Pois é verdade, todos os meus amigos eram burgueses atrasados num mundo onde os homens, solicitados por imensos projetos à escala do cosmos, principiam a sentir-se obreiros da Terra. Fiquemos sobre a Terra!, diziam eles. Reagiam como os operários das fábricas de seda de Lião quando se descobriu a tecelagem: receavam perder o emprego. Na era que iniciamos, os meus amigos escritores sentem que as perspectivas sociais, morais, políticas e filosóficas da literatura humanista, ou do romance psicológico, em breve aparecerão como insignificantes.
Louis Pauwels e Jacques Bergier. DIFEL
O grande efeito da literatura dita moderna é impedir-nos de ser realmente modernos. Bem se podem convencer de que escrevem para toda a gente. Sentem que está próximo o tempo em que o espírito das massas será atraído por grandes mitos, pelo projeto de formidáveis aventuras, e em que, continuando a escrever as suas pequenas histórias humanas, desiludirão as pessoas com acontecimentos falsos em vez de lhes contarem fantasias verdadeiras.
Nessa noite de 16 de Setembro de 1959, quando desci ao jardim e contemplei, com os meus olhos de homem maduro fatigados e ávidos, a Lua no céu profundo, portadora doravante do rasto humano, a minha emoção duplicou, pois pensava em outrora, todas as noites, no seu miserável jardinzinho dos arredores. E, como ele, achei-me a formular a mais vasta das perguntas: Homens deste mundo, seremos nós os únicos seres vivos? Meu pai fazia esta pergunta porque possuía uma grande alma, e também porque lera obras de um espiritualismo duvidoso, efabulações primárias. Eu formulava-a, lendo a Pravada e estrelas, de rosto erguido, uni-me a ele na mesma curiosidade que acompanha uma infinita dilatação do espírito.
Evoquei há pouco o aparecimento do mito dos discos voadores. É um fato social significativo. É evidente, porém, que não se pode dar crédito a essas astronaves de onde desembarcam homenzinhos que vão discutir com guarda-barreiras ou comerciantes de sandes. Marcianos, Saturninos ou Jupterianos são improváveis. Mas, resumindo o total dos conhecimentos reais sobre a questão o nosso amigo Charles-Nóel Martin escreve: A multiplicidade dos planetas habitáveis nas galáxias, e na nossa em particular, conduz a uma quase certeza de haver formas de vida excessivamente numerosas. Sobre todo o planeta de qualquer outro sol, mesmo as centenas de anos¬luz da Terra, se a massa e a atmosfera são idênticas, devem existir seres à nossa semelhança. Ora o cálculo demonstra que podem existir, apenas na nossa galáxia, dez a quinze milhões de planetas mais ou menos comparáveis à Terra. Harlow Shapley, no seu trabalho Homens e Estrelas, conta no Universo conhecido cem milhões de irmãs prováveis da nossa Terra. Tudo nos leva a crer que outros mundos são habitados, que outros seres povoam o Universo. No fim do ano de 1959 foram instalados laboratórios na Universidade de Cornell, nos Estados Unidos. Sob a direção dos professores, Coccioni e Morrisson, pioneiros das grandes comunicações, ali se procuram os sinais que possivelmente nos dirigem outros seres vivos nos cosmos.
Mais do que a chegada de foguetões sobre os astros próximos, o contacto dos homens com outras inteligências, e talvez com outros psiquismos, poderia ser o acontecimento mais perturbante de toda a nossa história.
Se existem outras inteligências, algures, saberão elas da existência? Captarão e seguirão o eco longínquo das ondas de rádio e televisão que nós emitimos? Verão elas, com o auxílio de aparelhos, as perturbações produzidas sobre o nosso Sol pelos planetas gigantes Júpiter e Saturno? Enviarão elas engenhos em direção à nossa galáxia? O nosso sistema solar pôde ser atravessado inúmeras vezes por foguetões observadores sem que tivéssemos tido a menor percepção do fato. Já nem sequer conseguimos, na hora a que escrevo, detectar o nosso Lunik III, cujo aparelho emissor está avariado. Ignoramos aquilo que se passa nos nossos próprios domínios.
