Fotografia do
cadáver, tirada pela polícia australiana em dezembro de 1948.
Caso Taman Shud,
também conhecido como o "Mistério do Homem de Somerton", é um
inquérito criminal não solucionado acerca de um homem não identificado
encontrado morto às 06:30 da manhã de 1 de dezembro de 1948 na praia de Somerton em Adelaide, Austrália.1
Origem:
Wikipédia, a enciclopédia livre.
Fotografia do
cadáver, tirada pela polícia australiana em dezembro de 1948.
Caso Taman Shud,
também conhecido como o "Mistério do Homem de Somerton", é um
inquérito criminal não solucionado acerca de um homem não identificado
encontrado morto às 06:30 da manhã de 1 de dezembro de 1948 na praia de Somerton em Adelaide, Austrália.1
Considerado um
dos "mistérios mais profundos da Austrália", o caso foi tema de
intensas especulações a respeito da identidade da vítima, os eventos que
levaram à sua morte e o que a teria matado.2
Apesar das
investigações terem sido centradas na Austrália, os mistérios
envolvendo o caso acabaram atraindo atenção internacional para o crime.3
Vítima
Marcado com um
"X", o local onde o corpo foi encontrado na Praia de Somerton.
De acordo com o patologista
Sir John Burton Cleland, o homem, de aparência
"britânica",
teria entre quarenta e quarenta e cinco anos de idade, estando em perfeitas
condições físicas. Media 1,80 m de altura, com olhos castanho-claros, cabelo claro de coloração ruiva e ligeiramente
grisalho em torno das têmporas, ombros largos, cintura estreita, mãos e unhas sem sinais de
trabalho manual, primeiro e quinto dedos dos pés em formato triangular — como os de um dançarino
ou fazendeiro
(pelo uso de botas
de montaria)
e músculos
da panturrilha
definidos como os de um bailarino, um traço predominantemente genético
mas desenvolvido também por maratonistas.4
5
Ele estava
vestido com uma camisa
branca, gravata
vermelha e azul, calça
marrom, meias, sapatos e, embora o
clima estivesse
quente durante o dia e a noite, um suéter tricotado marrom
e um casaco
cinza e marrom estilo europeu. Nenhuma de suas peças de roupa traziam etiquetas
e ele também não usava chapéu, fato incomum em 1948, especialmente para alguém
vestindo um terno.
Barbeado e sem marcas de nascença ou cicatrizes, ele não portava documento de identidade, o que levou a polícia a
acreditar inicialmente que seria um caso de suicídio.
Sua arcada dentária não bateu com nenhum registro
analisado.5
6
Quando os
policiais chegaram ao local do crime, perceberam que o corpo não havia sido
perturbado e que o braço esquerdo do homem estava em posição reta, e o direito
dobrado. Um cigarro
não aceso estava atrás de sua orelha, enquanto outro fumado pela metade estava no colarinho
direito do casaco, alinhado à sua bochecha.7
Uma busca em seus bolsos revelou um bilhete de ônibus de
Adelaide para St. Leonards em Glenelg, um subúrbio
da cidade, e um bilhete de segunda-classe e não utilizado do trem de Adelaide para o
subúrbio de Henley Beach, e mais um pente americano de alumínio,
um pacote pela metade de chicletes Juicy Fruit, um pacote de cigarros Army Club
contendo cigarros Kensitas (uma marca diferente) e uma caixa de fósforos Bryant
& May. A parada do ônibus relacionado ao bilhete usado localizava-se 250
metros ao sul do lugar onde o corpo foi encontrado.8
Testemunhas se
apresentaram para declarar que na noite de 30 de
novembro avistaram um indivíduo de aparência similar parado no mesmo local,
próximo à instituição Crippled Children's Home onde o corpo foi
posteriormente encontrado.8
Um casal que o viu às 07:00 da noite notou o homem esticando todo o braço
direito, deixando-o cair de forma frouxa. Outro casal que o viu entre 07:30 e
08:00 da noite, horário em que os postes de iluminação ainda estavam acesos, afirmou não ter
notado o homem se mexer durante todo o tempo que estivera em seu campo de
visão, embora tivessem a impressão de que sua posição possa ter mudado. Apesar
de comentar entre si que o homem talvez estivesse morto por não reagir aos mosquitos que o
rodeavam, o último casal pensou que ele poderia estar ou bêbado ou dormindo, e
sendo assim decidiram não tomar qualquer atitude a seu respeito.9
Quando o corpo
foi descoberto na manhã seguinte, permanecia na mesma posição observada pelas
testemunhas na noite anterior.
