[Chefe da
Polícia de Berlim]
[Data: 26 de Julho de 1941. Número: 178]
Assassino do Karlshorst S-Bahn Executado
A assessoria de imprensa do judiciário em Berlin divulga:
[Data: 26 de Julho de 1941. Número: 178]
Assassino do Karlshorst S-Bahn Executado
A assessoria de imprensa do judiciário em Berlin divulga:
http://oaprendizverde.com.br/
“Paul
Ogorzow, que foi condenado à morte nesta Quinta-Feira pelo Tribunal Especial de
Berlim como um parasita para as pessoas e criminoso violento dos direitos
civis, foi executado nesta Sexta-Feira. De vários modos, Ogorzow usava a
escuridão do S-Bahn para atacar mulheres e jogá-las para fora do trem. Ele
também cometeu múltiplos assassinatos e tentativas de assassinatos na área dos
jardins no leste de Berlim.
Na Quinta-Feira
da última semana, o assassino de mulheres serial, cujos horríveis atos
colocaram o povo do leste de Berlim em medo e consternação, foi capturado pela
polícia após uma meticulosa investigação. Uma semana depois, o julgamento –
graças à louvável cooperação entre a polícia criminal e judiciária – pode ser
realizado. Ontem, a pena de morte desta besta em forma humana foi realizada. O
público saudou esta rápida execução da lei com satisfação.”
Berlim, Alemanha
1 Ano Antes…
Berlim, 1940.
Tarde da noite, uma funcionária da ferrovia aguarda o trem que a levará para
casa e conversa com um homem. O que ela não sabe é que o homem é um serial
killer estrangulador que após matar suas vítimas as jogava do trem em
movimento.
Na noite de 4 de
novembro de 1940, Elizabeth Bendorf, 30 anos, havia acabado de encerrar seu
turno como vendedora de bilhetes da estação Friedrichshagen da S-Bahn, e estava
esperando pela chegada do trem que a levaria para casa. A S-Bahn era parte do
sistema de transporte rápido de Berlim.
Era comum em
1940 que mulheres alemãs como Gendorf trabalhassem fora de casa. Como
resultado, mulheres frequentemente tomavam o trem da S-Bahn sozinhas à noite
quando seus turnos terminavam. Com tantos homens fora do país servindo o
exército, as mulheres dominavam as fábricas de Berlim, trabalhando para
fornecer os produtos industriais necessários para os esforços de guerra. Embora
os nazistas preferissem ter suas mulheres em casa no papel tradicional de mães
e donas de casa, a guerra requeria que trabalho feminino fosse utilizado para
produzir os armamentos e outros materiais necessários para a batalha. E com os
homens fora, havia vagas de emprego também em trabalhos que não tinham relação
com a guerra, como vender bilhetes para a S-Bahn.
Outras forças
combatentes daquela guerra também possuíam problemas similares com a
necessidade de mulheres abandonarem os domínios do trabalho doméstico para
fazerem nas fábricas o trabalho que antes era feito por homens. Nos Estados
Unidos, a personagem “Rosie, a Rebitadeira” foi usado para encorajar mulheres a
deixarem o ambiente doméstico e assumirem as linhas de montagem nas fábricas.
Um exemplo da propaganda governamental americana direcionada a convocar
mulheres para o trabalho dizia “Você sabe usar uma batedeira? Caso
saiba, você pode aprender a operar uma furadeira.”.
Um pôster de
propaganda alemão captura este sentimento com a imagem de três mulheres (uma
operária, uma enfermeira e uma fazendeira) em primeiro plano, tendo ao fundo uma
fábrica e uma fazenda, e no céu sobre elas o desenho de um homem utilizando um
capacete de combate. A ideia era que aquelas mulheres deixariam os homens
livres para lutar. O texto exortava, “começando por você!”.
Tal propaganda
era baseada na ideia de que mulheres realizariam temporariamente tarefas em
campos tradicionalmente dominados por homens e então voltariam às suas tarefas
domésticas quando a guerra tivesse terminado e os homens voltassem para
casa.
Paul Ogorzow viu
Elizabeth Bendorf esperando sozinha pelo trem. Ele indicou com um convidativo
aceno de mãos que ela poderia utilizar o vagão de segunda classe, em vez do
vagão de terceira classe indicado no bilhete dela. Uma vez que ele vestia um
uniforme da companhia ferroviária, e ela vestia o dela, Bendorf pensou que
deixá-la viajar num vagão melhor fosse uma cortesia profissional. Ela não se
preocupou se havia alguma coisa mais nefasta envolvida. A segunda classe era
mais confortável e assim seria uma viagem mais relaxante para ela após um longo
dia de trabalho.
A principal
diferença entre a segunda e a terceira classe eram os assentos. A terceira
classe tinha bancos duros de madeira, degastados por décadas de berlinenses
sentando neles. A maioria dos assentos ficava em pares de frente um para o outro,
com um estreito corredor entre eles. Num trem lotado, cada banco podia acomodar
duas pessoas, que então se espremeriam encarando duas pessoas sentadas a alguns
centímetros de distância delas. Isso tornava a viagem muito mais apertada do
que a maior parte dos sistemas de trens modernos, que usam assentos voltados
para a mesma direção ou uma longa fileira de bancos ao longo das duas paredes
externas do vagão.
A segunda classe
apresentava basicamente o mesmo arranjo de assentos da terceira, mas com bancos
acolchoados. Além desse pequeno aumento de conforto, a segunda classe oferecia
um vagão geralmente mais tranquilo e espaçoso, uma vez que a vasta maioria dos
passageiros da S-Bahn viajavam na terceira classe.
Na realidade,
Ogorzow não se importava com o conforto daquela mulher nem estava
oferecendo-lhe nenhum tipo de cortesia; ele a queria no vagão de segunda classe
por seus próprios motivos – usualmente ele ficava vazio, enquanto era mais
provável que houvesse outros passageiros viajando no vagão de terceira classe.
O trem deles chegou depois das onze da
noite. Eles se sentaram lado a lado no vagão, que não fosse por eles estaria
vazio, e bateram algum papo. Isso foi posteriormente caracterizado como uma
conversa sobre coisas triviais. Isto mostra que Ogorzow era capaz de se virar
em situações sociais. Ele não era um desequilibrado. Ele poderia facilmente
conversar com mulheres, até o ponto de fazer com que uma mulher que ele não
conhecia, viajando sozinha num trem à noite, se sentisse à vontade. Ele era
ajudado, claro, pelo fato de usar um uniforme, o que lhe dava uma aura de
autoridade.
Ogorzow viu que eles estavam sozinhos.
Mas ele esperou; ainda não estava pronto para atacar. Ele queria ter certeza de
que teria o máximo de tempo para atacar sua vítima e descartar seu corpo. Tendo
tido uma pequena conversa, ele já havia perdido tempo bastante entre a estação
onde haviam embarcado e a seguinte.
Na estação Hirschgarten, Ogorzow esperou
na porta do trem, torcendo para que ninguém mais entrasse no vagão de segunda
classe. A porta dos trens não se abria automaticamente quando o trem chegava a
uma estação; em vez disso, quaisquer passageiros que desejassem entrar ou sair
do trem precisavam operar manualmente uma maçaneta. A única função automática
era o fechamento das portas antes de o trem deixar a estação. Assim, Ogorzow
estava escutando no vagão escuro se alguém puxaria a maçaneta da porta. Em
tempos de paz, as janelas do trem, incluindo as que ficavam localizadas nas
próprias portas, permitiriam que ele visse se alguém estava prestes a embarcar,
mas com os blecautes (durante a guerra, luzes externas eram apagadas para
evitar ataques aéreos, e isso incluía trens de passageiros) elas foram
cobertas.