Teremos já sido visitados por seres habitantes do Algures? É muito provável que alguns planetas tenham recebido visitas. Porquê particularmente a Terra? Há bilhões de astros espalhados pelo campo dos anos-luz. Seremos nós os mais próximos? Todavia, é lícito imaginar que grandes estranhos podem ter vindo contemplar o nosso globo, talvez pousar nele, habitá-lo durante um tempo. A vida está presente sobre a Terra pelo menos há um bilhão de anos. O homem apareceu há mais de um milhão de anos, e as nossas recordações datam apenas de há quatro mil anos. Que sabemos nós? Talvez os monstros pré-históricos tenham erguido o seu longo pescoço à passagem de astronaves mas perdeu-se o rasto de tão fabuloso acontecimento...
O doutor Ralph Stair, do N.B.S. americano, ao analisar estranhas rochas hialianas na região do Líbano, as tectites, admite que estas poderiam ser provenientes de um planeta desaparecido, situado outrora entre Marte e Júpiter. Na composição das tectites descobriram-se isótopos radioativos de alumínio e berílio. Vários sábios dignos de crédito supõem que o satélite de Marte, Phobos, seria oco. Tratar-se-ia de um asteróide artificial colocado em órbita por Marte, por inteligências exteriores à Terra. Tal era a conclusão de um artigo da honesta revista Discovery, de Novembro de 1959. Tal é também a hipótese do professor soviético Chtlovski, especialista de radioastronomia.
Num retumbante estudo da Gazeta Literária, de Moscou, de Fevereiro de 1960, o professor Agrest, professor de ciências físico-matemáticas, declarava que as tectites, que só se poderiam ter formado em condições de temperatura muito elevada e de radiações nucleares potentes, talvez sejam vestígios da aterragem de projéteis-sondas vindos do cosmos. Há um milhão de anos teriam vindo visitantes. Para o professor Agrest (que não hesita, nesse estudo, em propor tão fabulosas hipóteses, mostrando desta forma que a ciência, no quadro de uma filosofia, podia e devia abrir-se tão amplamente quanto possível à imaginação criadora, às suposições audaciosas), a destruição de Sodoma e Gomorra teria resultado de uma explosão termonuclear provocada por viajantes do espaço, quer voluntariamente, quer devido a uma destruição necessária dos seus depósitos de energia antes da sua partida para o Cosmos.
Lê-se a seguinte descrição nos manuscritos do Mar Morto: Uma coluna de fumo e de poeira se elevou, semelhante a uma coluna de fumo que tivesse vindo do coração da Terra. Derramou uma chuva de enxofre e de fogo sobre Sodoma e Gomorra e destruiu a cidade, a planície inteira, todos os habitantes e a vegetação. E a mulher de Loth voltou-se e ficou transformada em estátua de sal. E Loth viveu em Isoar, depois instalou-se nas montanhas, porque tinha medo de continuar em Isoar.
As pessoas foram prevenidas para que abandonassem os locais da futura explosão, que não se demorassem nos sítios descobertos, que não contemplassem a explosão e se escondessem debaixo da terra... Os fugitivos que se voltaram ficaram cegos e morreram.
Nessa mesma região do anti-Líbano, um dos mais misteriosos monumentos é o terraço de Baalbeck. Trata-se de uma plataforma com blocos de pedra dos quais alguns medem mais de vinte metros de lado e pesam duas mil toneladas. Nunca foi possível explicar porquê, como, ou por quem essa plataforma foi construída. Para o professor Agrest não é improvável que nos achemos em presença dos vestígios de uma área de aterragem erigida pelos astronautas vindas dos Cosmos.
Finalmente, alguns relatórios da Academia das Ciências de Moscou a respeito da explosão de 30 de Junho de 1908, na Sibéria, sugerem a hipótese da desintegração de um navio interestelar em perigo.
Nesse dia 30 de Junho de 1908, às sete horas da manhã, um pilar de fogo surgiu por cima da taiga siberiana, elevando-se a 80 quilômetros de altitude. A floresta foi volatilizada num raio de 40 quilômetros, devido ao contacto de uma bola de fogo gigantesca com a terra. Durante várias semanas, por sobre a Rússia, a EuropaOcidental e a África do Norte flutuaram estranhas nuvens douradas que, durante a noite, refletiam a luz solar. Em Londres fotografam-se as pessoas a ler o seu jornal na rua à uma hora da madrugada. Ainda hoje, a vegetação não voltou a aparecer nessa região siberiana. As medidas tomadas em 1960 por uma comissão científica russa revelam que ali a taxa de radioatividade ultrapassa três vezes a taxa normal.
