segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

O Despertar dos Mágicos (73). Homem que teria sofrido uma mutação? Viajante do Tempo? Extraterrestre camuflado atrás desse Sérvio misterioso?



No final do ano de 1913, o hindu embarca. Durante cinco anos irá trabalhar e fazer avançar prodigiosamente as matemáticas. É eleito membro da Sociedade Real das Ciências e nomeado professor em Cambridge, no colégio da Trinity. Em 1918 adoece.Ei-lo tuberculoso. Regressa a Índia para morrer, aos trinta e dois anos.

Louis Pauwels e Jacques Bergier. DIFEL

Deixou em todos aqueles que dele se aproximaram uma recordação extraordinária. Só vivia no meio dos números. Hardy vai visitá-lo ao hospital, e diz-lhe que apanhou um táxi. Ramanujão pergunta o número do automóvel: 1729. que belo número!, exclama; é o mais pequeno que seja duas vezes uma soma de dois cubos! De fato, 1729 é igual a 10 ao cubo mais nove ao cubo, e também a 12 ao cubo mais 1 ao cubo. Hardy precisou de seis meses para o demonstrar, e o mesmo problema ainda não está resolvido para a quarta potência.
A história de Ramanujão é daquelas em que ninguém acreditaria. Mas é rigorosamente verdadeira. Não é possível exprimir em termos simples a natureza das descobertas de Ramanujão. Trata-se dos mistérios mais abstratos da noção do número, e particularmente dos números primos.
Fora das matemáticas não se sabe bem quais as coisas que interessavam a Ramanujão. Preocupava-se pouco com a arte e a literatura. Apaixonava-se pelo extraordinário. Em Cambridge organizara uma pequena biblioteca e um arquivo sobre toda a espécie de fenômenos desconcertantes para a razão.
CAYCE
Edgar Cayce morreu a 5 de Janeiro de 1945, levando consigo um segredo que ele próprio não esclarecera e que o apavorara durante toda a vida. A Fundação Edgar Cayce, em Virgínia, Beach, onde trabalham médicos e psicólogos, prossegue a análise dos dossiers. Desde 1958, os estudos sobre a clarividência dispõem na América deimportantes créditos. É que se pensa nos serviços que poderiam render, no domínio militar, homens capazes de telepatia e de premonição. De todos os casos de clarividência, o mais evidente, e o mais extraordinário, é o de Cayce. O pequeno Edgar Cayce estava doente. O médico de província estava à sua cabeceira. Não havia nada a fazer para salvar o garoto do estado de coma. Mas, bruscamente, a voz de Edgar elevou-se, clara e tranqüila. E, no entanto, ele dormia. Vou dizer-lhes o que tenho. Apanhei uma bolada de baseball na coluna vertebral. É necessário fazer-me uma cataplasma especial e aplicá-la na base do pescoço. Com a mesma voz, o garoto ditou a lista das plantas que era necessário misturar e preparar. Despachem-se, senão océrebro arrisca-se a ser atingido. Por desencargo de consciência, obedeceram-lhe. À noite, a febre descera. No dia seguinte, Edgar deixava o leito, fresco como uma alface. Não se lembrava de nada. Desconhecia a maior parte das plantas que ditara.
Assim principia uma das histórias mais espantosas da medicina. Cayce, camponês do Kentucky, completamente ignorante, pouco disposto a fazer uso do seu dom, lamentando constantemente não ser como toda a gente, tratará e curará, em estado de sono hipnótico, mais de quinze mil doentes, devidamente homologados. Trabalhador agrícola na propriedade de um dos seus tios, depois escriturário numa livraria de Hopkinsville, finalmente proprietário de um pequeno estabelecimento fotográfico onde pensa passar calmamente os seus dias, é contra vontade que irá representar o papel de taumaturgo. O seu amigo de infância Al Layne e a sua noiva Gertrude farão toda a diligência para o convencer. De forma alguma por ambição, mas porque ele não tem o direito de guardar o poder que tem só para si, recusando auxiliar os aflitos. Al Layne é fraco, sempre doente. Arrasta-se. Cayce aceita adormecer: descreve a origem da doença e dita medicamentos. Quando acorda: Mas não é possível, eu desconheço metade das palavras que anotaste. Não tomes essas drogas, é perigoso! Não percebo nada disso, é tudo magia! Recusa voltar a ver Àl, e encerra-se na sua loja de fotografia. Oito dias depois, Al força-lhe a porta: nunca se sentiu tão bem. A vila agita-se, todos pedem uma consulta. Não é por falar enquanto durmo que me vou pôr a tratar das pessoas. Mas acaba por aceitar. Sob condição de não ver os pacientes, com receio de que, conhecendo-os, a decisão seja influenciada. Sob condição de que alguns médicos assistam às sessões. Sob condição de não receber um tostão, nem sequer o mais pequeno presente. Os diagnósticos e as receitas feitas em estado de hipnose são de tal precisão e acuidade que os médicos desconfiam que se trate de um colega disfarçado em curandeiro. Ele limita-se a duas sessões por dia. Não porque receie a fadiga: desperta desses sonos muito repousado. Mas insiste em continuar fotógrafo. Não procura de forma alguma adquirir conhecimentos médicos. Não lê nada, continua um filho de camponeses, dotado de um vago certificado de estudos equivalentes à 4.a classe. E continua a insurgir-se contra a sua estranha faculdade. Mas mal decide renunciar a ela, torna-se áfono.