Os trens antigos da S-Bahn possuíam
quatro portas de cada lado, enquanto os mais novos possuíam apenas três. No
escuro, era difícil saber de que lado do trem estava a plataforma. Ogorzow
tinha que se lembrar onde ela ficava em Hirschgarten e ficar de olho nas portas
daquele lado do vagão.
Enquanto os momentos se passavam,
parecia cada vez menos provável que alguém fosse embarcar. Finalmente o trem
começou a deixar a estação, e ele sabia que agora era seguro para atacar. Sem
perder tempo, ele abaixou o pedaço de um grosso cabo de chumbo que trazia
escondido no casaco, de modo que ele agora estava na sua mão. Então ergueu o
braço e atingiu Elizabeth Bendorf violentamente na cabeça com o pesado
instrumento de metal.
Apesar do golpe e da concussão que ele
causou, Bendorf conseguiu permanecer consciente. Ela tentou se defender e
gritou o mais alto que podia. Infelizmente para ela, no trem em movimento,
ninguém nos outros vagões pôde ouvi-la. Ogorzow também estava em pânico. No fim
das contas ele era um covarde, e não gostava quando suas vítimas lutavam. Ele
acreditava que um duro golpe na cabeça com o objeto de chumbo era suficiente
para nocautear uma mulher.
Bendorf se defendeu de Ogorzow o melhor
que pôde, mas uma vez que estava sofrendo os efeitos de uma concussão e não
tinha uma arma consigo, ele conseguiu acertá-la novamente na cabeça. Cada vez
que ele conseguia golpeá-la, aquilo causava mais dor e confusão mental. Ela não
conseguia mais processar a avalanche de informações sensoriais que ia em
direção ao seu cérebro, muito menos controlar seus braços e pernas para fazer
qualquer coisa.
Ele continuou golpeando-a,
violentamente, na cabeça até que ela finalmente desabou no chão do trem. Só
então ele interrompeu seus ataques. Paul Ogorzow agora acreditava que sua
vítima estava inconsciente ou que a havia matado. Entretanto, ela não estava
inconsciente ou morta, apenas temporariamente atordoada pelos golpes na sua
cabeça.
Ogorzow deu as costas para Bendorf e
abriu a porta do vagão. O trem ainda estava em movimento, e um vento frio
invadiu o vagão aberto da segunda classe. Ele se sentia próximo de recriar
aquele momento em que pela primeira vez havia jogado uma mulher de um trem em
movimento. A ansiedade estava aumentando e ele começou a sentir uma adrenalina
semelhante à que sentiu quando atirou Gerda Kargoll do S-Bahn em
movimento.
Mas Bendorf começou a se mexer
novamente.
Quando Ogorzow se virou e andou em
direção a ela, ele ficou chocado. Ele havia pensado que seu ataque estava quase
terminado, e que a única coisa que faltava era atirá-la do trem, mas ali estava
ela ainda viva e tentando escapar. Qualquer desapontamento que ele tenha
sentido se desvaneceu rapidamente, uma vez que era facilmente perceptível que
ela não estava se movendo rápido o bastante para representar qualquer ameaça
real contra ele. Ela havia levado uma grande surra e mal conseguia andar.
Ogorzow não teve problemas para usar o
seu pedaço de cabo de chumbo e acertá-la na cabeça mais uma vez. Ele acreditou
que um único golpe adicional seria o bastante para derrubá-la ou matá-la.
Milagrosamente, mesmo tendo sido
golpeada na cabeça mais uma vez, Bendorf ainda estava consciente. Embora
estivesse consciente do que estava acontecendo consigo, ela agora estava
atordoada demais para mover seu corpo. Apesar de não poder fazer nada para
deter seu agressor, ela ainda era capaz de assistir horrorizada enquanto ele a
arrastava em direção à porta aberta do trem.
A tendência de Ogorzow golpear mulheres
na cabeça indicava que Bendorf não era a primeira vítima a encontrar-se na
situação assustadora de ver a ameaça iminente que ele representava enquanto era
incapaz de fazer qualquer coisa a respeito. Cerca de um ano antes, Lina
Budzinski havia sofrido o mesmo tipo de experiência terrível quando Ogorzow a
acertou na cabeça, deixando-a incapaz de controlar seu corpo o suficiente para
se mover ou gritar enquanto ele a atacava.
Ogorzow puxou Bendorf pelos pés na
direção da porta. Quando ela estava em frente da porta aberta, com a paisagem
de Berlim passando rapidamente do lado de fora, ele a atacou novamente.
Dessa vez, ele não estava mais
preocupado em mantê-la incapaz de se defender. A primeira parte do seu ataque
possuía certo grau de racionalidade – ele não queria que sua vítima fosse capaz
de resistir. Mas agora que ele tinha alcançado aquele objetivo, ele estava focado
em atacar e ferir uma mulher sem nenhuma razão racional sequer.
Ele bateu nas costas dela repetidamente
com o cabo de chumbo e a chutou selvagemente.
Depois de ela ter recebido estes golpes,
ele presumiu que ela estava morta ou agonizando. Ele não se curvou para
realmente conferir se ela ainda estava viva. Ele estava ficando sem tempo e
exausto por toda a energia que havia empregado naquele ataque.
Enquanto a arrastava até a porta, ele a
tocou brevemente de modo sexual. Ela não percebeu isso, pois estava
inconsciente. Agora, era hora da parte que ele parecia gostar mais – ele a
atirou do trem em movimento antes que ele chegasse na estação seguinte,
Köpenick. A noite era escura do lado de fora, com luzes apagadas por toda a
cidade. Isto significava que ele não pôde ver onde o corpo de Bendorf
caiu.
Depois desse ataque, Ogorzow abandonou
sua arma no trem, escondendo-a no vagão. Talvez ele não quisesse manter consigo
o que erroneamente acreditava ser a arma de um assassinato. Ela não tinha valor
sentimental para ele. Seria bastante fácil conseguir outro pesado pedaço de
metal com o qual ele pudesse acertar mulheres.
Se ele estava preocupado com impressões
digitais, uma esfregada cuidadosa do cabo de chumbo contra o seu uniforme seria
o bastante para limpá-las, e ele precisaria manuseá-la com a manga do seu
uniforme ou outro pedaço de roupa para evitar que novas marcas fossem feitas
após fazer isso.
Tendo saciado temporariamente seus
desejos obscuros, Paul Ogorzow pegou o S-Bahn para casa. Enquanto voltava para
sua esposa e filhos, ele pode ter pensado em como sua última vítima gritou
apesar dos seus melhores esforços para silenciá-la. Talvez aquela experiência o
tenha deixado contente por tê-la atacado no trem S-Bahn em movimento. Se ele
estivesse na área dos jardins e ela tivesse conseguido gritar, baseado nas suas
últimas ações, ele não seria capaz de concluir o seu ataque. Em vez disso, ele
teria que correr no caso de alguém tê-la ouvido.
Como a primeira vítima de Ogorzow na
S-Bahn, Genda Kargoll, Bendorf milagrosamente sobreviveu ao seu ataque. No
entanto, ela sofreu uma concussão bastante grave que exigiu uma longa
hospitalização. Foram necessários oito dias no hospital para que ela estivesse
recuperada o bastante para que a polícia pudesse interrogá-la. Apesar de ser
capaz de descrever como havia sido atacada, ela não se recordava do tipo de
detalhes que a polícia esperava obter dela. De fato, eles conseguiram muito
pouco além do que já haviam descoberto com a primeira vítima da S-Bahn. Ela não
percebeu que seu agressor a havia molestado brevemente durante aquele ataque,
então a polícia não tomou consciência disso. Se tivessem sabido, isto teria
fornecido um possível motivo para aqueles ataques, algum tipo de perversão
sexual.
