quarta-feira, 26 de novembro de 2014

Piloto canadense tem nova teoria sobre o sumiço do avião da Malaysia








Você conferiu nessa semana no Mega Curioso mais cinco teorias sobre o desparecimento do voo MH370 da Malaysia Airlines, que levava 239 passageiros. O avião, um Boeing 777 que deveria seguir até Pequim, saiu de Kuala Lumpur, na Malásia, e perdeu a comunicação cerca de uma hora depois da partida e até agora não se sabe o que aconteceu de verdade.
As teorias sobre o desaparecimento vão de terrorismo, sequestro e queda (ou pouso) em um local totalmente difícil de localização e comunicação. São várias as especulações. A última vem de um piloto canadense chamado Chris Goodfellow, com 20 anos de experiência em aviação, que colocou uma teoria em sua página no Google+ e o site Wired republicou o que ele escreveu.
Basicamente, para Chris, o avião sofreu um incêndio e por essa razão os equipamentos que são detectados pelos radares das torres de comando (o transponder e o radar secundário da aeronave) foram desligados e, provavelmente, o avião entrou em colapso com o fogo e caiu antes de conseguir pousar em um lugar seguro.
Desvio e fogo
Sabe-se que uma hora depois da decolagem o avião sumiu dos radares quando já estava próximo ao Vietnã. É de conhecimento geral também que dois dias depois foi noticiado que um radar militar malaio (primário, que busca por reflexão e não por transponder) localizou um sinal do avião num curso a sudoeste, fazendo uma curva 90 graus à esquerda da rota que ele deveria seguir.
Para ficar mais claro, o piloto canadense explicou que fez uma busca no Google Earth, procurando aeroportos localizados em torno dessa nova rota para procurar entender o porquê da mudança do caminho. Ao pesquisar a localização, ele concluiu que o desvio feito aconteceu porque o piloto da Malaysia resolveu buscar o aeroporto mais próximo para fazer um pouso de emergência devido ao fogo.  
O aeroporto escolhido teria sido o de Langwaki, perto do estreito de Malaca. No entanto, os problemas não deixaram que a aeronave alcançasse essa salvação. De acordo com Goodfellow, o incêndio teria sido causado por uma falha elétrica no avião, mais precisamente provocado por um superaquecimento de um dos pneus do trem de pouso dianteiro, que tomou a cabine de comando.
Segundo ele, em situações como essa, a primeira atitude dos comandantes é desligar boa parte dos controles da aeronave para depois restaurar cada circuito até encontrar a causa do fogo. Com isso, enquanto os equipamentos estão desligados, o avião se torna praticamente invisível aos radares. Na hipótese levantada por Chris, o fogo e a fumaça não deram chance para que esses dispositivos fossem ligados novamente pela tripulação.
No automático
O piloto canadense crê que o avião seguiu viagem em piloto automático depois disso até acabar o combustível ou até a cabine ser toda consumida pelo incêndio, caindo no oceano Índico.
Goodfellow acha que o avião está em algum ponto da rota de desvio e critica a atitude de jornalistas e autoridades, que acreditam que talvez seja um caso de terrorismo e que os pilotos tenham algo a ver com isso. “Não faz sentido ficar especulando sem que haja evidências, mas também não faz sentido ficar demonizando os pilotos que podem ter lutado para salvar a aeronave de um incêndio ou de outro problema mecânico grave”, diz Chris.
O time contra a teoria de Goodfellow
No mesmo dia em que a hipótese de Goodfellow foi publicada pelo site Wired, o jornalista e escritor científico Jeff Wise declarou no blog Future Tense, do site Slate que ela está errada. Jeff ironicamente disse que Chris resolveu todo o mistério que o mundo está se perguntando em um piscar de olhos. Jeff diz também que Chris “reabilitou” as reputações do comandante e copiloto que está sob uma forte nuvem de suspeitas e investigações.
Segundo ele, a postagem de Goodfellow se tornou popular, saindo do Google+ para depois explodir no Twitter e ser republicado pela Wired. Jeff admite que o relato de Goodfellow seja emocionalmente convincente, mas afirma que é simplesmente um engano. Ele explica:
“Pegue todas as outras grandes conclusões da investigação e a teoria de Goodfellow desmorona. Por um lado, embora seja verdade que o voo MH370 tenha virado para Langkawi e acabou por sobrevoar o local, quem estava nos controles continuou a manobra após esse ponto, bem como, virou bruscamente à direita em um ponto chamado “Vampi” e depois à esquerda novamente em um ponto chamado “Gival”. E tal navegação teria sido impossível para os homens inconscientes (apenas no piloto automático).”
Jeff ainda afirma que a teoria de Goodfellow falha ainda mais quando lembra do ping eletrônico detectado pelo satélite Inmarsat às 8h11 na manhã de oito de março. De acordo com a análise feita pelos governos da Malásia e Estados Unidos, os pings restringiram a localização do MH370 naquele momento para um dos dois arcos, um na Ásia Central e outro no sul do Oceano Índico.
“Como o MH370 voou de seu curso original para Langkawi, ele estava indo em direção nenhuma. Sem intervenção humana, o que iria contra a teoria de Goodfellow, simplesmente o avião não poderia ter alcançado a posição que conhecemos que foi atingida às 8h11 daquele dia”, diz Jeff. E as buscas continuam ainda sem nada concreto.
*  *  *
E você, leitor? Concorda com quem? Chris ou Jeff? 
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terça-feira, 25 de novembro de 2014

5 mistérios intrigantes que jamais foram solucionados





(Fonte da imagem: Reprodução/Wikipédia)

Quem é que não gosta de uma boa história de mistério? Pois apesar de toda a tecnologia e acesso a informações com a qual dispomos hoje em dia, existem alguns fatos, mensagens e objetos intrigantes cuja finalidade e proveniência jamais puderam ser explicadas.


O pessoal do site mother nature network publicou uma interessante matéria reunindo alguns dos maiores mistérios do mundo que jamais foram resolvidos, e você pode conferir alguns deles na seleção abaixo:
O Disco de Festo
Descoberto em Creta no ano de 1908, este curioso objeto de argila, datado da Era do Bronze, apresenta misteriosos hieróglifos completamente desconhecidos. Alguns pesquisadores acreditam que as inscrições presentes no disco se refiram a um alfabeto misterioso, um silabário ou até mesmo um logograma. De qualquer forma, o disco continua sendo um dos maiores mistérios arqueológicos do mundo.
O Manuscrito Voynich
Este misterioso livro, provavelmente escrito durante o século 15, vem intrigando pesquisadores e especialistas em criptografia de todo o mundo há muito tempo. O manuscrito conta com 240 páginas repletas de figuras e textos escritos em um idioma ou código que nunca foi decifrado, recebendo o nome Voynich graças ao livreiro norte-americano de origem polonesa Wilfrid Voynich, que adquiriu o volume em 1912.
O manuscrito apresenta, entre muitas de suas imagens, figuras de plantas que não parecem guardar qualquer relação com espécies conhecidas, e algumas das teorias sugerem que o livro pode ter pertencido a algum alquimista ou, quem sabe, seja uma farmacopeia medieval. Porém, a existência de diversos diagramas astronômicos misteriosos também levou muita gente a sugerir que o volume possa ser de origem alienígena.
Kryptos
Embora esta escultura, de autoria do artista norte-americano Jim Sanborn, tenha uma origem bem mais recente que a do Manuscrito Voynich, ela conta com quatro inscrições das quais uma ainda não foi decifrada.
A escultura fica localizada na entrada do quartel-general da CIA, e nem mesmo os agentes da Agência Central de Inteligência foram capazes de interpretar o código da quarta inscrição, mesmo depois de o criador da misteriosa obra ter fornecido algumas dicas de como desvendar a mensagem.
O Caso Taman Shud
Considerado um dos maiores mistérios da Austrália, o caso reúne os elementos necessários para uma boa história policial: o corpo de um homem desconhecido e a mensagem misteriosa “Taman Shud”, descoberta em um bolso secreto costurado na roupa do cadáver. Encontrado em 1948 na praia de Somerton, o falecido jamais foi identificado, embora o conteúdo da mensagem tenha sido traduzido como “terminado” ou “acabado”.
Segundo os investigadores, essa curiosa frase aparece na última página de uma coleção de poemas conhecida como “The Rubaiyat”, de Omar Khayyam, e uma cópia dos textos encontrada posteriormente contava com uma série de códigos que, acredita-se, tenha sido deixada pelo próprio falecido. Embora uma das teorias aponte que a inscrição possa se tratar de uma mensagem de suicídio, o mistério jamais foi solucionado.