Um magnata dos caminhos de ferro americanos, James Andrews, vai consultá-lo. Ele prescreve-lhe, em estado de hipnose, uma série de drogas, entre as quais uma certa água de salva. Este medicamento é impossível de encontrar. Andrews manda publicar anúncios nas revistas médicas, mas sem resultado. No decorrer de outra sessão, Cayce dita a composição dessa água, extremamente complexa. Ora Andrews recebe uma resposta de um jovem médico parisiense: fora o pai desse francês, igualmente médico, que elabora a água de salva, mas deixara de a explorar cinqüenta anos atrás. A composição é idêntica à sonhada pelo fotografozinho.
O secretário local do Sindicato dos Médicos, John Blakburn, apaixona-se pelo caso Cayce. Reúne uma comissão de três membros, que assiste a todas as sessões, com grande espanto. O Sindicato Geral Americano reconhece as faculdades de Cayce e autoriza-o oficialmente a dar consultas psíquicas. Cayce casara-se. Tem um filho de oito anos, Hug Lynn. A criança, ao brincar com os fósforos, faz explodir um depósito de magnésio. Os especialistas concluem que a cegueira deve ser total e propõem a extração de uma vista. Com terror, Cayce entrega-se a uma sessão de sono. Mergulhado em hipnose, insurge-se contra a extração e preconiza quinze dias de aplicação de pensos embebidos em ácido tânico. Para os especialistas é uma loucura.
E Cayce, no meio dos maiores tormentos, não ousa desobedecer às suas vozes. Quinze dias depois, Hugh Lynn está curado. Um dia, após uma consulta, continua adormecido, e dita sucessivamente quatro receitas, muito precisas. Não se sabe a quem podem ser dirigidas: têm quarenta e oito horas de avanço sobre os quatro doentes que se apresentarão.
Durante uma sessão, ele prescreve um medicamento a que chama Codiron e indica a direção do laboratório, em Chicago. Telefonam para lá: Como é que ouviram falar de Codiron? Ainda não está à venda. Acabamos de elaborar a fórmula e de lhe encontrar o nome.
Cayce, atingido por uma doença incurável que só ele conhecia, morre no dia e hora que fixara: No dia 5 à tarde estarei definitivamente curado. Curado contra qualquer outra coisa.
Interrogado em estado de sono sobre a sua forma de proceder, ele declarara (para depois não se recordar de nada ao acordar, como de costume) que estava em estado de entrar em contacto com qualquer cérebro humano vivo e de utilizar as informações contidas nesse cérebro, ou nesses cérebros, para o diagnóstico e o tratamento dos casos que lhe apresentassem. Talvez fosse uma inteligência diferente que então se manifestava em Cayce e utilizava todos os conhecimentos que circulam na humanidade, da mesma forma que se utiliza uma biblioteca, mas que instantaneamente, ou pelos menos à velocidade da luz e da eletromagnética. Mas nada nos permite explicar o caso de Edgar Cayce dessa forma ou de qualquer outra. Tudo o que se sabe realmente é que um fotógrafo de aldeia, sem curiosidade nem cultura, podia, quando queria, pôr-se num estado em que o seu espírito funcionava como o de um médico de gênio, ou antes, como todos os espíritos de todos os médicos ao mesmo tempo.
