terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

O Despertar dos Mágicos (11). a lenda Rosa-Cruz e a realidade de hoje se esclarecem mutuamente.


Se alguns dos profundos conhecimentos sobre a matéria e a energia, sobre as leis que regem o Universo, foram elaborados por civilizações atualmente desaparecidas, e se se conservaram, através dos séculos, fragmentos desses conhecimentos (do que aliás não estamos certos), não pode ter sido senão por espíritos superiores e numa linguagem forçosamente incompreensível para o vulgo.

Louis Pauwels e Jacques Bergier. DIFEL

Mas caso não queiramos aceitar esta hipótese, podemos pelo menos imaginar, no decorrer dos tempos, uma sucessão de espíritos fora do comum, comunicando entre si.
Tais espíritos sabem evidentemente que não têm o menor interesse em fazer estendal do seu poder. Se Cristóvão Colombo fosse um espírito fora do comum, teria mantido secreta a sua descoberta. Obrigados a uma espécie de clandestinidade, esses homens só com os seus semelhantes podem manter contactos satisfatórios. Basta pensar na conversa dos médicos em redor do leito de um enfermo no hospital, conversa em voz alta e da qual no entanto o paciente nada entende para compreender o que pretendemos dizer sem baralhar idéias no obscuridade do ocultismo, da iniciação, etc.
É bem visível que espíritos desta natureza, empenhados em passar desapercebidos simplesmente para não sofrerem entraves, teriam mais que fazer do que brincar entre si aos conspiradores. Se eles formam uma sociedade é pela força das circunstâncias. Se têm uma linguagem especial, é porque as noções gerais que essa linguagem exprimesão inacessíveis ao espírito humano vulgar. É exclusivamente neste sentido que nós aceitamos uma idéia de sociedade secreta. As outras sociedades secretas, ligadas entre si, que são inúmeras e mais ou menos poderosas e pitorescas, para nós não passam de imitações, de brincadeiras de crianças que pretendem copiar os adultos.
Enquanto os homens alimentarem o sonho de obter seja o que for a troco de coisa alguma, dinheiro sem trabalhar, conhecimentos sem estudos, poder sem sabedoria, virtude sem ascese as sociedades supostamente secretas e iniciáticas prosperarão, com as suas hierarquias imitativas e o seu rosnar que imita linguagem secreta, quer dizer, técnica.
Escolhemos o exemplo dos Rosa-Cruzes de 1622 porque, segundo a tradição, o autêntico Rosa-Cruz não se fundamenta em qualquer iniciação misteriosa, mas num estudo profundo e coerente do Liber Mundi, do livro do Universo e da natureza.
A tradição Rosa-Cruz é portanto a mesma que a da ciência contemporânea. Começamos agora a compreender que um estudo profundo e coerente deste livro da natureza exige mais qualquer coisa do que simples espírito de observação, ou aquilo a que ultimamente chamamos científico, e mesmo qualquer coisa mais do que aquilo a que chamamos inteligência. No ponto em que as nossas investigações estão, seria necessário que o espírito se vencesse a si próprio, que a inteligência se transcendesse. O humano, demasiado humano, não basta. Talvez seja a esta mesma constatação, feita nos séculos passados por homens superiores, que devemos, senão a realidade, pelo menos a lenda Rosa-Cruz. O moderno atrasado é racionalista. O contemporâneo do futuro sente-se religioso. Modernismo a mais afasta-nos do passado. Um pouco de futurismo aproxima-nos dele.
Entre os jovens atomistas, escreve Robert Jungkl, há os que julgam os seus trabalhos como uma espécie de concurso intelectual que não contém significado profundo nem obrigações, mas outros descobrem na investigação uma experiência religiosa.
Os nossos Rosa-Cruzes de 1622 faziam uma estada invisível em Paris. O que nos espanta é o fato de que, apesar do atual regime de polícia e de espionagem, os grandes investigadores consigam comunicar entre si destruindo as pistas que poderiam conduzir os governos até aos seus trabalhos. O destino do mundo poderia ser debatido por dez sábios, e em voz alta, diante de Khruchtchov e Eisenhower, sem que estes senhores compreendessem uma única palavra.
Uma sociedade internacional de investigadores que não interviesse nos assuntos dos homens teria todas as probabilidades de passar desapercebida, da mesma forma que passaria desapercebida uma sociedade que limitasse as suas intervenções a casos muito especiais. Os seus próprios meios de comunicação poderiam não ser captados. A
T.S.F. poderia muito bem ter sido descoberta no século XVII e os aparelhos de galena, tão simples, poderiam ter servido para os iniciados. Da mesma forma, as modernas pesquisas a respeito dos meios parapsicológicos obtiveram como resultado aplicações em telecomunicações. O engenheiro americano Victor Enderby escreveu recentemente que, se se obtiveram resultados nesse domínio, foram mantidos secretos, por livre vontade dos inventores.
