quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Cleópatra pode não ter sido a única rainha do Egito


Após a análise de detalhes e símbolos de uma coroa egípcia original, um novo estudo concluiu que a Cleópatra pode não ter sido a única rainha (“faraó do sexo feminino”) do antigo Egito.

O estudo da coroa e a reinterpretação de relevos egípcios levou pesquisadores suecos a questionar a linha de dominação masculina tradicional da realeza do Egito.

A coroa estudada foi usada pela Rainha Arsínoe II (316-270 a.C.), uma mulher que concorreu e ganhou eventos olímpicos. Ela teria sido a primeira rainha do Egito, cerca de 200 anos antes de Cleópatra. Arsínoe II pertencia à família de Ptolomeu, dinastia que governou o Egito por cerca de 300 anos, até a conquista romana de 30 a.C.

Enquanto muitos pesquisadores concordam com o destaque de Arsínoe – ela foi deificada durante a sua vida e honrada por 200 anos após sua morte -, o novo estudo sugere que ela era de fato uma faraó egípcia, com um papel semelhante ao das mais famosas Hatshepsut e Cleópatra VII.

Uma das grandes mulheres do mundo antigo, Arsínoe era filha de Ptolomeu I (366-283 a.C.), um general macedônio abaixo de Alexandre, o Grande, que mais tarde se tornou governante do Egito e fundador da dinastia de Ptolomeu, a qual Cleópatra pertencia.

Com uma vida marcada por assassinatos dinásticos, intrigas, sexo e ganância, Arsínoe pode ter sido a mais notável das predecessoras de Cleópatra. Segundo os pesquisadores, ela não era uma mulher comum. Além de lutar nas batalhas, participou das Olimpíadas, onde ganhou três eventos.

Arsínoe se casou com 16 anos, com Lisímaco da Trácia, um general de Ptolomeu I que tinha 60 anos. Ela conquistou grande riqueza e honrarias durante sua estadia na Grécia. Quando, 18 anos depois, Lisímaco morreu, ela se casou com seu meio-irmão, Ptolomeu Keraunus. O casamento terminou abruptamente depois que Keraunus matou dois dos três filhos de Arsínoe.

Arsínoe, em seguida, retornou ao Egito e se casou com seu irmão oito anos mais novo, o Rei Ptolomeu II. Uma coroa, que nunca foi encontrada, mas está representada em estátuas e relevos esculpidos em pedra, foi criada especialmente para ela.

Os pesquisadores analisaram 158 cenas em relevo datadas desde a vida Arsínoe até o Imperador Trajano, abrangendo cerca de 400 anos. Eles estudaram cada detalhe da coroa, incluindo títulos em hieróglifos e outras cenas.

Os pesquisadores descobriram que a coroa difere da habitual coroa real egípcia, como a khepresh (ou coroa azul), a coroa branca, a coroa vermelha, a coroa dupla, a pluma dupla e a coroa de penas de avestruz.

Em vez disso, a coroa de Arsíone era composta por quatro elementos principais: a coroa vermelha, simbolizando comando do Baixo Egito, os chifres de carneiro, ligados principalmente com o deus carneiro do Egito, Amon, o disco solar entre chifres de vaca, simbolizando a deusa Hathor e a harmonia entre masculino e feminino, e a pluma dupla, outro símbolo importante de Amon.

Segundo a interpretação dos pesquisadores, esses símbolos indicam que a coroa de Arsínoe foi criada para a rainha enquanto ela ainda vivia; era uma rainha que deveria ser uma sacerdotisa, uma deusa e a governante do Baixo Egito, ao mesmo tempo. Arsíone usou a coroa durante sua própria vida, em vista do público, com os símbolos compreensíveis para todos.

Os pesquisadores acreditam que Arsíone foi proclamada rainha (faraó) durante sua vida. Ela co-governou o Egito, como rainha do Baixo Egito, ao lado de seu irmão-marido Ptolomeu II, rei do Alto Egito.

Arsíone foi considerada uma deusa, do mesmo nível que as antigas deusas Ísis e Hathor. Ela foi homenageada por 200 anos após a sua morte, que ocorreu aos 45 anos. Um santuário especial, o Arsinoëion, foi construído em sua honra em Alexandria, e um festival, o Arsinoëia, foi criado especialmente para ela.

Encontrada em pelo menos 27 variações, a coroa simbólica de Arsínoe foi mais tarde usada pelas rainhas ptolomaicas Cleópatra III e Cleópatra VII, e usada também como modelo por vários descendentes masculinos de Ptolomeu.

Segundo os pesquisadores, o estudo abre um novo campo de pesquisa e mostra que outras rainhas da linha de Ptolomeu, especialmente as Cleópatras, tenderam a imitar Arsínoe II em seus elementos iconográficos. [MSN]

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