Cifras de Beale
Consideradas como um dos maiores mistérios criptográficos do mundo, as Cifras de Beale supostamente indicam a localização de um dos maiores tesouros da história dos Estados Unidos. Deixadas por Thomas Beale em 1822, as cifras são compostas por três mensagens, das quais apenas a segunda foi decifrada, indicando que uma fabulosa quantidade de ouro, prata e joias se encontra enterrada em algum lugar do condado de Bedford, na Virgínia.
Surpreendentemente, a chave para desvendar essa parte da mensagem se encontrava na Declaração de Independência dos EUA, e até hoje existem caçadores que realizam escavações — a maioria delas ilegais — em busca do suposto tesouro.





Fonte(s)


terça-feira, 18 de novembro de 2014

Paul Ogorzow: Um Serial Killer na Berlim Nazista








[Chefe da Polícia de Berlim]
[Data: 26 de Julho de 1941. Número: 178]
Assassino do Karlshorst S-Bahn Executado
A assessoria de imprensa do judiciário em Berlin divulga:

http://oaprendizverde.com.br/

“Paul Ogorzow, que foi condenado à morte nesta Quinta-Feira pelo Tribunal Especial de Berlim como um parasita para as pessoas e criminoso violento dos direitos civis, foi executado nesta Sexta-Feira. De vários modos, Ogorzow usava a escuridão do S-Bahn para atacar mulheres e jogá-las para fora do trem. Ele também cometeu múltiplos assassinatos e tentativas de assassinatos na área dos jardins no leste de Berlim.
Na Quinta-Feira da última semana, o assassino de mulheres serial, cujos horríveis atos colocaram o povo do leste de Berlim em medo e consternação, foi capturado pela polícia após uma meticulosa investigação. Uma semana depois, o julgamento – graças à louvável cooperação entre a polícia criminal e judiciária – pode ser realizado. Ontem, a pena de morte desta besta em forma humana foi realizada. O público saudou esta rápida execução da lei com satisfação.”
Berlim, Alemanha
1 Ano Antes…
Berlim, 1940. Tarde da noite, uma funcionária da ferrovia aguarda o trem que a levará para casa e conversa com um homem. O que ela não sabe é que o homem é um serial killer estrangulador que após matar suas vítimas as jogava do trem em movimento. 
Na noite de 4 de novembro de 1940, Elizabeth Bendorf, 30 anos, havia acabado de encerrar seu turno como vendedora de bilhetes da estação Friedrichshagen da S-Bahn, e estava esperando pela chegada do trem que a levaria para casa. A S-Bahn era parte do sistema de transporte rápido de Berlim. 
Era comum em 1940 que mulheres alemãs como Gendorf trabalhassem fora de casa. Como resultado, mulheres frequentemente tomavam o trem da S-Bahn sozinhas à noite quando seus turnos terminavam. Com tantos homens fora do país servindo o exército, as mulheres dominavam as fábricas de Berlim, trabalhando para fornecer os produtos industriais necessários para os esforços de guerra. Embora os nazistas preferissem ter suas mulheres em casa no papel tradicional de mães e donas de casa, a guerra requeria que trabalho feminino fosse utilizado para produzir os armamentos e outros materiais necessários para a batalha. E com os homens fora, havia vagas de emprego também em trabalhos que não tinham relação com a guerra, como vender bilhetes para a S-Bahn. 
Outras forças combatentes daquela guerra também possuíam problemas similares com a necessidade de mulheres abandonarem os domínios do trabalho doméstico para fazerem nas fábricas o trabalho que antes era feito por homens. Nos Estados Unidos, a personagem “Rosie, a Rebitadeira” foi usado para encorajar mulheres a deixarem o ambiente doméstico e assumirem as linhas de montagem nas fábricas. Um exemplo da propaganda governamental americana direcionada a convocar mulheres para o trabalho dizia “Você sabe usar uma batedeira? Caso saiba, você pode aprender a operar uma furadeira.”. 
Um pôster de propaganda alemão captura este sentimento com a imagem de três mulheres (uma operária, uma enfermeira e uma fazendeira) em primeiro plano, tendo ao fundo uma fábrica e uma fazenda, e no céu sobre elas o desenho de um homem utilizando um capacete de combate. A ideia era que aquelas mulheres deixariam os homens livres para lutar. O texto exortava, “começando por você!”.
Tal propaganda era baseada na ideia de que mulheres realizariam temporariamente tarefas em campos tradicionalmente dominados por homens e então voltariam às suas tarefas domésticas quando a guerra tivesse terminado e os homens voltassem para casa. 
Paul Ogorzow viu Elizabeth Bendorf esperando sozinha pelo trem. Ele indicou com um convidativo aceno de mãos que ela poderia utilizar o vagão de segunda classe, em vez do vagão de terceira classe indicado no bilhete dela. Uma vez que ele vestia um uniforme da companhia ferroviária, e ela vestia o dela, Bendorf pensou que deixá-la viajar num vagão melhor fosse uma cortesia profissional. Ela não se preocupou se havia alguma coisa mais nefasta envolvida. A segunda classe era mais confortável e assim seria uma viagem mais relaxante para ela após um longo dia de trabalho. 
A principal diferença entre a segunda e a terceira classe eram os assentos. A terceira classe tinha bancos duros de madeira, degastados por décadas de berlinenses sentando neles. A maioria dos assentos ficava em pares de frente um para o outro, com um estreito corredor entre eles. Num trem lotado, cada banco podia acomodar duas pessoas, que então se espremeriam encarando duas pessoas sentadas a alguns centímetros de distância delas. Isso tornava a viagem muito mais apertada do que a maior parte dos sistemas de trens modernos, que usam assentos voltados para a mesma direção ou uma longa fileira de bancos ao longo das duas paredes externas do vagão. 
A segunda classe apresentava basicamente o mesmo arranjo de assentos da terceira, mas com bancos acolchoados. Além desse pequeno aumento de conforto, a segunda classe oferecia um vagão geralmente mais tranquilo e espaçoso, uma vez que a vasta maioria dos passageiros da S-Bahn viajavam na terceira classe. 
Na realidade, Ogorzow não se importava com o conforto daquela mulher nem estava oferecendo-lhe nenhum tipo de cortesia; ele a queria no vagão de segunda classe por seus próprios motivos – usualmente ele ficava vazio, enquanto era mais provável que houvesse outros passageiros viajando no vagão de terceira classe.
O trem deles chegou depois das onze da noite. Eles se sentaram lado a lado no vagão, que não fosse por eles estaria vazio, e bateram algum papo. Isso foi posteriormente caracterizado como uma conversa sobre coisas triviais. Isto mostra que Ogorzow era capaz de se virar em situações sociais. Ele não era um desequilibrado. Ele poderia facilmente conversar com mulheres, até o ponto de fazer com que uma mulher que ele não conhecia, viajando sozinha num trem à noite, se sentisse à vontade. Ele era ajudado, claro, pelo fato de usar um uniforme, o que lhe dava uma aura de autoridade. 
Ogorzow viu que eles estavam sozinhos. Mas ele esperou; ainda não estava pronto para atacar. Ele queria ter certeza de que teria o máximo de tempo para atacar sua vítima e descartar seu corpo. Tendo tido uma pequena conversa, ele já havia perdido tempo bastante entre a estação onde haviam embarcado e a seguinte.
Na estação Hirschgarten, Ogorzow esperou na porta do trem, torcendo para que ninguém mais entrasse no vagão de segunda classe. A porta dos trens não se abria automaticamente quando o trem chegava a uma estação; em vez disso, quaisquer passageiros que desejassem entrar ou sair do trem precisavam operar manualmente uma maçaneta. A única função automática era o fechamento das portas antes de o trem deixar a estação. Assim, Ogorzow estava escutando no vagão escuro se alguém puxaria a maçaneta da porta. Em tempos de paz, as janelas do trem, incluindo as que ficavam localizadas nas próprias portas, permitiriam que ele visse se alguém estava prestes a embarcar, mas com os blecautes (durante a guerra, luzes externas eram apagadas para evitar ataques aéreos, e isso incluía trens de passageiros) elas foram cobertas. 
Os trens antigos da S-Bahn possuíam quatro portas de cada lado, enquanto os mais novos possuíam apenas três. No escuro, era difícil saber de que lado do trem estava a plataforma. Ogorzow tinha que se lembrar onde ela ficava em Hirschgarten e ficar de olho nas portas daquele lado do vagão. 