O que também nos impressiona é que a tradição Rosa-Cruz alude a aparelhos ou máquinas que a ciência oficial da época não pode fabricar: lâmpadas perpétuas, registradores de sons e de imagens, etc. A lenda descreve aparelhos encontrados no túmulo do simbólico Christian Rosen Kreutz, que poderiam ser do ano de 1958, mas não de 1622. É que a doutrina Rosa-Cruz baseia-se no domínio do Universo pela ciência e pela técnica, mas de forma alguma pela iniciação ou pela mística. Do mesmo modo, podemos conceber na nossa época uma sociedade que manteria uma tecnologia secreta.
As perseguições políticas, as dificuldades sociais, o desenvolvimento do senso moral e da consciência de uma aterradora responsabilidade forçarão cada vez mais os sábios a refugiar-se na clandestinidade. Ora não será esta clandestinidade que retardará as pesquisas. Não é possível acreditar que os foguetões e as enormes máquinas para destruir o átomo serão de futuro os únicos instrumentos do investigador. As verdadeiras grandes descobertas sempre foram feitas com materiais simples, um equipamento sucinto.
É possível que existam no mundo, neste momento, certos locais onde a densidade intelectual é particularmente grande e onde essa nova clandestinidade se afirma. Entramos numa época que se assemelha, sob certos aspectos, ao princípio do século XVII e talvez esteja em preparação um novo manifesto de 1622. Talvez até já tenha aparecido. Mas nós não nos apercebemos disso.
O que nos afasta desses pensamentos, é que as épocas antigas se exprimem sempre em fórmulas religiosas. Portanto, apenas lhes dedicamos uma atenção literária, ouespiritual. É por isso que somos modernos. É por isso que não somos contemporâneos do futuro.
O que finalmente nos impressiona é a afirmação reiterada dos Rosa-Cruzes e dos alquimistas, segundo a qual o objetivo da ciência das transmutações é a transmutação do próprio espírito. Não se trata nem de magia, nem de recompensa vinda do céu mas de uma descoberta das realidades que obriga o espírito do observador a tomar outra posição. Se pensarmos na evolução extremamente rápida do estado de espírito dos maiores atomistas, começaremos a compreender o que os Rosa-Cruzes queriam dizer.
Estamos numa época em que a ciência, no seu termo máximo, atinge o universo espiritual e transforma o espírito do próprio observador, situando-o num nível diferente do da inteligência científica, tornada insuficiente. Aquilo que acontece aos nossos atomistas é comparável à experiência descrita pelos textos alquímicos e pela tradição Rosa-Cruz. A linguagem espiritual não é uma balbuciação que precede a linguagem científica, mas principalmente a superação desta. Aquilo que se passa no nosso presente pode ter-se passado em tempos idos, noutro plano do conhecimento, de forma que a lenda Rosa-Cruz e a realidade de hoje se esclarecem mutuamente. É preciso ver as coisas antigas com olhos atuais, o que nos ajudará a compreender o futuro.
Já não estamos na época em que o progresso se identifica exclusivamente com o avanço científico e técnico. Surge outra probabilidade, aquela que se encontra nos Superiores Desconhecidos dos séculos passados quando eles mostram que a observação do Liber Mundi desemboca noutra coisa. Um físico eminente, Heisenberg, declara atualmente: O espaço em que se desenvolve o ser espiritual do homem tem outras dimensões além daquela em que se desenvolveu durante os últimos séculos.
Wells morreu desanimado. Esse espírito poderoso vivera com fé no progresso. Ora Wells, no fim da vida, viu esse progresso tomar aspectos assustadores. Já não tinha confiança. A ciência arriscava-se a destruir o mundo, pois acabavam de ser inventados os mais extraordinários processos de aniquilamento. O homem, disse em 1946 o velho Wells desesperado, chegou ao termo das suas possibilidades. Foi nesse momento que o ancião que fora um gênio da antecipação deixou de ser um contemporâneo do futuro. Nós começamos a perceber que o homem apenas atingiu o términus de uma das suas possibilidades. Outras possibilidades surgem.
Outros caminhos se abrem, que o fluxo e refluxo do oceano dos séculos encobrem e descobrem alternadamente. Wolfgang Pauli, matemático e físico mundialmente conhecido, professava outrora o cientismo na mais perfeita tradição do século XIX. Em 1932, no congresso de Copenhage, pelo seu frio cepticismo e pela sua ânsia de poder, surgiu como o Mefistófeles de Fausto. Em 1955, esse espírito penetrante alargara tão amplamente as suas perspectivas que se transformou no eloqüente defensor de umavia de salvação interior, desprezada durante muito tempo. Esta evolução é típica. É a da maior parte dos grandes atomistas.
Não é um regresso ao moralismo ou a uma vaga religiosidade. Trata-se, pelo contrário, de um progresso no equipamento do espírito de observação, de uma nova reflexão sobre a natureza do conhecimento. Em face da divisão das atividades do espírito humano em diferentes domínios, estritamente mantida desde o século XVII, diz Wolfgang Pauli, imagino um objetivo que seria a conciliação dos contrários, uma síntese que abarcasse a inteligência racional e a experiência mística da unidade. Este fim é o único que se adapta ao mito, expresso ou não, da nossa época.

Imagem: esoterikha.com

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