O caso de Darren Deon Vann, que a polícia
diz ter confessado o assassinato de sete mulheres no noroeste de Indiana nos
últimos dois anos, é apenas o exemplo mais recente de um tipo de onda criminosa
que tem se tornado familiar demais. Numa época em que seriados criminais de
televisão como “CSI”, “Criminal Minds” e “Law and Order”
batem recordes de audiência com tramas escabrosas sobre assassinos em série, é
fácil acabar acreditando que serial killers estão se tornando mais comuns do
que jamais foram.
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Na verdade, a realidade é exatamente o
oposto.
Observando os números atuais, fica claro
que os assassinatos em série atingiram seu ápice durante as décadas de 70 e 80,
e despencaram dramaticamente desde então. Durante os anos 80, por exemplo,
estimava-se que havia 200 serial killers atuando nos Estados Unidos; na
primeira década deste século, no entanto, a contagem foi de metade desse
número.
Por quê? As razões para esse declínio são
complexas.
Em parte, a queda acompanha a diminuição
acentuada de todas as formas de homicídio que se iniciou durante os anos 90, e
é, de certo modo, resultado de alguns dos mesmos fatores. O crescimento da
população carcerária americana, por exemplo, manteve muitos predadores
violentos – incluindo vários serial killers em potencial – enjaulados atrás das
grades. Em 1980, por exemplo, o número de prisioneiros sob a jurisdição das
autoridades federais ou estaduais era de 330 mil. Em 1990 esse número havia
saltado para 773 mil, e em 2009 havia atingido a marca de 1,6 milhão.
Mas a redução nos assassinatos em série
também pode ser reflexo do aperfeiçoamento das técnicas investigativas da
polícia. Na verdade, as coisas podem não funcionar sempre tão suavemente como
acontece no seriado “Bones”, mas avanços no perfilamento de DNA e bancos
de dados, bem como a comunicação reforçada entre agências, podem ter ajudado a
capturar vários futuros serial killers antes que eles fossem capazes de
acumular uma contagem maior de vítimas. Além disso, uma variedade de inovações
tecnológicas – incluindo Amber Alert (um sistema de alerta de sequestro de
crianças), registros de agressores sexuais, sistemas de vigilância por vídeo,
rastreamento de celulares e veículos via GPS, e monitoramento de redes sociais
e salas de bate-papo – ofereceram à polícia ferramentas adicionais para
identificar e apreender predadores sexuais no princípio de suas carreiras
criminais.
Enquanto isso, a internet tem fornecido a
agressores sexuais uma enorme variedade de opções para saciarem seus desejos
sádicos sem a necessidade de se envolverem em crimes. Obviamente a sociedade
pode desaprovar o nível de violência na pornografia largamente disponível. Mas
por mais repulsivo que possa parecer, esse acesso fácil também pode servir como
uma válvula de escape catártica para certos indivíduos que de outro modo
poderiam recorrer ao estupro, tortura e assassinato.
A tecnologia também ofereceu maior
segurança para vítimas em potencial. Celulares e suas funções fotográficas
acrescentaram um nível maior de proteção contra estranhos. Ao mesmo tempo, uma
maior consciência do público em relação a agressores em série aumentou
significativamente o nível de cuidado ao aceitar caronas ou presentes de
completos desconhecidos. Muitos pais, por exemplo, se tornaram relutantes à
ideia de deixar suas crianças brincarem na rua ou no jardim das próprias casas
sem supervisão. Décadas atrás, pegar carona era um modo relativamente comum de
sair por aí. Nos dias de hoje, a maioria das pessoas evitam pedir carona, a não
ser que não haja absolutamente nenhuma alternativa. Quando foi a última vez que
você viu de fato alguém estendendo o braço no acostamento de uma rodovia?
Infelizmente, a redução dos casos
conhecidos de assassinatos em série não é o fim da história. É possível, por
exemplo, que uma parcela dos casos ocorridos nos anos recentes não tenha sido
identificada e solucionada, fazendo com que eles estejam ausentes dos bancos de
dados de criminosos conhecidos. Mesmo agora, como em décadas passadas, a
chamada “cegueira de ligação” continua a impedir ou, no mínimo, atrasar o
reconhecimento de que um único assassino pode ser o responsável por uma enorme
carnificina. Antes de identificar um serial killer, devemos primeiro admitir a
sólida possibilidade de alguém estar agindo em uma comunidade em particular. Ao
longo das décadas, muitos serial killers inteligentemente ocultaram a extensão
do seu comportamento assassino variando seu modus operandi, bem
como o tipo de vítimas que escolhem.
Quarenta anos atrás, quando muitos
americanos tomaram conhecimento pela primeira vez sobre os relatos de serial
killers, o fascínio com o fenômeno – e como nomes como Jeffrey Dahmer e Ted Bundy – era palpável. Como
resultado, empresários empreendedores comercializaram “souvenires de
assassinos”, incluindo calendários, cartões, camisetas, bonecos, pinturas e
revistas em quadrinhos.
Enquanto o fascínio do público com os serial
killers tem diminuído, o mesmo tem acontecido com a sua preocupação com casos
mais típicos que não rendem uma contagem de corpos superior a dois dígitos ou
torturas particularmente cruéis. Para atrair publicidade extensiva, um serial
killer praticamente precisa passar décadas à solta, matar uma dúzia de vítimas
ou mais, e praticar rituais perturbadores ou canibalismo. Felizmente, tais
características são mais raras que os fãs que elas inspiram.
Mas apesar do declínio dos números,
qualquer serial killer permanece sendo um problema difícil e impressionante
para a lei. Nos Estados Unidos, cerca de 10 serial killers são capturados
anualmente pela polícia e, mesmo uma queda nesses números, é improvável que
isso reduza o nível de medo que eles ainda causam. De fato, o poder que eles
exercem sobre o imaginário da população permanece extraordinário, e os
criminologistas tem a responsabilidade de tentar compreender como e por que
esses agressores tiram a vida de vítimas inocentes – e como eles podem fazer
isso com uma premeditação fria e assustadora.
Nota do Aprendiz: O texto acima é de
autoria de James Alan Fox e Jack Levin. Eles são criminologistas na
Northeastern University e co-autores de “Extreme Killing: Understanding
Serial and Mass Murder” (“Assassinato Extremo: Compreendendo
Assassinatos em Série e em Massa”, em tradução livre). As opiniões
expressas são de responsabilidade deles. Sobre o criminologista Jack Levin,
leia também Biografia: O Açougueiro de Rostov.
Na foto: Os serial killers
Jarvis Catoe, Wayne Williams, William Bonin e Patrick Kearney.
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