Agora que uma segunda mulher havia sido
atacada, a polícia não tinha mais dúvidas a respeito da história da primeira
vítima. Ajudou o fato de que, diferente de Kargoll, Bendorf não tinha bebido.
Até aquele momento, o caso de Gerda Kargoll havia sido investigado como um
acidente. A polícia comum (“Orpo”) investigava acidentes. Tentativa de
homicídio, entretanto, era trabalho da polícia criminal (“Kripo”).
Um Serial Killer na Berlim
Nazista
A Assustadora e Verdadeira
História do Assassino do S-Bahn
Pode soar estranho ler sobre Nazistas
tentando capturar um serial killer durante os tempos de guerra em Berlim
enquanto eles estavam matando pessoas aos milhões, mas isso aconteceu, e é o
tema do ótimo livro de Scott Andrew Selby: “A
Serial Killer in Nazi Berlin: The Chilling True Story of the S-Bahn Murderer”.
O trecho acima, retirado do livro, narra
um dos ataques de um personagem acima de qualquer suspeita. De Dezembro de 1939
a Julho de 1941, Paul Ogorzow se empenhou numa crescente onda de violência
contra mulheres – começando com pequenas “brincadeiras”, como assustá-las à
noite, até desandar para estupros e assassinatos. Ele caçava mulheres que iam
para casa após o trabalho; mulheres que à noite pegavam o S-Bahn.
A maioria de suas vítimas eram mulheres
casadas cujos maridos estavam fora, lutando na guerra. Na época, os britânicos
conduziam bombardeios na capital alemã, por isso, à noite, a cidade adotou um
blecaute. As luzes deviam ser apagadas para que os aviões inimigos não
enxergassem o que estava abaixo. Isso incluía os trens. E era num deles que o
serial killer Ogorzow trabalhava, tirando proveito do blecaute para espancar,
estuprar e matar suas vítimas.
Os ataques a mulheres em Berlim, cujos
homens estavam lutando pelo Fuhrer, era uma história que os Nazistas não
queriam contar. O Ministro da Propaganda Joseph Goebbels censurou notícias dos
crimes, o que fez com que as mulheres da cidade não soubessem que havia um
serial killer a solta. A polícia sabia que havia um maníaco atacando mulheres,
mas demorou a agir.
O herói da história foi o Comissário de
Polícia Wilhelm Ludtke, que obstinadamente perseguiu o psicopata, mesmo
com a intensa pressão de figurões Nazistas, que fizeram do seu trabalho mais
difícil. A polícia eventualmente pôs a mão no homem, que perdeu a cabeça na
guilhotina. Sua execução não foi surpresa já que Adolf Hitler era um grande fã
desse método de aplicação da pena capital. A viagem de Ogorzow do julgamento
até a lâmina durou menos de um dia. Os Nazistas não queriam perder tempo com
mandados de busca ou informar suspeitos sobre os seus direitos. Eles não tinham
tempo para perder com um maníaco.
“Um Serial Killer na Berlim Nazista” é uma história fascinante e indispensável para os
amantes da literatura de crimes ou historiadores que buscam algo a mais para
aprender sobre a grande guerra. Assim como fez Jeff Guinn e o seu ótimo Manson: A Biografia, “O Assassino do S-Bahn” está
longe de ser uma narração centrada apenas no rastro de sangue de um assassino;
o livro aborda as – muitas vezes – esquecidas lutas internas que o regime
nazista enfrentou. Propaganda foi algo primordial na Alemanha de Hitler; foi
usada para moldar a consciência nacional e dar crédito à supremacia ariana. O
que aconteceria então se um serial killer lunático ameaçasse as teorias
racistas radicais que estavam sendo disseminadas pelo Reich? Como o regime iria
responder e, mais ainda, como eles pegariam um assassino em série com a mídia
censurada? Somente lendo a obra para saber.
Em Junho, a Mithology Entertainment
comprou os direitos do livro e planeja realizar um filme sobre o caso. O título
provisório é “Blackout” (Blecaute) e os produtores envolvidos
são os mesmos de “Zodíaco” (2007).
Abaixo, disponibilizamos para vocês (com
tradução de Marcus
Santana), leitores do blog, o Prólogo e os Capítulos 1, 2, 3 e 4. Embarque
agora numa viagem até a sombria Alemanha Nazista de Hitler, e prepare-se para
conhecer “a besta em forma humana” que
habitava as ruas berlinense naqueles tempos de guerra.
Prólogo
A moça aparentava estar sozinha. Aquele
foi o primeiro erro de Paul Ogorzow. Ele estava tão ansioso para atacá-la que
confiou em sua primeira impressão em vez de gastar algum tempo para
certificar-se de que não haveria ninguém por perto que pudesse socorrê-la.
Ela andava por um caminho entre os
jardins do subúrbio leste de Berlim, em uma região conhecida como
Berlin-Friedrichsfelde. Apesar de estar perto da estação onde poderia pegar um
trem que a deixaria no coração de Berlim, aquela área residencial se parecia
com o campo. Ela havia percorrido aquele caminho entre loteamentos de moradores
muitas vezes, através de luxuosas hortas com suas cerejeiras, castanheiros,
macieiras, cenouras, cebolas, batatas, sebes e gramíneas e arbustos variados.
Paul Ogorzow, de 27 anos, caçava suas
vítimas nessa área. Ele espreitava e atacava mulheres que caminhavam sozinhas à
noite. E a noite havia adquirido um novo sentido na Berlim da guerra – havia um
blecaute imposto pelo governo, o que significava que a única luz relevante ali
àquela hora vinha do céu.
Ele tinha uma aparência bastante comum –
um pouco abaixo da estatura mediana, branco, com cabelos negros curtos
repartidos do lado esquerdo. Ele geralmente estava barbeado, apesar de algumas
vezes ostentar um pequeno bigode. Seus olhos eram penetrantes, seus lábios eram
finos, seu cabelo começava a escassear, e suas orelhas eram largas, mas seu
único traço verdadeiramente notável era seu nariz. A narina esquerda parecia
normal, mas a narina direita era maior que o normal, resultado de uma fratura
no nariz que ele havia sofrido na infância e que não havia sido devidamente
tratada.
Algumas vezes Ogorzow vestia seu
uniforme durante os ataques, e nesses casos aquilo era geralmente o que todas
as suas vítimas notavam. Seu uniforme da ferrovia, contudo, se parecia de certo
modo com diversos outros utilizados durante o Terceiro Reich. No escuro, e com
a intempestividade dos seus ataques, podia ser difícil observar os detalhes que
revelariam exatamente qual o tipo de uniforme que ele estava utilizando.
Aquela não era a primeira vez que
Ogorzow procurava uma mulher para atacar. Naquela época, ele surgira das
sombras para atacar cerca de trinta mulheres diferentes por ali. Até então, a
confusão da guerra o tinha ajudado a evitar a atenção da polícia, mas ele
também havia sido cuidadoso em atacar suas vítimas apenas quando se sentia
confiante de que podia dominá-las em segurança.
Aproveitando a escuridão daquela noite,
ele lançou-se sobre sua vítima. Ela só percebeu sua aproximação no último
instante, quando reagiu gritando o mais alto que pôde. Ogorzow pôs suas mãos
enormes em torno do pescoço dela e começou a apertar, esperando silenciá-la e
deixá-la inconsciente. Apesar disso ela se defendeu com unhas e dentes, o bastante
para continuar respirando e até mesmo gritar.
O que ela sabia – e ele não – era que
havia ajuda não muito longe dali. O marido e o cunhado dela estavam por perto,
e ela esperava que eles ouvissem seus gritos e viessem em seu auxílio.