Se fomos visitados, ter-se-ão passeado entre nós os fabulosos exploradores? O bom senso reage: ter-nos-íamos apercebido. Nada é menos certo. A primeira regra de etnologia é não perturbar os animais que se observam. Zimanski, sábio alemão de Tubingen, aluno do genial Conrad Lorenz, estudou durante três anos os caracóis assimilando-lhes a linguagem e o comportamento psíquico de forma que os caracóis o tomavam realmente por um dos seus. Os nossos visitantes puderam agir da mesma maneira com os humanos. Esta idéia é revoltante: no entanto tem fundamento.
Terão vindo à Terra exploradores bem intencionados, antes da história humana conhecida? Uma lenda indiana fala dos Senhores de Dzyan, vindos do exterior para trazerem aos habitantes terrenos o fogo e o arco. Terá a própria vida nascido sobre a Terra ou teria sido depositada pelos Viajantes do Espaço? (A maior parte dos astrônomos e dos teólogos crêem que a vida da Terra principiou sobre a Terra. Mas o astrônomo de Cornell, Thomas Gold, pensa de forma diferente. Num relatório recebido em Los Angeles, no congresso dos sábios do espaço que se realizou em Janeiro de 1960, Gold sugeriu que a vida podia ter existido em qualquer outro sítio no Universo durante inúmeros bilhões de anos antes de criar raízes sobre a Terra. De que forma a vida atingiu a Terra e iniciou a sua longa ascensão em direção ao humano? Talvez tenha sido trazida pelos navios do espaço).
Teremos nós vindo de algures, interroga-se o biologista Loren Eiselev, teremos nós vindo de algures e estaremos a preparar-nos para regressar a casa com o auxílio dos nossos instrumentos? . . .
Uma palavra ainda a respeito do céu: a dinâmica estelar mostra que uma estrela não pode capturar outra. As estrelas duplas ou triplas, cuja existência se observa, deveriam portanto ter a mesma idade. Ora, a espectroscopia revela componentes de diversas idades em sistemas duplos ou triplos. Uma anã branca, velha de dez bilhões de anos,acompanha, por exemplo, uma gigante vermelha de três bilhões. É impossível, e no entanto é assim. Interrogamos a este respeito, Bergier e eu, uma quantidade de astrônomos e de físicos. Alguns, e não dos menores, não excluem a hipótese segundo a qual esses agrupamentos de estrelas anormais teriam sido formados por Vontades, por Inteligências. Vontades, Inteligências, que deslocariam estrelas e as reuniam artificialmente, fazendo assim saber ao Universo que a vida existe em tal região do céu para maior glória do espírito.
A vida existe sobre a Terra há cerca de um bilhão de anos. Gold fá-lo notar. Ela começou com formas de tamanho microscópico. Após um bilhão de anos, segundo a hipótese de Gold, o planeta semeado pode ter desenvolvido criaturas suficientemente inteligentes para viajarem mais além do espaço, visitando planetas férteis, mas virgens, semeando-os por sua vez com micróbios adaptáveis. De fato, essa contaminação é provavelmente o princípio normal da vida sobre qualquer planeta, incluindo a Terra. Viajantes do espaço -diz Gold - podem ter visitado a Terra há um bilhão de anos e, abandonadas as suas formas residuárias de vida, estas proliferaram de tal forma que os micróbios em breve terão outro agente (os humanos viajantes do espaço) capaz de os espalhar mais além sobre o campo de batalhas.
Que acontece nas outras galáxias que flutuam no espaço muito além dos limites da Via Láctea? O astrônomo Gold é um dos partidários da teoria do Universo em estado fixo. Quando começou então a vida? A teoria do Universo em estado fixo põe a hipótese de que o espaço não tem limites e que o tempo não tem princípio nem fim. Se a vida se propaga das antigas às novas galáxias, a sua história pode ser colocada no tempo eterno: é sem princípio nem fim.
Numa espantosa premonição da espiritualidade futura, Blanc de Saint-Bonnet escrevia: A religião ser-nos-á demonstrada através do absurdo. Já não será a doutrina desconhecida que ouviremos, já não será a consciência que não é ouvida que gritará. Os fatos falarão com a sua grande voz. A verdade deixará as altitudes da palavra, entrará no pão que comemos. A luz será fogo!
