Passei uma parte da noite a transcrever a visão do meu sonho. A teoria da estrutura estava descoberta.
Louis Pauwels e Jacques Bergier. DIFEL
Depois de ler nos jornais a descrição dos bombardeamentos de Londres, um engenheiro da companhia americana de telefones Bell teve, numa noite do Outono de 1940, um sonho no qual se viu desenhando o plano de um aparelho que permitia apontar um canhão antiaéreo sobre o local exato por onde passará um avião de que conhece a trajetória e a velocidade. Ao acordar, ele traçou o esquema, de memória. O estudo desse aparelho, que utilizaria pela primeira vez o radar, foi feito pelo grande sábio Norbert Wiener e as reflexões de Wiener a tal respeito viriam a originar o nascimento da cibernética.
Não se pode decididamente menosprezar, dizia Lovecraft, a importância titanesca que podem ter os sonhos. Também não se deverá, daqui em diante, considerar desprezíveis os fenômenos de premonição, quer em estado de sonho, quer em estado de vigília. Indo muito além dos conhecimentos adquiridos pela psicologia oficial, a comissão de energia atômica americana propunha em 1958 a utilização de clarividentes para tentar adivinhar os locais de queda dos bombardeamentos russos em caso de guerra.
O misterioso passageiro embarcou a bordo do submarino atômico Nautilus a 25 de Julho de 1959. O submarino afastou-se imediatamente e, durante quinze dias, percorreu debaixo de água as profundezas do oceano Atlântico. O passageiro sem nome fechara-se na sua cabina. Apenas o marinheiro que lhe levava a comida e o capitão Anderson, que lhe fazia uma visita quotidiana, lhe tinham visto o rosto. Ele entregava, duas vezes por dia, uma folha de papel ao capitão Anderson. Sobre essa folha de papel achavam-se as combinações de cinco signos misteriosos: uma cruz, uma estrela, um círculo, um quadrado e três linhas onduladas. O capitão Anderson e o passageiro desconhecido punham a sua assinatura sobre a dita folha, e o capitão Anderson fechava-a num envelope depois de pôr dois carimbos no interior. Um levava a hora e a data. O segundo as palavras ultra-secreto, para destruir em caso de risco de captura do submarino. Na segunda-feira, 10 de Agosto de 1959, o submarino acostava em Croyton. O passageiro subiu para um automóvel oficial que, sob escolta, o depositou no aeródromo militar mais próximo.
Algumas horas mais tarde, o avião aterrava no pequeno aeródromo da cidade de Friendship, no Maryland. Um automóvel aguardava o viajante. Conduziu-o a um edifício que tinha a seguinte inscrição: Centro de Pesquisas Especiais Westinghouse. Entrada proibida a qualquer pessoa não autorizada. O automóvel parou diante do posto de guarda, e o viajante pediu para falar com o coronel William Bowers, diretor das ciências biológicas da Repartição de Investigações das Forças Aéreas dos Estados Unidos.
O coronel Bowers esperava-o no seu gabinete:
- Sente-se tenente Jones - disse-lhe. - Tem o envelope? Sem uma palavra, Jones entregou o envelope ao coronel, que se dirigiu a um cofre-forte, abriu-o, e de lá retirou um envelope idêntico, apenas com a diferença de que o carimbo que ostentava não tinha escrito Submarino Nautilus mas Centro de Investigações X, Friendship, Maryland.
O coronel Bowers abriu os dois envelopes para deles retirar maços de envelopes mais pequenos, que por sua vez abriu e, silenciosamente os dois homens puseram de lado as folhas cujas datas eram semelhantes. Depois, compararam-nas. Com uma precisão de mais de 70 por cento, os signos eram os mesmos, e colocados na mesma ordem sobre ambas as folhas que tinham a mesma data.
Estamos numa curva da História - disse o coronel William Bowers. - Pela primeira vez no Mundo, em condições que não permitiam qualquer batota, com uma precisão suficiente para aplicação política, o pensamento humano foi transmitido através do espaço, sem intermediário, de um cérebro para outro cérebro! Quando for possível saber os nomes dos dois homens que participaram nessa experiência, serão sem dúvida retidos para a história das ciências. De momento trata-se do tenente Jones, que é oficial da marinha, e do cidadão Smith, um estudante da Universidade de Duke em Durham (Carolina do Norte, Estados Unidos).
