Esta forma de operar repetindo indefinidamente a mesma manipulação pode parecer demencial a um químico moderno. Ensinaram-lhe que há um único método experimental válido: o de Claude Bernard. É um método que age por meio de variações concomitantes.
Louis Pauwels e Jacques Bergier. DIFEL
Repete-se milhares de vezes a mesma experiência, mas fazendo variar, de cada vez, um dos fatores: proporções de um dos constituintes, temperatura, pressão, catalisador, etc. Anotam-se os resultados obtidos e deduzem-se algumas das leis que regem o fenômeno. É um método que deu as suas provas, mas não é o único. O alquimista repete a sua manipulação sem a menor alteração, até que qualquer coisa de extraordinário se produza.
No fundo, acredita numa lei natural bastante comparável ao princípio de exclusão formulado pelo físico Pauli, amigo de Jung. Para Pauli, num dado sistema (o átomo e as suas moléculas), não podem existir duas partículas (elétrons, prótons, mésons) nomesmo estado. Tudo é único na natureza: a vossa alma não tem outra semelhante.. . É por isso que se passa bruscamente, sem intermediário, do hidrogênio ao hélio, do hélio ao lítio e assim indefinidamente, como o indica, para o físico nuclear, a Tabela Periódica dos Elementos. Quando se junta uma partícula a um sistema, essa partícula não pode tomar nenhum dos estados existentes no interior desse sistema. Toma um novo estado e a combinação com as partículas já existentes cria um sistema novo e único.
Para o alquimista, da mesma forma que não existem duas almas semelhantes, dois seres semelhantes, duas plantas semelhantes (Pauli diria: dois elétrons semelhantes), não há duas experiências semelhantes. Se se repetir milhares de vezes uma experiência, qualquer coisa de extraordinário acabará por se produzir. Não somos bastante competentes para lhe dar ou não razão. Contentamo-nos em observar que uma ciência moderna, a ciência dos raios cósmicos, adotou um método comparável ao do alquimista. Essa ciência estuda os fenômenos causados pelo aparecimento, num aparelho de detecção ou sobre uma chapa, de partículas com energia formidável, vindas de estrelas. Estes fenômenos não podem ser obtidos segundo a nossa vontade.É preciso esperar. Por vezes registra-se um fenômeno extraordinário.
Foi assim que no Verão de 1957, no decorrer das investigações feitas nos Estados Unidos pelo professor Bruno Rossi, uma partícula animada de uma energia formidável, jamais registrada até ali, e vinda talvez de outra galáxia sem ser a nossa Via Láctea, impressionou 1500 computadores ao mesmo tempo num raio de oito quilômetros quadrados, provocando, à sua passagem, um feixe enorme de destroços atômicos. Não é possível imaginar qualquer máquina capaz de produzir tal energia.
Nenhum sábio tinha conhecimento de que jamais se tivesse produzido semelhante acontecimento e ignora-se se voltará a repetir-se. É também um acontecimento excepcional, de origem terrestre ou cósmica, e capaz de influenciar o seu crisol, que
parece aguardar o nosso alquimista. Talvez ele pudesse abreviar a sua expectativa utilizando processos mais ativos do que o fogo, aquecendo por exemplo, o crisol num forno de indução pelo método de levitação, ou ainda juntando isótopos radioativos à sua mistura. Ele poderia então fazer e refazer a sua manipulação, não várias vezes por semana, mas milhares de vezes por segundo multiplicando desta forma as probabilidades de captar o acontecimento necessário ao bom êxito da experiência. Mas o alquimista atual, como o de ontem, trabalha em segredo, pobremente, e considera a expectativa uma virtude.
Prossigamos a nossa descrição: ao fim de vários anos de um trabalho sempre igual, de dia e de noite, o nosso alquimista acaba por deduzir que a primeira fase terminou. Junta então um oxidante à sua mistura: o nitrato de potássio, por exemplo.
Há enxofre no crisol, proveniente da pirite, e carvão proveniente do ácido orgânico. Enxofre, carvão e nitrato: foi durante essa manipulação que os antigos alquimistas descobriram a pólvora. Ele vai recomeçar a dissolver, depois a calcinar, sem descanso, durante meses e anos, na expectativa de um sinal. Sobre a natureza desse sinal, as obras alquímicas diferem, mas é talvez porque há vários fenômenos possíveis. Esse fenômeno produz-se no momento de uma dissolução. Para certos alquimistas, trata-se da formação de cristais em forma de estrelas à superfície umidade, até ao primeiro dia da próxima Primavera. Quando retomar as operações, estas visarão aquilo a que se chama, nos velhos textos, a preparação das trevas. Recentes investigações sobre a história da química demonstraram que o monge alemão Berthold Le Noir (Berthold Schwarz), a quem vulgarmente se atribui a invenção da pólvora no Ocidente, nunca existiu. É uma figura simbólica desta preparação das trevas.