Eles ficaram apavorados ao ouvirem-na
gritar por ajuda e correram para o local. Ogorzow era um homem com alguma
força, por ter sido trabalhador braçal e servir em fazendas na maior parte da
sua vida, mas não era um homem grande. Além disso, ele havia gastado muita energia
tentando subjugar sua vítima até o momento em que os dois homens chegaram até
ele.
O marido e o cunhado agarraram Ogorzow
violentamente e o afastaram de sua vítima. Eles começaram a espancá-lo. Quando
terminaram de surrá-lo, gritaram-lhe que se ainda estivesse vivo, eles iriam
entregá-lo à polícia.
Ogorzow tinha acabado de sofrer uma
repentina mudança de sorte – num momento, ele se sentia tão poderoso como Deus,
capaz de decidir se suas vítimas viveriam ou morreriam, com suas mãos apertando
o pescoço delas, e no momento seguinte ele estava sendo espancado por dois
homens. Ele temeu que eles pudessem matá-lo ou, caso ele sobrevivesse, alertar
as autoridades para que pudessem prendê-lo.
No escuro, Ogorzow conseguiu se livrar
dos seus agressores e esconder-se entre os numerosos arbustos e árvores da
região. Ele conhecia bem aquele lugar, tendo passado tanto tempo por ali à
noite, procurando vítimas para atacar. Aqueles dois homens procuraram por ele,
mas finalmente desistiram e levaram seu ente querido embora para receber
cuidados médicos. Quando os três comunicaram o incidente à polícia, Ogorzow
estava seguro em sua casa na vizinhança.
Depois disso,
Ogorzow repensou seus erros. Além de ter atacado uma mulher que não estava
sozinha, havia deixado para trás três testemunhas. Ele considerou que a
velocidade do seu ataque, combinada com a escuridão do caminho no jardim,
resultariam em sua vítima não ser capaz de descrevê-lo à polícia. Mas uma luta
prolongada tinha ocorrido, e ele receava que a mulher que havia atacado e seus
dois salvadores pudessem identificá-lo.
Ele refletiu
sobre a sorte de sua fuga e como poderia reduzir as chances de ser pego.
Abandonar os seus ataques estava fora de questão. Ele obtinha muito prazer em
atacar mulheres. Em vez disso, ele se concentrou no que poderia fazer para se
tornar um criminoso melhor.
Depois de
escapar por um triz, Ogorzow percebeu que precisava garantir que suas vítimas
não pudessem gritar por ajuda. Assim, ele imediatamente as asfixiaria com as
mãos, ameaçaria com uma faca, ou as golpearia na cabeça com um instrumento
pesado. Ele ainda não tinha certeza do que funcionaria melhor, mas sabia que
aquele era um problema que teria que resolver se quisesse evitar ser espancado
novamente – ou pior, pego pela polícia.
E ele voltou
suas atenções a uma nova área de caça – uma que cortava justamente o coração de
Berlim, com um suprimento quase ilimitado de vítimas. Logo, ele ampliaria seu
repertório e se tornaria um dos serial killers mais notórios de Berlim – e
talvez da Alemanha.
Capítulo Um
A Região dos Jardins
Até depois do
incidente em que ele passou de caçador a caça, Paul Ogorzow atacava moças
apenas na área arborizada perto de sua casa. A região onde ele vivia era
suburbana, mas entre sua casa e uma estação de trem de passageiros próxima
havia uma vasta área de hortas urbanas.
Os alemães
tradicionalmente possuíam hortas dessas nas cidades para que as pessoas sem
espaço para plantar em casa tivessem algum lugar para ir e cultivar um pequeno
jardim em sua propriedade. Uma pessoa podia comprar ou alugar um pequeno pedaço
de terra que eles chamavam de “colônia” e cultivar flores ornamentais e
plantas, ou, especialmente durante o período de guerra, frutas e vegetais.
Aqueles espaços costumavam possuir pequenas estruturas nas quais as pessoas
podiam armazenar seu equipamento de jardinagem e qualquer outra coisa que
precisassem para ter um dia prazeroso naquele simulacro de zona rural. Muitas
colônias permitiam que as pessoas vivessem lá durante o verão.
Naquela colônia
em particular, havia pequenas casas nas quais pessoas moravam durante todo o
ano. Aquela região na verdade era feita de duas hortas urbanas unidas – Gutland
I e Gutland II – mas na prática, aquela era uma única área contínua de jardins.
Paul Ogorzow via
pessoas jardinando quando caminhava ou pedalava até a estação de trem mais
próxima. Ele não tinha necessidade de um espaço para plantar, uma vez que seu
apartamento possuía um pequeno jardim que ele cuidava carinhosamente.
Um livro sobre a
topografa cultural de Berlim explica como essas hortas urbanas, combinadas em
colônias, funcionavam:
“Uma
característica das maiores cidades alemãs é a tentativa de contrabalançar sua
alta densidade residencial com a criação de jardins para uso individual nas
periferias da cidade (…) diferente das
hortas britânicas, meros campos loteados onde as descontroladas rajadas de
vento encharcam os brotos das couves-de-Bruxelas e as ferramentas são guardadas
em barracos feitos de caixotes velhos, as colônias de Berlim são extremamente
organizadas e ordeiras, atraentes por suas árvores de frutas maduras. Por trás
de suas cercas formidáveis e portões fechados, a profusão de flores, trechos
gramados e o equipamento de jardinagem tornam evidente sua função recreativa
primária, enquanto as ‘casas de veraneio’ podem se aproximar da solidez e
amplitude dos chalés, nas quais a família pode passar a noite (…) no
período de aguda escassez de moradia causado pelos bombardeios da guerra,
muitas ‘casas de veraneio’ foram permanentemente ocupadas, produzindo um tipo
de subúrbio desalinhado.”
Passados esses
loteamentos, havia os subúrbios. Cerca de oito mil pessoas viviam neles,
incluindo muitos empregados da companhia ferroviária, como Ogorzow. Algumas das
pessoas que viviam naquelas casas caminhavam para a casa da estação à noite
através da região dos jardins. Eles andavam no escuro, uma vez que a iluminação
pública ali havia sido desligada como parte do blecaute da cidade durante a
guerra. Vários desses habitantes eram mulheres cujos esposos estavam fora,
servindo o exército alemão.
O historiador
Dr. Laurenz Demps, especialista na Berlim da era nazista, descreveu aquela
região desta forma:
“A região
dos jardins fica bem perto dos trilhos da ferrovia. Podemos imaginar os lotes
daquela época, tal qual os conhecemos hoje. Geralmente eram pequenas casas com
hortas. Em 1938, 25 mil famílias viviam nessas pequenas casas em Berlim. Elas
eram muito simples; bastante primitivas. Iluminação pública e luz nas ruas,
simplesmente não existiam. Havia muito verde. Era muito escuro e não muito
movimentado – especialmente à noite.”
Aquela era uma
região já pouco iluminada mesmo antes do blecaute ser instituído. Mas com o
blecaute, mesmo as poucas lâmpadas elétricas que clareavam algumas das ruas
entre as hortas foram desligadas por toda a duração da guerra. Seria difícil
criar intencionalmente melhor ambiente para que um estuprador ou um serial
killer pudesse estar à espreita. Visto pela perspectiva das mulheres que viviam
na área, era um lugar assustador para se cruzar no caminho de ida e volta até a
estação de trens.
No mapa
acima, a casa onde viveu o serial killer Paul Ogorzow, na Dorotheastraße 24,
perto da estação de Karl Horst S-Bahn.
Foi nesse local
que Ogorzow desenvolveu seus ataques a mulheres. Ele começou apontando sua lanterna
para moças, para assustá-las. As condições do blecaute envolviam sérios
regulamentos sobre que tipos de luzes poderiam ou não serem usadas nas ruas.
Assim, aquelas mulheres usualmente andavam sem suas próprias lanternas acesas.