Autópsia
Uma autópsia foi
realizada, concluindo que a hora da morte foi por volta das 02:00 da manhã de 1
de dezembro. Entre as observações do laudo final estavam:
|
O coração
estava em seu tamanho normal, e normal em todos os demais aspectos (...)
pequenos vasos incomuns de serem encontrados no cérebro eram facilmente
discerníveis com congestão. A faringe estava congestionada, e o esôfago
coberto por branqueamento das camadas superficiais da mucosa, com uma trilha
medial de ulceração. O estômago estava profundamente congestionado (...)
havia congestão também na 2ª metade do duodeno. Havia sangue misturado ao
alimento no estômago. Ambos os rins estavam congestionados, e o fígado
continha grande excesso de sangue em seus vasos (...) o baço apresentava
inchaço expressivo (...) de aproximadamente 3 vezes seu tamanho normal (...)
exame microscópico revelou a destruição de lóbulos do fígado (...) hemorragia
gástrica aguda, congestão extensiva do fígado e baço, e congestão do cérebro.
4
|
|
Apesar da
revelação de que a última refeição do homem teria sido um pastel assado consumido três ou quatro horas
antes da morte, testes e exames não conseguiram revelar qualquer substância
estranha em seu organismo.7
O patologista Dr. Dwyer concluiu: "Estou convencido de que a morte não
foi natural (...) suponho que o veneno utilizado pode ter sido um
barbitúrico ou um hipnótico solúvel". Embora o envenenamento
tenha permanecido como principal suspeita, chegou-se à conclusão de que o
pastel não foi a fonte do veneno. Para além disso, o legista não pôde chegar a
uma conclusão acerca da identidade do homem, a causa de sua morte ou se a
pessoa vista na Praia de Somerton na noite de 30 de novembro era o mesmo homem,
pois não surgiram testemunhas que tenham visto seu rosto enquanto ele ainda
estava vivo.6
A Scotland
Yard foi chamada para ajudar no caso, alcançando resultados mínimos, e
apesar de uma fotografia do homem e sua impressão digital circularem ao redor do mundo,
nunca se chegou a uma identificação positiva.9
10
Devido à
não-identificação, o cadáver foi embalsamado
em 10 de dezembro de 1948, o primeiro registro da realização de tal
procedimento na história da polícia australiana.11
Reação da mídia
Os dois jornais diários de
Adelaide, The Advertiser e The News, cobriram o caso de maneira
distinta. O Advertiser, um standard
matutino, mencionou a morte pela primeira vez em um pequeno artigo na página
três de sua edição de 2 de dezembro de 1948. Intitulado "Corpo encontrado
na Praia", o texto trazia:
|
Um corpo, que
acredita-se ser de E.C. Johnson, de aproximadamente 45 anos, da Rua Arthur,
Payneham, foi encontrado na Praia de Somerton, defronte ao Crippled
Children's Home na manhã de ontem. A descoberta foi feita pelo sr. J. Lyons,
da Estrada Whyte, Somerton. Os detetives H. Strangway e Constable J. Moss
estão investigando.12
|
|
O News,
um tabloide
vespertino, apresentou a história em sua primeira página, divulgando mais
detalhes sobre o cadáver.5
Identificação do
corpo
Em 3 de
dezembro, E.C. Johnson foi descartado como suspeito, pois se apresentou a uma
delegacia de polícia para se identificar.8
13
No mesmo dia, o News publicou em sua primeira página uma fotografia
do morto, o que levou a mais denúncias sobre a possível identidade do homem. No
dia seguinte, a polícia anunciou que as digitais do morto não constavam em seus
registros, o que os forçou a expandir as investigações.14
No dia 5 de dezembro, o Advertiser divulgou que a polícia estaria
pesquisando registros militares em busca de um homem que supostamente teria