BOSCOVITCH
Um tema de ficção científica: se os relativistas têm razão, se vivemos num Universo de quatro dimensões, e se pudéssemos disso tomar consciência, aquilo a que chamamos o senso comum estouraria. Autores de antecipação esforçam-se por pensar em termos de espaço-tempo. Aos seus esforços correspondem, num plano de investigação mais puro e numa linguagem teórica, os dos grandes físico-matemáticos. Mas será o homem capaz de pensar em quatro dimensões? Ser-lhes-iam necessárias outras estruturas mentais. Essas estruturas estarão reservadas para o homem a seguir ao homem, o ser da próxima mutação? E esse homem a seguir ao homem estará já entre nós? Romancistas do fantástico afirmaram que sim. Mas nem Van Vogt, no seu belo livro fantástico sobre os Slans, nem Sturgeon, na sua descrição dos mais que Humanos, ousaram imaginar uma personagem tão fabulosa como Roger Boscovitch.
Homem que teria sofrido uma mutação? Viajante do Tempo? Extraterrestre camuflado atrás desse Sérvio misterioso? Boscovitch teria nascido em 1711 em Dubrovnik: é pelo menos o que ele declarou, aos catorze anos, ao inscrever-se como estudante voluntário no colégio jesuíta de Roma. Ali estudou matemática, astronomia e teologia. Em 1728, tendo terminado o seu noviciado, entrou na ordem dos Jesuítas. Em 1736 publica uma comunicação sobre as manchas do Sol. Em 1740 ensina matemática no Collegium Romanum, depois torna-se conselheiro científico do Vaticano. Cria um observatório, empreende a drenagem dos Pântanos Pontinos, cerca de Roma, restaura o zimbório de São Pedro, mede o meridiano entre Roma e Rímini sobre dois graus de latitude. Depoisexplora diversas regiões da Europa e da Ásia e faz pesquisas sobre os próprios locais onde Schliemann, mais tarde, descobrirá Tróia. É nomeado membro da Real Sociedade de Inglaterra, a 26 de Junho de 1760, e nessa ocasião publica um longo poema em latim, sobre as aparências visíveis do Sol e da Lua, de que os contemporâneos dizem:É Newton na boca de Virgílio. É recebido pelos maiores eruditos da época, e mantém inclusivamente uma importante correspondência com o doutor Johnson e com Voltaire. Em 1763, a nacionalidade francesa é-lhe oferecida. Toma a direção do departamento de óptica da Marinha Real, em Paris, onde viverá até 1783. Lalande considera-o o maior sábio vivo. D'Alémbert e Laplace ficarão apavorados com as suas idéias avançadas. Em 1785 retira-se para Bassano e consagra-se à impressão das suas obras completas. Morre em Milão em 1787.
É muito recentemente, sob o impulso do governo iugoslavo, que acaba de ser reexaminada a obra de Boscovitch e principalmente a sua Teoria da Filosofia Natural', editada em Viena em 1758. A surpresa foi considerável. Allan Lindsay Mackay, ao descrever essa obra num artigo do New Scientist de 6 de Março de 1958, acha que se trata de um espírito do século XX forçado a viver e trabalhar no século XVIII.
Verifica-se que Boscovitch estava em avanço, não apenas quanto à ciência do seu tempo, mas quanto à nossa própria ciência. Ele propõe uma teoria unitária do universo, uma equação geral e única, que comandaria a mecânica, a física, a química, a biologia e mesmo a psicologia. Nessa teoria, a matéria, o espaço e o tempo não são divisíveis até ao infinito, mas compostos por pontos: por grãos. Isto faz lembrar os recentes trabalhos de Jean Charon e de Heisenberg, que Boscovitch parece ultrapassar. Ele consegue dar conta tanto da luz como do magnetismo, da eletricidade e de todos os fenômenos da química conhecidos no seu tempo, descobertos depois ou a descobrir. Encontram-se nos seus trabalhos os quanta, a mecânica ondulatória, o átomo constituído por núcleos. O historiador das ciências L. L. Whyte afirma que Boscovitch ultrapassou pelo menos em duzentos anos a sua época, e que ele só poderá realmente ser compreendido quando a junção entre a relatividade e a física dos quanta for enfim elaborada. Pensa-se que em 1987, quando do 200.o aniversário da sua morte talvez a sua obra esteja avaliada com a justiça que lhe é devida. Ainda não foi proposta qualquer explicação para este caso prodigioso. Duas edições completas da sua obra, uma em sérvio, outra em inglês, estão atualmente em preparação. Na correspondência já publicada (coleção Bestermann) entre Boscovitch e Voltaire pode ler-se, entre outras idéias modernas:
- A criação de um ano geofísico internacional.