Enquanto os momentos se passavam, parecia cada vez menos provável que alguém fosse embarcar. Finalmente o trem começou a deixar a estação, e ele sabia que agora era seguro para atacar. Sem perder tempo, ele abaixou o pedaço de um grosso cabo de chumbo que trazia escondido no casaco, de modo que ele agora estava na sua mão. Então ergueu o braço e atingiu Elizabeth Bendorf violentamente na cabeça com o pesado instrumento de metal.
Apesar do golpe e da concussão que ele causou, Bendorf conseguiu permanecer consciente. Ela tentou se defender e gritou o mais alto que podia. Infelizmente para ela, no trem em movimento, ninguém nos outros vagões pôde ouvi-la. Ogorzow também estava em pânico. No fim das contas ele era um covarde, e não gostava quando suas vítimas lutavam. Ele acreditava que um duro golpe na cabeça com o objeto de chumbo era suficiente para nocautear uma mulher. 
Bendorf se defendeu de Ogorzow o melhor que pôde, mas uma vez que estava sofrendo os efeitos de uma concussão e não tinha uma arma consigo, ele conseguiu acertá-la novamente na cabeça. Cada vez que ele conseguia golpeá-la, aquilo causava mais dor e confusão mental. Ela não conseguia mais processar a avalanche de informações sensoriais que ia em direção ao seu cérebro, muito menos controlar seus braços e pernas para fazer qualquer coisa. 
Ele continuou golpeando-a, violentamente, na cabeça até que ela finalmente desabou no chão do trem. Só então ele interrompeu seus ataques. Paul Ogorzow agora acreditava que sua vítima estava inconsciente ou que a havia matado. Entretanto, ela não estava inconsciente ou morta, apenas temporariamente atordoada pelos golpes na sua cabeça. 
Ogorzow deu as costas para Bendorf e abriu a porta do vagão. O trem ainda estava em movimento, e um vento frio invadiu o vagão aberto da segunda classe. Ele se sentia próximo de recriar aquele momento em que pela primeira vez havia jogado uma mulher de um trem em movimento. A ansiedade estava aumentando e ele começou a sentir uma adrenalina semelhante à que sentiu quando atirou Gerda Kargoll do S-Bahn em movimento. 
Mas Bendorf começou a se mexer novamente. 
Quando Ogorzow se virou e andou em direção a ela, ele ficou chocado. Ele havia pensado que seu ataque estava quase terminado, e que a única coisa que faltava era atirá-la do trem, mas ali estava ela ainda viva e tentando escapar. Qualquer desapontamento que ele tenha sentido se desvaneceu rapidamente, uma vez que era facilmente perceptível que ela não estava se movendo rápido o bastante para representar qualquer ameaça real contra ele. Ela havia levado uma grande surra e mal conseguia andar. 
Ogorzow não teve problemas para usar o seu pedaço de cabo de chumbo e acertá-la na cabeça mais uma vez. Ele acreditou que um único golpe adicional seria o bastante para derrubá-la ou matá-la. 
Milagrosamente, mesmo tendo sido golpeada na cabeça mais uma vez, Bendorf ainda estava consciente. Embora estivesse consciente do que estava acontecendo consigo, ela agora estava atordoada demais para mover seu corpo. Apesar de não poder fazer nada para deter seu agressor, ela ainda era capaz de assistir horrorizada enquanto ele a arrastava em direção à porta aberta do trem. 
A tendência de Ogorzow golpear mulheres na cabeça indicava que Bendorf não era a primeira vítima a encontrar-se na situação assustadora de ver a ameaça iminente que ele representava enquanto era incapaz de fazer qualquer coisa a respeito. Cerca de um ano antes, Lina Budzinski havia sofrido o mesmo tipo de experiência terrível quando Ogorzow a acertou na cabeça, deixando-a incapaz de controlar seu corpo o suficiente para se mover ou gritar enquanto ele a atacava. 
Ogorzow puxou Bendorf pelos pés na direção da porta. Quando ela estava em frente da porta aberta, com a paisagem de Berlim passando rapidamente do lado de fora, ele a atacou novamente. 
Dessa vez, ele não estava mais preocupado em mantê-la incapaz de se defender. A primeira parte do seu ataque possuía certo grau de racionalidade – ele não queria que sua vítima fosse capaz de resistir. Mas agora que ele tinha alcançado aquele objetivo, ele estava focado em atacar e ferir uma mulher sem nenhuma razão racional sequer. 
Ele bateu nas costas dela repetidamente com o cabo de chumbo e a chutou selvagemente. 
Depois de ela ter recebido estes golpes, ele presumiu que ela estava morta ou agonizando. Ele não se curvou para realmente conferir se ela ainda estava viva. Ele estava ficando sem tempo e exausto por toda a energia que havia empregado naquele ataque. 
Enquanto a arrastava até a porta, ele a tocou brevemente de modo sexual. Ela não percebeu isso, pois estava inconsciente. Agora, era hora da parte que ele parecia gostar mais – ele a atirou do trem em movimento antes que ele chegasse na estação seguinte, Köpenick. A noite era escura do lado de fora, com luzes apagadas por toda a cidade. Isto significava que ele não pôde ver onde o corpo de Bendorf caiu. 
Depois desse ataque, Ogorzow abandonou sua arma no trem, escondendo-a no vagão. Talvez ele não quisesse manter consigo o que erroneamente acreditava ser a arma de um assassinato. Ela não tinha valor sentimental para ele. Seria bastante fácil conseguir outro pesado pedaço de metal com o qual ele pudesse acertar mulheres. 
Se ele estava preocupado com impressões digitais, uma esfregada cuidadosa do cabo de chumbo contra o seu uniforme seria o bastante para limpá-las, e ele precisaria manuseá-la com a manga do seu uniforme ou outro pedaço de roupa para evitar que novas marcas fossem feitas após fazer isso. 
Tendo saciado temporariamente seus desejos obscuros, Paul Ogorzow pegou o S-Bahn para casa. Enquanto voltava para sua esposa e filhos, ele pode ter pensado em como sua última vítima gritou apesar dos seus melhores esforços para silenciá-la. Talvez aquela experiência o tenha deixado contente por tê-la atacado no trem S-Bahn em movimento. Se ele estivesse na área dos jardins e ela tivesse conseguido gritar, baseado nas suas últimas ações, ele não seria capaz de concluir o seu ataque. Em vez disso, ele teria que correr no caso de alguém tê-la ouvido. 
Como a primeira vítima de Ogorzow na S-Bahn, Genda Kargoll, Bendorf milagrosamente sobreviveu ao seu ataque. No entanto, ela sofreu uma concussão bastante grave que exigiu uma longa hospitalização. Foram necessários oito dias no hospital para que ela estivesse recuperada o bastante para que a polícia pudesse interrogá-la. Apesar de ser capaz de descrever como havia sido atacada, ela não se recordava do tipo de detalhes que a polícia esperava obter dela. De fato, eles conseguiram muito pouco além do que já haviam descoberto com a primeira vítima da S-Bahn. Ela não percebeu que seu agressor a havia molestado brevemente durante aquele ataque, então a polícia não tomou consciência disso. Se tivessem sabido, isto teria fornecido um possível motivo para aqueles ataques, algum tipo de perversão sexual. 
Agora que uma segunda mulher havia sido atacada, a polícia não tinha mais dúvidas a respeito da história da primeira vítima. Ajudou o fato de que, diferente de Kargoll, Bendorf não tinha bebido. Até aquele momento, o caso de Gerda Kargoll havia sido investigado como um acidente. A polícia comum (“Orpo”) investigava acidentes. Tentativa de homicídio, entretanto, era trabalho da polícia criminal (“Kripo”).
Um Serial Killer na Berlim Nazista
A Assustadora e Verdadeira História do Assassino do S-Bahn
Pode soar estranho ler sobre Nazistas tentando capturar um serial killer durante os tempos de guerra em Berlim enquanto eles estavam matando pessoas aos milhões, mas isso aconteceu, e é o tema do ótimo livro de Scott Andrew Selby: “A Serial Killer in Nazi Berlin: The Chilling True Story of the S-Bahn Murderer”.
O trecho acima, retirado do livro, narra um dos ataques de um personagem acima de qualquer suspeita. De Dezembro de 1939 a Julho de 1941, Paul Ogorzow se empenhou numa crescente onda de violência contra mulheres – começando com pequenas “brincadeiras”, como assustá-las à noite, até desandar para estupros e assassinatos. Ele caçava mulheres que iam para casa após o trabalho; mulheres que à noite pegavam o S-Bahn.
A maioria de suas vítimas eram mulheres casadas cujos maridos estavam fora, lutando na guerra. Na época, os britânicos conduziam bombardeios na capital alemã, por isso, à noite, a cidade adotou um blecaute. As luzes deviam ser apagadas para que os aviões inimigos não enxergassem o que estava abaixo. Isso incluía os trens. E era num deles que o serial killer Ogorzow trabalhava, tirando proveito do blecaute para espancar, estuprar e matar suas vítimas.