Duas vezes por dia, durante os dezesseis dias que durou a experiência, fechado numa dependência de onde nunca saiu, o cidadão Smith colocava-se diante de um aparelho automático que baralhava cartas. No interior desse aparelho, num tambor, um milhar de cartas eram agitadas. Tratava-se não de vulgares cartas de jogar, mas de cartas simplificadas, chamadas cartas de Zener. Essas cartas, há muito tempo empregadas para as experiências de parapsicologia, são todas da mesma cor. Têm um dos cinco símbolos seguintes: três linhas onduladas, círculo, cruz quadrado, estrela. Duas vezes por dia, sob a ação de um movimento de relojoaria, o aparelho expelia uma carta, ao acaso, com um minuto de intervalo. O cidadão Smith olhava fixamente essa carta tentando pensar nela com intensidade.
À mesma hora, a 2000 quilômetros de distância, a centenas de metros de profundidade sob o oceano, o tenente Jones tentava adivinhar qual era a carta que o cidadão Smith olhava. Anotava o resultado, e pedia ao comandante Anderson para subscrever a folha de experiência. Sete vezes sobre dez o tenente Jones acertou. Nenhuma batota era possível. Mesmo se supusermos as cumplicidades mais extraordinárias, não podia haver qualquer ligação entre o submarino mergulhado e o laboratório onde se encontrava o cidadão Smit As próprias ondas de T.S.F. não podem penetrar várias centenas de metros de água do mar. Pela primeira vez na História da ciência obtivera¬se a prova indiscutível da possibilidade, entre dois cérebros humanos, de comunicar à distância. O estudo da parapsicologia entrava finalmente numa fase científica.
Foi sob a pressão das necessidades militares que foi feita esta grande descoberta. Desde o princípio de 1957, a famosa organização Rand, que se ocupa das mais secretas investigações do governo americano, apresentava um relatório a esse respeito ao presidente Eisenhower. Os nossos submarinos, lia-se ali, são agora inúteis, pois é impossível comunicar com eles quando estão mergulhados, e sobretudo quando estiverem sob a crosta polar. Todos os processos modernos devem ser empregados. Durante um ano, o relatório Rand não produziu qualquer efeito. Os conselheiros científicos do presidente Eisenhower achavam que a idéia fazia lembrar demasiadamente as mesas giratórias. Enquanto o bip-bip do Spoutnik ressoava como um sino sobre o fundo, os maiores sábios americanos decidiram que era tempo de atacar em todas as direções, incluindo aquelas que os russos desdenhavam. A ciência americana fez apelo à opinião pública. A 13 de Julho de 1958, o suplemento de domingo do New York Herald Tribune publicava um artigo do maior especialista militar da imprensa americana, Ansel E. Talbert.
Este escrevia: É indispensável para as forças armadas dos Estados Unidos saber se a energia emitida por um cérebro humano pode influenciar, a milhares de quilômetros, outro cérebro humano. . . Trata-se de uma investigação absolutamente científica e os fenômenos constatados são, como tudo o que é produzido pelo organismo vivo, alimentados em energia pela combustão dos alimentos no organismo. . .
A amplificação deste fenômeno poderá fornecer um novo meio de comunicação entre os submarinos e a terra firme, talvez mesmo, um dia, entre navios viajando no espaço interplanetário e a Terra.
Depois deste artigo e de numerosos relatórios de sábios confirmando o relatório Rand, foram tomadas resoluções. Existem atualmente laboratórios de estudos sobre a nova ciência de parapsicologia na Rand Corporations, em Cleveland, na Westinghouse, em Friendship, no Maryland, na General Electric, em Schenectady, na Bell Telephone, em Boston, e até no centro de investigações do exército, em Redstone, Alabama. Neste último centro, o laboratório que estuda a transmissão de pensamento encontra-se a menos de quinhentos metros do escritório de Werner Von Braun, homem do espaço.
Assim, a conquista dos planetas e a conquista do espírito humano já estão prontas a dar-se as mãos. Em menos de um ano, estes potentes laboratórios obtiveram mais resultados do que séculos de pesquisas no domínio da telepatia.