À idéia desmoralizante de que a inteligência humana talvez não seja a única a viver e agir no Universo veio juntar-se a idéia de que a nossa própria inteligência é capaz de explorar mundos diferentes do nosso, de lhes apreender as leis, de ir, por assim dizer, viajar e trabalhar do outro lado do espelho. Esta abertura fantástica foi realizada pelogênio matemático. É a falta de curiosidade e de conhecimento que nos fez julgar ser a experiência poética, depois de Rimbaud, o fato capital da revolução intelectual do mundo moderno. O fato capital é a explosão do gênio matemático, como aliás muito bem viu Valéry. O homem, daqui em diante, estará perante o seu próprio gênio matemático como perante um habitante do exterior.
As entidades matemáticas modernas vivem, desenvolvem-se, fecundam-se, em mundos inacessíveis, estranhos a toda a experiência humana. Em men Like Gods, H. C. Wells supõe que existem tantos universos como páginas num grande livro. Nós habitamos apenas uma dessas páginas. Mas o gênio matemático percorre a obra inteira: ele constitui a real e ilimitada potência de que dispõe o cérebro humano. Pois, viajando por outros universos, regressa dessas explorações carregado de utensílios eficazes para a transformação do mundo que habitamos. Ele possui a um tempo o ser e o criar. O matemático, por exemplo, estuda as teorias de espaços que exigem duas voltas completas para regressar à posição de partida. Ora é este trabalho, perfeitamente estranho a qualquer atividade na nossa esfera de existência, que permite descobrir as propriedades às quais obedecem as partículas elementares nos espaços microscópicos, e portanto fazer progredir a física nuclear que transforma a nossa civilização.
A intuição matemática, que abre o caminho para outros universos, altera concretamente o nosso. O gênio matemático, tão próximo do gênio da música pura, é ao mesmo tempo aquele cuja eficácia sobre a matéria é maior. É da algures absoluto que nasceu a arma absoluta. Enfim, elevando o pensamento matemático ao seu mais alto grau de abstração, o homem apercebe-se de que esse pensamento talvez não seja sua propriedade exclusiva. Descobre que os insetos, por exemplo, parecem ter consciência de propriedades do espaço, e que talvez exista um pensamento universal, que um canto do espírito superior se eleva talvez da totalidade do que é vivo...
Neste mundo, em que, para o homem, já nada é certo, nem ele próprio, nem o mundo tal como o definiam as leis e os fatos outrora admitidos, nasce a toda a velocidade uma mitologia. A cibernética fez surgir a idéia de que a inteligência humana é ultrapassada pela do cérebro eletrônico, e o homem vulgar sonha com o olho verde da máquina que pensa com a perturbação, o pavor do antigo egípcio ao pensar na Esfinge. O átomo reside no Olimpo, com o raio na mão. Mal tinham iniciado a construção da fábrica atômica francesa de Marcoule e logo as pessoas dos arredores julgaram ver os tomates estragar-se. A bomba perturba o tempo, faz-nos gerar monstros. Uma literatura chamada de ficção científica, mais abundante do que a literatura psicológica, compõe uma Odisséia no nosso século, com Marcianos e Homens Superiores, e aquele Ulisses metafísico que regressa a casa, depois de vencer o espaço e o tempo. À pergunta: Estaremos sós?, vem juntar-se a pergunta: Seremos os últimos? Deter-se-á a evolução no homem?
O Superior não estará já em formação? Não estará já entre nós?
E esse Superior, deveremos imaginá-lo como um indivíduo, ou como um ser coletivo, como a massa humana inteira em vias de fermentar e de coagular, arrastada toda para uma tomada de consciência da sua unidade e da sua ascensão? Na era das massas, o indivíduo morre, mas é a morte salvadora da tradição espiritual: morrer para nascer finalmente. Ele morre em consciência psicológica para nascer em consciência cósmica. Sente exercer-se sobre ele uma pressão formidável: morrer resistindo-lhe ou morrer obedecendo-lhe. Do lado da recusa, da resistência, está a morte total. Do lado da obediência está a morte-trampolim em direção à vida total, pois trata-se da transformação da multidão para a criação de um psiquismo unânime que regerá a consciência do Tempo, do Espaço e o apetite pela Descoberta.
Imagem: Assim, o homem superior não deixa seus pensamentos irem além da situação em ...
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