Como explicado
por um repórter que vivia na Berlim da guerra, “A maioria das pessoas
carregava pequenas lanternas, mas seu uso era estritamente limitado. Você devia
usá-las apenas perto do chão para evitar tropeçar no meio-fio, e apenas por um
instante. Se iluminasse as redondezas para saber onde estava ou para descobrir
o número da casa que estivesse procurando, provavelmente gritariam com
você.” Deste modo, Ogorzow tinha permissão de carregar uma lanterna,
mas estava violando as regras do blecaute usando-a para assustar pessoas.
O único tipo de
luz que era permitido nas ruas a qualquer hora do da noite era um estranho
broche redondo e verde preso ao casaco das pessoas. Ele era revestido de uma
tinta fosforescente que absorvia energia solar durante o dia e emitia um brilho
débil à noite. Não era luz suficiente para saber para onde alguém estava indo –
tudo que conseguia era permitir às outras pessoas que não esbarrassem em você.
Ou no caso de Ogorzow, aquilo lhe permitia ver pessoas vindo a determinada
distância e saber se elas estavam sozinhas.
Ogorzow começou
escondendo-se na região dos jardins durante a noite e esperando até ver uma
mulher se aproximando. Ele poderia avistá-la pelo brilho do seu broche
fosforescente ou pela luz ocasional de uma lanterna por uma fração de segundos
em que ela examinasse o caminho. Ou ele poderia ouvir alguém se aproximando e
definir pela silhueta à luz da lua que era uma mulher, vindo em sua direção. Um
piscar repentino da sua lanterna ou do farol da sua bicicleta iria assustá-la e
desorientá-la.
Enquanto
caminhava no escuro, os olhos daquela mulher se adaptariam a baixos níveis de
luminosidade dilatando suas pupilas para permitir que mais luz entrasse nelas.
Mas há muito mais envolvido na visão noturna do que apenas pupilas dilatadas.
Existem também pigmentos sensíveis à luz chamados fotopigmentos, que se
acumulariam nos olhos dela enquanto estivesse andando no escuro. A luz faz com
que eles se quebrem, mas no escuro eles continuam a se acumular e resultam em
sensibilidade à luz.
Um livro de
psicologia descreveu o que acontece quando alguém que permaneceu no escuro por
um longo tempo é subitamente exposto à luz:
“Você
experimenta um clarão brilhante de luz e talvez até mesmo dor, uma vez que o
grande número de fotopigmentos disponíveis torna seus olhos altamente sensíveis
à luz. Leva cerca de um minuto para que seus olhos se adaptem à claridade.”
Para as mulheres
repentinamente e inesperadamente atingidas por uma luz brilhante, aquilo
significava que elas teriam problemas em enxergar e talvez até mesmo pudessem
sentir alguma dor por causa da luz. Se aquela luz viesse de algum tipo de fonte
inofensiva, como uma lâmpada de rua defeituosa que acidentalmente se acendesse
apesar do blecaute, já era assustador o bastante. Ou se alguém andando na
direção oposta estivesse usando uma lanterna a despeito das normas e
acidentalmente a atingisse com seu facho. Mas ali não havia acidente – em vez
disso, a luz parecia vir de lugar nenhum. E o que era pior, após os primeiros
momentos, um homem gritando rudes insinuações sexuais e ameaças acompanhava
aquela luz.
Uma típica
reação àquele susto era correr gritando por ajuda. Entretanto, era difícil
explicar o quão terrível era aquela experiência. Era o tipo de coisa que a
polícia facilmente descartaria como uma pegadinha, apesar de ser
particularmente maliciosa.
Para as mulheres
com quem isso acontecia, no entanto, aquilo se parecia com algo saído de um
filme de terror. Uma caminhada tarde da noite ou no fim da madrugada pela
região dos jardins, com seus caminhos tortuosos, subitamente interrompida por
um homem que havia estado à espera, esperando por aquele momento. Um flash
brilhante, algumas palavras gritadas, e o sentimento ameaçador de que as coisas
poderiam piorar se aquele homem decidisse realmente se lançar em um ataque
físico.
Para Paul
Ogorzow, a excitação que ele sentia ao assustar mulheres simplesmente
cegando-as com uma lanterna logo se desvanecia. Em seguida, ele também começava
a gritar-lhes palavras abusivas e vulgares. Quando isso não lhe trouxe mais
nenhuma euforia, ele foi além ao realmente agarrar ou esmurrar mulheres. Como
um viciado em drogas que necessita usar mais e mais para garantir a mesma
sensação, Ogorzow se sentia compelido a ir cada vez mais longe com suas
vítimas. Eventualmente, ele passou a cometer ataques sexuais contra mulheres, e
finalmente a matá-las.
Como a maioria
dos serial killers, ele não começou matando suas vítimas. Pelo contrário,
aquele era um processo lento e de crescente violência. O famoso profiler do FBI
John Douglas escreveu sobre o funcionamento disto, explicando que um predador
em desenvolvimento “se põe a praticar mais atos que o fazem se sentir
poderoso e satisfeito, eliminando os fatores ou ações que atrapalham aquela
experiência. Ele descobre áreas expandidas e situações onde pode praticar sua
dominação e controle sobre outros. E ele aprende com a sua própria experiência,
aperfeiçoando sua técnica para evitar detecção ou punição. Ele aprende como se
tornar perito no que faz. Quanto mais sucesso e satisfação obtiver, menor se
torna o ciclo de realimentação.”
John Douglas deu
um exemplo desse processo:
“O jovem
cujo desejo particular é o voyeurismo pode passar para o arrombamento e roubo
fetichista de coisas que pertencem às mulheres que espiona. Uma vez que se
sente confortável com os arrombamentos e descobre como fugir deles, ele pode
então evoluir para o estupro. Dependendo das circunstâncias, caso, por exemplo,
ele perceba que poderia ser identificado pela sua vítima caso não tome uma
medida preventiva, o estupro pode acabar em assassinato. E se nesse ponto ele
descobre que matar lhe causa uma euforia ainda maior e uma enorme sensação de
poder e satisfação, ele entra em uma nova dimensão de controle e os
assassinatos podem muito bem continuar.”
Paul Ogorzow
mergulhou exatamente nesse tipo crescente de comportamento violento. Antes de
começar a atacar mulheres no sistema de trens de passageiros, Ogorzow evoluiu
para tentativas de assassinato na colônia próxima de sua casa.
Perto de uma da
manhã de 13 de agosto de 1939, Ogorzow perambulava nessa região dos jardins
procurando por uma vítima do sexo feminino. A II Guerra Mundial ainda não havia
começado, mas estava claro que a guerra se aproximava. Três meses antes, o
governo alemão havia editado normas que exigiam a execução imediata das medidas
necessárias para um blecaute. Embora o verdadeiro blecaute não tenha começado
por mais duas semanas, espaços públicos, tais como a região dos jardins, já
tinham suas luzes desligadas. A ideia era que com um curto período de
pré-aviso, a população estaria preparada para impedir que a luz escapasse pela
noite.
Ogorzow caçava
no escuro, esperando encontrar uma mulher indo ou voltando da estação de trem
próxima. Àquela hora, muito provavelmente seria uma operária voltando para casa
após uma longa jornada produzindo armamentos ou outros materiais industriais
necessários para os esforços de guerra alemães. Aquilo era um bônus para ele,
porque aumentaria as chances de a vítima estar cansada demais para lutar por
muito tempo. E o foco dela poderia estar apenas em chegar em casa e ir para a
cama, em vez de prestar total atenção ao redor.
Ele avistou uma
mulher por volta dos seus quarenta anos, Lina Budzinski, e a seguiu enquanto
ela descia pelos caminhos escuros para casa. Ela podia ouvir os passos dele.
