Não sabemos se estamos ou não sozinhos no
universo, mas suspeitamos que não. Existem muitas chances de que exista vida em outros planetas,
um assunto fascinante que provoca a nossa imaginação.
Entretanto, ao imaginar como seriam ou como se
comportariam os alienígenas, a gente costuma fazer algumas presunções bastante
antropocêntricas (ou seja, a gente acaba assumindo que eles são parecidos
conosco de alguma forma), mesmo sem querer.
A ideia que temos de como um extraterrestre deve parecer
foi moldada pelas artes e entretenimento que, de uma forma ou outra, criaram
alienígenas que prestavam para contar uma história, embora fossem um pouco
inacreditavelmente parecidos conosco.
Vamos fazer de conta que a humanidade está a ponto
de fazer contato com uma espécie, uma civilização que viva perto de nós. O que
podemos e o que não podemos presumir acerca deles? Vamos dar uma olhada, bem
especulativa, em alguns fatores que merecem um pouco de consideração, e como
eles estão relacionados à ciência real e à ficção científica.
10 – Aparência
Todo mundo imagina os alienígenas como sendo
humanóides, ou pelo menos com aparência terráquea. Mesmo quando tentamos
inventar alienígenas que não se pareçam conosco, buscamos inspiração da fauna
terrestre: répteis, crustáceos, ou insetos – só que com tamanho de gente ou um
pouco maiores.
Esta ideia é baseada em algumas pressuposições,
como a de que eles têm uma bioquímica semelhante à nossa, ou seja, são
organismos multicelulares, com esqueleto, membros para deslocamento e para
manipulação do ambiente, cérebro grande o suficiente para alguma cognição.
Mas a evolução deles pode ter tomado outro caminho:
eles podem ter outro tamanho, não ter cabeça, ou não ter membros semelhantes
aos que vemos no nosso planeta. Eles não precisam nem mesmo ter a mesma
bioquímica que nós. Eles poderiam ser criaturas baseadas em silício, com uma
estrutura cristalina, e viver em lugares de alta temperaturas, etc.
9 – Energia?
Todos os seres vivos consomem energia na forma de
alimento, e o alimento que os alienígenas consomem depende da bioquímica deles.
Como serão os alienígenas, então? Como os elementos que nos fazem são os mais
abundantes do universo, não é um exagero pensar que eles podem ter uma dieta
similar à nossa, pelo menos na parte da química.
Mas será que eles nos verão como presa, ou
predador? Como competição, ou intrusão? Ou até como montes fedorentos de
resíduos? E como eles se parecerão para nós? Será que a dieta deles vai nos
causar nojo, se, por exemplo, forem organismos baseados em amônia? Será que
estarão buscando comida ou estarão pensando em alimentar os famintos? Será que
a gente vai ser incluído nos “famintos” sem parecer uma espécie inferior?
8 – Qual a história deles?
A história da humanidade inclui bons momentos e
maus momentos, mas não deixa de ser uma história interessante, começando 3,5
bilhões de anos atrás, com extinções em massa, eras do gelo, povoamento do
planeta, guerras, pestes, campos de concentração e gênios militares e
pacifistas.
E os alienígenas, como será a história deles? A
maneira que eles abordarem a gente vai ser um indício disto. Será que eles
evoluíram em uma sociedade pacifista, e vão nos abordar com certa ingenuidade e
boa vontade? Ou será que estão acostumados com a violência e tem tanto aparato
bélico quanto diplomático bem desenvolvidos?
Jared Diamond e Stephen
Hawking acreditam que existe alguma possibilidade deles serem parecidos
conosco, e neste caso viriam para nos dominar, quer pela força ou pela
persuasão. Mas esta é uma possibilidade entre muitas.
7 – O que eles esperam de nós?
Nós temos esperança que um contato alienígena traga
benefícios mútuos, com cooperação científica, exploração espacial,
compartilhamento de recursos e talvez até apreciação de arte.
Mas existe a possibilidade dos alienígenas estarem
interessados em nós como nós estamos interessados no gado e nas plantas e
animais domesticados: tratamos eles bem, na medida do possível, mas ainda assim
os usamos para nosso benefício.
Ou talvez eles tenham este receio em relação à nós,
e por isto não estejam tão animados em fazer um contato. Considerando nossa
história, seria bem justificado.
6 – Eles são inteligentes?
Imagine só encontrar com um Neandertal. Você pode
até conseguir entabular uma conversa, e ele vai compreender alguma coisa, se
for relacionada com caça e construção de ferramentas simples, mas talvez ele não
consiga entender conceitos mais elevados, como arte, diplomacia, metafísica ou
semântica, pelo menos não da forma que nós entendemos. Sendo assim, vai ser um
encontro um pouco frustrante…
Um encontro com uma inteligência alienígena pode
apresentar o mesmo tipo de frustração, mas por parte dos alienígenas. Como será
que eles reagiriam a uma humanidade incapaz de compreender o mínimo necessário
para manter uma conversa inteligente com eles? Por outro lado, pode ser também
que exista um “nível universal mínimo de inteligência” e a gente tenha atingido
o mesmo (e aí, conseguiríamos uma compreensão mútua).
H. P. Lovecraft desenvolveu um conceito, chamado
cosmicismo, ou “terror cósmico”, que descreve a incapacidade da humanidade de
compreender as enormes forças que governam o universo, e propôs que a magnitude
destas forças faz com que a gente seja insignificante no “grande esquema das
coisas”. O universo seria para nós algo incompreensível, alienígena,
aterrorizante. É uma possibilidade…
5 – Eles desenvolveram inteligência artificial?