Os ataques a mulheres em Berlim, cujos homens estavam lutando pelo Fuhrer, era uma história que os Nazistas não queriam contar. O Ministro da Propaganda Joseph Goebbels censurou notícias dos crimes, o que fez com que as mulheres da cidade não soubessem que havia um serial killer a solta. A polícia sabia que havia um maníaco atacando mulheres, mas demorou a agir.
O herói da história foi o Comissário de Polícia Wilhelm Ludtke, que obstinadamente perseguiu o psicopata, mesmo com a intensa pressão de figurões Nazistas, que fizeram do seu trabalho mais difícil. A polícia eventualmente pôs a mão no homem, que perdeu a cabeça na guilhotina. Sua execução não foi surpresa já que Adolf Hitler era um grande fã desse método de aplicação da pena capital. A viagem de Ogorzow do julgamento até a lâmina durou menos de um dia. Os Nazistas não queriam perder tempo com mandados de busca ou informar suspeitos sobre os seus direitos. Eles não tinham tempo para perder com um maníaco.
“Um Serial Killer na Berlim Nazista” é uma história fascinante e indispensável para os amantes da literatura de crimes ou historiadores que buscam algo a mais para aprender sobre a grande guerra. Assim como fez Jeff Guinn e o seu ótimo Manson: A Biografia, “O Assassino do S-Bahn” está longe de ser uma narração centrada apenas no rastro de sangue de um assassino; o livro aborda as – muitas vezes – esquecidas lutas internas que o regime nazista enfrentou. Propaganda foi algo primordial na Alemanha de Hitler; foi usada para moldar a consciência nacional e dar crédito à supremacia ariana. O que aconteceria então se um serial killer lunático ameaçasse as teorias racistas radicais que estavam sendo disseminadas pelo Reich? Como o regime iria responder e, mais ainda, como eles pegariam um assassino em série com a mídia censurada? Somente lendo a obra para saber.
Em Junho, a Mithology Entertainment comprou os direitos do livro e planeja realizar um filme sobre o caso. O título provisório é “Blackout” (Blecaute) e os produtores envolvidos são os mesmos de “Zodíaco” (2007).
Abaixo, disponibilizamos para vocês (com tradução de Marcus Santana), leitores do blog, o Prólogo e os Capítulos 1, 2, 3 e 4. Embarque agora numa viagem até a sombria Alemanha Nazista de Hitler, e prepare-se para conhecer “a besta em forma humana” que habitava as ruas berlinense naqueles tempos de guerra.
Prólogo
A moça aparentava estar sozinha. Aquele foi o primeiro erro de Paul Ogorzow. Ele estava tão ansioso para atacá-la que confiou em sua primeira impressão em vez de gastar algum tempo para certificar-se de que não haveria ninguém por perto que pudesse socorrê-la.
Ela andava por um caminho entre os jardins do subúrbio leste de Berlim, em uma região conhecida como Berlin-Friedrichsfelde. Apesar de estar perto da estação onde poderia pegar um trem que a deixaria no coração de Berlim, aquela área residencial se parecia com o campo. Ela havia percorrido aquele caminho entre loteamentos de moradores muitas vezes, através de luxuosas hortas com suas cerejeiras, castanheiros, macieiras, cenouras, cebolas, batatas, sebes e gramíneas e arbustos variados.
Paul Ogorzow, de 27 anos, caçava suas vítimas nessa área. Ele espreitava e atacava mulheres que caminhavam sozinhas à noite. E a noite havia adquirido um novo sentido na Berlim da guerra – havia um blecaute imposto pelo governo, o que significava que a única luz relevante ali àquela hora vinha do céu.
Ele tinha uma aparência bastante comum – um pouco abaixo da estatura mediana, branco, com cabelos negros curtos repartidos do lado esquerdo. Ele geralmente estava barbeado, apesar de algumas vezes ostentar um pequeno bigode. Seus olhos eram penetrantes, seus lábios eram finos, seu cabelo começava a escassear, e suas orelhas eram largas, mas seu único traço verdadeiramente notável era seu nariz. A narina esquerda parecia normal, mas a narina direita era maior que o normal, resultado de uma fratura no nariz que ele havia sofrido na infância e que não havia sido devidamente tratada.
Algumas vezes Ogorzow vestia seu uniforme durante os ataques, e nesses casos aquilo era geralmente o que todas as suas vítimas notavam. Seu uniforme da ferrovia, contudo, se parecia de certo modo com diversos outros utilizados durante o Terceiro Reich. No escuro, e com a intempestividade dos seus ataques, podia ser difícil observar os detalhes que revelariam exatamente qual o tipo de uniforme que ele estava utilizando.
Aquela não era a primeira vez que Ogorzow procurava uma mulher para atacar. Naquela época, ele surgira das sombras para atacar cerca de trinta mulheres diferentes por ali. Até então, a confusão da guerra o tinha ajudado a evitar a atenção da polícia, mas ele também havia sido cuidadoso em atacar suas vítimas apenas quando se sentia confiante de que podia dominá-las em segurança.
Aproveitando a escuridão daquela noite, ele lançou-se sobre sua vítima. Ela só percebeu sua aproximação no último instante, quando reagiu gritando o mais alto que pôde. Ogorzow pôs suas mãos enormes em torno do pescoço dela e começou a apertar, esperando silenciá-la e deixá-la inconsciente. Apesar disso ela se defendeu com unhas e dentes, o bastante para continuar respirando e até mesmo gritar.
O que ela sabia – e ele não – era que havia ajuda não muito longe dali. O marido e o cunhado dela estavam por perto, e ela esperava que eles ouvissem seus gritos e viessem em seu auxílio.
Eles ficaram apavorados ao ouvirem-na gritar por ajuda e correram para o local. Ogorzow era um homem com alguma força, por ter sido trabalhador braçal e servir em fazendas na maior parte da sua vida, mas não era um homem grande. Além disso, ele havia gastado muita energia tentando subjugar sua vítima até o momento em que os dois homens chegaram até ele.
O marido e o cunhado agarraram Ogorzow violentamente e o afastaram de sua vítima. Eles começaram a espancá-lo. Quando terminaram de surrá-lo, gritaram-lhe que se ainda estivesse vivo, eles iriam entregá-lo à polícia.
Ogorzow tinha acabado de sofrer uma repentina mudança de sorte – num momento, ele se sentia tão poderoso como Deus, capaz de decidir se suas vítimas viveriam ou morreriam, com suas mãos apertando o pescoço delas, e no momento seguinte ele estava sendo espancado por dois homens. Ele temeu que eles pudessem matá-lo ou, caso ele sobrevivesse, alertar as autoridades para que pudessem prendê-lo.
No escuro, Ogorzow conseguiu se livrar dos seus agressores e esconder-se entre os numerosos arbustos e árvores da região. Ele conhecia bem aquele lugar, tendo passado tanto tempo por ali à noite, procurando vítimas para atacar. Aqueles dois homens procuraram por ele, mas finalmente desistiram e levaram seu ente querido embora para receber cuidados médicos. Quando os três comunicaram o incidente à polícia, Ogorzow estava seguro em sua casa na vizinhança.
Depois disso, Ogorzow repensou seus erros. Além de ter atacado uma mulher que não estava sozinha, havia deixado para trás três testemunhas. Ele considerou que a velocidade do seu ataque, combinada com a escuridão do caminho no jardim, resultariam em sua vítima não ser capaz de descrevê-lo à polícia. Mas uma luta prolongada tinha ocorrido, e ele receava que a mulher que havia atacado e seus dois salvadores pudessem identificá-lo.
Ele refletiu sobre a sorte de sua fuga e como poderia reduzir as chances de ser pego. Abandonar os seus ataques estava fora de questão. Ele obtinha muito prazer em atacar mulheres. Em vez disso, ele se concentrou no que poderia fazer para se tornar um criminoso melhor.
Depois de escapar por um triz, Ogorzow percebeu que precisava garantir que suas vítimas não pudessem gritar por ajuda. Assim, ele imediatamente as asfixiaria com as mãos, ameaçaria com uma faca, ou as golpearia na cabeça com um instrumento pesado. Ele ainda não tinha certeza do que funcionaria melhor, mas sabia que aquele era um problema que teria que resolver se quisesse evitar ser espancado novamente – ou pior, pego pela polícia.
E ele voltou suas atenções a uma nova área de caça – uma que cortava justamente o coração de Berlim, com um suprimento quase ilimitado de vítimas. Logo, ele ampliaria seu repertório e se tornaria um dos serial killers mais notórios de Berlim – e talvez da Alemanha.
