer. A morte da mãe desestabilizou completamente a família. Seu pai, que
havia vendido a casa e todos os pertences da família para pagar o tratamento da
mulher, faliu e virou alcoólatra. Os três irmãos passaram a ter dificuldades
para se alimentar e Atkins abandonou a escola.
Tempos depois seu pai
abandonou os filhos e Susan e um irmão mudaram-se para a casa dos avós em Los
Banos. Susan voltou para o ensino médio e conseguiu um emprego como garçonete,
mas pesou o fato dela ter que cuidar de seu irmão mais novo. Anos depois, ela
descreveria essa fase de sua vida como “extremamente raivosa, vulnerável e
sem rumo”. Ela saiu da casa dos avós e passou a perambular pela
Califórnia.
A moça de cabelos escuros
foi de carona em carona até Washington e Oregon. Neste último estado, foi presa
com o namorado após roubar um posto de gasolina em um carro roubado. Ela passou
três meses na prisão e foi libertada. Viajou até São Francisco onde trabalhou
como dançarina de topless em um bar de North Beach.
“Sua dança atraiu a atenção do satanista Anton LaVey, que
estava organizando um show de Sabbat exibindo ‘vampiras’ de topless. Ele
contratou Susan, e aquele era o emprego dos sonhos dela, proporcionando a
atenção que ela desejava, vindo de uma plateia barulhenta quando ela se
contorcia no palco. Mas ela não durou muito na trupe de LaVey, estragando-se
pelo uso excessivo de drogas e um caso grave de gonorreia.”, escreveu
Jeff Guinn em Manson, a Biografia.
Em 1967, no famoso bairro de
Haight-Ashbury, refúgio dos hippies e outros andarilhos de São Francisco, ela
conheceu um aspirante a músico com uma queda para drogas alucinógenas e sexo
livre: Charles Manson.
“De todos os seguidores que vieram até Charlie nos
primórdios do seu ministério, nenhuma era mais excêntrica ou mais desesperada
do que Susan Atkins, de vinte anos.”, diz Guinn.
De acordo com “Helter
Skelter“, bestseller de Vincent Bugliosi em 1974, Atkins foi
instantaneamente atraída por Manson, que usava de seus conhecimentos adquiridos
na prisão para descobrir inseguranças em garotas como Susan e as seduzir. “Ele
aproveitou para usar a técnica de Dale Carnegie que consistia em descobrir o
que a outra pessoa desejava e demonstrar como ele poderia oferecer isso”.
Susan era a presa perfeita para a lábia de serpente de Manson. Para Bugliosi,
Susan disse que antes de conhecer o guru psicopata lhe “faltava alguma
coisa”, mas, em seguida, “Eu me entreguei a ele, e em troca ele me deu
de volta a mim mesmo. Ele me deu a fé em mim para ser capaz de entender que eu
sou uma mulher.”
Em meados de 1969, a Família
Manson fincou sua base de operações no Rancho Spahn, uma propriedade nas
Montanhas de Santa Susana conhecida por ter sido um set de filmagens para
filmes de faoreste. Eles usavam drogas, faziam sexo grupal, roubavam cartões de
crédito e reviravam latões de lixo para comer.
Eles também praticavam o que
Manson chamou de “espreitar sorrateiramente“, um comportamento que
envolvia escolher aleatoriamente uma casa em algum lugar de Los Angeles,
invadi-la quando os proprietários estivessem dormindo e mudar os móveis de
lugar e comer a comida da geladeira. Para Bugliosi, isso foi um “ensaio
geral para o assassinato”.
Na noite do dia 8 de Agosto,
Manson instruiu Atkins e outros seguidores – Patricia Krenwinkel, Charles
Watson e Linda Kasabian – a vestir roupas pretas e invadir uma residência em
Benedict Canyon. O que eles fizeram depois já é parte da história do século 20.
A escritora Joan Didion
escreveu que os anos 60 acabaram abruptamente naquela noite de 8 para 9 de
Agosto de 1969. A década mais movimentada do século passado na América fechava
de forma brutal, crivada por assassinatos, guerras e grupos
revolucionários violentos. Talvez tivesse havido “muito sexo, drogas e
rock’n’roll”, escreveu Didion.
Como não poderia deixar de
ser, Susan Atkins mudou completamente durante os anos em que ficou presa. De
uma mulher maquiavélica e realmente má, passou para uma pessoa doce e
arrependida. Nada demais até aí tendo em vista que ela não tinha mais sua mente
lavada diariamente por Manson.
Susan casou-se duas vezes na
prisão. Em 1981 com Donald Laisure, um auto-proclamado milionário do Texas que
havia se casado 35 vezes antes. O casamento acabou quando ele resolveu casar-se
com uma trigésima sétima.
Em 1987, Susan casou-se com o advogado James W.
Whitehouse, que a representou em suas últimas audiências de liberdade
condicional e até hoje cuida de sua memória através de um site na Internet.
Durante sua estadia como
parte da Família Manson, Susan engravidou de um menino que ela chamou de Ze Zo
Ze Cee Zadfrack (ela disse que “parecia um bom nome”). Após a prisão
da mãe por assassinato, Ze Zo teve seu nome trocado e dado para adoção. Ela
nunca mais viu seu filho.
Em Abril de 2008, Atkins foi
hospitalizada por mais de um mês. Ela foi diagnosticada com câncer no cérebro e
teve uma de suas pernas amputada. Ela pediu por misericórdia, querendo passar
seus últimos meses de vida fora da prisão. O governador da Califórnia na época,
Arnold Schwarzenegger, se opôs a soltura de Susan, argumentando que ela não
teve misericórdia de suas vítimas. “Eu não acredito em soltura por
misericórdia. Eu acho que eles devem ficar lá, servir o seu tempo. Aqueles
tipos de crimes foram tão inacreditáveis que eu não acredito em soltura por
compaixão.”
Susan Atkins foi piorando
com o passar dos meses até ficar completamente imóvel e com uma parte do rosto
paralisado. Ela faleceu no dia 24 de Setembro de 2009, aos 61 anos.
Imagem: Na foto: Susan
Atkins e Charles Manson durante julgamento dos assassinatos Tate-LaBianca.
Data: 1970. Créditos: AP.
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