Ler Buda, nazismo e espaço na mesma frase não faz
sentido algum. Mas, apesar de parecer o roteiro de um filme muito ruim e
surreal, a história é bastante verdadeira.
Pesquisadores descreveram a descoberta de uma
estátua de Buda na revista Meteoritics & Planetary Science. Até aí, tudo
bem. O que ela tem de interessante?
Aparentemente, o pesado objeto foi trazido da
fronteira entre a Sibéria e a Mongólia para a Europa pelos nazistas. Também,
aparentemente, a estátua foi esculpida a partir de um meteorito que caiu
provavelmente há 10.000 anos na Terra.
O caminho
da estátua
Em uma expedição ao Tibete entre 1938 e 1939, o
zoólogo e etnologista Ernst Schäfer, enviado à região pelo partido nazista para
encontrar as raízes (origens) arianas, trouxe o “homem de ferro” (apelido que
os pesquisadores deram à estátua) à Alemanha.
Em seguida, o objeto passou para as mãos de um
proprietário privado.
O “Buda do espaço” é de idade desconhecida. As
melhores estimativas colocam o surgimento da estátua em algum momento entre os
séculos VIII e X.
A escultura retrata um homem, provavelmente um deus
budista, com as pernas dobradas, segurando algo na mão esquerda. Em seu peito
há uma suástica budista, um símbolo de sorte comum na cultura oriental que
decora muitas estátuas hindus e budistas, que mais tarde foi usado pelo partido
nazista da Alemanha.
“Pode-se especular que o símbolo da suástica na
estátua foi uma motivação potencial para trazer o artefato para a Alemanha”,
disseram os pesquisadores.
A identidade do homem esculpido não é totalmente
clara, mas os pesquisadores suspeitam que ele pode ser o deus budista
Vaisravana, também conhecido como Jambhala. Vaisravana é o deus da riqueza ou da guerra, muitas vezes retratado segurando um limão (símbolo de riqueza) ou saco de dinheiro na mão.
Vaisravana, também conhecido como Jambhala. Vaisravana é o deus da riqueza ou da guerra, muitas vezes retratado segurando um limão (símbolo de riqueza) ou saco de dinheiro na mão.
O homem de ferro tem um objeto não identificado em
sua mão. A estátua tem cerca de 24 centímetros de altura e pesa cerca de 10,6
kg.
Meteorito
e religião
O cientista da Universidade de Stuttgart (Alemanha)
Elmar Bucher e seus colegas analisaram a estátua em 2007, quando o proprietário
lhes permitiu levar cinco amostras minúsculas do objeto.
Em 2009, a equipe pode analisar amostras maiores do
interior da estátua, que é menos propenso ao desgaste ou contaminação por
manipulação humana do que o exterior.
Eles descobriram que a estátua foi esculpida a
partir de uma classe rara de rochas espaciais, conhecida como meteoritos
ataxite. Estes meteoritos são feitos principalmente de ferro e têm um nível elevado
de níquel.
O maior exemplo conhecido desse tipo de rocha, o
meteorito Hoba da Namíbia, pode pesar mais de 60 toneladas.
Uma análise química das amostras do homem de ferro
revelou que ele vem de outro meteorito ataxite, o Chinga.
Essa rocha espacial caiu na Terra entre 10.000 e
20.000 anos atrás, perto da fronteira entre a Sibéria e Mongólia.
Conforme atingiu o solo, ele se fragmentou em diversos pedaços, e apenas dois mais pesados do que 10 kg eram conhecidos antes da nova análise. A estátua se tornou a terceira peça grande desse meteorito, com 10,6 kg.
Conforme atingiu o solo, ele se fragmentou em diversos pedaços, e apenas dois mais pesados do que 10 kg eram conhecidos antes da nova análise. A estátua se tornou a terceira peça grande desse meteorito, com 10,6 kg.
Segundo Bucher, muitas culturas utilizavam
meteoritos de ferro para fazer punhais e até joias.
Cientistas suspeitam que outros objetos venerados
podem ter origens extraterrestres semelhantes, incluindo a Pedra Negra, em
Meca, Arábia Saudita, mas é difícil verificar essas suposições porque os
objetos nunca foram completamente analisados cientificamente.
Também, nenhum desses fragmentos de meteoritos foi
supostamente esculpido por motivos religiosos. “Metais de meteoritos estão
associados a uma série de culturas antigas. Há relatos de colares egípcios
feitos com metal de meteoros, mas não há nenhuma evidência de que os egípcios
tinham conhecimento de sua procedência extraterrestre”, explica Matthew Genge,
do Imperial College de Londres (Reino Unido).
Sendo assim, afirma Bucher, apesar da adoração ao
meteorito ser comum entre culturas antigas, a escultura de Buda é única.
“A estátua do homem de ferro é o único exemplo conhecido de uma figura humana esculpida a partir de um meteorito, o que significa que nada pode ser comparado a ela para avaliar seu valor”, afirma.
“A estátua do homem de ferro é o único exemplo conhecido de uma figura humana esculpida a partir de um meteorito, o que significa que nada pode ser comparado a ela para avaliar seu valor”, afirma.
Mas esse valor é alto, com certeza. “Apenas suas
origens já valorizaram a estátua em US$ 20.000 (cerca de R$ 40 mil), no
entanto, se a nossa estimativa da sua idade estiver correta e ela tiver quase
mil anos de idade, seu valor pode ser inestimável”, opina Bucher.
E porque será que alguém resolveu esculpir tal
estátua religiosa nesse material? Os especialistas acreditam que há uma boa
chance dos povos antigos terem se maravilhado com o fenômeno de meteoritos
caindo do céu.
“Não há nenhuma evidência definitiva de que povos
antigos testemunharam e reverenciaram quedas de meteorito”, diz Genge. “No
entanto, as chances são boas. Há tantas testemunhas de quedas modernas que os
povos antigos também devem tê-las presenciado. E tais eventos especiais que
devem ter atraído admiração e especulação”.[MSN, NewScientist, MedicalDaily]
Sem comentários:
Enviar um comentário