-A transmissão da malária por intermédio dos mosquitos.
As possíveis aplicações do cauchu (idéia posta em prática por La Condamine, jesuíta amigo de Boscovitch).
A existência de planetas em volta de outras estrelas além do nosso Sol.
A impossibilidade de localizar o psiquismo numa dada região do corpo.
A conservação do grão de quantidade de movimento no Mundo: é a constante de Planck, .enunciada em 1900. Boscovitch atribui uma importância considerável à alquimia e dá traduções claras, científicas, da linguagem alquímica. Para ele, por exemplo, os quatro elementos, Terra, água, Fogo e Ar, apenas se distinguem por coordenações especiais das partículas sem massa nem peso que os constituem, o que concorda com a investigação de vanguarda sobre a equação universal. O que é igualmente alucinante em Boscovitch é o estudo dos acidentes da natureza. Já ali se encontra a mecânica estatística do sábio americano Willard Gibbs, proposta no final do século XIX e admitida apenas no século XX. Ali se encontra também uma explicação moderna da radioatividade (perfeitamente desconhecida no século XVIII) por uma série de exceções às leis naturais: aquilo a que nós chamamos as penetrações estatísticas das barreiras do potencial.
Por que motivo esta obra extraordinária não influenciou o pensamento moderno? Porque os filósofos e sábios alemães, que dominaram a investigação até à guerra de 1914-1918, eram partidários das estruturas contínuas, enquanto as concepções de Boscovitch se baseiam essencialmente na idéia de descontinuidade. Porque as investigações em bibliotecas e os trabalhos históricos a respeito de Boscovitch, grande viajante de obra dispersa, e cujas origens se situam num país constantemente agitado, não puderam ser elaboradas sistematicamente senão demasiado tarde. Quando a totalidade dos seus escritos pudera ser reunida, quando os testemunhos de contemporâneos tiverem sido encontrados e classificados, que estranha, inquietante, assombrosa figura nos surgirá!
PARADOXOS E HIPÓTESES SOBRE O HOMEM DESPERTO
Por que motivo as nossas três histórias desiludiram alguns leitores. - Não sabemos nada de sério sobre a levitação, a imortalidade, etc. - No entanto o homem tem o dom da ubiqüidade, ele vê à distância, etc. - A que chamais uma máquina? Como poderia ter nascido o primeiro homem desperto. -Sonho fabuloso mas racional sobre as civilizações desaparecidas. - Apólogo da pantera.
- A escrita de Deus.
Estes casos são claros. No entanto podem desiludir. É que a maior parte dos homens preferem as imagens aos fatos. Caminhar sobre as águas é a imagem que significa dominar o movimento; parar o Sol é triunfar do tempo. Dominar o que se move, triunfar do tempo, talvez sejam fatos reais, possíveis, no seio de uma consciência modificada, no interior de um espírito potentemente acelerado.
E esses fatos podem sem dúvida provocar mil conseqüências consideráveis na realidade tangível: nas técnicas, nas ciências, nas artes. Mas a maior parte dos homens, desde que se lhes fale num estado de consciência outro, querem ver pessoas que caminham sobre as águas, que fazem parar o Sol, que passam através das paredes ou aparentam ter vinte anos aos oitenta. Para começar a acreditar na infinita possibilidade do espírito desperto, esperam que a parte infantil da sua inteligência, que dá crédito a imagens e a lendas, tenha encontrado desculpa e satisfação.
Há mais. Em presença de casos como o de Ramanujão, Cayce ou Boscovitch, recusam-se a acreditar que se trate de espíritos diferentes. Apenas se admite que espíritos como os nossos tiveram o privilégio de subir mais alto que habitualmente e que, lá em cima, obtiveram certos conhecimentos. Como se existisse em qualquer parte no Universo uma espécie de armazém anexo da medicina, das matemáticas, da poesia física no qual se encerrassem algumas inteligências campeãs de altitude. Esta absurda visão tranqüiliza.
Imagem: Hardy-Ramanujan taxicab numbers

storyofmathematics.com

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