Capítulo Um
A Região dos Jardins
Até depois do incidente em que ele passou de caçador a caça, Paul Ogorzow atacava moças apenas na área arborizada perto de sua casa. A região onde ele vivia era suburbana, mas entre sua casa e uma estação de trem de passageiros próxima havia uma vasta área de hortas urbanas.
Os alemães tradicionalmente possuíam hortas dessas nas cidades para que as pessoas sem espaço para plantar em casa tivessem algum lugar para ir e cultivar um pequeno jardim em sua propriedade. Uma pessoa podia comprar ou alugar um pequeno pedaço de terra que eles chamavam de “colônia” e cultivar flores ornamentais e plantas, ou, especialmente durante o período de guerra, frutas e vegetais. Aqueles espaços costumavam possuir pequenas estruturas nas quais as pessoas podiam armazenar seu equipamento de jardinagem e qualquer outra coisa que precisassem para ter um dia prazeroso naquele simulacro de zona rural. Muitas colônias permitiam que as pessoas vivessem lá durante o verão.
Naquela colônia em particular, havia pequenas casas nas quais pessoas moravam durante todo o ano. Aquela região na verdade era feita de duas hortas urbanas unidas – Gutland I e Gutland II – mas na prática, aquela era uma única área contínua de jardins.
Paul Ogorzow via pessoas jardinando quando caminhava ou pedalava até a estação de trem mais próxima. Ele não tinha necessidade de um espaço para plantar, uma vez que seu apartamento possuía um pequeno jardim que ele cuidava carinhosamente.
Um livro sobre a topografa cultural de Berlim explica como essas hortas urbanas, combinadas em colônias, funcionavam:
“Uma característica das maiores cidades alemãs é a tentativa de contrabalançar sua alta densidade residencial com a criação de jardins para uso individual nas periferias da cidade (…) diferente das hortas britânicas, meros campos loteados onde as descontroladas rajadas de vento encharcam os brotos das couves-de-Bruxelas e as ferramentas são guardadas em barracos feitos de caixotes velhos, as colônias de Berlim são extremamente organizadas e ordeiras, atraentes por suas árvores de frutas maduras. Por trás de suas cercas formidáveis e portões fechados, a profusão de flores, trechos gramados e o equipamento de jardinagem tornam evidente sua função recreativa primária, enquanto as ‘casas de veraneio’ podem se aproximar da solidez e amplitude dos chalés, nas quais a família pode passar a noite (…) no período de aguda escassez de moradia causado pelos bombardeios da guerra, muitas ‘casas de veraneio’ foram permanentemente ocupadas, produzindo um tipo de subúrbio desalinhado.”
Passados esses loteamentos, havia os subúrbios. Cerca de oito mil pessoas viviam neles, incluindo muitos empregados da companhia ferroviária, como Ogorzow. Algumas das pessoas que viviam naquelas casas caminhavam para a casa da estação à noite através da região dos jardins. Eles andavam no escuro, uma vez que a iluminação pública ali havia sido desligada como parte do blecaute da cidade durante a guerra. Vários desses habitantes eram mulheres cujos esposos estavam fora, servindo o exército alemão.
O historiador Dr. Laurenz Demps, especialista na Berlim da era nazista, descreveu aquela região desta forma:
“A região dos jardins fica bem perto dos trilhos da ferrovia. Podemos imaginar os lotes daquela época, tal qual os conhecemos hoje. Geralmente eram pequenas casas com hortas. Em 1938, 25 mil famílias viviam nessas pequenas casas em Berlim. Elas eram muito simples; bastante primitivas. Iluminação pública e luz nas ruas, simplesmente não existiam. Havia muito verde. Era muito escuro e não muito movimentado – especialmente à noite.”
Aquela era uma região já pouco iluminada mesmo antes do blecaute ser instituído. Mas com o blecaute, mesmo as poucas lâmpadas elétricas que clareavam algumas das ruas entre as hortas foram desligadas por toda a duração da guerra. Seria difícil criar intencionalmente melhor ambiente para que um estuprador ou um serial killer pudesse estar à espreita. Visto pela perspectiva das mulheres que viviam na área, era um lugar assustador para se cruzar no caminho de ida e volta até a estação de trens.
No mapa acima, a casa onde viveu o serial killer Paul Ogorzow, na Dorotheastraße 24, perto da estação de Karl Horst S-Bahn.
Foi nesse local que Ogorzow desenvolveu seus ataques a mulheres. Ele começou apontando sua lanterna para moças, para assustá-las. As condições do blecaute envolviam sérios regulamentos sobre que tipos de luzes poderiam ou não serem usadas nas ruas. Assim, aquelas mulheres usualmente andavam sem suas próprias lanternas acesas.
Como explicado por um repórter que vivia na Berlim da guerra, “A maioria das pessoas carregava pequenas lanternas, mas seu uso era estritamente limitado. Você devia usá-las apenas perto do chão para evitar tropeçar no meio-fio, e apenas por um instante. Se iluminasse as redondezas para saber onde estava ou para descobrir o número da casa que estivesse procurando, provavelmente gritariam com você.” Deste modo, Ogorzow tinha permissão de carregar uma lanterna, mas estava violando as regras do blecaute usando-a para assustar pessoas.
O único tipo de luz que era permitido nas ruas a qualquer hora do da noite era um estranho broche redondo e verde preso ao casaco das pessoas. Ele era revestido de uma tinta fosforescente que absorvia energia solar durante o dia e emitia um brilho débil à noite. Não era luz suficiente para saber para onde alguém estava indo – tudo que conseguia era permitir às outras pessoas que não esbarrassem em você. Ou no caso de Ogorzow, aquilo lhe permitia ver pessoas vindo a determinada distância e saber se elas estavam sozinhas.
Ogorzow começou escondendo-se na região dos jardins durante a noite e esperando até ver uma mulher se aproximando. Ele poderia avistá-la pelo brilho do seu broche fosforescente ou pela luz ocasional de uma lanterna por uma fração de segundos em que ela examinasse o caminho. Ou ele poderia ouvir alguém se aproximando e definir pela silhueta à luz da lua que era uma mulher, vindo em sua direção. Um piscar repentino da sua lanterna ou do farol da sua bicicleta iria assustá-la e desorientá-la.
Enquanto caminhava no escuro, os olhos daquela mulher se adaptariam a baixos níveis de luminosidade dilatando suas pupilas para permitir que mais luz entrasse nelas. Mas há muito mais envolvido na visão noturna do que apenas pupilas dilatadas. Existem também pigmentos sensíveis à luz chamados fotopigmentos, que se acumulariam nos olhos dela enquanto estivesse andando no escuro. A luz faz com que eles se quebrem, mas no escuro eles continuam a se acumular e resultam em sensibilidade à luz.
Um livro de psicologia descreveu o que acontece quando alguém que permaneceu no escuro por um longo tempo é subitamente exposto à luz:
“Você experimenta um clarão brilhante de luz e talvez até mesmo dor, uma vez que o grande número de fotopigmentos disponíveis torna seus olhos altamente sensíveis à luz. Leva cerca de um minuto para que seus olhos se adaptem à claridade.”
Para as mulheres repentinamente e inesperadamente atingidas por uma luz brilhante, aquilo significava que elas teriam problemas em enxergar e talvez até mesmo pudessem sentir alguma dor por causa da luz. Se aquela luz viesse de algum tipo de fonte inofensiva, como uma lâmpada de rua defeituosa que acidentalmente se acendesse apesar do blecaute, já era assustador o bastante. Ou se alguém andando na direção oposta estivesse usando uma lanterna a despeito das normas e acidentalmente a atingisse com seu facho. Mas ali não havia acidente – em vez disso, a luz parecia vir de lugar nenhum. E o que era pior, após os primeiros momentos, um homem gritando rudes insinuações sexuais e ameaças acompanhava aquela luz.
Uma típica reação àquele susto era correr gritando por ajuda. Entretanto, era difícil explicar o quão terrível era aquela experiência. Era o tipo de coisa que a polícia facilmente descartaria como uma pegadinha, apesar de ser particularmente maliciosa.
Para as mulheres com quem isso acontecia, no entanto, aquilo se parecia com algo saído de um filme de terror. Uma caminhada tarde da noite ou no fim da madrugada pela região dos jardins, com seus caminhos tortuosos, subitamente interrompida por um homem que havia estado à espera, esperando por aquele momento. Um flash brilhante, algumas palavras gritadas, e o sentimento ameaçador de que as coisas poderiam piorar se aquele homem decidisse realmente se lançar em um ataque físico.