Assustada, ela correu em direção à sua propriedade, entrou no jardim em frente
à sua pequena casa e começou a trancar o portão atrás de si. Enquanto fechava o
portão, ela ouviu a respiração pesada de Ogorzow lutando para alcançá-la.
Quando ela estava apenas a alguns passos da salvação, Ogorzow a atacou pelas
costas, levando-a ao solo. Ela não conseguia gritar por socorro, uma vez que o
golpe na cabeça a havia atordoado.
Ogorzow não lhe
disse nada durante o seu ataque. Eles ainda estavam do lado de fora, no pequeno
jardim em frente à casa dela. Apesar de a senhorita Budzinski estar atordoada
para gritar, ela ainda estava consciente. Ela sofrera uma concussão. O
ferimento resultou na incapacidade temporária de falar ou de ter total controle
de seu corpo. Havia uma série de outros sintomas que acompanhavam aquilo,
incluindo ter dificuldades de pensar com clareza, mas naquele momento a questão
mais urgente era se ela seria capaz de fazer algo que a permitisse sobreviver
àquele ataque.
Ela podia ver e
ouvir tudo que estava acontecendo a si e tentava desesperadamente fazer seu
corpo funcionar. Ela desejava mais do que tudo fugir, ou ao menos gritar pela
ajuda dos seus vizinhos.
O silêncio fazia
o seu atacante parecer ainda mais ameaçador. Com o golpe em sua cabeça, e com a
escuridão da região dos jardins não mais iluminada, era difícil entender como
aquele homem havia surgido do nada para atacá-la.
Enquanto ainda
estava aturdida, ela sentiu a dor aguda de uma faca penetrando as suas costas e
sendo puxada de volta. E então o agressor a esfaqueou de novo, furiosamente. A
dor era excruciante. Ogorzow removeu sua faca, ergueu a arma no ar e a
introduziu rapidamente numa terceira facada. Se a senhorita Budzinski não
conseguisse resistir à pancada na cabeça e fazer algo, ela morreria em breve
pela mão armada de Paul Ogorzow.
Por uma quarta e
última vez, ele usou sua faca para penetrar as costas dela. Havia sangue
escorrendo de seu corpo em cinco lugares diferentes agora – os quatro
ferimentos de faca e o do golpe na cabeça.
De alguma forma,
ela conseguiu superar o golpe na cabeça e fugiu do seu agressor. Talvez toda a
adrenalina correndo em suas veias tenha ajudado. Ela conseguiu chegar até a
casa e trancou a porta atrás de si, conseguindo dessa vez manter Ogorzow do lado
de fora.
Ogorzow
rapidamente abandonou a cena. Milagrosamente, a senhorita Budzinski sobreviveu
a este ataque. No hospital, os cirurgiões cuidaram dela bem o bastante para que
a polícia falasse com a vítima. Como o seu agressor não tinha dito uma palavra
sequer, ela não poderia lhes dizer como era a sua voz ou o que ele poderia
estar pensando durante o ataque brutal.
A polícia
interrogou-a extensivamente a respeito do ataque. A supressão de iluminação nos
caminhos públicos da região dos jardins, entretanto, significava que a
senhorita Budzinski havia visto muito pouco o seu agressor. Tudo que ela podia
dizer à polícia era sua estatura aproximada.
Na foto:
O crânio de uma das vítimas de Paul Ogorzow. Créditos: A Serial Killer In Nazi
Berlin.
Enquanto a polícia
na Alemanha nazista inspirava o medo nos corações de muitas pessoas que tinham
bons motivos para temer o regime, a senhorita Budzinski, como uma mulher ariana
e apolítica, não tinha essas preocupações. Aqueles policiais não estavam lá
para investigá-la, mas para tentar descobrir o que podiam fazer para ajudar a
capturar o homem que havia lhe feito aquilo. Desse modo, ela cooperou
totalmente com eles.
A polícia ainda
a considerava uma testemunha útil, e esperava utilizá-la eventualmente para
identificar seu agressor. Se eles capturassem um suspeito, eles queriam ver se
ao menos ela conseguiria identificá-lo como seu atacante.
Apesar do
trauma, depois do ataque Lina Budzinski permaneceu em Berlim, onde
posteriormente se casou e adotou o sobrenome Mohr.
Capítulo Dois
O Detetive
Homicídios e
tentativas de homicídio eram investigadas pela Polícia Criminal (Kriminalpolizei,
ou Kripo), que geralmente lidava com crimes graves de cunho não-político. O
Comissário de Polícia Wilhelm Karl Lüdtke estava encarregado da Divisão de
Crimes Graves da Kripo em Berlim, que investigava principalmente homicídios.
Um ataque
isolado a uma mulher não era um caso importante o bastante para requerer a
participação direta de Lüdtke na investigação. Foi só depois, quando as vítimas
aumentaram em número e mulheres foram assassinadas, que ele assumiu o caso.
Lüdtke tinha
sorte por ter um emprego na polícia, e mais sorte ainda pela sua posição
importante em Berlim. Em 1939, ele não era um membro do partido [nazista],
apesar de muitos com a ambição de ascender na burocracia alemã terem se filiado
depois de os nazistas assumirem o poder em 1933. E os verdadeiros adeptos
haviam se aliado antes deles.
Na época em que
havia outros partidos para se votar, ele havia sido membro do Partido Democrático
Alemão. Era um partido social-liberal que acreditava, entre outras coisas, na
proteção dos direitos das minorias étnicas como os judeus alemães. Lüdtke, no
entanto, tinha mais problemas do que apenas não ser um nazista e ter sido
filiado a um partido liberal agora desativado; ele trabalhou abertamente contra
os nazistas antes de 1933.
Ele nasceu em 22
de junho de 1886, na pequena cidade de Alt Fanger, onde na época ficava a
Pomerânia, e que nos dias atuais é o noroeste da Polônia. Seu pai, Karl Johan Lüdtke,
era um fazendeiro e sua mãe, Johanna Lüdtke (nome de solteira Pansch), era
dona-de-casa. Ele se formou no colegial na Pomerânia aos dezoito anos e então
se alistou no exército alemão. Ele serviu nas forças armadas de 1904 a 1909,
antes da I Guerra Mundial. Quando seu serviço militar acabou, ele se tornou um
policial em Frankfurt, Alemanha.
Em agosto de
1914, ele foi promovido à Polícia Criminal (Kripo). A I Guerra Mundial havia
começado apenas um mês antes, então havia vagas para promoção uma vez que
outros policiais saíram para se juntar aos combatentes.
Se tivesse
permanecido em sua posição relativamente apolítica, Lüdtke provavelmente jamais
teria tido problemas com os nazistas, mas em 1929 ele foi designado para
comandar a polícia política em Frankfurt e Harburg-Wilhelmsburg. Ele havia
trabalhado para galgar posições e agora era um comissário criminal.
Ele manteve este
emprego de 1929 até o começo de 1933, um período de tempo preenchido com
conflitos urbanos sangrentos e homicidas entre os diferentes grupos políticos
competindo pelo domínio da Alemanha. Os comunistas e os nazistas eram os dois
principais grupos, e Lüdtke precisava impedir que eles matassem uns aos outros.
Com este trabalho, ele fez inimigos poderosos quando interferiu em manifestações
do partido nazista, além de outras medidas.
Em 30 de janeiro
de 1933, como resultado do seu trabalho no comando do departamento de polícia
política, ele perdeu seu emprego na Kripo. O líder regional do partido nazista
na Hanover Oriental, Otto Telschow, removeu Lüdtke do seu escritório. Na época
em que os nazistas consolidavam seu poder, no começo de 1933, Lüdtke foi
julgado em frente a uma corte disciplinar por interferências nas atividades
públicas do partido nazista, como demonstrações e manifestações. Apesar de ser
sua função na época fazer justamente aquilo, os nazistas não estavam
interessados no fato de que ele estava apenas cumprindo ordens.
