domingo, 16 de outubro de 2011

O Despertar dos Mágicos (54). Houve outras luas no céu. Esta é simplesmente a última...


Estava-se em 1948, eu acreditava em Gurdjieff e uma das suas fiéis discípulas convidara-me amavelmente a passar alguns dias em sua casa, com minha família, na montanha. Essa mulher tinha uma grande cultura, uma formação de química, inteligência viva e temperamento firme.

Louis Pauwels e Jacques Bergier. DIFEL

Auxiliava os artistas e os intelectuais. Depois de Luc Dietrich e René Daumal, eu viria a contrair em relação a ela uma dívida de reconhecimento. Nada tinha da discípula louca e os ensinamentos de Gurdjieff; que por vezes se instalava em sua casa, penetravam-na através do crivo da razão. No entanto, um dia, apanhei-a, ou julguei apanhá-la em flagrante delito de insensatez. Abriu-me de súbito os abismos do seu delírio, e eu fiquei mudo e aterrado diante dela, como perante uma agonia. Uma noite fria brilhava sobre a neve e nós conversávamos tranquilamente, encostados à varanda da casa. Olhávamos os astros, como os olhamos na montanha, sentindo uma solidão absoluta que noutros sítios é angustiante, mas ali purificante. Os relevos da Lua viam-se nitidamente.
Seria melhor dizer-se uma lua - disse a minha hospedeira -, uma das luas. . .
O que quer dizer?
Houve outras luas no céu. Esta é simplesmente a última...
O quê?! Teria havido outras luas além desta?
Decerto. O Sr. Gurdjieff sabe-o, e sabem-no outras pessoas.
Mas, enfim, os astrônomos...