A razão é muito simples: as investigações foram iniciadas a partir de zero, sem idéia preconcebida. Foram enviadas comissões para o Mundo inteiro: em Inglaterra, onde os inquiridores tomaram contacto com autênticos sábios que verificaram os fenômenos de transmissão de pensamento, o doutor Soal, da Universidade de Cambridge, pôde apresentar aos investigadores a demonstração de comunicações, a várias centenas de quilômetros de distância, entre dois jovens mineiros do país de Gales. Na Alemanha, a comissão de inquérito encontrou sábios igualmente indiscutíveis, como Hans Bender e Pascual Jordan que tinham observado não apenas fenômenos de transmissão de pensamento, mas que também não receavam escrevê-lo. Na própria América, as provas multiplicavam-se. Um sábio chinês, o doutor Ching Ju Wang, com o auxílio de alguns confrades igualmente chineses, pôde dar, aos peritos da Rand Corporation, provas aparentemente decisivas da transmissão de pensamento.
Como se procede na prática para obter resultados tão espantosos como a experiência do tenente Jones e do cidadão Smith: Para isso é necessário arranjar um par de experimentadores, quer dizer, duas pessoas das quais uma faz de emissor e a outra de receptor. Só com o emprego de duas pessoas cujos cérebros estão de certa maneira sincronizados (os especialistas americanos empregam o termo ressonância, extraído da T.S.F., mas com plena consciência do que esse termo tem de vago) é que se obtém resultados realmente sensacionais.
O que portanto se constata nos trabalhos modernos é uma comunicação num único sentido. Se se inverter, se se fizer transmitir pelo sujeito que recebia, e reciprocamente, já nada mais se obtém. Para manter comunicações eficientes nos dois sentidos será então necessário dois pares de emissores-receptores, ou por outras palavras:
um sujeito emissor e um sujeito receptor a bordo do submarino;
um sujeito emissor e um sujeito receptor num laboratório em terra.
Como são escolhidas essas pessoas?
Por enquanto é um mistério. Tudo o que se sabe é que a escolha é feita examinando os eletroencefalogramas, quer dizer, os registros elétricos da atividade cerebral dos voluntários que se apresentam. Esta atividade cerebral, muito conhecida da ciência, não é acompanhada de qualquer emissão de ondas. Mas ele revela as emissões de energia no cérebro, e Grey Walter, o cérebro cibernético inglês, foi o primeiro a dizer que o eletroencefalograma pode servir para revelar as atividades cerebrais anormais.
Outro esclarecimento sobre o assunto foi dado por uma psicóloga americana, Gertrude Schmeidler. A doutora Schmeidler demonstrou que os voluntários que se apresentam para servir de sujeitos nas experiências de parapsicologia podem ser divididos em duas categorias, a que ela chama os carneiros e as cabras. Os carneiros são aqueles que crêem na percepção extra-sensorial. As cabras aqueles que não crêem. Na comunicação à distância é necessário, segundo parece, associar um carneiro com uma cabra.
O que torna este gênero de trabalho extremamente difícil é que, no momento em que se estabelece a comunicação à distância por meio do pensamento, o emissor, assim como o receptor, não tem qualquer sensação. A comunicação faz-se a um nível inconsciente, e nada transparece na consciência. O emissor não sabe se a sua mensagem atinge o objetivo. O receptor não sabe se recebe signos provenientes de um outro cérebro ou se estará a inventar.
É por esse motivo que, em vez de tentar transmitir imagens complicadas ou discutíveis, se contentam com a transmissão dos cinco símbolos muito simples das tabelas de Zener. Quando esta transmissão estiver pronta a funcionar poderemos facilmente servir-nos dessas cartas como de um código, à semelhança do alfabeto Morse, e transmitir mensagens inteligíveis. De momento trata-se de aperfeiçoar a forma de comunicação, de a tornar mais segura. Trabalha-se nesse sentido em numerosas direções e procura-se particularmente medicamentos com ação psicológica que facilitem a transmissão de pensamento. Um especialista americano de farmacologia, o doutor Humphrey Osmond, já obteve alguns primeiros resultados nesse domínio, e tornou-os públicos num relatório feito em Março de 1947 na Academia das Ciências de Nova Iorque.
No entanto, nem o tenente Jones nem o cidadão Smith utilizaram drogas. Pois o objetivo daquelas experiências das forças armadas americanas é explorar a fundo as possibilidades do cérebro humano normal. Fora o café, que parece melhorar a transmissão, e a aspirina, que, pelo contrário, a inibe, a paralisa nenhuma droga é autorizada nas experiências do projeto Rand. Sem dúvida nenhuma dessas experiências iniciam uma nova era na história da humanidade e da ciência.
No domínio das curas paranormais, quer dizer, obtidas com um tratamento psicológico, quer se trate do curandeiro possuidor do fluído, quer do psicanalista (feitas todas as distinções entre os métodos), os parapsicólogos chegaram a conclusões do maior interesse. Eles trouxeram-nos uma nova concepção: a do par médico-doente.