bebido com outro de aparência similar ao morto em um hotel em Glenelg no dia 30
de novembro. Durante seu encontro, o homem misterioso teria apresentado um
cartão de aposentadoria militar que trazia o nome "Solomonson".15
Algumas
tentativas de identificar o corpo foram realizadas, incluindo uma no começo de
janeiro de 1949 quando duas pessoas o identificaram como sendo o ex-lenhador Robert
Walsh, de 63 anos.16 A
polícia respondeu com ceticismo, acreditando que Walsh seria velho demais para
ser o morto, afirmando no entanto que o corpo seria consistente com o de um
antigo lenhador, embora o estado de suas mãos indicassem que ele não cortava madeira há pelo
menos dezoito meses.17
Quaisquer possibilidades de que uma identificação positiva havia sido realizada
foram descartadas no entanto quando Elizabeth Thompson, uma das senhoras que
havia apontado o corpo como sendo de Robert Walsh, retirou seu testemunho após
ver o cadáver uma segunda vez, constatando que a ausência de uma cicatriz em
particular, assim como o tamanho das pernas do morto,
tornava improvável que aquele fosse mesmo Walsh.18
No princípio de
fevereiro de 1949,
havia pelo menos oito diferentes identificações "positivas" do morto,
incluindo dois homens de Darwin que acreditavam que o corpo era de um
amigo deles, um ajudante de estábulo desaparecido, um funcionário de um navio a
vapor e um sueco.19 20 21
A mala marrom
Os detetives Dave
Bartlett, Lionel Leane e Len Brown (da esquerda para a direita) apresentam a
mala e seu conteúdo, janeiro de 1949.
O caso sofreu
uma reviravolta quando, em 14 de janeiro de 1949, funcionários da
Estação Ferroviária de Adelaide descobriram uma mala marrom com a
etiqueta removida, que havia sido colocada no guarda-volumes da estação por
volta das 11:00 da manhã de 30 de novembro de 1948. Em seu interior estavam um roupão vermelho
listrado, um par de chinelos de feltro vermelho tamanho sete, quatro pares de cuecas, pijamas, utensílios
de barbear, um par de calças marrom claro com areia nas barras, uma
chave
de fenda de eletricista, um pincel de estêncil, uma faca de mesa que fora reduzida a um instrumento de corte curto e
afiado, e um par de tesouras como as usadas em navios
mercantes para demarcar as mercadorias embarcadas.22
Também na mala
estava a embalagem de uma linha de costura laranja, um "tipo incomum"
similar ao utilizado para remendar um dos bolsos da calça que o
morto usava.22
Todas as marcas de identificação nas peças de roupa haviam sido removidas, mas
a polícia encontrou o nome "T. Keane" em uma gravata,
"Keane" em um saco de lavanderia e "Kean" (sem o último
"e") em uma camiseta, juntamente com três marcas de lavagem a seco:
1171/7, 4393/7 e 3053/7.23 24
Os investigadores chegaram à conclusão de que a pessoa que removeu as etiquetas
deixara propositalmente o nome Keane nas roupas, sabendo que ele não poderia
levar à identificação de seu proprietário.22
Neste primeiro
momento, contudo, as roupas foram rastreadas até um marinheiro
local, Tom Keane. Como ele não foi localizado, alguns de seus colegas de navio foram até o necrotério
ver o cadáver, negando categoricamente que aquele era Keane ou que as roupas na
mala pertenceriam a ele.6
7
Uma busca concluiu que não havia outro T. Keane desaparecido em quaisquer
outros países falantes de inglês,
e a divulgação nacional das marcas de lavagem a seco também provou-se
infrutífera.25
De fato, a único item da mala que pôde ser aproveitado foi um casaco que
apresentava uma nesga frontal e um desenho bordado.