A mistura é colocada num recipiente transparente, em cristal de rocha, fechado de forma especial. Há poucas indicações a respeito dessa fechadura, chamada fechadura de Hermes, ou hermética. Dali em diante o trabalho consiste em aquecer o recipiente dosando, com uma infinita delicadeza, as temperaturas. No recipiente fechado, a mistura contém sempre enxofre, carvão e nitrato. Trata-se de elevar essa mistura a um certo grau de incandescência, evitando no entanto a explosão. São numerosos os casos de alquimistas gravemente queimados ou mortos. As explosões que se produzem são de particular violência e exalam temperaturas para as quais não estávamos logicamente preparados.
O fim em vista é a obtenção, no recipiente, de uma essência, de um fluido, a que os alquimistas por vezes chamam a asa de corvo.
Sejamos mais claros. Esta operação não tem equivalente na física e química modernas. No entanto, não deixa de ter analogias. Quando se dissolve no gás amoníaco líquido um metal como o cobre, obtém-se uma coloração azul-escuro que passa ao negro nas grandes concentrações. Produz-se o mesmo fenômeno se se dissolver no gás amoníaco liquidificado hidrogênio sob pressão ou amidas orgânicas, de forma a obter o composto instável NH4, que tem todas as propriedades de um metal alcalino e que, por esse motivo, foi chamado amônio. Há razões para crer que essa coloração azul-negro, que faz pensar na asa de corvo do fluido obtido pelos alquimistas, é justamente a cor do gás eletrônico.
O que é o gás eletrônico? É para os sábios modernos, o conjunto de elétrons livres que constituem um metal e lhe asseguram as propriedades mecânicas, elétricas e térmicas. Ele corresponde, na terminologia atual, ao que o alquimista chama a alma ou ainda a
essência dos metais. É essa alma ou essa essência que se liberta no recipiente hermeticamente fechado e pacientemente aquecido do alquimista.
Ele aquece, deixa arrefecer, aquece de novo, e isto durante meses ou anos, observando através do cristal de rocha a formação daquilo a que também se chama o ovo alquímico: a mistura transformada em fluido azul-negro. Abre finalmente o seu recipiente na obscuridade, apenas sob a claridade dessa espécie de líquido fluorescente. Em contacto com o ar, esse líquido fluorescente solidifica-se e separa-se.
Obterá desta forma substâncias completamente novas, desconhecidas na natureza e com todas as propriedades dos elementos químicos puros, quer dizer, inseparáveis pelos processos da química.
Os alquimistas modernos pretendem ter obtido desta forma elementos químicos novos, e isto em quantidades consideráveis. Fulcanelli teria extraído de um quilo de ferro vinte gramas de um corpo completamente novo, cujas propriedades químicas e físicas não correspondem a qualquer elemento químico conhecido. Seria aplicável a mesma operação a todos os elementos, cuja maior parte daria dois elementos novos por cada elemento tratado. Tal afirmação é de molde a chocar o homem de laboratório. Atualmente, a teoria não permite prever outras separações além das seguintes:
-A molécula de um elemento pode alcançar vários estados: Oto-hidrogênio e para¬hidrogênio, por exemplo.
-O núcleo de um elemento pode tomar um certo número de estados isotópicos caracterizados por um número de nêutrons diferentes. No lítio 6 o núcleo contém três nêutrons e no lítio 7 contém quatro.
Os nossos técnicos, para separar os diversos estados alotrópicos da molécula e os diversos estados isotópicos do núcleo, exigem para isso um enorme material.
Os processos do alquimista são, em comparação, irrisórios, e ele alcançaria, não uma mudança de estado da matéria, mas a criação de uma matéria nova, ou pelo menos uma decomposição e recomposição diferente da matéria. Todo o nosso conhecimento do átomo e do núcleo se baseia no modelo saturnino de Nagasoka e Rutheford: o núcleo e o seu anel de elétrons. Não é impossível que, no futuro, outra teoria nos leve a realizar mudanças de estados e separações de elementos químicos por enquanto inconcebíveis.
Portanto, o nosso alquimista abriu o seu recipiente de cristal de rocha e obteve, por meio do arrefecimento do líquido fluorescente em contacto com o ar, um ou vários elementos novos.
Restam as escórias. Essas escórias, vai ele lavá-las durante meses em água tridestilada. Depois manterá essa água ao abrigo da luz e das variações de temperatura.
Essa água teria propriedades químicas e medicinais extraordinárias. É o dissolvente universal e o elixir de longa vida tradicional, o elixir de Faustol.
Aqui, a tradição alquímica parece de acordo com a ciência de vanguarda. De fato, para a ciência ultramoderna, a água é uma mistura extremamente complexa e reagente. Os investigadores debruçados sobre a questão dos oligoelementos, especialmente o doutor Jacques Ménétrier, constataram que, praticamente, todos os metais eram solúveis na água em presença de certos catalisadores, como a glucose, e sob determinadas variações de temperatura.
Imagem: joaofelix.blogspot.com
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