-Oh!, se acredita em cientistas!..
O seu rosto estava calmo e sorria com um pouco de comiseração. A partir desse dia
deixei de me sentir em harmonia com certos amigos de Gurdjieff a quem estimava. Tornaram-se, a meus olhos, seres frágeis e inquietantes e senti que um dos elos que me ligavam a essa família acabava de se romper.
Alguns anos mais tarde, ao ler o livro de Gurdjieff As Narrativas de Belzebu, e ao descobrir a cosmogonia de Horbiger, compreendi que aquela visão, ou antes aquela crença, não era uma simples incursão pelo fantástico. Havia uma certa coerência entre essa extraordinária história de luas e a filosofia do super-homem, a psicologia dos estados superiores da consciência, a mecânica das mutações. Essa história, aliás, encontrava-se nas tradições orientais, bem como a idéia de que existiram homens, há milênios, que puderam observar um céu diferente do nosso, outras constelações, outro satélite.
Não teria Gurdjieff feito mais do que inspirar-se em Horbiger, que certamente conhecia? Ou então ter-se-ia inspirado em fontes antigas de saber, tradições ou lendas, que Horbiger corroborara como que casualmente no decorrer das suas inspirações pseudo-científicas? Eu ignorava, sobre aquela varanda da casa de montanha, que a minha hospedeira exprimia uma crença que fora a de milhares de homens na Alemanha hitleriana ainda sepultada sob ruínas, nessa hora ainda sangrenta, ainda chamejante, entre os destroços dos seus grandes mitos. E a minha hospedeira naquela noite clara e tranqüila, também o ignorava.
Portanto, na opinião de Horbiger, a Lua, aquela que nós vemos, não passaria do último satélite captado pela terra, o quarto. O nosso globo, no decurso da sua história, já teria captado três. Três massas de gelo cósmico errando no espaço teriam, sucessivamente, alcançado a nossa órbita. Teriam começado a girar em espiral à volta da Terra, aproximando-se, depois ter-se-iam abatido sobre nós. A nossa Lua atual também se precipitará sobre a Terra. Mas, desta vez, a catástrofe será maior, pois este último satélite gelado é maior que os precedentes. Toda a história do globo, a evolução das espécies e toda a história humana encontram a sua explicação nesta sucessão das luas do nosso céu.
Há quatro épocas geológicas, pois houve quatro luas. Estamos no quaternário. Antes de cair, uma lua explode e, girando cada vez mais depressa, transforma-se num anelde rochedos de gelo e de gás. É esse anel que cai sobre a Terra, recobrindo em círculo a crosta terrestre e fossilizando tudo o que fica por baixo. Os organismos enterrados não se fossilizam em período normal: apodrecem. Só se fossilizam no momento em que cai uma lua. Eis o motivo por que nos foi possível recensear uma época primária, uma época secundária e uma época terciária. No entanto, como se trata de um anel, só possuímos testemunhos muito fragmentários a respeito da história da vida sobre a Terra. Ao longo dos tempos puderam nascer e desaparecer outras espécies animais e vegetais, sem que delas ficassem vestígios nas camadas geológicas. Mas a teoria das luas sucessivas permite imaginar as modificações sofridas no passado pelas formas vivas. Permite igualmente prever as modificações futuras.
Durante o período em que o satélite se aproxima, há um momento de algumas centenas de milhares de anos em que ele gira em volta da Terra a uma distância de quatro a seis raios terrestres. Em comparação com a distância da nossa Lua atual está ao alcance da mão. A gravitação está portanto consideravelmente alterada. Ora é a gravitação que dá aos seres o seu tamanho. Eles só aumentam de tamanho em função do peso que podem suportar.
No momento em que o satélite está próximo há portanto um período de gigantismo.
No final do primário: os vegetais imensos, os insetos gigantescos. No final do secundário: os diplococos, os iguanodontes, os animais de trinta metros. Produzem-se mutações bruscas, pois os raios cósmicos são mais poderosos. Os seres, libertos do seu peso, erguem-se, as caixas cranianas dilatam-se, os animais começam a voar. talvez tenham aparecido, no final do segundo período, mamíferos gigantescos. E talvez os primeiros homens criados por mutação. Seria preciso situar esse período no final 1 do secundário, no momento em que a segunda lua gira nas proximidades do globo, há cerca de quinze milhões de anos.
É a era do nosso antepassado, o gigante. Madame Blavatsky, que pretendia ter recebido comunicação do Livro dos Dzyan, texto que seria o mais antigo da humanidade e contaria a história das origens do homem, afirmava igualmente que uma primeira raça humana, gigantesca, teria surgido no secundário: O homem secundário será descoberto um dia, e com ele as suas civilizações há muito submersas.
Numa noite dos tempos infinitamente mais espessa do que nós o imaginamos, eis portanto, sob uma lua diferente, num mundo de monstros, esse primeiro homem que mal se nos assemelha e cuja inteligência é diferente da nossa. O primeiro homem, e talvez o primeiro par humano, gêmeos expulsos de uma matriz animal por um prodígio das mutações que se multiplicam quando os raios cósmicos são gigantescos. O Gênesis diz-nos que os descendentes desse antepassado viviam entre quinhentos a novecentos anos: é que o alívio de peso diminui o desgaste do organismo. Ele não nos fala de gigantes, mas as tradições judaicas e muçulmanas compensam abundantemente essa omissão. Enfim, os discípulos de Horbiger afirmam que fósseis do homem secundário teriam sido descobertos recentemente na Rússia.
Quais teriam sido as formas de civilizações do gigante há quinze milhões de anos? Imaginam-se assembléias e maneiras de ser decalcadas sobre os insetos gigantes vindos do primário e de que os nossos insetos de hoje, ainda muito estranhos, são os descendentes degenerados. Imaginam-se grandes poderes de comunicação à distância, civilizações fundadas sobre o modelo das centrais de energia psíquica e material que formam por exemplo as termiteiras, as quais põem ao observador tantos problemas perturbantes acerca dos domínios desconhecidos das infra-estruturas - ou das superestruturas - da inteligência.