Determinou-se que ambos poderiam ter sido feitos apenas nos Estados
Unidos, que era o único país com o maquinário necessário para tais tipos de
costura. Embora os casacos fossem produzidos em massa, a confecção da nesga só
era feita após o proprietário do vestuário experimentá-lo. A roupa também não
havia sido importada, indicando que o homem ou visitara os EUA ou a
comprara de alguém que visitara e cujo corpo era de tamanho similar ao dele.4
Os policiais
verificaram os registros ferroviários e chegaram à conclusão de que o homem
desembarcou de um trem noturno que teria partido de Melbourne, Sydney ou Port Augusta.9
26
Eles acreditavam que o homem teria se barbeado e tomado banho no prédio vizinho
do chuveiro público municipal antes de retornar à estação
para comprar um bilhete para o trem de 10:50 da manhã para Henley Beach que,
por alguma razão, ele perdeu ou decidiu não pegar.22
Após voltar do chuveiro público, ele deixou sua mala no guarda-volumes,
partindo de ônibus para Glenelg.27
Investigações contemporâneas feitas pelo professor Derek Cabbot indicam que o
homem pode ter comprado o bilhete de trem antes de tomar banho. As instalações
sanitárias da estação estavam fechadas naquele dia, e depois de descobrir isso
e ser obrigado a andar até o chuveiro público o homem pode ter atrasado-se até
30 minutos, o que explica o motivo de ele ter perdido o trem e embarcado no
próximo ônibus disponível.28
Inquérito
Molde em gesso da cabeça e parte
do tronco do Homem de Somerton, feita pela polícia
australiana no começo de 1949 como parte das tentativas de confirmar sua
identidade
Um inquérito
legista conduzido por Thomas Erskine Cleland para definir a causa da morte
começou poucos dias após a descoberta do corpo, sendo mantido em aberto até 17
de junho de 1949.29
O patologista investigador Sir John Burton Cleland re-examinou o cadáver e fez
diversas descobertas. Burton notou que os sapatos do homem estavam
consideravelmente limpos e pareciam ter sido engraxados recentemente, ao
contrário do estado esperado dos sapatos de um homem que aparentemente ficou
vagando por Glenelg o dia inteiro.10
Ele acrescentou que esta evidência se encaixava na teoria de que o corpo pode
ter sido levado para a Praia de Somerton após a morte do homem, levando em
consideração a falta de evidências de vômito e convulsões,
os dois efeitos principais de envenenamento.10
Thomas Cleland
especulou que, como nenhuma das testemunhas pôde identificar positivamente o
homem que viram na noite anterior como sendo a mesma pessoa descoberta na manhã
seguinte, permanecia em aberto a possibilidade do homem ter morrido em outro
lugar e seu corpo ter sido abandonado na praia. Ele enfatizou que essa teoria
não passava de especulação, pois todas as testemunhas acreditavam ser
"definitivamente a mesma pessoa", devido ao fato do corpo ter
permanecido no mesmo local e caído na mesma posição distinta. Ele também
registrou não existirem evidências acerca da identidade do homem.30
Cedric Stanton
Hicks, professor de Fisiologia e Farmacologia
da Universidade de Adelaide, testemunhou que um grupo de drogas, variantes de
uma droga em um grupo definido por ele como "número 1" e em
particular "número 2", eram extremamente tóxicas em doses orais
relativamente pequenas que seriam extremamente difíceis, senão impossíveis, de
serem identificadas, mesmo que se suspeitasse de sua aplicação em primeiro
lugar. Ele deu ao legista um pedaço de papel com os nomes de duas drogas, que
foram incluídas no inquérito como "Prova C.18". Os nomes só foram
divulgados ao público na década
de 1980, pois então já era possível que qualquer indivíduo as encomendasse
a um farmacêutico sem a necessidade de justificar a compra. Hicks notou que o
único "fato" não definido em relação ao corpo foi a evidência de
vômito. Ele então afirmou que esta ausência de sintoma não era desconhecida,
mas que não poderia estabelecer uma "franca conclusão" sem ela. O
professor afirmou ainda que se a morte tivesse ocorrido sete horas depois que o
homem foi visto se mexendo, isso implicaria a ingestão de uma dose maciça que ainda
assim não poderia ser detectada. Ele notou que o movimento de braço do homem,
presenciado pelas testemunhas às 07:00 da noite, pode ter sido a última
convulsão anterior à sua morte.31
No começo do
inquérito, Thomas Cleland declarou: "Eu não me surpreenderia se
confirmasse que ele morreu envenenado, e que o veneno provavelmente foi um
glicosídeo e que não foi administrado acidentalmente; o que eu não posso dizer
é se foi administrado pelo próprio morto, ou por outra pessoa".30
Apesar de suas descobertas, ele não foi capaz de determinar a causa da morte do
Homem de Somerton.32
O fracasso em
desvendar a identidade e o que levou à morte do homem levou as autoridades a