Para Paul Ogorzow, a excitação que ele sentia ao assustar mulheres simplesmente cegando-as com uma lanterna logo se desvanecia. Em seguida, ele também começava a gritar-lhes palavras abusivas e vulgares. Quando isso não lhe trouxe mais nenhuma euforia, ele foi além ao realmente agarrar ou esmurrar mulheres. Como um viciado em drogas que necessita usar mais e mais para garantir a mesma sensação, Ogorzow se sentia compelido a ir cada vez mais longe com suas vítimas. Eventualmente, ele passou a cometer ataques sexuais contra mulheres, e finalmente a matá-las.
Como a maioria dos serial killers, ele não começou matando suas vítimas. Pelo contrário, aquele era um processo lento e de crescente violência. O famoso profiler do FBI John Douglas escreveu sobre o funcionamento disto, explicando que um predador em desenvolvimento “se põe a praticar mais atos que o fazem se sentir poderoso e satisfeito, eliminando os fatores ou ações que atrapalham aquela experiência. Ele descobre áreas expandidas e situações onde pode praticar sua dominação e controle sobre outros. E ele aprende com a sua própria experiência, aperfeiçoando sua técnica para evitar detecção ou punição. Ele aprende como se tornar perito no que faz. Quanto mais sucesso e satisfação obtiver, menor se torna o ciclo de realimentação.”
John Douglas deu um exemplo desse processo:
“O jovem cujo desejo particular é o voyeurismo pode passar para o arrombamento e roubo fetichista de coisas que pertencem às mulheres que espiona. Uma vez que se sente confortável com os arrombamentos e descobre como fugir deles, ele pode então evoluir para o estupro. Dependendo das circunstâncias, caso, por exemplo, ele perceba que poderia ser identificado pela sua vítima caso não tome uma medida preventiva, o estupro pode acabar em assassinato. E se nesse ponto ele descobre que matar lhe causa uma euforia ainda maior e uma enorme sensação de poder e satisfação, ele entra em uma nova dimensão de controle e os assassinatos podem muito bem continuar.”
Paul Ogorzow mergulhou exatamente nesse tipo crescente de comportamento violento. Antes de começar a atacar mulheres no sistema de trens de passageiros, Ogorzow evoluiu para tentativas de assassinato na colônia próxima de sua casa.
Perto de uma da manhã de 13 de agosto de 1939, Ogorzow perambulava nessa região dos jardins procurando por uma vítima do sexo feminino. A II Guerra Mundial ainda não havia começado, mas estava claro que a guerra se aproximava. Três meses antes, o governo alemão havia editado normas que exigiam a execução imediata das medidas necessárias para um blecaute. Embora o verdadeiro blecaute não tenha começado por mais duas semanas, espaços públicos, tais como a região dos jardins, já tinham suas luzes desligadas. A ideia era que com um curto período de pré-aviso, a população estaria preparada para impedir que a luz escapasse pela noite.
Ogorzow caçava no escuro, esperando encontrar uma mulher indo ou voltando da estação de trem próxima. Àquela hora, muito provavelmente seria uma operária voltando para casa após uma longa jornada produzindo armamentos ou outros materiais industriais necessários para os esforços de guerra alemães. Aquilo era um bônus para ele, porque aumentaria as chances de a vítima estar cansada demais para lutar por muito tempo. E o foco dela poderia estar apenas em chegar em casa e ir para a cama, em vez de prestar total atenção ao redor.
Ele avistou uma mulher por volta dos seus quarenta anos, Lina Budzinski, e a seguiu enquanto ela descia pelos caminhos escuros para casa. Ela podia ouvir os passos dele. Assustada, ela correu em direção à sua propriedade, entrou no jardim em frente à sua pequena casa e começou a trancar o portão atrás de si. Enquanto fechava o portão, ela ouviu a respiração pesada de Ogorzow lutando para alcançá-la. Quando ela estava apenas a alguns passos da salvação, Ogorzow a atacou pelas costas, levando-a ao solo. Ela não conseguia gritar por socorro, uma vez que o golpe na cabeça a havia atordoado.
Ogorzow não lhe disse nada durante o seu ataque. Eles ainda estavam do lado de fora, no pequeno jardim em frente à casa dela. Apesar de a senhorita Budzinski estar atordoada para gritar, ela ainda estava consciente. Ela sofrera uma concussão. O ferimento resultou na incapacidade temporária de falar ou de ter total controle de seu corpo. Havia uma série de outros sintomas que acompanhavam aquilo, incluindo ter dificuldades de pensar com clareza, mas naquele momento a questão mais urgente era se ela seria capaz de fazer algo que a permitisse sobreviver àquele ataque.
Ela podia ver e ouvir tudo que estava acontecendo a si e tentava desesperadamente fazer seu corpo funcionar. Ela desejava mais do que tudo fugir, ou ao menos gritar pela ajuda dos seus vizinhos.
O silêncio fazia o seu atacante parecer ainda mais ameaçador. Com o golpe em sua cabeça, e com a escuridão da região dos jardins não mais iluminada, era difícil entender como aquele homem havia surgido do nada para atacá-la.
Enquanto ainda estava aturdida, ela sentiu a dor aguda de uma faca penetrando as suas costas e sendo puxada de volta. E então o agressor a esfaqueou de novo, furiosamente. A dor era excruciante. Ogorzow removeu sua faca, ergueu a arma no ar e a introduziu rapidamente numa terceira facada. Se a senhorita Budzinski não conseguisse resistir à pancada na cabeça e fazer algo, ela morreria em breve pela mão armada de Paul Ogorzow.
Por uma quarta e última vez, ele usou sua faca para penetrar as costas dela. Havia sangue escorrendo de seu corpo em cinco lugares diferentes agora – os quatro ferimentos de faca e o do golpe na cabeça.
De alguma forma, ela conseguiu superar o golpe na cabeça e fugiu do seu agressor. Talvez toda a adrenalina correndo em suas veias tenha ajudado. Ela conseguiu chegar até a casa e trancou a porta atrás de si, conseguindo dessa vez manter Ogorzow do lado de fora.
Ogorzow rapidamente abandonou a cena. Milagrosamente, a senhorita Budzinski sobreviveu a este ataque. No hospital, os cirurgiões cuidaram dela bem o bastante para que a polícia falasse com a vítima. Como o seu agressor não tinha dito uma palavra sequer, ela não poderia lhes dizer como era a sua voz ou o que ele poderia estar pensando durante o ataque brutal.
A polícia interrogou-a extensivamente a respeito do ataque. A supressão de iluminação nos caminhos públicos da região dos jardins, entretanto, significava que a senhorita Budzinski havia visto muito pouco o seu agressor. Tudo que ela podia dizer à polícia era sua estatura aproximada.
Na foto: O crânio de uma das vítimas de Paul Ogorzow. Créditos: A Serial Killer In Nazi Berlin.
Enquanto a polícia na Alemanha nazista inspirava o medo nos corações de muitas pessoas que tinham bons motivos para temer o regime, a senhorita Budzinski, como uma mulher ariana e apolítica, não tinha essas preocupações. Aqueles policiais não estavam lá para investigá-la, mas para tentar descobrir o que podiam fazer para ajudar a capturar o homem que havia lhe feito aquilo. Desse modo, ela cooperou totalmente com eles.
A polícia ainda a considerava uma testemunha útil, e esperava utilizá-la eventualmente para identificar seu agressor. Se eles capturassem um suspeito, eles queriam ver se ao menos ela conseguiria identificá-lo como seu atacante.
Apesar do trauma, depois do ataque Lina Budzinski permaneceu em Berlim, onde posteriormente se casou e adotou o sobrenome Mohr.
Capítulo Dois
O Detetive 
Homicídios e tentativas de homicídio eram investigadas pela Polícia Criminal (Kriminalpolizei, ou Kripo), que geralmente lidava com crimes graves de cunho não-político. O Comissário de Polícia Wilhelm Karl Lüdtke estava encarregado da Divisão de Crimes Graves da Kripo em Berlim, que investigava principalmente homicídios.
Um ataque isolado a uma mulher não era um caso importante o bastante para requerer a participação direta de Lüdtke na investigação. Foi só depois, quando as vítimas aumentaram em número e mulheres foram assassinadas, que ele assumiu o caso.
Lüdtke tinha sorte por ter um emprego na polícia, e mais sorte ainda pela sua posição importante em Berlim. Em 1939, ele não era um membro do partido [nazista], apesar de muitos com a ambição de ascender na burocracia alemã terem se filiado depois de os nazistas assumirem o poder em 1933. E os verdadeiros adeptos haviam se aliado antes deles.