Apesar desta
mancha no seu currículo na Kripo, Lüdtke conseguiu usar os contatos que tinha
construído na polícia ao longo dos anos para conseguir um novo emprego e manter
sua posição. Ele deixou a região de Hanover Oriental e começou a trabalhar em
Berlim em 1 de maio de 1933. Agora ele tentava se manter longe dos assuntos
políticos e concentrado na solução dos crimes que competiam ao departamento que
ele comandava, a Divisão de Crimes Graves da Kripo em Berlim.
Capítulo Três
A Corrida
Em 1939, Ogorzow
ainda estava desenvolvendo seu método de ataque. Com a senhorita Budzinski, ele
a havia golpeado primeiro na cabeça para incapacitá-la e então passou a
esfaqueá-la repetidamente. Durante outros ataques, ele havia usado as mãos para
asfixiar as mulheres que atacava de modo que elas ficassem fisicamente
incapazes de gritar por ajuda. Nos seus primeiros dias, ele geralmente havia
usado os punhos para agredir as mulheres, o que não conseguia impedir os gritos
delas.
Paul Ogorzow
estava preocupado com as possíveis repercussões do seu ataque a Lina Budzinski.
Ela ainda estava viva, e ele não tinha certeza se ela havia conseguido vê-lo no
escuro o bastante para identificá-lo. Ele não estava usando uma máscara ou
cobrindo seu rosto de algum outro modo, então se ela tivesse dado uma boa
olhada nele, ele teria sérios problemas. Ele aguardou e, no entanto, nada
aconteceu. Ninguém apareceu procurando por ele, e nenhum cartaz com um retrato
de sua fisionomia foi colocado.
Apesar do risco
que isso apresentava, ele finalmente retornou à região dos jardins para
assustar e atacar mulheres. Ele estava temeroso, contudo, de que pudesse ser
pego, então regrediu para ataques menores por algum tempo, como gritar com as
moças e assustá-las com sua lanterna.
Assim que se
sentiu confortável com este nível de atividade, ele retornou a um nível de
crimes mais graves. Quatro meses após quase ter matado Lina Budzinski, ele
estava pronto para ataques violentos, e talvez até para matar a próxima mulher
que cruzasse seu caminho, sozinha na escuridão.
Naquele momento,
A II Guerra Mundial estava bem a caminho. Em 23 de agosto de 1939, Alemanha e
União Soviética firmaram um pacto de não-agressão. Uma semana depois, em 1 de
setembro, a Alemanha atacou a Polônia. Na mesma noite, o blecaute começou
oficialmente na Alemanha.
Em setembro,
vários países, incluindo a França e o Reino Unido, declararam guerra à Alemanha.
Os Estados Unidos se declararam oficialmente neutros. Em 17 de setembro, a
União Soviética também invadiu a Polônia. No início de outubro, soviéticos e
alemães ocupavam toda a Polônia. Eles dividiram o país entre si.
Às 1h15 da
madrugada de 14 de dezembro de 1939, Ogorzow avistou uma mulher caminhando
sozinha na região dos jardins. O nome dela era Hertha Jablinski. Apesar de o
nome dela soar estranho em inglês, não era um nome incomum na Alemanha da época
– Hertha era um dos nomes da antiga deusa alemã da fertilidade, Nerthus.
A senhorita
Jablinski tinha dezenove anos e voltava para casa do seu trabalho relacionado à
guerra. Ela estava cansada e pronta para terminar aquele dia. Ela havia tomado
o trem e agora caminhava sozinha no escuro através da colônia de hortas. Havia
árvores e pequenos matagais repletos de frutas, ervas e vegetais. Antes da
guerra, havia mais flores e plantas ornamentais, mas com o racionamento, fazia
mais sentido cultivar coisas que não pareciam tão bonitas, mas que podiam ser
comidas.
A colônia estava
vazia àquela hora da noite. A principal linha de trem de passageiros de Berlim,
a S-Bahn, terminava ali. Apesar de centenas de pessoas utilizarem o sistema de
transporte rápido de passageiros todos os dias, geralmente só algumas poucas
pessoas, isso quando havia alguma, desciam do S-Bahn ali àquela hora, e elas se
dissipavam rapidamente, cada uma seguindo seu próprio caminho na infinidade de
caminhos que se ramificavam a partir da estação de trem.
Enquanto
caminhava na região dos jardins, a senhorita Jablinski pôde ouvir os passos de
alguém andando atrás dela. Ela olhou para trás por sobre o ombro e não viu
nada. Estava muito escuro e aquela pessoa estava longe demais no caminho.
Já existiam
rumores sobre ataques naquela região, então quando ela ouviu os passos
acelerarem, como se a pessoa estivesse tentando alcançá-la, ela começou a
entrar em pânico.
Com adrenalina
sendo bombeada em seu corpo, sua reação de “fugir ou lutar” se iniciou. Ela
poderia tentar se esconder no escuro, mas se a pessoa que a seguia possuísse
uma lanterna poderia encontrá-la. Lutar parecia uma péssima opção, uma vez que
ela não possuía uma arma. Assim, ela correu o mais rápido que pôde.
Ogorzow desatou
a correr também. Ambos agora disputavam uma corrida desafiadora, cujo ponto de
chegada era a casa de Jablinski. Se ela chegasse a tempo de entrar em casa,
estaria a salvo. Se ele a pegasse antes, atacaria.
Ela vivia nas
proximidades, então não se arriscou a parar em uma casa qualquer na esperança
de que alguém estivesse em casa e saísse em seu auxílio àquela hora incerta
caso ela batesse na porta. O blecaute significava que mesmo que alguém
estivesse acordado em casa e com as luzes acesas, ela não seria capaz de vê-las
do caminho. As cortinas daquela pessoa deviam impedir que qualquer luz
escapasse e revelasse que alguém estava em casa.
Atrás dela,
Ogorzow desandou a correr também. Ele era mais forte e mais rápido, e
rapidamente começou a ganhar terreno.
Na foto:
Fotografia de Paul Ogorzow tirada após sua prisão em 1941. Créditos: A Serial
Killer in Nazi Berlin.
Ogorzow venceu o
desafio da corrida. Quando ele alcançou a senhorita Jablinski, não gritou com
ela ou a golpeou na cabeça. Sem dizer uma única palavra, ele a esfaqueou no
pescoço. E então de novo, e de novo, e de novo. Assustadoramente, como no seu
ataque à senhorita Budzinski, ele permaneceu mudo durante todo o evento.
Apesar de estar
em estado de choque, ela recobrou os sentidos e gritou o mais alto que podia.
Em resposta, Paul Ogorzow interrompeu seu ataque. Ele ficou parado por alguns
instantes e então fugiu. Embora desejasse desesperadamente continuar
esfaqueando Hertha Jablinski, ele estava profundamente receoso de ser pego.
Abandonada à
própria sorte, a senhorita Jablinski conseguiu encontrar ajuda e parar os
sangramentos. Ela teve sorte por ele não ter cortado nenhuma artéria, ou
provavelmente teria sangrado até a morte na rua. No hospital, os cirurgiões
suturaram seus ferimentos, mas eles deixariam cicatrizes assim que estivessem
curados.
Capítulo Quatro
Não Grite Ainda
Mais uma vez,
Paul Ogorzow ficou preocupado em ser pego. Apesar de estar escuro, sua vítima
mais recente, Hertha Jablinski, havia dado uma boa olhada nele. Ela não foi
capaz de descrever seu rosto à polícia, mas ele não sabia disso na época.