definirem aquele como um "mistério sem paralelos" e acreditarem que a
causa da morte jamais seja determinada.25
Um editorial de época chamou o caso de "um dos mistérios mais profundos da
Austrália", observando que, se o homem morreu por consequência de um
veneno que de tão raro e obscuro não pôde ser identificado por especialistas em
toxologia, então o conhecimento avançado em substâncias tóxicas do autor do
crime apontava certamente para algo muito mais sério do que um mero
envenenamento doméstico.2
Rubaiyat de Omar Khayyam
Anotações do
Homem de Somerton feitas a lápis nas costas do livro de Omar
Khayyām; presume-se que as letras formem uma espécie de código
Na mesma época
do inquérito, um pedaço de papel impresso com as palavras "Taman Shud" foi
encontrado em um compartimento secreto disfarçado no bolso de uma das calças do
homem.33
Oficiais da biblioteca
pública foram convocados para traduzir a nota, identificando-a como uma frase,
de significado "fim" ou "terminado", encontrada na última
página da coleção de poemas
Rubaiyat,
de Omar
Khayyām — a transliteração correta de "Taman Shud" a
partir do persa (idioma original dos poemas) no entanto seria
"Taman Shod", ou "Tamam Shud".33
O papel estava
em branco no verso, e a polícia conduziu uma busca por toda a Austrália para
encontrar uma cópia do livro que apresentasse um verso em branco similar àquele, não
obtendo sucesso. Uma fotografia do pedaço de papel foi enviada então para
departamentos de polícia interestaduais e divulgada ao público, levando uma
pessoa a revelar que havia encontrado uma rara primeira edição de Rubaiyat
traduzida por Edward FitzGerald e publicada na Nova
Zelândia pela Whitcombe and Tombs, no assento traseiro de seu automóvel,
que se encontrava estacionado destrancado em Glenalg na noite de 30 de novembro
de 1948.34
Esta pessoa não sabia da conexão do livro com o caso até ver o artigo no jornal
do dia anterior, e sua identidade e profissão foram mantidos em segredo pela corte, assim
como as razões que levaram a esta supressão.35
O livro não
trazia as palavras "Taman Shud" na última página, cujo verso estava
em branco, e exames de microscopia indicaram que esta página específica havia
sido arrancada.36
O último verso de Rubaiyat,
imediatamente antes de "Taman Shud", é:
And when thyself with shining foot shall pass
Among the Guests Star-scatter'd on the grass
And in your joyous Errand reach the Spot
Esta primeira
edição, publicada pela Whitcombe and Tombs, usa a palavra "shining"
no lugar da palavra "silver" que é encontrada em outras traduções
de FitzGerald e edições posteriores. Isto levou a polícia a teorizar que o
homem havia cometido suicídio ao ingerir o veneno, embora não exista outra
evidência que suporte esta teoria.
Nas costas do
livro, encontravam-se algumas anotações feitas fracamente com um lápis. Após
exame ultravioleta,
foi possível ler cinco linhas de letras maiúsculas, com a segunda delas
riscada. As letras riscadas foram posteriormente consideradas significantes por
sua similaridade com as da quarta linha, indicando provavelmente um erro e,
mais além, uma possível prova de que as letras seriam um código:
MRGOABABD
MTBIMPANETP
MLIABOAIAQC
ITTMTSAMSTGAB 26
Um número de telefone que
não constava no catálogo também foi encontrado nas costas do livro.36
O número pertencia a uma ex-enfermeira que morava na Rua Moseley em Glenelg, situada a
800 metros do local onde o corpo foi encontrado.38 A
mulher declarou que, enquanto trabalhava no Royal North Shore Hospital em
Sydney durante a II Guerra Mundial, era dona de uma cópia do Rubaiyat
mas que em 1945, no Clifton Gardens Hotel em Sydney, deu-a de presente a um tenente do exército
chamado Alfred Boxall, que servia então na Seção de Transporte de Água do
Exército da Austrália.39
40
De acordo com
informações divulgadas pela mídia, a mulher afirmou que depois da guerra
mudou-se para Melbourne e se casou. Tempos depois ela teria recebido uma carta de Boxall, mas
respondeu-lhe que já havia se casado.39
Ela acrescentou ainda que no final de 1948 um homem misterioso perguntara a seu
vizinho de porta informações sobre ela.39
Tendo como base o molde em gesso feito da cabeça até os ombros do cadáver,
ela não foi capaz de identificá-lo como sendo Boxall.41
A polícia ainda
assim acreditou que o morto fosse Boxall, até encontrá-lo vivo e com sua cópia
do Rubaiyat, completa com o "Taman Shud" na última página.41
Boxall agora trabalhava no setor de manutenção do Depósito de Ônibus de
Randwick (onde trabalhara antes da guerra) e não fazia idéia da ligação entre
ele e o homem morto.42
No frontispício
de sua cópia do Rubaiyat, a mulher havia copiado o verso 70:
Indeed, indeed, Repentance oft before
I swore--but was I sober when I swore?