Esse é um tema de ficção científica recorrente, e
daí tiramos a ideia de que é possível desenvolver uma inteligência artificial
que possa agir conforme seus próprios interesses, em vez dos nossos, a ponto de
nos ameaçar. Algumas pessoas consideram o problema tão sério que, através do
Singularity Institute, querem garantir que toda pesquisa em inteligência
artificial seja feita de forma responsável.
Mas não temos como controlar o desenvolvimento de
IA por outras civilizações com as quais não temos contato ainda. Apesar da
possibilidade ser baixa, ela existe, mas é mais baixa ainda a probabilidade que
uma inteligência alienígena também não tenha pensado na possibilidade de uma
Inteligência Artificial rebelde.
Mesmo assim, é uma questão válida. E uma que tem
produzido bons trabalhos de ficção científica.
4 – E a cognição e emoção?
Estamos acostumados com pessoas da nossa cultura,
que pensam mais ou menos da mesma forma. Mas se você for para a Amazônia, vai
encontrar os Pirahãs, uma tribo que não acredita em nada que eles não tenham
visto, e não é capaz de contar até 3.
Eles são inteligentes, mas a cultura deles
simplesmente não desenvolveu a ideia de números. E olha que eles são humanos,
como nós. Extrapole agora esta diferença para uma espécie alienígena, e para
outros campos além da capacidade de contar. O abismo que nos separa dos
alienígenas pode ser imenso!
E não só no aspecto cognitivo; nossas emoções
também podem ser completamente diferentes. Atualmente, existem algumas
hipóteses que dizem que as nossas emoções são subprodutos da evolução. É
possível que uma civilização alienígena, tendo percorrido um caminho
evolucionário completamente diferente, não compreenda o significado de uma
gargalhada, não se maravilhe ou tenha medo do que nos maravilha e amedronta.
E pode ser que as emoções que eles sintam, a gente
não possa nem pensar em compreender. Isto dificultaria bastante a diplomacia
interplanetária.
3 – Conhecimento do Universo?
Pode ser que os alienígenas tenham um conhecimento
mais profundo e mais sofisticado do universo que nós. Pode ser que eles tenham
elucidado a natureza da matéria e da energia escuras, pode ser que tenham um
mapa muito mais preciso do universo, e pode ser até que saibam como utilizar a
topologia do espaço-tempo a seu favor, algo que a gente só consegue explorar na
imaginação, por enquanto.
Mas pode ser que eles tenham uma compreensão
limitada do trabalho e conhecimento que outras civilizações são capazes. Por
outro lado, como a espécie humana continua evoluindo, pode ser que uma
humanidade mais inteligente ou uma espécie mais inteligente que nós derive da
espécie humana em 20 mil ou um milhão de anos.
2 – Longevidade?
Existem muitas formas pelas quais a vida pode
acabar, desde as incertas e aleatórias, como uma praga, uma explosão de raios
gama, ou uma supernova, até as distantes e inevitáveis, como quando as estrelas
terminarem todo o combustível nuclear e cessar toda fusão nuclear, em 97
trilhões de anos, ou então quando os prótons começarem a decair, daqui a 1034
anos, ou quando tudo que restar for fótons, em 10100anos. Ou então
daqui a pouco, se a gente estiver em estado de falso-vácuo.
É de se supor que qualquer forma de vida avançada
queira prolongar sua existência indefinidamente, no estado atual ou algum tipo
de estado elevado. Que providências eles poderiam tomar para garantir a
continuidade da existência?
Algum tempo atrás, quando o Big Crunch era o
cenário mais plausível para o fim do universo, o físico Frank Tipler propôs uma
solução: a criação de um computador infinitamente poderoso, que pegaria toda a
energia do Big Crunch e rodaria uma simulação de todo o universo a partir do
último segundo do tempo “físico” (ou seja, um segundo antes do “Big Crunch”).
Nossa existência então faria parte desta simulação, como uma gigantesca matrix
da qual não haveria escapatória.
1 – Onde eles estão?
Temos uma boa ideia do que é preciso para que
um planeta sustente vida, e até descobrimos vários sistemas estelares
promissores. As más notícias é que não sabemos o que um planeta precisa ter
para sustentar vida inteligente, e há pouca razão para acreditar que os poucos
planetas habitáveis que encontramos realmente têm vida. As boas notícias é que
examinamos um canto muito pequeno da galáxia, e só o fato de haver planetas habitáveis
nas proximidades significa que a probabilidade de haver vida por aí é bastante
alta.
Novamente, as más notícias são que estamos
limitados pela física para chegar em lugares tão distantes em períodos de tempo
razoáveis. Mesmo que consigamos viajar mais rápido que a luz, se a hipótese do
Big Rip se tornar verdadeira, cada segundo que passa torna a viagem
intergaláctica mais e mais improvável.
Supondo que algum dia possamos curvar o
espaço-tempo para viajar a lugares distantes em poucos segundos, onde devemos
procurar vida? Não são apenas planetas a certa distância de suas estrelas que
devemos procurar. O tamanho, luminosidade, e as manchas da estrela contam, a
órbita do planeta, componentes atmosféricos, rotação e inclinação do eixo,
tamanho e distância de outros planetas orbitando a mesma estrela, e mesmo a
forma e atividade da galáxia em que estão são fatores importantes a considerar.
De qualquer forma, não vamos viajar em busca
de alienígenas tão cedo. Se isto for acontecer ainda nas nossas vidas, é provável
que seja por que os alienígenas nos encontraram, e não o contrário.
Mas a vida extraterrestre é um assunto
cativante, e esperamos que um dia a humanidade venha a saudar criaturas de
outro planeta e estabelecer uma relação de mútuo benefício.[ListVerse]
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