Apenas depois de
decorridos alguns dias, semanas e meses é que Ogorzow se sentiu seguro de que a
polícia não havia obtido o suficiente da senhorita Jablinski para conseguir
encontrá-lo. Foi difícil para ele controlar sua necessidade de atacar mulheres
durante aquele tempo, mas ele conseguiu isso.
Mesmo embora não
estivesse tentando matar mulheres, ele continuou a perambular pela região dos
jardins à noite. Às vezes ele saía apenas com o intuito de encontrar moças para
gritar com elas e assustá-las com sua lanterna. Ele saía a pé ou pedalando sua
bicicleta. Ele também continuou a atacar mulheres fisicamente durante esse
tempo, mas não com um grau de violência que a polícia considerasse tentativa de
homicídio.
A polícia estava
ciente de que havia um homem ameaçando e atacando mulheres nas hortas urbanas,
mas ainda não havia mortes e as pistas eram poucas, então aquele não era um
caso de alta prioridade.
Oito meses
depois do seu ataque a Hertha Jablinski, Ogorzow finalmente se sentiu seguro o
bastante para tentar de novo um ataque completo a uma mulher que passasse pelos
caminhos na região das hortas urbanas durante as condições do blecaute.
Às 1h30 da
madrugada de 27 de julho de 1940, Gertrud Nieswandt estava cruzando a região
dos jardins. Ela tinha vinte e cinco anos e estava indo para a casa de seus
pais. Enquanto seguia pelo caminho escuro, Nieswandt escutou alguém andando
atrás dela. Ela acelerou o passo, mas não correu. Talvez não soubesse que um
homem estava se aproveitando da escuridão e do isolamento daquela área para
atacar moças. Não havia nada nos jornais sobre aqueles ataques; a única
informação que se espalhava eram rumores entre as pessoas que viviam ali.
Nieswandt, entretanto, morava em outro lugar.
Atrás dela,
Ogorzow estava lentamente ganhando terreno. Ele havia aprendido com seu ataque
a Hertha Jablinski que se desatasse a correr ruidosamente, aquilo espantaria
sua vítima. Então ele manteve o passo, num movimento friamente calculado para
alcançá-la antes que ela chegasse a seu destino, seja lá qual fosse, sem
assustá-la a ponto de fazê-la gritar que um homem a estava perseguindo.
Embora fosse
tarde, e eles não tivessem encontrado ninguém mais no caminho, a Nieswandt não
pôde compreender que os passos atrás de si significavam que alguém a estava
espreitando. Havia outras pessoas que trabalhavam até tarde da noite e
precisavam ir para casa da estação de trem.
No momento em
que Ogorzow a alcançou, ela já estava quase a salvo. Agora eles estavam juntos
em frente à varanda da casa dos pais dela.
Naquele ponto,
ficou claro para ela que algo estava muito errado. Ela não conhecia aquele
homem que estava ao seu lado. Se soubesse que havia um homem ferindo gravemente
mulheres naquela região, provavelmente ela teria gritado no momento em que
percebesse que ele estava se aproximando. Em vez disso, houve um momento de
confusão no qual ela pode ter pensado que aquele homem ia simplesmente dar em
cima dela. Com tantos homens longe, servindo ao exército, não era incomum que
os homens que permaneceram em Berlim tentassem tirar vantagem do fato de que
havia muitas mulheres solitárias na cidade.
Dado que a esta
altura Ogorzow tinha certeza de que aquela mulher não estava assustada, ele
tentou acalmar as coisas dizendo algo relativamente inócuo.
Ele
perguntou: “você vai entrar aqui?”
Ela respondeu de
forma quase automática com um “é claro.”
Nieswandt não
tinha o menor interesse em conversar com um homem que não conhecia em frente à
casa de seus pais, no meio da noite. Ela queria que ele fosse embora, mas não
se sentiu ameaçada o bastante pelo que ele fazia e dizia para de fato gritar
por ajuda.
Ela achou que
uma simples ameaça seria o bastante para se livrar do homem, então ela
disse “vá embora ou eu vou gritar.”
Ogorzow temia
que sua vítima gritasse por socorro. No passado, quando elas gritavam, ele
fugia. Isso significava não só que ele tinha que interromper seus ataques na
metade, mas enquanto fugia, ele também temia que pudesse ser pego. Ele
precisava atacar agora, rápido, antes que a moça realmente gritasse e chamasse
atenção para eles.
Paul Ogorzow
respondeu “não grite ainda.” Ao mesmo tempo em que dizia isso
ele golpeou a senhora Nieswandt, violentamente. Como resultado, ela caiu no
chão. Uma vez que ela estava caída, ele se curvou sobre ela e usou seu canivete
para atingi-la no pescoço. A faca penetrou a menos de dois centímetros da
artéria carótida dela. Se ele tivesse atingido aquela artéria, ela teria
rapidamente sangrado até a morte. Ainda havia sangue jorrando do pescoço dela,
mas nada como teria sido caso aquele golpe tivesse acertado um lugar
ligeiramente diferente.
Ele pretendia
com aquele primeiro ferimento incapacitar sua vítima e impedi-la de gritar por
socorro. Ele ergueu seu braço com seu canivete ensanguentado. Naquele momento,
sua intenção não era impedi-la de gritar, mas satisfazer seu próprio desejo de
machucá-la de um modo sexual. Ele enfiou seu canivete nela a cerca de cinco
centímetros da sua região genial.
Quando ele puxou
o canivete, percebeu que Nieswandt estava gritando. Apesar de tê-la esfaqueado
no pescoço, ele não havia feito nada para impedi-la de gritar, além do choque
de ter sido nocauteada e estar sendo atacada.
Ogorzow estava
receoso de que membros da família ou amigos dela saíssem da casa para onde
Nieswandt se dirigia antes de atacá-la ou que vizinhos surgissem de suas casas
e o capturassem. Ele correu o mais rápido que pôde para escapar antes que isso
acontecesse.
Nieswandt
sobreviveu àquele ataque e o comunicou à polícia. Eles acrescentaram detalhes
do que aconteceu a ela à crescente lista de crimes cometidos por um homem
desconhecido naquela região.
Título: A
Serial Killer in Nazi Berlin: The Chilling True Story of the S-Bahn Murderer
Autor: Scott
Andrew Selby
Editora: Berkley
Número de páginas: 320
Lançamento: 7 de Janeiro de 2014
Sinopse: Para todas
as aparências, Paul Ogorzow era um alemão modelo. Um homem de família com
emprego, membro do partido, e sargento da infame Brownshirts (Sturmabteilung),
ele traçou seu caminho pelas ferrovias de Berlin sendo um sinaleiro auxiliar.
Mas ele também tinha um segredo… Devido aos bombardeios aliados, o alto comando
nazista instituiu um blecaute total em toda Berlin, inclusive sobre os trens.
Sob o manto da escuridão, Ogorzow começou assustando mulheres para depois
atacá-las fisicamente, culminando no estupro e assassinato; algumas ele até
mesmo jogou seus corpos para fora dos trens em movimento. Embora o partido
Nazista tenha tentado censurar as notícias dos ataques, as mulheres de Berlim
em breve viveriam em um estado de constante medo. O medo durou até Wilhelm
Ludtke, chefe da divisão de crimes graves da polícia de Berlim, caçar o louco
que vivia no meio deles. Pela primeira vez, a emocionante história de Ogorzow é
contada em detalhes.
Opinião: “Um emocionante e
verdadeiro relato de um serial killer da II Guerra Mundial. A bordo de um trem
elétrico de alta velocidade na Berlim Nazista, Scott Andrew Selby revela uma
história igualmente eletrizante de um funcionário de estrada de ferro que não
podia parar de matar.” [Robert Graysmith, autor de "Zodiac" e
"Black Fire"]
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