And then and then came Spring, and Rose-in-hand
Quando
questionado por repórteres sobre o significado do verso, Boxall
desconversou, dando uma resposta evasiva.43
A mulher vivia
agora em Glenelg, mas negou conhecer qualquer detalhe sobre o morto ou o motivo
de sua visita ao subúrbio que ela morava na noite em que morreu.39
Ela solicitou então que, uma vez que havia se casado, seu nome fosse omitido do
inquérito policial para evitar quaisquer constragimentos ao tê-lo ligado ao
morto e Boxall. A polícia concordou, impossibilitando que investigações
subsequentes contassem com uma das melhores pistas do caso.9
Em um programa de TV dedicado ao crime, no segmento em que
Boxall é entrevistado, o nome da mulher é citado por um narrador como Jestyn,
obtido aparentemente da assinatura JEstyn que vinha após o verso escrito no
frontispício do livro (provavelmente um apelido usado por
ela na intimidade).43
Seu nome verdadeiro é considerado importante pela possibilidade de ser a chave
que ajude a desvendar o código. Pesquisadores contemporâneos que investigam o
caso tentaram rastrear Jestyn, descobrindo que ela morrera em 2007.44
Pós-inquérito
Funeral do Homem
de Somerton, realizado em 14 de junho de 1949.
Após o
inquérito, foi feito um molde em gesso da cabeça e ombros do homem, e ele foi então sepultado no cemitério
West Terrace em Adelaide.29
Os serviços fúnebres foram conduzidos pelo Exército de Salvação, e a The South
Australian Grandstand Bookmakers Association arcou com as despesas para
evitar que o homem fosse enterrado como indigente.45
Anos depois do
enterro, flores
começaram a ser depositadas sobre o túmulo. A
polícia questionou uma mulher vista deixando o cemitério, mas ela negou que
soubesse qualquer coisa sobre o homem.6
Na mesma época, uma recepcionista do Strathmore Hotel, que ficava em frente à
Estação Ferroviária de Adelaide, revelou que um estranho havia se hospedado no
quarto 21 no mesmo período da morte, deixando o hotel em 30 de novembro de
1948. Ela relembrou que as faxineiras encontraram no quarto uma caixa médica
preta e uma seringa
hipodérmica.6
Em 1978, a Australian Broadcasting Corporation
produziu um programa sobre o caso. Intitulado The Somerton Beach Mystery,
mostrou o repórter Stuart Littlemore conduzindo uma investigação sobre o
mistério, incluindo entrevistas com Boxall, incapaz de acrescentar novas
informações ao caso,41
e Paul Lawson, responsável pelo molde do corpo, que recusou-se a responder uma
pergunta sobre se alguém identificara positivamente o morto.43
O caso ainda é
considerado "aberto" pela Força Tarefa Criminal da Polícia do Sul da
Austrália e o busto,
contendo fibras capilares
do homem, é conservado até hoje pela Sociedade Histórica da Polícia do Sul da
Austrália.46
Tentativas posteriores de identificar corretamente o corpo foram atrapalhadas pelo
fato de o formaldeído utilizado no embalsamento ter destruído
grande parte do DNA,
além do desaparecimento de evidências chave como a mala marrom, destruída em
1986, e vários depoimentos, que sumiram dos arquivos da polícia com o passar
dos anos.7
46
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