Essa segunda lua vai ainda aproximar-se, explodir em anel e cair sobre a Terra, que sofrerá um novo e longo período sem satélite. Nos espaços longínquos, uma formação glaciária em espiral alcançará a órbita da Terra, que desta forma captará uma nova lua. Mas, durante esse período em que nenhuma grande bola brilhará sobre as cabeças, só sobrevivem alguns espécimes das mutações que se produziram no final do secundário e que vão subsistir diminuindo de tamanho. Há ainda gigantes que se adaptam. Quando a lua terciária aparece já se formaram homens vulgares, mais pequenos, menos inteligentes: os nossos verdadeiros antepassados. Mas os gigantes oriundos do secundário têm atravessado os cataclismos, ainda existem, e são eles que vão civilizar os pequenos homens.
A idéia de que os homens, partindo da bestialidade e da selvageria, evoluíram lentamente até à civilização é uma idéia recente. É um mito judaico-cristão, imposto às consciências para expulsar um mito mais poderoso e mais revelador. Quando a humanidade estava mais fresca, mais perto do seu passado, no tempo em que nenhuma conspiração bem urdida a expulsara ainda da sua própria memória, ela sabia que descendia dos deuses, dos reis gigantes que lhe tinham ensinado tudo. Lembrava¬se de uma idade de ouro em que os superiores, nascidos antes dela, lhe ensinavam a agricultura, a metalurgia, as artes, as ciências e o manejo da Alma. Os gregos evocavam a época de Saturno e o reconhecimento que os seus antepassados votavam a Hércules. Os egípcios e os mesopotâmios conservavam as lendas dos reis gigantes iniciadores. As povoações a que nós hoje chamamos primitivas, os indígenas do Pacífico, por exemplo, juntam à sua religião, sem dúvida adulterada, o culto dos bons gigantes do princípio do Mundo. Na nossa época, em que todos os dados do espírito e do conhecimento foram alterados, os homens que realizaram o tremendo esforço de escapar às formas de pensar estabelecidas tornam a encontrar, na origem da sua inteligência, a nostalgia dos tempos felizes da alvorada dos séculos, de um paraíso perdido, a recordação velada de uma iniciação primordial.
Da Grécia à Polinésia, do Egito ao México e à Escandinávia, todas as tradições dizem que os homens foram iniciados por gigantes. É o período de ouro do terciário, que dura vários milhões de anos durante os quais a civilização moral, espiritual e talvez técnica atinge o seu apogeu sobre o globo. Quando os gigantes ainda estavam misturados aos homens Nos tempos em que ninguém falava escreve Vítor Hugo com intuição extraordinária.
A lua terciária, cuja espiral se estreita, reaproxima-se da Terra. As águas sobem, aspiradas pela gravitação do satélite, e os homens, há mais de novecentos mil anos, sobem para os mais altos cumes montanhosos com os gigantes, seus reis. Sobre esses cumes, por sobre os oceanos revoltados que formam um anel em redor da Terra, os homens e os seus Superiores vão fundar uma civilização marítima mundial na qual Horbiger e o seu discípulo inglês Bellamy vêem a civilização Atlântida. Bellamy assinala, nos Andes, a quatro mil metros, vestígios de sedimentos marinhos que se prolongam durante setecentos quilômetros. As águas do final do terciário chegavam até ali e um dos centros civilizados desse período teria sido Tiahuanaco, perto do lago Titicaca. As ruínas de Tiahuanaco testemunham uma civilização centenas de vezes milenária, e que em nada se assemelha às civilizações posteriores. (O arqueólogo alemão Von Hagen, autor de um trabalho publicado em francês sob o título Au royaumedes Incas (Plon, 1950), recolheu perto do lago Titicaca uma tradição oral dos Índios locais segundo a qual Tiahuanaco foi construída antes que as estrelas existissem no céu.)
Os vestígios dos gigantes ali estão, para os horbigerianos, visíveis, assim como os seus inexplicáveis monumentos. Ali se encontra, por exemplo, uma pedra de nove toneladas, entalhada com seis chanfraduras de três metros de altura, as quais continuam incompreensíveis para os arquitetos, como se o seu papel tivesse sido esquecido depois por todos os construtores da história. Pórticos com três metros de altura e quatro de largura, talhados numa pedra única, com portas, janelas falsas e esculturas talhadas a cinzel, pesando no conjunto dez toneladas. Lanços de muros, ainda de pé, pesam sessenta toneladas, e são sustentados por blocos de grés de cem toneladas, enterrados na terra como cunhas. Entre essas ruínas fabulosas erguem-se estátuas gigantescas de que só uma foi retirada e colocada no jardim do Museu de La Paz. Tem oito metros de altura e pesa vinte toneladas. tudo convida os horbigerianos a ver nessas estátuas retratos de gigantes, executados por eles próprios.
Das feições do rosto chega a nossos olhos, e mesmo até ao nosso coração, uma expressão de soberana bondade e soberana sabedoria. Uma harmonia de todo o ser emana do conjunto do colosso, cujas mãos e o corpo maravilhosamente estilizados são concebidos com um equilíbrio que tem uma qualidade moral. Emana do maravilhoso monolítico tranqüilidade e paz.
Se ele representa o retrato de um dos reis gigantes que governaram esse povo, não se pode deixar de pensar neste princípio de frase de Pascal: Se Deus nos desse mestres das suas mãos.. .
Se esses monolíticos foram realmente talhados e colocados no seu lugar pelos gigantes em honra dos seus aprendizes os homens, se as esculturas de uma extrema abstração, de uma estilização tão avançada que confunde a nossa própria inteligência, foram na verdade executadas por esses Superiores, nelas encontramos a origem dos mitos segundo os quais as artes foram concedidas aos homens por deuses, e a chave das diversas místicas da inspiração estética.

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