sábado, 13 de fevereiro de 2010

O Mecanismo de Anticítera


Faz um século que o mecanismo de Anticítera, um artefato arqueológico da Grécia antiga descoberto em 1900 por mergulhadores, intriga os cientistas. Sabia-se apenas que o dispositivo funcionava como uma espécie de calendário lunar e solar.

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Um novo estudo, divulgado na semana passada, revelou que o aparelho era capaz de fazer muito mais do que apontar astros no céu. Utilizando técnicas de tomografia computadorizada e um sistema de imagens de alta resolução, um grupo de ingleses, americanos e gregos conseguiu recriar em detalhes o complexo sistema de engrenagens que forma o dispositivo e decifrar boa parte das inscrições gravadas nas peças. Concluiu-se que o mecanismo de Anticítera, descoberto próximo à ilha de mesmo nome, no litoral grego, é uma espécie de ancestral do computador moderno, um invento tão avançado para a época que nos dez séculos seguintes não se criou nada tecnologicamente tão elaborado. "O design do mecanismo é surpreendente e nos faz perceber quanto a civilização grega avançou no terreno da tecnologia", diz Mike Edmunds, professor de astronomia na Universidade de Cardiff e pesquisador-chefe do grupo.

As descobertas indicam que o mecanismo de Anticítera era constituído por, no mínimo, trinta engrenagens de bronze feitas a mão e organizadas de maneira a representar mecanicamente a órbita da Lua e de outros planetas do sistema solar. Em poucas horas, os astrônomos da época podiam prever a ocorrência de eclipses com anos de antecedência e representar a posição do Sol, da Lua e de planetas no céu. "A complexidade do aparelho supera a dos relógios, que só iriam aparecer nas catedrais medievais 1 000 anos mais tarde", surpreende-se Stephen Johnston, especialista em aparelhos de cálculos astronômicos da Universidade de Oxford. A história do mecanismo de Anticítera, desde sua descoberta, também ilustra a evolução das ferramentas de que os cientistas dispõem para descobrir segredos em artefatos arqueológicos.

Quando foi encontrado nas águas do Mediterrâneo, o mecanismo de Anticítera estava corroído pelo tempo e pela água salgada. Durante anos foi limpo e recuperado por arqueólogos. Do fim dos anos 50 ao começo dos 70, o dispositivo foi estudado em minúcias pelo cientista inglês Derek Price, que usou técnicas de raios X e, mais tarde, raios gama para examiná-lo. Price foi pioneiro em afirmar que o aparelho era mais do que um calendário lunar e solar. Para o cientista, o mecanismo de Anticítera era tão complexo que demandava uma revisão do que se sabia sobre o desenvolvimento tecnológico da Grécia antiga.

Na época suas conclusões não foram bem recebidas por seus pares. Pesquisas feitas com manuscritos de Arquimedes, usando técnicas semelhantes às que decifraram o mecanismo de Anticítera, revelaram novos dados sobre os trabalhos do famoso matemático grego. "De maneira geral, estamos descobrindo que os gregos tinham muito mais conhecimentos de ciência e tecnologia do que pensávamos", diz Reviel Netz, professor da Universidade de Stanford, nos Estados Unidos. Se as pesquisas prosseguirem nesse ritmo, a tecnologia passará a figurar junto do humanismo no extraordinário legado da civilização grega.

Quem o construiu?

O mecanismo de Anticítera não poderia ser o único mecanismo desse tipo. "Não há nenhuma evidência de quaisquer erros", escreveu Martin Allen. "Todas as características mecânicas têm uma função. Não há nenhum furo extra ou vestígios de metal que sugiram modificações feitas pelo fabricante durante o processo de construção do mecanismo. Isso leva à conclusão de que ele deve ter fabricado vários modelos".

Pesquisas mais recentes revelam que o mostrador que indicava os eclipses continha o nome dos meses. Esses nomes são de origem coríntia. A revista Nature declarou: "As colônias coríntias do noroeste da Grécia ou de Siracusa, na Sicília, são as mais prováveis - a segunda indicando um patrimônio que remonta os dias de Arquimedes."

Aparelhos similares não foram encontrados porque "O bronze é um produto valioso e altamente reciclável", escreveu Allen. "Em resultado disso, antigos achados de bronze são muito raros. Na verdade, muitos deles foram descobertos debaixo da água, onde não eram acessíveis aos que talvez fossem reutilizá-los". "Nós só temos esse [exemplar]", diz um pesquisador, "porque estava fora do alcance de sucateiros".

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