Na época em que havia outros partidos para se votar, ele havia sido membro do Partido Democrático Alemão. Era um partido social-liberal que acreditava, entre outras coisas, na proteção dos direitos das minorias étnicas como os judeus alemães. Lüdtke, no entanto, tinha mais problemas do que apenas não ser um nazista e ter sido filiado a um partido liberal agora desativado; ele trabalhou abertamente contra os nazistas antes de 1933.
Ele nasceu em 22 de junho de 1886, na pequena cidade de Alt Fanger, onde na época ficava a Pomerânia, e que nos dias atuais é o noroeste da Polônia. Seu pai, Karl Johan Lüdtke, era um fazendeiro e sua mãe, Johanna Lüdtke (nome de solteira Pansch), era dona-de-casa. Ele se formou no colegial na Pomerânia aos dezoito anos e então se alistou no exército alemão. Ele serviu nas forças armadas de 1904 a 1909, antes da I Guerra Mundial. Quando seu serviço militar acabou, ele se tornou um policial em Frankfurt, Alemanha.
Em agosto de 1914, ele foi promovido à Polícia Criminal (Kripo). A I Guerra Mundial havia começado apenas um mês antes, então havia vagas para promoção uma vez que outros policiais saíram para se juntar aos combatentes.
Se tivesse permanecido em sua posição relativamente apolítica, Lüdtke provavelmente jamais teria tido problemas com os nazistas, mas em 1929 ele foi designado para comandar a polícia política em Frankfurt e Harburg-Wilhelmsburg. Ele havia trabalhado para galgar posições e agora era um comissário criminal.
Ele manteve este emprego de 1929 até o começo de 1933, um período de tempo preenchido com conflitos urbanos sangrentos e homicidas entre os diferentes grupos políticos competindo pelo domínio da Alemanha. Os comunistas e os nazistas eram os dois principais grupos, e Lüdtke precisava impedir que eles matassem uns aos outros. Com este trabalho, ele fez inimigos poderosos quando interferiu em manifestações do partido nazista, além de outras medidas.
Em 30 de janeiro de 1933, como resultado do seu trabalho no comando do departamento de polícia política, ele perdeu seu emprego na Kripo. O líder regional do partido nazista na Hanover Oriental, Otto Telschow, removeu Lüdtke do seu escritório. Na época em que os nazistas consolidavam seu poder, no começo de 1933, Lüdtke foi julgado em frente a uma corte disciplinar por interferências nas atividades públicas do partido nazista, como demonstrações e manifestações. Apesar de ser sua função na época fazer justamente aquilo, os nazistas não estavam interessados no fato de que ele estava apenas cumprindo ordens.
Apesar desta mancha no seu currículo na Kripo, Lüdtke conseguiu usar os contatos que tinha construído na polícia ao longo dos anos para conseguir um novo emprego e manter sua posição. Ele deixou a região de Hanover Oriental e começou a trabalhar em Berlim em 1 de maio de 1933. Agora ele tentava se manter longe dos assuntos políticos e concentrado na solução dos crimes que competiam ao departamento que ele comandava, a Divisão de Crimes Graves da Kripo em Berlim.
Capítulo Três
A Corrida
Em 1939, Ogorzow ainda estava desenvolvendo seu método de ataque. Com a senhorita Budzinski, ele a havia golpeado primeiro na cabeça para incapacitá-la e então passou a esfaqueá-la repetidamente. Durante outros ataques, ele havia usado as mãos para asfixiar as mulheres que atacava de modo que elas ficassem fisicamente incapazes de gritar por ajuda. Nos seus primeiros dias, ele geralmente havia usado os punhos para agredir as mulheres, o que não conseguia impedir os gritos delas.
Paul Ogorzow estava preocupado com as possíveis repercussões do seu ataque a Lina Budzinski. Ela ainda estava viva, e ele não tinha certeza se ela havia conseguido vê-lo no escuro o bastante para identificá-lo. Ele não estava usando uma máscara ou cobrindo seu rosto de algum outro modo, então se ela tivesse dado uma boa olhada nele, ele teria sérios problemas. Ele aguardou e, no entanto, nada aconteceu. Ninguém apareceu procurando por ele, e nenhum cartaz com um retrato de sua fisionomia foi colocado.
Apesar do risco que isso apresentava, ele finalmente retornou à região dos jardins para assustar e atacar mulheres. Ele estava temeroso, contudo, de que pudesse ser pego, então regrediu para ataques menores por algum tempo, como gritar com as moças e assustá-las com sua lanterna.
Assim que se sentiu confortável com este nível de atividade, ele retornou a um nível de crimes mais graves. Quatro meses após quase ter matado Lina Budzinski, ele estava pronto para ataques violentos, e talvez até para matar a próxima mulher que cruzasse seu caminho, sozinha na escuridão.
Naquele momento, A II Guerra Mundial estava bem a caminho. Em 23 de agosto de 1939, Alemanha e União Soviética firmaram um pacto de não-agressão. Uma semana depois, em 1 de setembro, a Alemanha atacou a Polônia. Na mesma noite, o blecaute começou oficialmente na Alemanha.
Em setembro, vários países, incluindo a França e o Reino Unido, declararam guerra à Alemanha. Os Estados Unidos se declararam oficialmente neutros. Em 17 de setembro, a União Soviética também invadiu a Polônia. No início de outubro, soviéticos e alemães ocupavam toda a Polônia. Eles dividiram o país entre si.
Às 1h15 da madrugada de 14 de dezembro de 1939, Ogorzow avistou uma mulher caminhando sozinha na região dos jardins. O nome dela era Hertha Jablinski. Apesar de o nome dela soar estranho em inglês, não era um nome incomum na Alemanha da época – Hertha era um dos nomes da antiga deusa alemã da fertilidade, Nerthus.
A senhorita Jablinski tinha dezenove anos e voltava para casa do seu trabalho relacionado à guerra. Ela estava cansada e pronta para terminar aquele dia. Ela havia tomado o trem e agora caminhava sozinha no escuro através da colônia de hortas. Havia árvores e pequenos matagais repletos de frutas, ervas e vegetais. Antes da guerra, havia mais flores e plantas ornamentais, mas com o racionamento, fazia mais sentido cultivar coisas que não pareciam tão bonitas, mas que podiam ser comidas.
A colônia estava vazia àquela hora da noite. A principal linha de trem de passageiros de Berlim, a S-Bahn, terminava ali. Apesar de centenas de pessoas utilizarem o sistema de transporte rápido de passageiros todos os dias, geralmente só algumas poucas pessoas, isso quando havia alguma, desciam do S-Bahn ali àquela hora, e elas se dissipavam rapidamente, cada uma seguindo seu próprio caminho na infinidade de caminhos que se ramificavam a partir da estação de trem.
Enquanto caminhava na região dos jardins, a senhorita Jablinski pôde ouvir os passos de alguém andando atrás dela. Ela olhou para trás por sobre o ombro e não viu nada. Estava muito escuro e aquela pessoa estava longe demais no caminho.
Já existiam rumores sobre ataques naquela região, então quando ela ouviu os passos acelerarem, como se a pessoa estivesse tentando alcançá-la, ela começou a entrar em pânico.
Com adrenalina sendo bombeada em seu corpo, sua reação de “fugir ou lutar” se iniciou. Ela poderia tentar se esconder no escuro, mas se a pessoa que a seguia possuísse uma lanterna poderia encontrá-la. Lutar parecia uma péssima opção, uma vez que ela não possuía uma arma. Assim, ela correu o mais rápido que pôde.
Ogorzow desatou a correr também. Ambos agora disputavam uma corrida desafiadora, cujo ponto de chegada era a casa de Jablinski. Se ela chegasse a tempo de entrar em casa, estaria a salvo. Se ele a pegasse antes, atacaria.
Ela vivia nas proximidades, então não se arriscou a parar em uma casa qualquer na esperança de que alguém estivesse em casa e saísse em seu auxílio àquela hora incerta caso ela batesse na porta. O blecaute significava que mesmo que alguém estivesse acordado em casa e com as luzes acesas, ela não seria capaz de vê-las do caminho. As cortinas daquela pessoa deviam impedir que qualquer luz escapasse e revelasse que alguém estava em casa.
Atrás dela, Ogorzow desandou a correr também. Ele era mais forte e mais rápido, e rapidamente começou a ganhar terreno.
Na foto: Fotografia de Paul Ogorzow tirada após sua prisão em 1941. Créditos: A Serial Killer in Nazi Berlin.
Ogorzow venceu o desafio da corrida. Quando ele alcançou a senhorita Jablinski, não gritou com ela ou a golpeou na cabeça. Sem dizer uma única palavra, ele a esfaqueou no pescoço. E então de novo, e de novo, e de novo. Assustadoramente, como no seu ataque à senhorita Budzinski, ele permaneceu mudo durante todo o evento.
