Em uma praça do centro de qualquer cidade,
nunca faltam compradores de pipoca para alimentar as pombas. Na mente delas, a
comida surge naturalmente, embora elas não “saibam” exatamente a razão. Um dia,
uma pomba foi colocada em uma caixa onde não havia pipoca em abundância. Havia
apenas uma parede, um botão e uma portinhola.
Depois de algum tempo, a pomba estava com
fome. Ela nunca soube como agir nessa situação de carência. Começou a andar
para lá e pra cá, bicar o chão, dar uma volta em torno de si mesma, bater as
asas, até que ela achou a parede. E o botão. Quando bicou o botão – aleluia! –
caiu um grão de comida da portinhola.
A pomba comeu, mas seguia com fome. Depois de
um tempo, ela experimentou bicar o botão mais uma vez. E mais uma vez foi
agraciada com alimento. Com a repetição, ela aprendeu que uma bicada no botão
equivalia a uma recompensa.
Chegou um momento em que isso ficou
automático: sempre que sentia fome, a pomba bicava o botão. Ela nunca soube por
que aquilo fazia aparecer um grão de comida na portinhola, mas já não importava
mais.
A pomba passou a acreditar que a única forma de
obter alimento era bicar insistentemente um botão na parede.
Em outras caixas, havia outras pombas. Cada uma fazendo
um movimento (ciscar o chão, dar uma volta, bater as asas…) à força de
repetição, na esperança de receber comida, porque nas primeiras vezes havia
dado certo de algum jeito. Nenhuma delas, tampouco, tinha garantia de que tal
movimento daria mesmo o prêmio esperado. Mas não paravam.
Como
fabricar superstição
Esta história narra um experimento científico feito
na década de 1930 pelo psicólogo americano Burrhus Frederic Skinner. Além de
pombos, ele também usou roedores e até macacos para provar como é possível
moldar o comportamento dos animais à força da prática repetitiva, que produz o
condicionamento.
Analisando o comportamento da pomba na Caixa de
Skinner, pode-se dizer que ela criou uma espécie de superstição. É óbvio que
ela nunca soube por que bicar a parede fazia surgir um grão de comida na
portinhola; apenas sabia que era assim que acontecia, e pronto.
A pomba incorporou o comportamento de bicar a
parede. Era uma resposta natural ao medo da fome. O temor da punição – privação
de alimento – e o recebimento de uma recompensa foram vinculados a uma atitude,
mesmo que a pomba ignorasse completamente o caminho entre a causa e a
consequência. Skinner criou, dessa forma, um exército de pombas
“supersticiosas”.
As raízes
de uma crença
Quando uma tribo indígena sacrificava um bode,
fazia oferendas a um totem ou empurrava uma virgem de um vulcão, por que eles o
faziam? Para obter um benefício dos deuses, ou outra nomenclatura para uma
entidade superior que seria capaz, em tese, de fornecer climas adequados, boas
colheitas, que poderia impedir catástrofes naturais, enfim; o imprevisível.
Esta resposta automática, de acordo com o biólogo
britânico Richard Dawkins, da Universidade Oxford (Reino Unido), é bem parecida
com a dos pombos: na ignorância de um mecanismo que leva algo a acontecer, os
seres vivos são naturalmente levados a hábitos supersticiosos.
Dawkins e outras duas cientistas (as americanas
Christine Dargon, doutora em psicologia, e Karly Way, em sociologia)
participaram de um documentário em que se tenta entender a origem do medo. “The
Virus called Fear” (O vírus chamado medo), produzido pelo cineasta americano
Bem Fama Jr., trata justamente desta questão. Você pode assistir o experimento
da Caixa de Skinner a partir de 8m30s deste
vídeo.
A ciência entende o medo como uma resposta natural
ao desconhecido. O medo seria a habilidade natural do ser vivo de dar uma
resposta rápida a algo que pode ser ameaçador, com o objetivo de garantir a
segurança. Quando uma tribo faz uma oferenda para pedir por mais chuvas, ou
para pedir que uma epidemia vá embora da comunidade, estaria ativando esse
mecanismo primário.
Os cientistas reconhecem, dessa maneira, que até a
religião seria uma espécie de resposta a estes estímulos. Quando se estabelece
um contraponto entre recompensa e punição (céu e inferno), cuja destinação está
nas mãos de algo que não podemos controlar, algo superior e mais forte que nós
(a divindade), produzimos uma reação equivalente.
A crença religiosa seria explicada, pelo menos em
parte, por um processo cerebral quase instintivo: a busca pelo bom e a fuga do
ruim quando estamos diante do desconhecido. [Psych
Classics/Science Blogs/Top
Documentary Films]
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