O resultado do tratamento seria determinado pela ligação telepática que existiria ou não entre o que trata e o paciente. Se essa ligação se estabelece - e ela assemelha-se a uma ligação amorosa - produz aquela superlucidez e aquela hiper-receptividade que se observa nos pares apaixonados; a cura é possível. De contrário, tanto a pessoa que cura como o doente perdem o seu tempo. A noção do fluído acha-se ultrapassada em benefício da noção do casal. Supõe-se que virá a ser possível desenhar o perfil psicológico profundo do que trata e do paciente. Certos testes permitiriam determinar que espécie de inteligência e de sensibilidade possuem o que trata e o paciente e a natureza das relações inconscientes que se podem estabelecer entre eles. O que trata, comparando o seu perfil ao do paciente, poderia saber desde o início se lhe é ou não possível agir.
Em Nova Iorque, um psicanalista quebra a chave do classificador onde guarda as fichas de observação. Precipita-se para a loja de um serralheiro e consegue que este lhe faça imediatamente uma chave. Não fala seja a quem for do incidente.
Alguns dias depois, durante uma sessão de sonho desperto, aparece uma chave no sonho do seu paciente, que a descreve. Está partida, e tem o número da chave do classificador: verdadeiro fenômeno de osmose. O doutor Lindner, célebre psicanalista americano, tratou, em 1953, um reputado sábio atomista. Este desinteressava-se do trabalho, da família, de tudo. Refugiava-se, confessou ele a Lindner, noutro universo. Cada vez com mais frequência, o seu pensamento deambulava por outro planeta onde
a ciência estava mais avançada e do qual ele era um dos chefes. Tinha uma visão nítida desse mundo, das suas leis, dos seus costumes, da sua cultura. Fato extraordinário: Lindner sentiu-se pouco a pouco contagiado pela loucura do seu doente, reuniu este em pensamento ao seu universo, e perdeu em parte a razão. Foi então que o doente principiou a desligar-se da sua visão e entrou no caminho da cura. Lindner viria a curar-se, por sua vez, algumas semanas mais tarde. Acabava de reencontrar no plano experimental a imemorial injunção feita ao taumaturgo de tomar para si o mal de outrem, de resgatar o pecado de outrem.
A parapsicologia não tem qualquer espécie de relação com o ocultismo e as falsas ciências: bem ao contrário, tende para uma desmistificação desse domínio. No entanto, os sábios, vulgarizadores e filósofos que a condenam vêem nela um encorajamento ao charlatanismo. É falso, mas é verdade que a nossa época é, mais que qualquer outra, favorável ao desenvolvimento dessas falsas ciências que têm o uso e a aparência de tudo, mas que não têm a propriedade nem a realidade de coisa alguma. Estamos persuadidos de que existem no homem terrenos desconhecidos.
A parapsicologia propõe um método de exploração. Nas páginas seguintes vamos por nossa vez propor um método. Essa exploração mal principiou: segundo pensamos, será uma das tarefas da civilização futura. Forças naturais ainda ignoradas serão sem dúvida reveladas, estudadas e dominadas, a fim de que o homem possa cumprir o seu destino num mundo em plena transformação.
É esta a nossa certeza. Mas a nossa certeza é também de que o atual desenvolvimento do ocultismo e das falsas ciências num imenso público é de natureza doentia. Não são os espelhos partidos que trazem desgraça, mas os cérebros desaparafusados. Existem nos Estados Unidos, desde a última guerra, mais de trinta mil astrólogos e 20 revistas unicamente consagradas à astrologia, das quais uma publica quinhentos mil exemplares. Mais de 2000 jornais têm a sua secção de astrologia. Em 1943, cinco milhões de americanos agiam segundo a orientação dos adivinhos e despendiam 200 milhões de dólares por ano para conhecer o seu futuro. Só a França possui 40000 curandeiros e mais de 50000 gabinetes de consulta secretas. Segundo avaliações verificadas, os honorários dos adivinhos, pitonisas, videntes, vedores de água, radiestesistas, curandeiros, etc., atingem 50 bilhões de francos em Paris. O orçamento global da magia era, para a França, de cerca de 300 bilhões por ano: muito mais do que o orçamento da investigação científica.
Imagem: homenagem a Paul Rand. hotsite com biografia e obras do designer ...
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