Apesar de estar em estado de choque, ela recobrou os sentidos e gritou o mais alto que podia. Em resposta, Paul Ogorzow interrompeu seu ataque. Ele ficou parado por alguns instantes e então fugiu. Embora desejasse desesperadamente continuar esfaqueando Hertha Jablinski, ele estava profundamente receoso de ser pego.
Abandonada à própria sorte, a senhorita Jablinski conseguiu encontrar ajuda e parar os sangramentos. Ela teve sorte por ele não ter cortado nenhuma artéria, ou provavelmente teria sangrado até a morte na rua. No hospital, os cirurgiões suturaram seus ferimentos, mas eles deixariam cicatrizes assim que estivessem curados.
Capítulo Quatro
Não Grite Ainda 
Mais uma vez, Paul Ogorzow ficou preocupado em ser pego. Apesar de estar escuro, sua vítima mais recente, Hertha Jablinski, havia dado uma boa olhada nele. Ela não foi capaz de descrever seu rosto à polícia, mas ele não sabia disso na época.
Apenas depois de decorridos alguns dias, semanas e meses é que Ogorzow se sentiu seguro de que a polícia não havia obtido o suficiente da senhorita Jablinski para conseguir encontrá-lo. Foi difícil para ele controlar sua necessidade de atacar mulheres durante aquele tempo, mas ele conseguiu isso.
Mesmo embora não estivesse tentando matar mulheres, ele continuou a perambular pela região dos jardins à noite. Às vezes ele saía apenas com o intuito de encontrar moças para gritar com elas e assustá-las com sua lanterna. Ele saía a pé ou pedalando sua bicicleta. Ele também continuou a atacar mulheres fisicamente durante esse tempo, mas não com um grau de violência que a polícia considerasse tentativa de homicídio.
A polícia estava ciente de que havia um homem ameaçando e atacando mulheres nas hortas urbanas, mas ainda não havia mortes e as pistas eram poucas, então aquele não era um caso de alta prioridade.
Oito meses depois do seu ataque a Hertha Jablinski, Ogorzow finalmente se sentiu seguro o bastante para tentar de novo um ataque completo a uma mulher que passasse pelos caminhos na região das hortas urbanas durante as condições do blecaute.
Às 1h30 da madrugada de 27 de julho de 1940, Gertrud Nieswandt estava cruzando a região dos jardins. Ela tinha vinte e cinco anos e estava indo para a casa de seus pais. Enquanto seguia pelo caminho escuro, Nieswandt escutou alguém andando atrás dela. Ela acelerou o passo, mas não correu. Talvez não soubesse que um homem estava se aproveitando da escuridão e do isolamento daquela área para atacar moças. Não havia nada nos jornais sobre aqueles ataques; a única informação que se espalhava eram rumores entre as pessoas que viviam ali. Nieswandt, entretanto, morava em outro lugar.
Atrás dela, Ogorzow estava lentamente ganhando terreno. Ele havia aprendido com seu ataque a Hertha Jablinski que se desatasse a correr ruidosamente, aquilo espantaria sua vítima. Então ele manteve o passo, num movimento friamente calculado para alcançá-la antes que ela chegasse a seu destino, seja lá qual fosse, sem assustá-la a ponto de fazê-la gritar que um homem a estava perseguindo.
Embora fosse tarde, e eles não tivessem encontrado ninguém mais no caminho, a Nieswandt não pôde compreender que os passos atrás de si significavam que alguém a estava espreitando. Havia outras pessoas que trabalhavam até tarde da noite e precisavam ir para casa da estação de trem.
No momento em que Ogorzow a alcançou, ela já estava quase a salvo. Agora eles estavam juntos em frente à varanda da casa dos pais dela.
Naquele ponto, ficou claro para ela que algo estava muito errado. Ela não conhecia aquele homem que estava ao seu lado. Se soubesse que havia um homem ferindo gravemente mulheres naquela região, provavelmente ela teria gritado no momento em que percebesse que ele estava se aproximando. Em vez disso, houve um momento de confusão no qual ela pode ter pensado que aquele homem ia simplesmente dar em cima dela. Com tantos homens longe, servindo ao exército, não era incomum que os homens que permaneceram em Berlim tentassem tirar vantagem do fato de que havia muitas mulheres solitárias na cidade.
Dado que a esta altura Ogorzow tinha certeza de que aquela mulher não estava assustada, ele tentou acalmar as coisas dizendo algo relativamente inócuo.
Ele perguntou: “você vai entrar aqui?”
Ela respondeu de forma quase automática com um “é claro.”
Nieswandt não tinha o menor interesse em conversar com um homem que não conhecia em frente à casa de seus pais, no meio da noite. Ela queria que ele fosse embora, mas não se sentiu ameaçada o bastante pelo que ele fazia e dizia para de fato gritar por ajuda.
Ela achou que uma simples ameaça seria o bastante para se livrar do homem, então ela disse “vá embora ou eu vou gritar.”
Ogorzow temia que sua vítima gritasse por socorro. No passado, quando elas gritavam, ele fugia. Isso significava não só que ele tinha que interromper seus ataques na metade, mas enquanto fugia, ele também temia que pudesse ser pego. Ele precisava atacar agora, rápido, antes que a moça realmente gritasse e chamasse atenção para eles.
Paul Ogorzow respondeu “não grite ainda.” Ao mesmo tempo em que dizia isso ele golpeou a senhora Nieswandt, violentamente. Como resultado, ela caiu no chão. Uma vez que ela estava caída, ele se curvou sobre ela e usou seu canivete para atingi-la no pescoço. A faca penetrou a menos de dois centímetros da artéria carótida dela. Se ele tivesse atingido aquela artéria, ela teria rapidamente sangrado até a morte. Ainda havia sangue jorrando do pescoço dela, mas nada como teria sido caso aquele golpe tivesse acertado um lugar ligeiramente diferente.
Ele pretendia com aquele primeiro ferimento incapacitar sua vítima e impedi-la de gritar por socorro. Ele ergueu seu braço com seu canivete ensanguentado. Naquele momento, sua intenção não era impedi-la de gritar, mas satisfazer seu próprio desejo de machucá-la de um modo sexual. Ele enfiou seu canivete nela a cerca de cinco centímetros da sua região genial.
Quando ele puxou o canivete, percebeu que Nieswandt estava gritando. Apesar de tê-la esfaqueado no pescoço, ele não havia feito nada para impedi-la de gritar, além do choque de ter sido nocauteada e estar sendo atacada.
Ogorzow estava receoso de que membros da família ou amigos dela saíssem da casa para onde Nieswandt se dirigia antes de atacá-la ou que vizinhos surgissem de suas casas e o capturassem. Ele correu o mais rápido que pôde para escapar antes que isso acontecesse.
Nieswandt sobreviveu àquele ataque e o comunicou à polícia. Eles acrescentaram detalhes do que aconteceu a ela à crescente lista de crimes cometidos por um homem desconhecido naquela região.
Título: A Serial Killer in Nazi Berlin: The Chilling True Story of the S-Bahn Murderer
Autor: Scott Andrew Selby
Editora: Berkley
Número de páginas: 320
Lançamento: 7 de Janeiro de 2014
Sinopse: Para todas as aparências, Paul Ogorzow era um alemão modelo. Um homem de família com emprego, membro do partido, e sargento da infame Brownshirts (Sturmabteilung), ele traçou seu caminho pelas ferrovias de Berlin sendo um sinaleiro auxiliar. Mas ele também tinha um segredo… Devido aos bombardeios aliados, o alto comando nazista instituiu um blecaute total em toda Berlin, inclusive sobre os trens. Sob o manto da escuridão, Ogorzow começou assustando mulheres para depois atacá-las fisicamente, culminando no estupro e assassinato; algumas ele até mesmo jogou seus corpos para fora dos trens em movimento. Embora o partido Nazista tenha tentado censurar as notícias dos ataques, as mulheres de Berlim em breve viveriam em um estado de constante medo. O medo durou até Wilhelm Ludtke, chefe da divisão de crimes graves da polícia de Berlim, caçar o louco que vivia no meio deles. Pela primeira vez, a emocionante história de Ogorzow é contada em detalhes.
Opinião: “Um emocionante e verdadeiro relato de um serial killer da II Guerra Mundial. A bordo de um trem elétrico de alta velocidade na Berlim Nazista, Scott Andrew Selby revela uma história igualmente eletrizante de um funcionário de estrada de ferro que não podia parar de matar.” [Robert Graysmith, autor de "Zodiac" e "Black Fire"]